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sexta-feira, 10 de agosto de 2012

À BEIRA DO CAMINHO': PÉ NA ESTRADA EMOCIONANTE AO SOM DE ROBERTO CARLOS


Até eu mesmo ter uma fase "road" na minha vida - de 1989 a 1994 - confesso que eu nem gostava tanto de "road movies", gênero mais eficiente para se discutir as mudanças entre o ser e o estar - e só quem rodou milhares de quilômetros, como eu, sabe que a estrada e o profundo aprendizado que ela traz é a intermediária entre essas duas condições.

Em "À Beira do Caminho", dirigido por Breno Silveira - de "2 Filhos de Francisco" - e que estreia hoje, seu protagonista, João (João Miguel, de "Xingu"), não "é" um motorista de caminhão, ele "está" motorista de caminhão.

Os flashbacks mostram, há um motivo sério e cair na estrada pode ser a superação de uma dor, enquanto a chegada é o novo estado, a redescoberta de si mesmo.

Imagens: Divulgação - Fox Film
João Miguel e Vinícius Nascimento, em cena do longa

O longa orbita em torno das canções de Roberto Carlos - o caminhoneiro é apaixonado por elas - e seu título vem nome de uma música que, embora não esteja no filme (não foi liberada pelo cantor), tem seus versos ecoando fortes na narrativa - "Preciso acabar logo com isso, preciso lembrar que eu existo" - e aponta também para os elementos que João vai juntando ao longo de suas experiências - a física, nas estradas pelo Brasil, e a espiritual.

O ser e o estar ressurge quando a estrada é um referencial na vida de João - e se para a maioria das pessoas, a estrada é apenas o meio de viagem que será concluído com a chegada, no caso do protagonista, que vive em fuga, a estrada é o seu lar.

O elemento mais forte, que promove mudanças, é o menino Duda (Vinicius Nascimento), que perdeu a mãe e foge para São Paulo em busca de um pai que nunca conheceu - do pai, só tem uma foto e um endereço.

Assim, o longa mostra que o que está à beira do caminho é mais rico do que a estrada asfaltada e o reencontro com um ex-amor da juventude, Rosa (Dira Paes, maravilhosa), começa a demonstrar melhor o conflito que consome João.

Rosa, Duda, ou mesmo dona Maria do Carmo (Denise Weinberg) revelam-se aos poucos e, por eles, a vida de João é então revelada.

Dira Paes e Ludmila Rosa, em cena do longa

Na voz de Roberto Carlos, as músicas - quatro que ele liberou para o filme em suas gravações originais: "A distância", "O portão", "Amigo" e "Outra Vez" – dão o tom ao filme e à jornada do caminhoneiro.

Assumidamente emotivo, o longa não se envergonha de provocar lágrimas e o diálogo estabelecido com as canções está mais no tom do que no sentido literal, mas a melancolia da casa na qual as pessoas parecem tocar a vida – porque não têm outra coisa para fazer enquanto esperam – é uma imagem que corresponde com a mesma força aos versos de "O portão".

Muitas outras músicas de Roberto podem não estar explicitamente no filme - são a força da trama e dos personagens - mas é em "É preciso saber viver" que o recado é dado - eu, assim como o João, aprendi a duras penas que não adianta fugirmos milhares de quilômetros, pois os nossos problemas e as decisões que devemos tomar estão conosco, sempre.

João Miguel e Dira Paes, em cena do filme

Roberto não podia estar mais coberto de razão - e nem o marchandising escancarado da Volvo - montadora que foi coprodutora e forneceu o caminhão do protagonista - tira esse brilho.

O longa foi vencedor de seis prêmios no Cine PE: Filme pelo júri oficial e pelo popular, Melhor Ator, Ator Coadjuvante e Roteiro, além do troféu de honra Gilberto Freyre.

Confira o trailer do filme:

*****
'À BEIRA DO CAMINHO'
Diretor:
Breno Silveira
Elenco:
João Miguel, Dira Paes, Vinicius Nascimento, Ludmila Rosa, Denise Weinberg, Ângelo Antônio
Produção:
Breno Silveira, Lula Buarque de Hollanda
Roteiro:
Patrícia Andrade
Fotografia:
Lula Carvalho
Trilha Sonora:
Roberto Carlos
Duração:
102 min.
Ano:
2010
País:
Brasil
Gênero:
Drama
Cor:
Colorido
Distribuidora:
Fox Film
Estúdio:
Conspiração Filmes / Fox International Productions
Classificação:
14 anos
Cotação do Klau:

sexta-feira, 6 de abril de 2012

'XINGÚ': SAGA DOS IRMÃOS VILLAS BÔAS PERMITE UM MERGULHO REAL E BELO NUM BRASIL AINDA DESCONHECIDO


Brasil, década de 40: os irmãos Orlando, Cláudio e Leonardo Villas Bôas deixam para uma vida classe média em São Paulo para trás, e se juntam à "Marcha para o Oeste", que os coloca em contato com a selva amazônica onde passariam a maior parte de sua vida - a partir daí, o resto é história,  e os irmãos sertanistas viraram referência mundial, mesmo que criticados e contestados.

Brasil, 2012: exibido na mostra Panorama do Festival de Berlim 2012 - onde foi aclamado - e atração no Festival de Tribeca (Nova York) - agora em abril - o longa "Xingu", dirigido por Cao Hamburger, recupera uma parte do legado do trio - o caçula Leonardo morreu precocemente em 1961, Cláudio, em 1998 e Orlando em 2002.
Divulgação
Os irmãos Cláudio, Leonardo e Orlando Villas Bôas, em cena do filme  - interpretados por João Miguel, Caio Blat e Felipe Camargo, respectivamente

O roteiro de Cao Hamburger, Elena Soárez e Anna Muylaert cumpre bem com a promessa de revisitar o grande período de tempo que se dispõe a contar, o que obriga a narrativa a dar saltos e simplificar episódios, sem jamais prejudicar o entendimento e a evolução da trama, e acerta também ao humanizar cada um dos irmãos e deixar clara sua premissa de defesa dos indígenas, que culminou na criação do Parque Nacional do Xingu, em 1961 - que completou 50 anos mesmo diante do assédio de latifundiários e posseiros para exploração de suas riquezas e terras.

No longa, vemos que os primeiros a deixar São Paulo para trás rumo a Goiás são Cláudio - interpretado por João Miguel - e Leonardo - Caio Blat, o melhor ator da sua geração, disparado - que se passam por analfabetos para poderem ser membros da expedição que no governo Getúlio Vargas buscava conquistar novos territórios para o chamado "progresso".
Divulgação
Os Villas Bôas, em meio aos índios

Orlando - Felipe Camargo, soberbo - é o último a abandonar a vida boa de funcionário de uma empresa petrolífera em São Paulo, não só pela incerteza, mas também pela aventura nessa nova fronteira do Brasil.

Líderes naturais, os irmãos logo se mostram valorosos na abordagem de índios isolados, arredios e muitas vezes agressivos, contra uma invasão branca atabalhoada e vista com extrema desconfiança pelas tribos, e logo se tornam os melhores interlocutores dos índios, de quem aprendem línguas, costumes, tornam-se seus maiores protetores, mesmo sem terem sido preparados para a empreitada.
Divulgação
Os irmãos em pleno sertão

Só que a boa índole dos irmãos não bastam para preservar as populações nativas da cobiça econômica e de uma vasta agenda política, que leva especialmente Orlando a tornar-se uma espécie de negociador permanente com os sucessivos governos do país - Getúlio Vargas, Eurico Gaspar Dutra, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros (no governo de quem se criou o Parque do Xingu), João Goulart e os presidentes militares pós-golpe de 1964.

O longa mostra o grande amor que une os três irmãos, e também as diferenças que os separam em diversos momentos da vida - como o dramático conflito com Leonardo por seu envolvimento com uma índia, que resulta na sua expulsão e volta para São Paulo, no final dos anos 1950.
Divulgação
Os Villas Bôas no sertão

Da mesma forma, Cláudio nem sempre vê com bons olhos as negociações de Orlando junto aos políticos, o que dá margem a diversas concessões que meu xará não consegue digerir.

Com a chegada dos brancos, compreendemos o esforço dos Villas Bôas para ganhar tempo para os índios, ao mesmo tempo lhes permitindo formar novas lideranças entre eles mesmos, que, no devido tempo, assumirão as funções  dos sertanistas - a prova desta evolução  está na escalação para os papeis dos indígenas como donos da própria história o próprio elenco indígena do filme, como Tapaié Waurá - no papel do cacique Izaquiri, Maiarim Kaiabi - Prepori - e Awakari Tumã Kaiabi - Pionim - verdadeiros e perfeitos.

Na última batalha dos irmãos que o filme mostra - a construção da Transamazônica, nos anos 1970, que forçou Orlando e Cláudio, contra a vontade, a contatarem os ainda isolados krenacarore - restou a amargura: dos 600 índios conhecidos então, apenas 79 restaram.

"Xingu", além do bom roteiro, direção segura e três protagonistas maravilhosos, conta ainda com fotografia de Adriano Goldman - maravilhosa -, montagem inspirada de Gustavo Giani e música Beto Villares, três craques do nosso cinema, e que fazem aqui o melhor dos seus trabalhos.

Em tempos em que tanto se fala em Ecologia, "Xingú" fala ao espectador sobre temas áridos - como devastação e chacina de populações nativas - sem banalizar nenhum deles e permite um mergulho, real e belo, num Brasil até hoje desconhecido.

Filmaço.

Confira o trailer de "Xingú":
*****
"XINGÚ"
Diretor:
Cao Hamburger
Elenco:
João Miguel, Felipe Camargo, Caio Blat, Maiarim Kaiabi, Awakari Tumã Kaiabi, Adana Kambeba, Tapaié Waurá, Totomai Yawalapiti
Produção:
Fernando Meirelles, Andrea Barata Ribeiro, Bel Berlink
Roteiro:
Cao Hamburger, Elena Soares
Fotografia:
Adriano Goldman
Trilha Sonora:
Beto Villares
Duração:
102 min.
Ano: 2011
País:
Brasil
Gênero:
Aventura
Cor:
Colorido
Distribuidora:
Columbia Pictures/ Downtown Filmes
Estúdio:
O2 Filmes / Globo Filmes
Classificação:
12 anos
Cotação do Klau: