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sábado, 19 de fevereiro de 2011

FESTIVAL DE BERLIM: A PREMIAÇÃO DO JÚRI INTERNACIONAL


Em uma edição da Berlinale marcada mais pelas decepções do que pelo entusiasmo, não houve nenhuma surpresa na vitória do filme iraniano "Nader and Simin, A Separation", de
Asghar Farhadi.

Sem contrariar a opinião de uma boa parte dos jornalistas que apontavam nessa direção, o júri internacional presidido por Isabella Rossellini deixou o Urso de Ouro em boas mãos.

Os atores e atrizes do filme também receberam os Ursos de Prata de interpretação coletiva, o que foi uma ótima ideia para premiar o ótimo trabalho de todos eles.

Na apresentação dos prêmios pelo júri, o cineasta Jafar Panahi foi representado por uma cadeira, ocupada apenas por um cartaz com seu nome.

O júri se encantou pelo filme, que chegou no final da 61ª edição do Festival de Berlim como principal favorito do festival, tanto pela crítica internacional como pelo público.

Confira como foi a premiação em Berlim:


"Nader and Simin - a Separation", que levou o Urso de Ouro, prêmio máximo da Berlinale, é um drama familiar passado em Teerã, que traz à tona o conflito entre a dura tradição religiosa muçulmana e o desejo de mudanças da juventude -

O diretor Asghar Farhadi, de 38 anos, havia levado em 2009 o Urso de Prata de melhor diretor com o filme "Procurando Elly".

A Prata como Prêmio Especial do Júri foi para "The Turin Horse", do húngaro Béla Tarr, que era considerado a segunda principal opção para levar um dos grandes prêmios, a julgar pelas avaliações dos críticos que acompanham o festival.

O filme "El Premio", dirigido pela mexicana Paula Markovitch e centrado nos estragos da ditadura na Argentina, ganhou um Urso de Prata de melhor contribuição artística, pelo trabalho do director de fotografia Wojciech Staron e da cenógrafa Barbara Enriquez.

O Urso de Prata de melhor roteiro foi para "The Forgiveness of Blood", do diretor norte-americano Joshua Marston.
O filme retrata, por meio de uma família que torna-se prisioneira em sua própria casa, o conflito entre a modernidade e a tradição na Albânia.

O filme alemão "If Not Us, Who" ganhou o prêmio Alfred Bauer, que leva o nome do fundador do festival, e é dedicado a obras que "rompem os horizontes do cinema".
A produção alemã não parece se incluir nessa definição, mas foi, de toda maneira, um dos destaques da programação.

A 61ª edição do Festival de Berlim incluiu em sua competição 16 aspirantes aos prêmios, um número menor que o habitual, que se situa entre 18 e 22 títulos, e foi marcada pela pouca presença de estrelas de Hollywood e grandes nomes.

Cabe destacar, nesse sentido, que tanto o Urso de Ouro como o Prêmio Especial foram para os mais veteranos - Farhadi e Tarr.

O prêmio ao diretor iraniano foi também uma mensagem de solidariedade a seu colega Jafar Panahi, que cumpre pena em seu país por conspiração, e foi mantido pelo festival como membro do júri "à revelia", como forma de apoio.

O júri presidido pela atriz e diretora italiana Isabella Rossellini não fez rodeios e entregou os prêmios para um filme que chegou ao fim da 61ª edição do Festival de Berlim como principal favorito para ganhar tudo, e, com isso deu indiretamente uma última mensagem de apoio a Panahi.

Além desse sinal de solidariedade ao colega preso, os múltiplos prêmios a Farhadi foram amplamente justificáveis, já que, em poucas edições da Berlinale houve tanta unanimidade quanto à condição do favorito, tanto da crítica como do público.

À margem dos prêmios oficiais, o mais votado pelo público na seção Panorama, fora do concurso, foi para "También la Lluvia", da espanhola Icíar Bollaín, enquanto na segunda posição ficou "Medianeras", do argentino Gustavo Taretto.

O prêmio da Federação Internacional de Críticos de Cinema, entregue na sexta-feira, foi para "A Torinoi Lo".

O alemão "If Not Us, Who", de Andres Veil, ficou com o respeitado Alfred Bauer.

E o Urso de Prata de direção foi para Ulrich Kohler, do engajado "Sleeping Sickness".

Asghar Farhadi disse que o Urso de Ouro recebido por "Nader and Simin" é importante não apenas por ser um prêmio.
"Mas porque agora muitas outras pessoas terão oportunidade de assistir ao meu filme", disse ele.
"Esse também é um grande desafio."
Farhadi também lembrou Panahi, com quem disse ter conversado no intervalo entre a cerimônia e as entrevistas coletivas com os premiados.

Béla Tarr reafirmou que "The Turin Horse", filme que lhe valeu o Grande Prêmio do Júri, será seu último.
E que pretende, de agora em diante, trabalhar como produtor, com diretores iniciantes.
"Nesse filme, tudo se coaduna, tudo em que eu acredito tem que ser mostrado", disse ele.
"Eu poderia fazer outra coisa, talvez uma franquia. Mas não é o caso. Acho que meus filmes anteriores são muito valiosos para que eu comece a repetí-los a partir de agora."

Outro importante premiado da noite, Andres Veil, Urso de Prata de direção pelo filme "If Not Us, Who", deu espontaneamente seu depoimento sobre Panahi.
Ele disse ter uma "razão egoísta" para pedir ao governo iraniano que deixe o cineasta continuar fazendo filmes.
"O presidente [Ahmadinejad] está cometendo um erro estratégico", disse Veil.
"Ele precisa deixar que Panahi continue trabalhando."
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Fotos:© Internationale Berlim Filmfestspiele Os ursos inspiraram o logotipo da Berlinale, e foi projetado pelo escultor Renée Sintenis Berlim (1888-1965).
Elas foram produzidas pela Fundição Noack em Berlim desde o início da Berlinale.
O urso também é o símbolo oficial da cidade de Berlim.
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Confira a lista completa de premiados no 61º Festival de Berlim:

Urso de Ouro de Melhor filme:

"Nader and Simin - a separation", de Asghar Farhadi (Irã)


Urso de Prata, grande prêmio do júri:

"O Cavalo de Turim", de Béla Tarr (Hungria)

Urso de Prata de melhor diretor:

"A doença do Sono", de Ulrich Kohler (Alemanha)

Urso de Prata de melhor atriz:

Concedido ao elenco feminino de "Nader and Simin - a Separation"



Urso de Prata de Melhor Ator:

Concedido ao elenco masculino de "Nader and Simin - a Separation"

Urso de Prata de Melhor Contribuição artística:

Woyciek Staron, na câmera, e Bárbara Enríquez, em desing da produção, no filme "El premio", de Paula Markovitch (Argentina, México, França, Polônia e Alemanha) - na foto, a diretora Markovitch recebe o prêmio

Urso de Prata de melhor roteiro:

Joshua Marton e Andamion Murataj por "The Forgiveness Of Blood" (EUA, Albânia, Dinamarca, Itália)

Prêmio Alfred Bauer ao filme mais inovador:

"If Not Us, Who", de Andres Veiel (Alemanha)

Prêmio de melhor primeiro filme:
"On the Ice", de Andrew Okpeaha MacLean (EUA)

Urso de Ouro de melhor curta-metragem:
"Night Fishing", Park Chan-wook e Park Chan-kyong (Coreia do Sul)

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O Júri Internacional da Berlinale 2011

© Internationale Berlim Filmfestspiele
Isabella Rossellini é uma das atrizes mais famosas no cinema internacional.
Nos últimos anos, ela também deixou sua marca como produtora e diretora.
Filha da atriz sueca Ingrid Bergman e do diretor italiano Roberto Rossellini já trabalhou em mais de 40 filmes, com diretores como Robert Zemeckis, Joel Schumacher, Peter Weir, Abel Ferrara, Peter Greenaway, David Lynch e John Schlesinger, com quem ela filmou" The Innocent" em Berlim, em 1992.
Ela comemorou seu sucesso internacional em 1986 com o cult de Lynch,"Blue Velvet" . Ela compareceu à Berlinale pela primeira vez em 1994, como a atriz principal em "Fearless" .
Em 2005, ela apresentou o curta-metragem "Meu Pai tem 100 Anos" , uma homenagem a seu pai.
Voltou em 2007 como narradora do filme de Guy Maddin, "Brand Upon The Brain!" e em 2008 ela apresentou seu debut como diretora em "Green Porno", sobre a vida sexual dos insetos.
No Outono de 2010, concluiu a filmagem de "Late Bloomers" ( Berlinale Special 2011), comédia romântica dirigida por Julie Gavras em que estrela ao lado de William Hurt.

© Internationale Berlim Filmfestspiele
O diretor, autor e produtor iraniano Jafar Panahi fez uma série de curtas-metragens e documentários.
Sua estréia como diretor de longasd foi em "Badkonake Sefid" ( O Balão Branco ), que ganhou o Camera d'Or em Cannes 1995.
Em 1997, ele ganhou o Leopardo de Ouro em Locarno na Suiça para "Ayneh" ( O Espelho ), e em 2000 o Leão de Ouro em Veneza para "Dayereh" ( O Círculo ).
Fora de competição, ganhou o Urso de Prata (Grande Prémio do Júri) na Berlinale em 2006.
Em seus filmes, Panahi examina criticamente as circunstâncias sociais em seu país.
Pouco depois da Berlinale tê-lo convidado para estar no Júri Internacional em 2011, Panahi foi condenado a seis anos de prisão, e proibido de fazer cinema pelos próximos 20 anos.
Houve um protesto mundial contra essa sentença, que viola o direito à liberdade de opinião e de expressão.
A Berlinale 2011 é mantenvede uma cadeira no Júri para ele, e com isso quer sinalizar o apoio à sua luta pela liberdade.

© Internationale Berlim Filmfestspiele A Produtora Jan Chapman é uma figura de destaque na indústria do cinema australiano. Seu primeiro sucesso internacional veio com "O Piano" (1993), ganhador de três Oscars.
Desde então, ela continuou a trabalhar com sucesso com a diretora Jane Campion e, mais recentemente, em 2009, produziu para a diretora o drama romântico "Bright Star" .
Em 1989 ela fundou sua própria produtora, a Jan Chapman Films, e em seguida produziu vários filmes com diferentes diretores que foram aclamados pela crítica e pelo público - "Love Serenade" , "Holy Smoke" , "Lantana" , "Somersault".
Em 2004, recebeu o "Ordem Oficial da Austrália", por suas contribuições ao cinema de seu país.

Foto: Christian Schoppe / photoselection
A talentosa atriz alemã de cinema, televisão e teatro Nina Hoss comemorou seu primeiro grande sucesso em 1996 no papel-título do filme de Bernd Eichinger, "A Girl Called Rosemarie" .
Em 2000, ela foi uma das estrela na Berlinale.
Sua estreita colaboração com o diretor Christian Petzold tem sido extremamente bem sucedida: ganhou em 2001 o "Adolf Grimme Award" por seu papel em seu filme "De Algo para me Lembrar", e dois anos depois levou o "Adolf Grimme Award de Ouro" para Wolfsburg .
Sua performance como Yella lhe valeu o Urso de Prata de Melhor Atriz no Festival Internacional de Cinema de Berlim em 2007.
Seus papéis no cinema incluem o mais recente thriller de vampiros modernos "We Are the Night" ( dirigido por Dennis Gansel) e do romântico filme "Summer Window (dirigido por Hendrik Handloegten).

Foto: Gowariker Avinash
Aamir Khan é um astro de Bollywood: Ele chegou à fama com o filme "Qayamat Se Qayamat Tak" (1988).
Em 2001, ele alcançou o sucesso internacional no drama "Lagaan - Era Uma Vez Na Índia", nomeado para o Oscar.
Após sua estréia como diretor em 2007 - com "Taare Zameen Par" , Khan estrelou o filme "3 Idiots" que bateu todos os recordes de bilheteria em seu país de origem. Aamir Khan também é um aclamado produtor: o filme sátira "Peepli Live" (2010) foi escolhido como a entrada de indianos para uma indicação ao Oscar.
Ao todo, quatro de seus últimos dez filmes entram na corrida para uma indicação ao Oscar.

© Internationale Berlim Filmfestspiele O cineasta Guy Maddin , que cresceu em Winnipeg, no Canadá, criou um clássico "cult" com seu primeiro filme, "Tales from the Gimli Hospital", de 1988.
Desde então, ele ele fez nove longas-metragens e inúmeros curtas, muitas vezes integrando recursos estilísticos que recorrer à velha estética do cinema mudo e no início de produções sonoras.
Em 2007 ele apresentou seu filme mudo "Cérebro!" na Berlinale.
Foi acompanhado por uma orquestra ao vivo, três artistas , um cantor e Isabella Rossellini como narradora.
Em 2008, Maddin abriu a Berlinale Fórum com "My Winnipeg" - para esta homenagem à sua cidade natal canadense, ele combinou imagens de um documentário com fotos de família e trechos de filmes antigos.

Foto: Brigitte LacombeBaseada em Londres, Sandy Powell criou figurinos para cinema, teatro, dança e ópera.
Ela trabalha em produções inpendentes, desenhando figurinos para diversas épocas históricas.
Até hoje, ela foi nomeada para um total de nove prêmios da Academia - mais recentemente para o figurino de "The Tempest", e ganhou o primeiro de três Oscar por seu trabalho no filme "Shakespeare Apaixonado" (1999).
Seus trajes para cinebiografia de Martin Scorsese "O Aviador" lhe deram um segundo Oscar em 2005.
Mais recentemente, ela foi homenageada por seu trabalho no filme "The Young Victoria" (2010).
Além disso, ela foi nomeada nove vezes para o BAFTA, e levou para casa o prêmio duas vezes - por "Velvet Goldmine" em 1999 e "The Young Victoria" , em 2010.

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Confira todas as postagens da Berlinale 2011 no link:
http://blogdeklau.blogspot.com/search/label/Festival%20de%20Berlim

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A2012!

Com: © Internationale Berlim Filmfestspiele

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

BERLINALE: JOVENS ALBANESES ENCLAUSURADOS, TRILLER AMERICANO E FILME GAY ARGENTINO AGITARAM BERLIM HOJE

Hoje, o dia na Berlinale teve um filme americano que retrata jovens albaneses que vivem enclausurados dentro de casa, por causa de leis do século 15 ainda vigentes,e um triller estrelado por Liam Neeson que tirou o fôlego do público.

As vendas das obras exibidas continuaram a todo vapor, e um filme argentino sobre um garoto gay que persegue um homem adulto - e que sabe que nada acontecerá, porquê é "menor" - levou o "Teddy Bear", um dos mais importantes prêmios para filmes de temática homossexual do mundo.

Confira como foi a sexta feira em Berlim:


VENDETAS SECULARES ALBANESAS, HOJE EM BERLIM

"The Forgiveness of Blood"
é um novo filme que trata de tradições orais seculares que decidem como algumas famílias na Albânia resolvem suas vendetas, até hoje.

O moderno entra em choque com o medieval no filme contundente do diretor norte-americano Joshua Marston, que faz sua estreia na Berlinale nesta sexta.

O filme é o último dos 16 filmes da competição oficial exibido em Berlim, e as primeiras reações da crítica sugerem que possa ser candidato forte aos prêmios, que serão entregues amanhã(19).

O filme trata de uma família na zona rural da Albânia que entra em uma disputa com um clã vizinho, em torno do acesso à terra.

Quando a disputa termina em assassinato, a parte prejudicada impõe as normas intransigentes do Kanun - o código balcânico do século 15 que confere a uma família ofendida o direito de matar um homem da família que a ofendeu.

Em lugar de ser um simples olho por olho, dente por dente, outras regras podem ser aplicadas por meio do código, que não é oficialmente reconhecido no direito albanês, segundo os cineastas, mas é aplicado assim mesmo.

Ao centro da vendeta regida pelo orgulho, ignorância e intransigência dos adultos estão Nik, de 17 anos, que não pode mais sair de casa devido ao risco de ser morto, seu irmão de 7 anos e Rudina, sua irmã de 15.

Rudina pode sair de casa e procura fontes extras de renda, na tentativa de sustentar a família sozinha. Mas, para Nik, a vida vira um inferno, sem chances de encontrar amizade, amor ou sucesso.

O diretor Marston - seu filme de estreia, em 2004, foi o aclamado "Maria Cheia de Graça" - disse que, para ele, a imagem chave foi de um adolescente do século 21 enviando mensagens de texto e jogando videogame em cativeiro em sua própria casa, devido a regras do século 15.
"Ele é um garoto moderno que teve sua vida perturbada por um costume totalmente antigo."

Para pesquisar o Kanun, Marson percorreu a Albânia com o roteirista e guia albanês Andamion Murataj, conhecendo famílias envolvidas em vendetas desse tipo e vivendo no isolamento.

Uma das famílias estava nessa situação havia 15 anos: seus filhos nunca tinham ido à escola e não podiam ir mais longe que o quintal de sua casa.

Getty ImagesA atriz Sindi Lacej, o diretor Joshua Marston (centro) e o ator Tristan Halilaj participam da sessão de fotos do filme "The Forgiveness Of Blood''

O diretor brasileiro Walter Salles tocou no mesmo tema em "Abril Despedaçado", adaptação para o cinema do livro homônimo do escritor albanês Ismail Kadaré - no longa brasileiro, Salles transporta a ação da Albânia para o Nordeste brasileiro, numa trama que também envolve morte e vingança.

Marston disse que conhece o filme e é amigo de Salles, com quem conversou muito sobre seu projeto antes de rodá-lo.
"O tema é o mesmo, mas as abordagens são diferentes", disse o cineasta.
"Mas Walter me ajudou muito."

Marston alertou para o fato de que não se trata de um filme sobre vingança.
"É mais sobre a tensão entre a tradição e o moderno, numa situação de transição", disse ele.
"Tampouco era minha intenção como um país medieval. Ao contrário, é um país moderno e está trabalhando duro para sair de uma situação de paralisia. Legitimar o Kanun seria um passo atrás nesse sentido."

Questionado sobre por que tanto tempo entre se passou entre "Maria Cheia de Graça"e "The Forgiveness of Blood", o cineasta disse que a greve de roteiristas em Hollywood, há dois anos, e a natureza de seus projetos contribuíram para esse hiato.
"Estava no meio de um projeto de filme sobre o Iraque com orçamento de US$ 20 milhões quando estourou a greve", contou.
"Depois, estávamos no meio de um projeto que envolvia crianças no Brooklin nos anos 1970, quando o estúdio para quem trabalhávamos cancelou o projeto dizendo que um filme sobre crianças para adultos não era aceitável."

O filme teve a segunda melhor reação do público em Berlim - depois do filme do iraniano Ashgar Farhadi, com "Nader and Simin, A Separation" -, em um festival um tanto cansado após um desfile de 16 candidatos marcado pelos nomes jovens e no qual os dois únicos veteranos são os favoritos a levar o Urso de Ouro.


"DESCONHECIDO" TIRA O FÔLEGO DO PÚBLICO

Sabe aquelas explosões, perseguições e sequências de assassinatos que você espera de qualquer filme de ação?

Pois "Desconhecido", exibido hoje fora de competição, tem tudo isso em dose suficiente para deixar qualquer fã do gênero saciado.

Mas o filme, dirigido pelo cineasta espanhol Jaume Collet-Serra, tem também um roteiro capaz de dar sentido - mesmo que um sentido absurdo - a todas essas cenas típicas do gênero.

Inspirado em romance do escritor Didier van Cauwelaert, o filme acompanha a via crucis do Dr. Martin Harris - Liam Neeson - por Berlim após um acidente em que perde parte da memória.

Depois de acordar em um hospital, ele volta para o hotel onde deveria estar hospedado, mas descobre que sua mulher Liz - January Jones - não o reconhece mais e em seu lugar há outro Martin Harris - Aidan Quinn.

Desacreditado e sem recursos para provar quem realmente é, el e passa a vagar por Berlim em busca de ajuda para confirmar sua identidade - qualquer semelhança com o arquétipo do "homem errado", celebrizado na obra de Alfred Hitchcock não terá sido mera coincidência.

Divulgação

Liam Neeson, em cena de "Desconhecido"

É um filme capaz de deixar sem fôlego qualquer tipo de espectador - seja ele ou não um fã de tiros e sangue jorrando.

A trama, que envolve intriga internacional, descoberta científica e criacão de identidades, é protagonizada por um Liam Neeson atônito.

Lá pelas tantas, seu personagem, desesperado, se volta para um ex-agente nazista e diz: "Tudo que eu quero é saber se eu sou quem eu sou!".

Collet-Serra, hábil na construção do suspense e inventivo na "mise-en-scene" explosiva, nos faz passar duas horas sem desgrudar os olhos da tela.

Fora da linha de tiros, merece menção a inspirada sequência em que as lendas das telas, o alemão Bruno Ganz e o americano Frank Langella, com voz grave e expressão indecifrável, contracenam.

Confira o trailer de "Desconhecido":


Com mais baixos do que altos, e filmes que exigem muito até de quem está mergulhado na cinefilia, a Berlinale teve um momento de relaxamento com a exibição de "Desconhecido" - como o filme é ambientado em Berlim, está justificada a sua programação no encerramento da Berlinale.

Sem a presença dos protagonistas Liam Neeson - que está filmando no Canadá - e de January Jones, a produção foi representada em Berlim pelo diretor Jaume Collet-Serra e os atores alemães Diane Kruger, Sebastian Koch e Karl Markovics.

Getty ImagesA atriz Diane Kruger, ontem em Berlim

Kruger faz o papel da jovem motorista de táxi sérvia que levava Martin de volta para o aeroporto, quando ambos sofrem o acidente que o faz perder a memória.
Markovics é o médico que trata do personagem de Neeson no hospital e o diagnostica com perda de memória.
E Bruno Ganz interpreta Hans Jurgen, ex-agente da Stasi, a polícia política da Alemanha Oriental, que ganha a vida fazendo investigações privadas.

O personagem de Jurgen, responsável pelos melhores e mais engraçados momentos do filme, não fazia parte do livro.
"Escalamos Bruno Ganz e precisávamos de um personagem para ele", explicou Collet-Serra, na entrevista coletiva que se seguiu à movimentada sessão.
"Conversamos inclusive com ele e com um ex-agente do qual não vou citar o nome para saber qual era o papel da Stasi e como eles se comportavam."

Kruger disse que é o terceiro filme em seguida que faz em Berlim desde que se tornou atriz - o que é sinal de que muitas produções têm recorrido a Alemanha para ambientar seus filmes.
Ela também elogiou Neeson pela paciência que teve com ela durante as filmagens.
"Aprender um sotaque novo e mantê-lo não é muito fácil", explicou.
"E ele foi realmente muito paciente e carinhoso."


BOB MARLEY, NIETZSCHE E SHAKESPEARE,ENTRE OUTROS, À VENDA EM BERLIM

Um novo documentário sobre o rei do reggae, Bob Marley, além de obras mais árduas inspiradas no filósofo Friederich Nietzsche e no dramaturgo William Shakespeare, entre outros, foram negociados internacionalmente no Mercado do Filme da Berlinale.

"A tendência de queda no mercado mundial do filme terminou, tudo indica que saímos da recessão", declarou Beki Probst, diretor do European Film Market (EFM), grande espaço para o intercâmbio comercial de direitos de distribuição de filmes, realizado paralelamente ao Festival de Berlim.

Entre as fitas negociadas está o último filme do chileno Raúl Ruiz, "Los misterios de Lisboa", que no Brasil estreará na Mostra de São Paulo.

Segundo a revista especializada "Screen", o produtor português Paulo Branco, que costuma trabalhar com Ruiz, "confirmou muitas vendas de 'Os Mistérios de Lisboa'".

Outro sucesso mundial de vendas no EFM foi o novo documentário sobre Bob Marley, produzido pela multinacional "Fortissimo Films", e que será lançado para relembrar os 30 anos da morte do grande músico jamaicano morto em 11 de maio de 1981.

Segundo a revista "Variety", pela primeira vez a família de Bob Marley aceitou abrir seus arquivos.

Outro filme que encontrou muitos compradores no mundo foi um documentário do alemão Cyril Tuschi sobre o ex-rei do petróleo russo, Mikhail Jodorkovski, de 47 anos, que foi o homem mais rico da Rússia antes de se tornar opositor, inimigo jurado do premier russo, Vladimir Putin, e terminar na prisão.

Cyril Tuschi, que trabalhou durante cinco anos neste filme e conseguiu fazer uma das raras entrevistas que Jodorkovski concedeu atrás das grades, tentou na fita decifrar o enigma deste personagem.

O filme iraniano "Nader and Simin - a separation", de Asghar Farhadi, favorito ao Urso de Ouro, também despertou o interesse de muitos distribuidores no mundo, segundo comunicado da Berlinale.

Duas obras se destacaram este ano na mostra berlinense: "O Cavalo de Turim", do húngaro Béla Tarr, e "Coriolanus", do britânico Ralph Fiennes, uma adaptação aos tempos modernos da tragédia de mesmo nome de William Shakespeare.

"O Cavalo de Turim" se baseia em um detalhe da biografia do filósofo alemão Friederich Nietzche, que Béla Tarr resumiu assim na apresentação deste filme rodado em preto e branco e em planos-sequências:
"Em Turim, em 3 de janeiro de 1889, Friederich Nietzsche saiu de casa, situada no número seis da Via Carlo Alberto. Não longe dali, um cocheiro tem problemas com um cavalo empacado que se recusa a se mover; o cocheiro perde a paciência e começa a chicoteá-lo. Nietzsche, chorando, se aproxima e põe fim ao castigo, abraçando o pescoço do animal. Depois, enlouquece e permanece prostrado por 10 anos".

O filme de Béla Tarr descreve com exatidão a vida do cocheiro, de sua filha e do cavalo, sem muitos diálogos e com uma música hipnotizante, em meio a uma paisagem desolada e castigada pelo vento, até a escuridão total.

"Não podemos comunicar a esperança, nem a salvação. Só podemos contar as coisas como as vivemos. Vivemos em um mundo já terminado. E as coisas que acontecem com o cocheiro, sua filha e o cavalo nos acontecerão, cedo ou tarde. Basta sabê-lo para que não sejamos felizes", vaticinou o húngaro.

Ralph Fiennes, por sua vez, conhecido por seus papéis em "A Lista de Schindler" e "O Paciente Inglês", explicou sua forma de transpor a obra de Shakespeare para os tempos modernos:
"Ao ver na televisão imagens da guerra da Chechênia ou do Iraque, ou os distúrbios nas cidades, convenci-me de que meu cenário estava ao nosso redor", acrescentou.

A obra, escrita em 1607, conta a ascensão do general romano Caio Marcio Coriolano - interpretado por Fiennes - que encontra a glória combatendo com valentia até sua decadência e desterro, por desprezar o povo.
Quando ataca Roma, só o apelo de sua mãe - interpretada por Vanessa Redgrave - impedirá que arrase com a cidade.

Rodada na Sérvia, esta adaptação da obra à guerra moderna conserva a língua inglesa do século XVII, "familiar" aos ouvidos de Vanessa Redgrave.
"Conheço-a desde a minha infância, líamos sempre na igreja uma Bíblia em uma tradução contemporânea de Shakespeare", disse a atriz.

Os produtores independentes europeus e asiáticos chegaram à feira cheios de projetos em terceira dimensão.

O estúdio China Tianjin, por exemplo, vendeu "Legend of a Rabbit", para distribuidores de países como Coreia, Rússia, Cingapura, Malásia, Indonésia e Turquia.

No filme, o coelho do título, segundo o material de divulgação do projeto, é levado para Pequim para salvar a academia de kung-fu chinesa.
Criado por uma equipe de 500 animadores no decorrer de três anos, o candidato a blockbuster oriental deve ser lançado em pelo menos mil cinemas da China.

Os franceses do Studio Canal, por sua vez, começaram a vender o documentário "African Safari", reforçando aquilo que a Berlinale, com os documentários de Win Wenders ("Pina") e Werner Herzog ("Caverna dos Sonhos Esquecidos") indicou: o 3D deve criar, de fato, um novo padrão para o documentário.

Na bagagem de companhias inglesas vieram, para Berlim, o filme de ação "Twist", uma adaptação do "Oliver Twist" de Dickens, e "Michael Flattery: Lord of the Dance".

Também estava à venda no mercado o "Dracula" de Bram Stocker - o ousado projeto em 3D, assinado por Dario Argento e várias vezes anunciado, estaria prestes a sair do papel e ir para o set.

ARGENTINO "AUSENTE" LEVA PRÊMIO "TEDDY BEAR" DA BERLINALE

O filme argentino "Ausente" - dirigido por Marco Berger e exibido na categoria "Fórum" - venceu hoje (18) o prêmio Teddy Bear do Festival de Berlim, destinado ao cinema de temática homossexual.

"Ausente" é o segundo longa-metragem de Berger, um thriller que trata do poder intimidador das aparências.

A produção conta a história de um adolescente que persegue um adulto sabendo que, por ser menor de idade, a Justiça está do seu lado.

Divulgação

Cena de "Ausente"

O Teddy Bear - que com a presente edição completou 25 anos - foi entregue em uma festa realizada no antigo aeroporto de Tempelhof, em Berlim, que atualmente recebe todo tipo de festas e desfiles de moda.

Confira o trailer do filme:


A cerimônia contou com as presenças do prefeito de Berlim, Klaus Wowereit, do diretor da Berlinale, Dieter Kosslick, e de outras personalidades da vida pública da capital alemã.

É Berlim mostrando porquê é a cidade mais cosmopolita e vanguardista da Europa.