Na sexta (5), a série James Bond nas telonas completa 50 anos: foi em 5 de outubro de 1962 que o personagem, já famoso nos livros de Ian Fleming, estreou sua primeira aventura nos cinemas.
Nesses 50 anos, a saga teve altos e baixos, foi protagonizada por seis diferentes atores e se tornou a mais lucrativa série de filmes da história do cinema.
Enquanto o novo longa "007 - Operação Skyfall" não chega - ele estreia aqui no Brasil em 26 de outubro - resolvi fazer postagens especialíssimas sobre todos os filmes do agente do serviço secreto britânico mais conhecido do mundo, começando do começo, com o primeiro longa, "O Satânico Dr. No" (1962).
"O Satânico Dr. No/Dr.No" (1962)
A primeira missão de 007 nas telonas só poderia mesmo se passar na Jamaica, um paraíso na Terra - segundo a definição do criador do personagem, Ian Fleming, que lá escreveu todos os livros sobre o agente secreto.
The Paris Review
O escritor Ian Fleming
Será nas belas praias do Caribe que Bond irá investigar a morte misteriosa de John Strangeways, um membro do serviço secreto, e de sua secretária, Senhorita Truebloood.
Strangeways estava prestes a descobrir quem interceptava os foguetes norte-americanos, lançados de Cabo Canaveral, até chegar à ilha de Crab Key, onde vive o maquiavélico cientista Dr.No.
James Bond começa a investigar e escapará de duas perseguições de carro, de uma tarântula venenosa e da cilada de uma sedutora oriental.
Mas o pior será enfrentar No - Joseph Wiseman - em seu quartel general, guardado por soldados fiéis e por um misterioso dragão que cospe fogo!
IMdB
Joseph Wiseman, como Dr. No
Em sua aventura, Bond - Sean Connery - contará com a ajuda de seu amigo, Felix Leiter, interpretado por Jack Lord, da cult série "Hawaii-5.0", um agente da CIA - Quarrel - John Kitzmiller, um dedicado nativo - e do diplomata britânico Playdell-Smith - Louis Blaazer.
Mas, acima de tudo, 007 terá a companhia da estonteante - e inesquecível - primeira bondgirl, Honey Ryder - Ursula Andress.
Eon Productions
Ursula Andress como Honey Ryder, a primeira bondgirl
A estreia de Bond nas telonas já traz as características que seriam melhor desenvolvidas nos seus longas posteriores: o supervilão; as bondgirls; o dry martini batido, e não mexido; as locações exóticas por todo o mundo; o tema musical de Monty Norman; e a sequência de abertura, idealizada por Maurice Binder, responsável pela maioria das aberturas da saga.
URSULA ANDRESS ABRE A GALERIA DE BONDGIRLS INESQUECÍVEIS
Inevitável: falar em bondgirls é citar a quase estreante atriz suíça Ursula Andress.
Uma das mais inesquecíveis mulheres que passaram pelos 50 anos da série surgiu em "O Satânico Dr.No" numa cena que se tornou igualmente célebre: Honey Ryder sai do mar de Crab Key, na Jamaica, vestindo o uniforme da nova década: um comportado, mas não menos provocante, biquini branco - no livro, ela estava nua.
Em um cinturão de couro, carregava uma faca de caça.
Eon Productions
Ursula Andress em cena do longa |
Bond, que dorme na praia depois de ter passado a noite tentando chegar ao quartel general de No, acorda ao ouvir a misteriosa loira cantarolar "Underneath the Mango Tree".
"O que você está fazendo aqui? Procurando Conchas?", ela pergunta.
"Não, estou apenas olhando", responde um galante Bond.
Honey vende conchas raras - segundo ela, algumas chegam a custar U$50 em Miami.
Filha de um biólogo marinho viúvo, ela nunca foi à escola: seu pai lhe deu uma enciclopédia - ela já está na letra "T" - e acredita que o pai, sumido, foi assassinado por No.
Corajosa, acompanhará Bond até o final da missão.
TERENCE YOUNG - O DIRETOR
O cineasta britânico Terence Young dirigiu 37 filmes durante seus 79 anos de vida.
Os críticos atribuem sua relativa popularidade a uma questão de sorte - justamente por ter dirigido três filmes da saga Bond - "O Satânico Dr.No", "Moscou Contra 007" (1963) e "007 Contra a Chantagem Atômica" (1965) - mas acreditam que, depois dos 007, ele conseguiu estragar os bons projetos que lhe foram propostos por causa do seu duvidoso talento.
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O diretor Terence Young
Young morreu durante o Festival de Cannes 1994, na França, após um ataque cardíaco.
ALBERT 'CUBBY' BROCCOLI: O PRODUTOR QUE BANCOU LEVAR BOND PARA AS TELONAS
Se Ian Fleming criou e deu vida a Bond, o produtor americano Albert R. Broccoli, o "Cubby", foi quem o tornou imortal e um dos personagens mais conhecidos de todos os tempos.
Cubby foi responsável por dezessete longas da saga Bond, dez deles em parceria com outro mítico produtor, Harry Saltzman, com quem dividiu o comando da Eon Productions.
Broccoli nasceu em 5 de abril de 1909 em Astoria, Long Island, Nova York, filho de imigrantes italianos da Calábria.
O nome de família vem do tio Pasquale, que introduziu o cultivo de brócolis na América no final do século 19.
Na adolescência, Cubby dirigia caminhões carregados de vegetais da fazenda dos pais até o mercado do bairro negro do Harlem, mas foi no verão de 1933 que ele chegou a Hollywood para duas semanas de férias.
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O produtor Albert R.Broccoli posa diante dos estúdios Pinewood, nos arredores de Londres, criados para abrigar os gigantescos cenários da saga Bond
Nesse pequeno tempo, ficou amigo do astro Cary Grant, decidiu ficar e iniciar uma carreira no cinema.
Começou por baixo - como mensageiro na 20th Century Fox - e, mais tarde, já foi o assistente de produção de "The Outlaw", de Howard Hughes, que também se tornaria seu grande amigo - Hughes é aquele maluco que foi interpretado por LeonardoDi Caprio no longa de Martin Scorsese, "O Aviador" (2004).
Durante a segunda Guerra, servindo na US Navy, produziu para as tropas shows de estrelas, como Bing Crosby e Danny Kaye.
Anos depois, virou sócio de Irving Allen - outro mítico produtor - criando a Warwick Films em Londres, que produziu filmes até 1960.
A partir daí, associado a Harry Saltzman na Eon Productions, chegou à consagração com a saga Bond.
Em 1976, Cubby e Saltzman brigaram feio, o segundo saiu da Eon e Cubby manteve os direitos de produção de novos filmes da série.
Brocolli morreu em Beverly Hills, Califórnia, em 27 de junho de 1996, aos 87 anos, durante a pré produção de "O Amanhã Nunca Morre" (1997), segundo filme de Pierce Brosnan como Bond.
Sony Pictures
Barbara Broccoli e seu meio-irmão, Michael G.Wilson, no lançamento do projeto "Skyfall"
Desde então, sua filha, Barbara Broccoli, e seu enteado, Michael G.Wilson, assumiram a Eon Productions e são responsáveis, até hoje, pela produção dos filmes da franquia Bond.
DR.NO, O PRIMEIRO VILÃO DA SAGA
Inteligente, bem sucedido e sofisticado: Dr.No tinha tudo para ser um aliado de Bond, mas se transformou no primeiro antagonista da série.
Vivendo em Crab Key, uma ilha na Jamaica, montou ali uma fortaleza onde realiza experiências secretas, principalmente nucleares - por causa disso, perdeu as duas mãos e usa no lugar próteses de aço.
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Dr.No e suas mãos de aço
Nascido em Pequim, No integrou-se à Spectre, organização criminosa que quer dominar o mundo, como seu número 2.
JOSEPH WISEMAN: O ATOR POR TRÁS DO VILÃO
Dr.No foi vivido na telona pelo ator canadense Joseph Wiseman - ele nasceu em Montréal, em 15 de maio de 1918 e morreu em NY, aos 91 anos, em 19 de outubro de 2009.
Reuters
O ator Joseph Wiseman, aos 87 anos
Wiseman teve uma atuação bastante elogiada no longa e voltaria a enfrentar Bond em "007 Contra a Chantagem Atômica" (1965), quando fez a voz de Ernst Blofeld, o todo-poderoso líder número um da Spectre.
COMO LEVAR BOND PARA AS TELONAS COM US$ 1 MILHÃO
O primeiro longa de Bond tinha um modesto orçamento - que não chegou na época a US$ 1 milhão.
Na época, os executivos da United Artists - então um estúdio que já pertencia à MGM - pensaram em desistir da produção, quando os gastos bateram nos US$ 100 mil, porquê morriam de medo de nunca mais recuperarem o investimento.
A mitologia afirma que um dos diretores do estúdio teria dito: "Não vou exibir um filme com um estivador no papel principal".
Como ninguém acreditava no projeto, a estreia aconteceu no interior do interior americano - longe de NY ou LA - em maio de 1963.
Só que "Dr.No" tinha sido lançado em 5 de outubro do ano anterior no Reino Unido e na Europa, onde foi um enorme sucesso e se tornou um filme lucrativo.
Broccoli e Saltzman haviam oferecido o roteiro a vários estúdios - todos recusaram - e só a United Artists topou.
Sem credibilidade, coube aos produtores fazer, com pouca grana, um bom filme, que ao menos se pagasse.
O roteiro não era nada original: Bond passava metade do filme tentando entrar na casa do vilão, e a metade final tentando sair da casa do vilão.
Mas, mesmo com a produção modesta, "Dr. No" até hoje é um dos longas da saga Bond mais elogiados.
Rendeu nos EUA US$ 16 milhões e no mundio US$ 60 milhões - o que em grana de hoje daria perto de US$ 500 milhões.
O êxito de "Dr.No" garantiu que o próximo filme da saga - "Moscou contra 007" (1963) conseguisse uma verba de produção bem maior - US$ 2 milhões.
CURIOSIDADES DA PRODUÇÃO
1.
O primeiro longa da saga já apresenta o tema original de James Bond - criado por Monty Norman - que recebeu uma ninharia por aquela que se tornaria uma das mais famosas composições da história do cinema.
A música ganhou arranjos do maestro John Barry, que mais tarde seria responsável pela maioria das trilhas sonoras dos filmes da saga.
2.
A sequência de abertura - criada pelo designer Maurice Binder - é outra das marcas da saga Bond e também aparece aqui pela primeira vez: uma arma aponta para o espião, que consegue ser mais rápido e atira em direção ao suposto inimigo para, em seguida, vermos uma mancha vermelha descendo lentamente pela tela.
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Maurice Binder e sua mais famosa criação
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Maurice Binder e sua mais famosa criação
3.
A famosa frase, dita por todos os Bonds da telona: "Bond, James Bond", foi dita por Sean Connery, aos 5 minutos e 38 segundos de "Dr.No" - Bond está num cassino e se apresenta assim à estonteante Sylvia Trench - vivida por Eunice Grayson.
4.
Nem só de inimigos e traidores é formado o universo de relacionamentos de Bond: um dos seus mais frequentes colaboradores é o agente da CIA Felix Leiter - aqui interpretado por Jack Lord, que depois ficaria muito famoso como o Steve Mcgarrett na cult série "Hawaii-5.0".
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Jack Lord como Felix Leiter
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Jack Lord como Felix Leiter
Felix aparece, sempre interpretado por diferentes atores, em sete dos vinte e dois longas já lançados da saga.
5.
Bond usa atualmente uma arma automática Walther PPK, mas no começo de "Dr.No" o agente reluta em deixar de usar sua Beretta calibre 25.
Um tímido agente - que ainda não era o "Q" - consegue convencer Bond dos benefícios da troca, principalmente porque 007 acabava de ficar uma longa temporada num hospital por causa, justamente, da Beretta, que havia falhado numa missão.
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Sean Connery posa com uma Walther PPK
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Sean Connery posa com uma Walther PPK
O chefe do MI6, "M", referenda a troca: "Quando você carrega um duplo zero, tem licença para matar, e não para ser morto" e um perito em armas é taxativo ao opinar sobre a Beretta: "É uma arma para moças."
Bond convenceu-se e, desde então, usa a Walther PPK.
6.
Os super carros que Bond usaria nos outros longas da saga não estão disponíveis em "Dr.No".
G1
O Ford Sunbeam usado por Connery em "Dr.No"
G1
O Ford Sunbeam usado por Connery em "Dr.No"
Na Jamaica, Bond usa um modestíssimo Ford Sunbeam, cuja única virtude é ser rápido o bastante para que o agente secreto consiga fugir por uma estrada de cascalho.
As traquitanas que "Q" inventa? Esqueça!
Em "Dr. No", Bond usa uma prosaica lata de talco para perceber que mexeram no seu quarto de hotel e um imenso contador, que mede a radioatividade, chega às suas mãos despachado por Londres.
7.
O criador de Bond, Ian Fleming, queria o ator Sir Christopher Lee - que vinha dos sucessos da Hammer como o Drácula - como intérprete de Bond, mas foi convencido por Cubby Broccoli na aposta Sean Connery, até então um ator escocês absolutamente desconhecido.
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Sir Lee, como Scaramanga, segura a pistola de ouro, título do filme de 1974
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Sir Lee, como Scaramanga, segura a pistola de ouro, título do filme de 1974
Mais tarde, Sir Lee - que era primo de Fleming - fez um sucesso absurdo como o vilão Francisco Scaramanga, em "O Homem da Pistola de Ouro" (1974), segundo filme com Roger Moore como Bond.
8.
Nesse longa, já aparecem os personagens "M" - chefe do serviço secreto, interpretado por Bernard Lee - e sua secretária Moneypenny - Lois Maxwell.
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Lee e Maxwell, como "M" e Moneypenny em "Dr.No" |
Ambos os personagens apareceriam em quase todos os filmes da saga - mas Lee e Maxwell foram os atores que mais vezes os interpretaram.
Sobre os intérpretes de Bond, confira as próximas postagens!
Sobre os intérpretes de Bond, confira as próximas postagens!
Confira um clipe do filme:
*****
"O SATÂNICO DR.NO"
Título Original:
Dr.No
Ano de Produção:
1962
Diretor:
Terence Young
Produtores:
Albert R. Broccoli
Harry Saltzman
Fotografia:
Ted Moore
Roteiro:
Richard Mainbaum, Johanna Harwood, Barkley Mather, Terence Young (não creditado), baseados na obra de Ian Fleming
Música:
John Barry, Monty Norman
Maquiagem:
John O'Gorman
Figurino:
Tessa Welborn
Desenho de Produção/Cenário:
Kem Adam
Editor:
Peter Hunt
Efeitos Especiais:
Frank George
Elenco Principal:
Sean Connery (James Bond), Ursula Adress (Honey Ryder), Joseph Wiseman (Dr.No), Jack Lord (Felix Leiter), Bernard Lee (M), Louis Maxwell (Miss Moneypenny)
Cotação do Klau:
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