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sexta-feira, 10 de abril de 2015

'OS EXPERIENTES': NO PRIMEIRO EPISÓDIO DA MINISSÉRIE SOBRE A VELHICE, TIVEMOS DIVA BEATRIZ SEGALL EM QUÍMICA ABSURDA COM JOÃO CÔRTES, FINALMENTE ESTREANDO NA TV


SINOPSE:

A microssérie 'Os Experientes' é um projeto do diretor Quico Meirelles, 25 anos, filho do aclamado diretor Fernando Meirelles, que aqui atua como seu co-diretor.

Em quatro episódios independentes, a microssérie aborda um tema não muito em voga na TV aberta atualmente - a velhice - o que dá ao telespectador a oportunidade de rever nomes experientes e que a própria Globo já não utiliza mais em seus trabalhos.

CRÍTICA:
(PRIMEIRO EPISÓDIO - 'O ASSALTO')

A estrela do episódio de estreia - 'O Assalto' - foi Beatriz Segall, que do alto dos seus 88 anos deu um show, guiando com maestria a bem vinda estreia na Globo do jovem e ótimo ator João Côrtes - o rapaz ruivo que arrebenta nos comerciais da Vivo.

A microssérie foi rodada no ano passado e só estreia agora - o que estava amarrando novos convites para que o jovem e carismático ator pudesse desfilar seu enorme talento também na telinha - nos palcos, ele já é consagrado como um dos melhores da sua geração.

Fazendo um balanço de sua carreira, em uma ótima entrevista à repórter Amanda Serra, do UOL, em 2014, Beatriz Segall reclamou da falta de papéis para uma mulher de 88 anos, como ela.

“Acho que eles [Globo] não sabem que eu quero trabalhar até os 100 anos”, desabafou.

“Os velhos no Brasil não têm lugar, não são devidamente respeitados. Os diretores, autores devem ter medo que os atores velhos morram no meio da produção, isso explica a falta de espaço para veteranos na TV. Faltam papéis, falta dar importância à experiência, à sabedoria”, disse ainda a Diva.

'Os Experientes' de certa forma atende a esta reclamação da Diva Segall - eternizada em nossos corações e mentes como a Odette Roitmann da novela 'Vale Tudo' (1988/1989).

Beatriz Segall, em cena de 'O Assalto' - Fotos dessa Postagem: Zé Paulo Cardeal/TV Globo e Reprodução/TV Globo

O episódio de estreia, escrito por Antonio Prata, trouxe Beatriz no papel de Iolanda, uma médica idosa, feita refém dentro de um banco durante um assalto mal-sucedido.

 Kleber (João Cortês) é um técnico de ar condicionado, apaixonado pela namorada e que só tinha feito um favor a um bandido amigo (João Baldasserini) - deixar as armas para realizar o assalto no duto de ar condicionado da agência bancária.

Só que ele é deixado para trás pelo amigo e seu comparsa - capturados depois, segundo informa um programa à lá 'Cidade Alerta'.

Assim, o jovem trabalhador é obrigado a fazer reféns no banco, mesmo depois de ser baleado por um dos seguranças e ter seu pulmão perfurado.

Ao longo da narrativa, Iolanda é firme com o rapaz, troca ideias com ele, cuida do seu ferimento a bala e revela aspectos inesperados sobre o seu passado, como a sua participação em um assalto a banco durante a ditadura militar com seu marido - que morreu na ação.

João Côrtes faz sua estreia na Globo como Kleber

Na maior parte do tempo, só os dois estão no foco da narrativa e, generosa, Beatriz conduziu Côrtes cena a cena, arrancando do jovem ator uma interpretação arrebatadora e tornando a dupla absolutamente irresistível e surpreendente.

A locação - um banco na Rua João Brícola, centro velho de São Paulo, prédio que eu conheço muito bem porquê lá trabalhei durante dois anos - permitiu à direção e à fotografia brincarem com muitos elementos: closes, fundos em mármore, planos abertos dos dois no saguão vistos do mezanino, a luminosidade entrando pelas janelas, a negociação do assaltante com a polícia pelos trabalhados buracos entalhados na enorme porta de bronze, tudo para prender o telespectador da primeira à última cena.

Afinal, hoje é praticamente inexistente vermos na TV aberta tão boa combinação de direção, edição, texto, trilha sonora e elenco, tudo funcionando muito bem para contar uma história emocionante, sem ser piegas.

Côrtes e Segall em cena: dupla com química mais que perfeita

A cena final, com a Diva Segall caminhando, à noite, em passos curtos apoiados pela bengala, na rua e aos prantos, foi de uma beleza inenarrável - para mim, uma das mais belas cenas da TV aberta de todos os tempos.

Cena Final, mostra Iolanda saindo do banco, sozinha e chorando, caminhando pela rua

SINOPSES DOS PRÓXIMOS EPISÓDIOS:

Os próximos episódios serão estrelados por Juca de Oliveira, 80; Lima Duarte, 85; Selma Egrei, 66 e Othon Bastos, 81, além da surpresa: o jornalista Goulart de Andrade, 82 anos.

No segundo episódio, 'Os Atravessadores do Samba', a dupla Meirelles pai & filho entrega mais música que drama, mostrando quatro amigos idosos - Lucas (Germano Mathias), Oswaldo (Goulart de Andrade), Amaro (Zé Maria) e Mateus (Wilson das Neves) - que tentam recomeçar a carreira após a morte de um deles.

Cena de 'Os Atravessadores do Samba'

No terceiro, intitulado 'O Primeiro Dia', Napoleão (Juca de Oliveira) é um advogado viúvo, que mantém um relacionamento distante com o filho, Luiz (Dan Stulbach, que já está na Band, fazendo o 'CQC', pois, repito, a minissérie foi rodada no ano passado).

Sabendo pelo velho amigo e médico (Lima Duarte) que vai morrer logo, Napoleão vai então travar o último embate pelo amor do seu filho.

Juca de Oliveira, em cena do episódio 'O Primeiro Dia'

No quarto e último, intitulado 'Folhas de Outono', Selma Egrei é Francisca, uma mulher amarga que, após ficar cinco anos cuidando do marido doente, fica viúva e passa por uma reviravolta.

Esse episódio conta também com o talento de Joana Fomm, que interpreta a artista plástica Maria Helena, vizinha de Francisca, que após perder sua mãe se envolve afetivamente com a personagem de Egrei.

Selma Egrei, em cena de 'Folhas de Outono'

Pena que serão apenas quatro episódios - que venha mais e que a Globo libere todos os seus talentos da terceira idade para o genial projeto.

TRAILER:

FICHA TÉCNICA:
'OS EXPERIENTES'
Minissérie em quatro episódios
Onde:
Globo
Quando:
Sextas
Horário:
23h15
Direção:
Quico e Fernando Meirelles
Escrita por:
Márcio Alemão e Antônio Prata
Elenco Principal:
Beatriz Segall, João Côrtes, Goulart de Andrade, Zé Maria, Wilson das Neves, Germano Mathias, Lima Duarte, Juca de Oliveira, Dan Stulbach, Selma Egrei, Joana Fomm, 
Coprodução:
Globo, O2 Filmes

COTAÇÃO DO KLAU:
(Episódio 'O Assalto')

quinta-feira, 10 de abril de 2014

'HOJE EU QUERO VOLTAR SOZINHO': MELHOR FILME NACIONAL DO ANO, HISTÓRIA DE AMOR ENTRE DOIS MENINOS É SENSÍVEL E VERDADEIRA


Leonardo (Ghilherme Lobo) é um adolescente cego em busca de sua independência até que seu cotidiano, a relação com a melhor amiga, Giovana (Tess Amorim) e a sua forma de ver o mundo ganham novos caminhos, com a chegada de Gabriel (Fabio Audi), um menino que vai fazê-lo descobrir coisas que ele nem imagina, inclusive o amor.

Essa trama simples fez do novo trabalho do roteirista e diretor Daniel Ribeiro um dos longas mais aguardados desse ano, 'Hoje eu Quero Voltar Sozinho', que estreia hoje em 28 salas em todo o Brasil e que já começou sua trajetória ao fazer um sucesso absurdo no último Festival de Berlim, de onde saiu com o prêmio da Firepresci (Federação da Crítica Internacional) na seção Panorama e também com o 'Teddy Bear', Urso de melhor longa com temática gay.

Gabriel (Fabio Audi) e Leonardo (Ghilherme Lobo) em cena do longa - Fotos dessa postagem: Divulgação/Vitrine Filmes

O longa nasceu de um curta-metragem homônimo de 2010 também dirigido e roteirizado por Ribeiro, que levou os prêmios do júri oficial, da crítica e do público no Festival de Paulínia.

Sabendo que a história poderia render bem mais, Ribeiro dirigiu com extrema ternura o melhor filme brasileiro do ano, de roteiro impecável e com interpretações do jovem elenco muito acima da média, de colocar medalhões do nosso cinema no chinelo de tão boas.

Na trama, Leonardo (Ghilherme Lobo) é um adolescente cego, que sofre bullying por parte de alguns colegas de sala, é ignorado por outros e tem em Giovana (Tess Amorim) a única companheira de classe com quem tem afinidade.

Giovanna (Tess Amorim) e Leonardo
Descontente com o cotidiano - que inclui a atenção exacerbada dos pais - Leo sonha em deixar a vida que leva e fazer um intercâmbio, mas tudo muda quando começa a descobrir sua sexualidade após a chegada de um novo aluno na sua turma, Gabriel (Fabio Audi).

Poucos filmes, brasileiros ou não, trataram a sexualidade de um adolescente com tanta beleza e a sutileza está no conjunto e não apenas na construção do arco dramático do personagem.

Trilha sonora, fotografia, edição e elenco de apoio trabalham em sintonia de relógio suíço, mas sempre vibrante, com uma carga de verdade impregnando toda a produção, a ponto de o espectador, mergulhado desde a cena inicial, se esquecer completamente que está vendo um filme e não a vida real.

Tanto, que quando o longa acaba,  Leo e seus amigos parecem seguir o espectador para fora do cinema.

Os três amigos, em cena do longa

Se no curta os mesmos personagens enfrentavam o medo do primeiro beijo, no longa, o debate se amplia para o amor em geral e para as perspectivas de independência do adolescente em crise no seu duplo tabu (gay e cego), funcionando como inteligente ferramenta narrativa.

Leonardo não é visto como arquétipo social, como "o garoto cego" ou "o garoto gay", não é um símbolo único de uma dessas duas comunidades e suas dificuldades são usadas como metáforas para os conflitos de qualquer jovem, que também pode se sentir diferente por ser ruivo, obeso, órfão, disléxico ou simplesmente tímido, ruim em esportes etc.

Este é, enfim, a grande sacada do filme: tratar as particularidades do protagonista como trataria as especificidades físicas e de temperamento de qualquer adolescente.

Sem pretensões militantes (exceto na cena final), o roteiro evita fazer apologias das particularidades de Leonardo e, assim, quando vemos o dia a dia do personagem, ele já está devidamente inserido na sociedade, estudando em uma escola para adolescentes sem deficiência, indo e voltando para casa com a amiga Giovana.

Não vemos o baque da chegada do garoto cego à escola, nem a descoberta do próprio Leonardo de seu desejo por homens, pois o roteiro - também de Ribeiro - ultrapassa os típicos relatos cinematográficos de autodescoberta para ir direto ao próximo passo: a autoafirmação.

Um pequeno buylling

O longa costura os conflitos da trama de maneira leve e terna e os poucos momentos de bullying praticados por um grupo de colegas não deixam grandes marcas em Leonardo, assim como as brigas com os pais se dissipam em minutos e as disputas com Giovana sempre caminham para a reconciliação.

A fotografia abusa do desfoque da imagem para representar a falta de visão de Leonardo, o som direto evita ruídos em quartos e salas de aula e a trilha nunca é ostensiva.

E o longa segue extremamente acadêmico: uma personagem sempre espera a outra concluir seu diálogo para começar o seu, as cenas iniciam quando um personagem está prestes a dizer alguma frase e os enquadramentos seguem a lógica de plano e contra-plano, tudo feito para que nenhuma cena se destaque ou choque muito, ou seja: o espectador dificilmente vai ver cena mais natural do que o primeiro selinho entre dois garotos.

Gabriel e Leonardo, em cena do longa

O longa sempre nos lembra que estamos vivenciando situações de jovens brancos, urbanos, de classe média alta, onde ninguém pensa em fugir de casa ou se vingar dos pais, apenas fazer uma viagem de intercâmbio - financiada pelos próprios pais, lógico.

O desejo sexual também é retratado de maneira muito particular, com a edição interrompendo a cena no momento em que esta sugere uma masturbação ou uma ereção, o que lembra a todo instante que este não é um filme sociológico ou psicológico, e sim um retrato intimista de tendência universal.

Mas o espectador pode ficar tranquilo com relação ao romance entre os dois garotos: o tom sempre é de ternura e cumplicidade, delicado (sem a conotação pejorativa) e muito sincero, o que faz do longa, simples em suas pretensões artísticas, um belo tratado de afetos, sejam eles entre dois garotos, entre um amigo e sua amiga ou entre os pais e os filhos.

Destaque para a cena onde Leonardo conversa com sua avó (Selma Egrei, excelente na sua volta às telonas) a respeito de relacionamentos e que mostra o talento do diretor para retratar um amor natural e otimista.

Filmaço.

Confira o trailer do longa:

*****
'HOJE EU QUERO VOLTAR SOZINHO'
Gênero:
Drama
Direção e Roteiro: 
Daniel Ribeiro
Elenco:
Eucir de Souza, Fabio Audi, Ghilherme Lobo, Isabela Guasco, Júlio Machado, Lúcia Romano, Naruna Costa, Selma Egrei, Tess Amorim, Victor Filgueiras
Produção:
Daniel Ribeiro, Diana Almeida
Fotografia:
Pierre de Kerchove
Montador:
Cristian Chinen
Duração:
96 min.
Ano:
2014
País:
Brasil
Cor:
Colorido
Estreia no Brasil:
10/04/2014
Distribuidora:
Vitrine Filmes
Estúdio:
Lacuna Filmes
Classificação:
12 anos
Cotação do Klau: