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sábado, 21 de maio de 2011

CANNES 2011: PRIMEIROS PREMIADOS FORAM DIVULGADOS

Os primeiros prêmios já foram entregues em Cannes, nessa noite de sábado:

ALMODÓVAR LEVA O PRÊMIO DA JUVENTUDE
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MOSTRA "UM CERTO OLHAR" PREMIA O COREANO "ARIRANG" E O ALEMÃO "HALT AUF FREIER STRECKE"
***
"LE HAVRE", DE AKI KAURISMÄKI, LEVA PRÊMIO DA CRÍTICA INTERNACIONAL
***
JÚRI ECUMÊNICO PREMIA FILME SOBRE CANTOR GÓTICO ESTRELADO POR SEAN PENN
***
"LES GÉANTS" GANHA PRÊMIOS NA QUINZENA DE REALIZADORES
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E TEVE PRÊMIO PARA GAYS E CACHORROS TAMBÉM
***

Confira:


ALMODÓVAR LEVA O PRÊMIO DA JUVENTUDE

"A Pele que Habito", de Pedro Almodóvar, ganhou neste sábado (21) o Prêmio da Juventude em Cannes, que foi recebido por seu irmão Agustín Almodóvar, produtor e roteirista do longa.

Getty ImagesO produtor e roteirista Agustín Almodóvar

O filme, protagonizado por Elena Anaya, Antonio Banderas e Marisa Paredes, foi escolhido como o melhor da seleção oficial por sete jovens cinéfilos de 18 a 25 anos.

Agustín Almodóvar dedicou o prêmio "ao que a juventude representa" e ressaltou que "certamente são os jovens o futuro do cinema e da sociedade".

Ele revelou em seu twitter que prefere não criar grandes expectativas para domingo, quando serão anunciados os prêmios do júri oficial:
"A concorrência é duríssima e estamos muito satisfeitos com o trabalho feito até hoje".

O prêmio da juventude é entregue há 30 anos em Cannes e é organizado pela Secretaria de Estado da Juventude em colaboração com o festival.


MOSTRA "UM CERTO OLHAR" PREMIA O COREANO "ARIRANG" E O ALEMÃO "HALT AUF FREIER STRECKE"

A primeira grande cerimônia de encerramento desta 64ª edição aconteceu hoje à noite, na Sala Debussy.

O diretor da programação, Thierry Frémaux, abriu a noite de gala convidando, para subir ao palco, os seguranças e recepcionistas com quem, nas palavras de Frémaux, "muita gente se desentendeu nestes dias".

Depois de afagar os funcionários, Frémaux chamou ao palco o júri da mostra
"Un Certain Regard", presidido pelo diretor Emir Kusturica.

O primeiro prêmio, de melhor direção, foi entregue à mulher do diretor iraniano Mohammad Rasoulof - o cineasta foi preso, no ano passado, com outros de seus colegas, como Jafar Panahi, e não pode deixar o país. Ao subir ao palco, sua mulher foi fortemente aplaudida.

Getty ImagesO diretor irtaniano Mohammad Rasoulof

A outra estrela da premição foi o diretor coreano Kim Ki-Duk, que dividiu o prêmio de melhor filme com o alemão Andreas Dresen.

Ki-Duk, para agradecer, cantou uma canção - quando o tom subiu e ele, cineasta e não cantor, deu uma desafinada, Kusturica fez uma careta no palco.

Os ganhadores do "Un Certain Regard" recebem um diploma.

O filme brasileiro "Trabalhar Cansa", exibido no "Un Certain Regard", não recebeu nenhum prêmio hoje, mas os diretores Juliana Rojas e Marco Dutra ainda concorrem à "Camera d'Or", atribuída aos realizadores que estão em seu primeiro filme.

Confira os ganhadores do "Um certo Olhar":
Arirang, de Kim Ki-Duk
Halt Auf Freier Strecke (parada em pleno vôo), de Andreas Dresen

Prêmio Especial do Júri
Elena, de Andrey Zvyagintsev

Prêmio de direção
Bé Omid É Didar (adeus), de Mohammad Rasoulof


"LE HAVRE", DE AKI KAURISMÄKI, LEVA PRÊMIO DA CRÍTICA INTERNACIONAL

"Le Havre",
do diretor finlandês Aki Kaurismäki, recebeu neste sábado o prêmio da crítica internacional - Fipresci -, que também distinguiu a produção franco-belga "L'Exercice de l'etat", de Pierre Schoeller.

Com esse prêmio, Kaurismäki tenta, pela quarta vez, ganhar a Palma de Ouro, prêmio que o júri presidido por Robert de Niro entregará amanhã e para o qual ainda não há um favorito.

GettyO diretor Aki Kaurismäki em Cannes

"Le Havre" é um conto mágico sobre emigração que, apesar de ser filmado na França, tudo nele remete à Finlândia, graças ao trabalho de iluminação tênue e parcial e o código de conduta dadaísta dos personagens.

Por sua vez, "L'Exercice de l'etat", de Pierre Schoeller, foi destaque na seção
"Um Certo Olhar" desta 64ª edição do festival, enquanto na Semana da Crítica, o júri Fipresci coincidiu com o júri oficial e distinguiu o americano "Take Shelter", de Jeff Nichols.


JÚRI ECUMÊNICO PREMIA FILME SOBRE CANTOR GÓTICO ESTRELADO POR SEAN PENN

Outro prêmio entregue em Cannes foi o do Júri Ecumênico, que premia os filmes
“paz e amor” da seleção – aqueles que melhor desenvolvem questões humanistas.

O prêmio principal ficou com o italiano “This Must Be The Place”, de
Paolo Sorrentino, estrelado por Sean Penn.

Divulgação
O ator Sean Penn, em cena de “This Must Be The Place”

Segundo o júri, o filme “é a viagem interior e a odisséia de um homem em busca de suas raízes judias e de maturidade, reconciliação e esperança”.

Mais duas menções especiais foram dadas: uma para o finlandês “Le Havre”, “uma ode à esperança, à solidariedade e à fraternidade”; e o francês “Et Maintenant on va où?”, da libanesa Nadine Labaki, sobre “os habitantes de um pequeno vilarejo dispostos a tudo para preservar a paz entre as duas comunidades que vivem no mesmo espaço”.


"LES GÉANTS" GANHA PRÊMIOS NA QUINZENA DE REALIZADORES

"Les géants", do belga Bouli Lanners, ganhou na mostra paralela
"Quinzena de Realizadores" do Festival os prêmios da Sociedade de Autores e Compositores - SACD - da França e o da Confederação Internacional de Cinemas de Arte e Ensaio - Art Cinema Award.

O objetivo do Art Cinema Award é ajudar o filme premiado a encontrar seu público na rede de 3 mil salas de Arte e Ensaio de 31 países da Europa, América Latina, Estados Unidos e África.

Por sua vez, o austríaco Karl Markovics ganhou com seu filme "Atmen" o prêmio Label Europa Cinema, que busca estimular a promoção de filmes europeus em uma rede de 816 salas de toda a Europa.


E TEVE PRÊMIO PARA GAYS E CACHORROS TAMBÉM

Cannes é um festival tão grande que tem até prêmio para o melhor cachorro que tenha aparecido em algum filme do evento: a Palm Dog, trocadilho com a Palme d’Or - Palma de Ouro.

Neste ano, não teve pra ninguém: o vencedor foi Uggy, um terrier que “interpreta” o melhor amigo de um astro decadente do cinema mudo no filme francês “The Artist”, de Michel Hazanavicius.

Confira o trailer de “Skoonheid”:


A Queer Palm, prêmio para o melhor filme gay de todo o festival, foi para o franco-sul-africano “Skoonheid”, de Oliver Hermanus, sobre um homem de meia idade e pai de família que se apaixona por um rapaz de 23 anos, filho de um velho amigo.

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Com Reuters e Getty Images

sexta-feira, 20 de maio de 2011

CANNES 2011: A SEXTA TEVE SEAN PENN GÓTICO, CRÍTICA FAVORÁVEL A ALMODÓVAR, ARREPENDIMENTO DE VON TRIER E "LARANJA MECÂNICA"

Confira o que foi notícia no Festival de Cannes, nesta sexta (20):

O FESTIVAL SE APROXIMA DO FINAL, SEM FAVORITOS
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E VON TRIER?
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SINCERO COMO SEMPRE, SEAN PENN CRITICA REAÇÃO DOS NORTE-AMERICANOS À MORTE DE BIN LADEN E ARRANCA APLAUSOS COMO CANTOR GÓTICO
***
EM FILME DIRIGIDO POR DINAMARQUÊS, RYAN GOSLING TEM ATUAÇÃO IMPECÁVEL EM "DRIVE"
***
OLHA A JANE FONDA GENTE!
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"LARANJA MECÂNICA" VOLTA A CANNES APÓS 21 ANOS E SEU PROTAGONISTA DÁ UMA SENHORA AULA DO QUE É SER UM ATOR
***
E agora, leia as matérias:


O FESTIVAL SE APROXIMA DO FINAL, SEM FAVORITOS

Após centenas de exibições, festas extravagantes frente ao mar e até um escândalo político, protagonizado pelo dinamarquês Lars von Trier, o Festival está próximo do fim sem nenhum claro favorito, embora esteja sendo muito mencionado o nome do finlandês Aki Kaurismaki, e seu filme "Le Havre".

O filme de Kaurismaki - que aborda com humor e fraternidade o polêmico tema da imigração clandestina - está entre os favoritos dos críticos, frente a filmes como "Árvore da Vida" - do americano Terrence Malick, que dividiu a plateia em Cannes - e "A Pele que Habito", de Pedro Almodóvar - um thriller que arrancou aplausos, assim como críticas muito favoráveis.

Esta edição do Festival de Cannes "se politizou", comentou um crítico de cinema nesta sexta (2), após o escândalo de von Trier, que causou comoção na quarta-feira ao afirmar que sentia "certa simpatia" por Adolf Hitler.

As frases, ditas em tom de gozação pelo diretor, uma das personalidades do cinema mais interessantes dos últimos anos, fizeram os diretores do Festival considerá-lo "persona non grata", apesar do pedido de perdão do cineasta, que continua na disputa pela Palma de Ouro.

Graças às excelentes críticas internacionais, "A Pele que Habito", de Almodóvar, está entre os favoritos para receber a Palma de Ouro, depois das vaias a Malick e da declaração de Trier .

Os aplausos foram moderados e os risos durante a projeção em momentos dramáticos mostravam que a impressão não era unânime, mas alguns meios de comunicação internacionais já apontam que esta 64ª edição pode ser, finalmente, a de Almodóvar.

O "Daily Telegraph" diz que o novo filme do diretor "é o trabalho de um mestre no mais alto de sua arte", enquanto a revista americana especializada em cinema "Hollywood Reporter" também se manifestou encantada com face mais lúgubre do outrora luminoso Almodóvar, dizendo que "só alguém com tanto talento como Almodóvar poderia ter misturado esses elementos sem arruinar o filme (...) ninguém como ele é capaz de ajustar o imaginário às emoções".

Peter Bradshaw, crítico do "The Guardian", dá ao filme quatro estrelas - de um máximo de cinco - e diz que "apresenta algo hipnótico à cirurgia-pornô ascética de seu teatro cirúrgico da crueldade: o látex, o aço frio e a carne. É retorcido e insano e sua coreografia da autopossessão é magnífica".

Almodóvar também foi recebido com honras em sua segunda casa, a França: o
"Le Monde" descreve "A Pele que Habito" como "a deslumbrante experiência do dr. Almodóvar".
Embora a publicação reconheça o desconcerto pelos riscos nem sempre bem ordenados, "a maestria do diretor encoraja o espectador a reconsiderar o filme não como uma história, mas como um estranho e magnífico objeto visto pela primeira vez após tirar as vendas".

Já o "Le Figaro" é menos entusiasta e classifica o filme como "um Almodóvar menor" e, embora destaque a interpretação de Elena Anaya e o aspecto visual da obra, considera que ele tem "um roteiro totalmente confuso", e que não é "habitado" pelo gênio espanhol.

Assim, maior vitrine mundial do cinema se encerra no domingo com a glamurosa cerimônia de premiação, na qual serão revelados os ganhadores da cobiçada Palma de Ouro de melhor filme e os outros prêmios dados a filmes da competição principal, que engloba 20 trabalhos.

Mas os filmes foram reduzidos a uma atração secundária desde a quarta (18), quando Von Trier provocou o escândalo.

Mesmo assim, seu filme - "Melancolia", estrelado por Kirsten Dunst e Charlotte Gainsbourg nos papéis de irmãs que enfrentam a aniquilação em uma colisão cósmica - permanece na competição, o que significa que, pelo menos teoricamente, pode receber prêmios, incluindo a própria Palma de Ouro.

Para muitos cinéfilos, o escândalo gerou um clima sombrio em um festival que deveria ter sido lembrado por sua seleção ousada de filmes, pelos astros de primeira linha que passaram pelo tapete vermelho e pelo mercado de compra e venda de filmes em plena atividade.

"Como sou amante de vinhos, direi que Cannes 2011 está sendo uma safra boa, com muita diversidade", disse Annette Insdorf, professora de cinema na Universidade Columbia.

Angelina Jolie, Brad Pitt, Sean Penn, Penelope Cruz, Johnny Depp, Marion Cotillard, Woody Allen e Robert de Niro, este presidente do júri, percorreram o tapete vermelho, onde se juntaram a eles uma multidão de outros grandes nomes da música e do cinema que participam do circuito de festas agitadas de Cannes.


E VON TRIER?

Em entrevista para um pequeno grupo de jornalistas hoje em Mougins, a apenas 7 quilômetros de Cannes, o diretor dinamarquês Lars Von Trier brincou sobre a expulsão.
“Fiquei sabendo que tenho que manter uma distância de 100 metros do Palácio dos Festivais. No domingo, acho que vou ficar do lado de fora fazendo sinais para saber se o filme foi premiado.”

O cineasta reiterou mais uma vez que não tem convicções nazistas e que fez as declarações em tom de brincadeira, sem querer ofender ninguém.

Francois Mori/APO diretor Lars Von Trier em Mougins, hoje

Para não correr o risco de novas polêmicas, ele decidiu que não quer mais participar de entrevistas coletivas.
“Acabo de descobrir o que significa a expressão ‘estraguei minha própria festa’ - I pissed on my chips, em inglês. Eu fico nervoso e me ponho a falar o que não devo. Não falei isso pra machucar as pessoas. Essa situação está prejudicando meu filme e minha produtora.”

Depois da notícia de que os distribuidores argentinos de "Melancolia" haviam desistido de lançar o filme no país por conta das declarações nazistas - a Argentina é um dos países do mundo onde mais se encontram judeus - , a empresa responsável pelo lançamento do título no Brasil fez questão de dizer que o filme deve estrear nos cinemas brasileiros em 5 de agosto.

Na entrevista, todo mundo achou que era mais uma de suas piadas, mas Von Trier está realmente engajado em fazer de seu próximo filme um pornô.

A ideia é ter diversas atrizes de idades variadas encenando as experiências sexuais de uma mesma personagem da infância à velhice - a história será narrada pela mulher já mais velha, recordando suas lembranças.
“Não consigo falar de erotismo sem mostrar penetração, acho que essa é uma parte fundamental da experiência erótica. Mas prometo que não será chato como os filmes eróticos que vemos na TV”.

Segundo ele, seu desafio será envolver o espectador numa atmosfera de excitação diferente e mais forte do que os filmes pornôs comuns.

Outra grande diferença: misturar o sexo carnal com reflexões sobre o mundo espiritual, entre elas um questionamento sobre as Igrejas no Ocidente e no Oriente, com “lampejos do Espírito Santo que transmitem uma sensação de satisfação espiritual”.

Nem Deus sabe o que virá por aí, mas agora é só aguardarmos mais uma obra do gênio pela frente.


SINCERO COMO SEMPRE, SEAN PENN CRITICA REAÇÃO DOS NORTE-AMERICANOS À MORTE DE BIN LADEN E ARRANCA APLAUSOS COMO CANTOR GÓTICO

Ao contrário de boa parte dos atores norte-americanos, que costumam encarar as entrevistas coletivas como uma extensão de seu trabalho e fazem de tudo para "entreter" os jornalistas, Sean Penn, em Cannes, não se esforçou em fazer graça.

Na conversa que se seguiu à exibição de "This Must Be the Place" , filme que compete pela Palma de Ouro, o ator, estrela da mesa, limitou-se a dar respostas curtas ou a, simplesmente, dizer "sim" ou "não".

O único tema que o fez sair dos monossílabos foi o sentimento de vingança que, supostamente, move seu personagem, um ex-roqueiro de batom de cabelos longos, chamado Cheyenne.
"Acho que o personagem, mais do que de vingança, está em busca dele mesmo, ele quer tentar se entender", definiu o ator, para emendar: "Mas eu tenho que admitir que a noção de vingança é, hoje, um tema norte-americano. É só a gente pensar nas reações emocionais dos americanos à morte Bin Laden... Acho que o filme toca nisso".

Getty Images
Sean Penn em Cannes, hoje

"This Must Be the Place",
que traz também Frances McDormand no elenco, foi dirigido e produzido por italianos, mas tem locações e tema norte-americanos.

No filme, Penn representa um roqueiro gótico catatônico, uma história estranha que acompanha o popstar aposentado Cheyenne, de uma vida de luxo na Irlanda para uma caçada a um guarda de campo nazista da Segunda Guerra Mundial, nos Estados Unidos.

Dirigido pelo italiano Paolo Sorrentino, Penn usa base branca pesada sobre o rosto, além de batom vermelho manchado e delineador preto nos olhos.

Com a maquiagem e seu cabelo preto frisado, o personagem lembra os roqueiros Ozzy Osbourne e Robert Smith, vocalista do The Cure.

Além do visual incomum, o personagem de Penn é marcado por um andar afetado e fala em voz aguda e afeminada, na qual lança frases curtas que exprimem sua desilusão com o mundo.

O clima de desesperança e inércia só é aliviado quando ele deixa sua vida doméstica tranquila em Dublin ao lado de sua mulher, representada por Frances McDormand, e parte em uma jornada para vingar-se do homem que humilhou seu pai, judeu, em um campo de concentração.

Indagado o que levou a aceitar o papel de Cheyenne, Penn respondeu:
"Os filmes de Sorrentino têm um quê de esdrúxulo. Há uma apreensão do mundo que me parece certa, mas eu ainda não a tinha visto ser articulada como ele a articula."

A participação do ator, que alterna sua carreira nas telonas igualmente com produções de grande orçamento efilmes independentes, foi fruto de um encontro do ator com Sorrentino em Cannes três anos atrás, quando o ator duas vezes premiado com o Oscar presidiu o júri do festival e o filme "O Divo", de Sorrentino, recebeu o prêmio do júri.

"Sorrentino faz filmes acelerados sobre pessoas lentas e filmes engraçados sobre pessoas tristes. Ele possui um humanismo que faz com que seus filmes valham a pena ser vistos", disse Penn.

"Para mim, ele é um dos poucos mestres do cinema da atualidade. Quando você trabalha com ele, como ator, você também é apreciador. Ele tocava o piano e eu virava as páginas", acrescentou.

O ator não quis comparar Cheyenne com seu breve personagem em “A Árvore da Vida”, outro forte candidato à Palma.
“Os dois são completamente diferentes, e filmei-os com anos de distância”.

Já o diretor, depois de fazer quatro filmes na Itália, disse que curtiu a experiência de filmar nos Estados Unidos.
“Éramos crianças filmando num mundo novo”.

A crítica presente ficou impressionada com o desempenho de Penn no filme que retoma em seu título, "This must be the place", uma música do grupo Talking Heads.

A história aborda a questão da vingança pela humilhação, mas desvinculada da violência.
"Acho que o rock and roll tem um lugar muito importante, porque se contrapõe ao que acredito que se transformou em 'a doença' de uma classe", disse Penn.

O personagem de Penn vive as consequências de uma vida excêntrica típica de um rock star já decadente - já sem música e rodeado de luxo superficial, retorna a seu país, os Estados Unidos, após a morte de seu pai com quem não mantinha contato há 30 anos.

DivulgaçãoSean Penn em cena de "This Must Be the Place" dirigido pelo italiano Paolo Sorrentino

A viagem exterior para encontrar quem humilhou seu pai acompanha a viagem interior que permite ao músico continuar a busca de uma vida inteira por vingança.

O filme aborda a questão do genocídio nazista e a procura por seus principais responsáveis, em uma diferente versão dos típicos caça-nazistas do tipo Simon Wiesenthal.

Confira o trailer de “This Must Be The Place”:


Frances McDormand interpreta a esposa compreensiva, divertida e apaixonada do protagonista, e Eve Hewson - filha de Bono Vox - vocalista do "U2" - interpreta uma fã punk que é amiga do personagem de Penn.


“This Must Be The Place” já tem estreia garantida no Brasil, mas a data ainda não foi definida.


EM FILME DIRIGIDO POR DINAMARQUÊS , RYAN GOSLING TEM ATUAÇÃO IMPECÁVEL EM "DRIVER"

Outro longa apresentado no Festival nesta sexta (20) foi "Drive", do dinamarquês Nicolas Winding Refn e estrelado por Ryan Gosling, que encarna um motorista discreto que faz ronda nas noites de Los Angeles, e que divide seu tempo entre uma oficina mecânica e os freelas como dublê de filmes de ação.

O cineasta citou os irmãos Grimm como leituras relacionadas à sua obra com a tradição europeia dos contos, e narra de maneira muito divertida como convenceu Gosling a interpretar o papel.

Segundo o dinamarquês, foi algo que denominou como "praticamente um encontro às cegas", que começava mal e de repente atingiu um "orgasmo mental".

Getty Images


O diretor Winding Refn e o ator Ryan Goslin, hoje em Cannes

A ideia era criar um personagem que destroça automóveis quando trabalha como dublê no cinema, os conserta durante o dia em uma oficina mecânica e participa de assaltos como taxista de delinquentes, e tudo isso sem quase abrir a boca.

É um "cavalheiro" solitário que encontra uma dama em perigo - a vizinha Irene vivida por Carey Mulligan - por quem se apaixona silenciosamente, e que o faz arriscar ainda mais o pescoço.

O motorista interpretado por Gosling carrega um passado misterioso e, aparentemente, negro, tão negro como a evolução do personagem, inevitavelmente metido em uma espiral de violência e sangue.

Confira um teaser de "Drive":


Tanto nas cenas violentas, tranquilas e as de perseguição, Gosling - candidato ao Globo de Ouro por "Namorados Para Sempre" e em Cannes com "Tolerância Zero" em 2001, prêmio do Júri - não diz quase uma palavra, mas não é preciso, pois sua interpretação é impecável.


OLHA A JANE FONDA GENTE!

Quando falei aqui sobre Peter Fonda em Cannes, perguntei onde andaria sua irmã - e uma das minhas divas favoritas - Jane Fonda.

E não é que ela surgiu, linda de viver em Cannes na quinta (19) à noite?

Aos 73 anos, a atriz exibiu sua boa forma e até fez uma dancinha, durante o evento amfAR Cinema Against Aids, aquele baile anual indealizado por Liz Taylor que arrecada fundos para a luta contra a aids.

BrainpixA Diva americana Jane Fonda no baile de caridade de Cannes, na quinta (19)

Tia Jane ainda está bem lindona! Adoro ela!


"LARANJA MECÂNICA" VOLTA A CANNES APÓS 21 ANOS, E SEU PROTAGONISTA DÁ UMA SENHORA AULA DO QUE É SER UM ATOR

O mostra Cannes Classics, uma das mais charmosas seleções do festival, trouxe de volta, na quinta (19), o impactante "Laranja Mecânica" (1971), adaptação de um romance de Anthony Burgess, e o nono longa-metragem do mestre Stanley Kubrick.

Quando foi lançado, 40 anos atrás, a obra chocou muita gente, pela ultra violência mostrada numa Londres futurista.

O ator Malcom McDowell, que interpretou o protagonista Alex Delarge, líder de uma gangue sádica, acompanhou a projeção da cópia restaurada.

DivulgaçãoO ator Malcom McDowell como Alex Delarge, em "Laranja Mecânica" (1971)

O restauro de "Laranja Mecânica" deu origem também a uma edição Blu-ray que terá, como charme extra, o selo comemorativo do 40º aniversário de lançamento do filme.

Confira o trailer original de "Laranja Mecânica":


As qualidades que levaram Malcolm McDowell a interpretar um dos personagens mais perturbadores da história do cinema não transpareceram na calma e bem-humorada conversa que ele manteve com o crítico francês Michel Ciment, ontem, na tradicional Leçon du Cinéma - aula de cinema - do Festival.

A aula de McDowell, 68, fez parte de um quadro de homenagens ao diretor
Stanley Kubrick, que incluiu exibições especiais da versão restaurada de
"Laranja Mecânica" e do documentário
"Il Était une Fois Orange Mecanique/Era uma Vez Laranja Mecânica" - na seção Cannes Classics.

McDowell esteve pela primeira vez em Cannes com "Se...", de Lindsay Anderson, que terminou levando a Palma de Ouro em 1969, e foi justamente ao ver "Se..." que Kubrick escolheu o ator para protagonizar "Laranja Mecânica".

"Foi Christiane
- viúva de Kubrick, presente na plateia - quem me contou essa história. Stanley tinha uma cabine de cinema em casa e havia sempre um projecionista de plantão. Ele pediu para ver "Se...", e, logo na minha entrada, apertou a campainha que se comunica com a cabine, pedindo para repetir a cena. Fez isso mais duas vezes e, depois, disse: "Acho que encontramos nosso Alex"."

The Guardian
O ator Malcolm McDowell, em Cannes nessa sexta

McDowell pisou num palco pela primeira vez aos 11 anos.
"Fui escolhido para estrelar um musical na escola e, quando me vi no palco, com as luzes cegando meus olhos, me senti em casa."

Depois de fazer um pequeno papel no filme "Poor Cow", de Ken Loach - participação que acabou sendo cortada na montagem - McDowell teve sua grande chance no cinema como protagonista de "Se...", conto de rebeldia estudantil que se tornou uma marca da época.

"Filmamos "Se..." em 1968. Certo dia chegou ao set um exemplar do "London Times" trazendo na primeira página uma foto de estudantes em fúria na frente da Sorbonne, e lembro-me de Lindsay Anderson dizer:
"Estamos fazendo um filme atualíssimo"."

Apaixonado por cinema, McDowell tomou como modelo o ídolo James Cagney.
"O maior ator do mundo. Amo sua energia. Era imprevisível e perigoso, você nunca sabia o que viria em seguida."

Essa mesma energia McDowell invocou para viver Alex em "Laranja Mecânica" - outro filme que se tornaria um marco da época, retrato brutal da delinquência juvenil e crítica severa à violência do Estado.

McDowell conta que Kubrick era obsessivo, mas também divertido.

"Ficamos quase um ano trabalhando juntos, ele era uma figura adorável. Certo dia, depois de repetir o mesmo plano pela 20ª vez, falei para ele: "Agora entendo por que você gosta tanto de trabalhar com Peter Sellers. Ele pode te oferecer 40 opções de uma mesma fala de forma totalmente diferentes, para que você possa escolher depois". Não sei se tinha essa capacidade."

"Uma vez me disseram que eu era um ator de teatro muito cinematográfico",
disse McDowell, para completar:
"Talvez tenham razão. Se você quiser que a plateia faça um close-up, basta falar mais baixo ou pausadamente. Se você quiser um "plano médio", basta fazer um pequeno gesto. E se quiser um plano à distância, pode fazer um grande movimento. Acredito que um ator pode montar sua performance no palco."

Uma senhora aula, de um soberbo ator.

*****
Com Reuters, UOL, AP, Folha de S.Paulo, The Guardian, Brainpix e site do Festival
Redação Final: Cláudio Nóvoa

terça-feira, 17 de maio de 2011

CANNES 2011: A TERÇA TEVE CHINÊS ERÓTICO EM 3D, IRANIANO LIBERADO, JODIE FOSTER, IMIGRANTES E ALESSANDRA NEGRINI

Confira os destaques da terça (17 de maio) do Festival de Cannes:

ERÓTICO CHINÊS EM 3D FATURA ALTO EM CANNES
***
ALEGRIA EM CANNES:MOHAMMAD RASOULOF PODE DEIXAR IRÃ E PARTICIPAR DO FESTIVAL¨
***
COM FOCO NOS IMIGRANTES QUE VIVEM NA FRANÇA, "LE HAVRE" ARREBATOU A PLATEIA
***
BASEADO EM CANÇÃO DE CHICO BUARQUE, "O ABISMO PRATEADO" É APRESENTADO EM CANNES
***
JODIE FOSTER ACREDITA QUE AMIGOS SÃO PARA SEMPRE, E REITERA AMIZADE COM MEL GIBSON
***
E agora, curta as matérias, com muita informação, fotos e trailers:


ERÓTICO CHINÊS EM 3D FATURA ALTO EM CANNES

Longe dos holofotes do tapete vermelho, “3D Sex and Zen: Extreme Ecstasy” faz sucesso no mercado de Cannes, porquê está sendo vendido como o primeiro filme erótico em 3D da história do cinema.

Produzido em Hong Kong, passou com folga a bilheteria de “Avatar” no fim de semana de estreia no país - custou US$ 4 milhões e já faturou US$ 7 milhões.

DivulgaçãoO pôster do filme

Baseado num livro da dinastia Ming escrito há 200 anos, “Sex and Zen” mistura comédia pastelão e cenas eróticas inacreditáveis de tão absurdas.

Wei, um discípulo da dinastia, acredita que a vida é curta e deve ser aproveitada com muito sexo, Apaixona-se pela filha de um sábio chinês, mas antes resolve aproveitar a vida.

Duas cenas inacreditáveis: Wei tansplantando seu membro pelo de um cavalo, e um rival que transa com uma de suas discípulas voando pelo ar pendurado por uma corrente, como Tarzan!

O 3D serve como arma de propaganda, mas não muda grande coisa no filme - a não ser talvez no close nos peitos - pequenos - de uma das concubinas.

Confira o trailer do filme:


Mesmo com tema impróprio para salas “normais”, “Sex and Zen” já garantiu algumas vendas no festival.

Depois de estrear em Taiwan, Austrália e Nova Zelândia, em Cannes já foi vendido para distribuidores do Peru, Turquia e Tailândia.


O povo, realmente, adora uma sacanagem diferente, né?



ALEGRIA EM CANNES:MOHAMMAD RASOULOF PODE DEIXAR IRÃ E PARTICIPAR DO FESTIVAL

O Festival manifestou nesta terça (17) a sua "satisfação" com a notícia da autorização de deixar o Irã concedida ao cineasta iraniano Mohammad Rasoulof, que teve sua última obra, "Adeus", exibida em Cannes.

As autoridades iranianas retiraram a proibição de deixar o país imposta ao cineasta de 37 anos, que era mantido em prisão domiciliar por propaganda hostil ao regime, anunciou nesta terça-feira seu advogado.

Getty Images

O diretor iraniano Mohammad Rasoulof

Mas os diretores do Festival ressaltaram que "só ficarão felizes" se a apelação de sua condenação de 6 anos de prisão der resultado.
"Estamos satisfeitos, se for confirmado, que Rasoulof pode vir, e voltaremos a exibir seu filme, mas apenas ficaremos felizes quando seu recurso em apelação e o de Jafar Panahi derem resultado", declarou à AFP o delegado geral do festival,
Thierry Frémaux.

O festival ainda não tem "confirmação" de sua chegada a Cannes, disseram as fontes.

Rasoulof foi condenado a seis anos de prisão em dezembro, junto com seu compatriota Jafar Panahi, de 50 anos - a ditadura iraniana também proibiu Panahi de dirigir filmes por 20 anos, e o diretor iraniano mais conhecido do mundo atualmente permanece em prisão domiciliar em Teerã.

Os dois cineastas apelaram da decisão da justiça, foram liberados, mas não podem deixar o Irã.

Nesta terça-feira, o advogado de Rasoulof, Iman Mirza Zadeh, declarou à agência de notícias Isna que tinha recebido a confirmação oficial de que as autoridades haviam retirado a proibição imposta ao cineasta de deixar o país.

"Adeus", de Rasoulof, foi apresentado no domingo e será exibido novamente se o diretor for a Cannes.

O longa-metragem de Jafar Panahi "In Film Nist/Este não é um Filme" -, filmado "em condições quase clandestinas", deve ser exibido na sexta (20).


COM FOCO NOS IMIGRANTES QUE VIVEM NA FRANÇA, "LE HAVRE" ARREBATOU A PLATEIA

Com o mérito de estar à altura do que se espera dele, o finlandês Aki Kaurismäki apresentou nesta terça (17) em Cannes outra porção do humor estático e do romantismo residual que o caracterizam, mas com um adicional de conteúdo social.

O diretor de "O Homem sem Passado" e "Nuvens Passageiras" concorre pela quarta vez à Palma de Ouro com este filme protagonizado por um engraxate da estação de Le Havre, na França, que, enquanto sua mulher está internada em um hospital, acolhe um adolescente africano perseguido pela Polícia.
"A imigração é um problema muito grande para dar respostas. Tudo vem da colonização e é um pouco tarde para resolver isso, mas se os políticos saíssem de seus quartos de hotel e de seus Mercedes, talvez as coisas começassem a mudar um pouco", disse o mais famoso dos produtores finlandeses.

"Le Havre", embora apresente uma guinada rumo à trama social, se sobrepõe aos gêneros.

Apesar de ser filmado na França e em francês, tudo nele remete à Finlândia, graças ao trabalho de iluminação tênue e parcial e o código de conduta dadaísta dos personagens - o universo de Kaurismäki, mais uma vez, está acima das coordenadas de espaço e tempo.
"A cidade de Le Havre era minha última esperança e a verdade é que é um lugar triste, embora não o suficiente para o que eu queria fazer. Mas era o mais longe que minha cabeça podia estar da Finlândia", explicou em entrevista coletiva o diretor que poderia ser um personagem de seus próprios filmes.

Francois Durand/Getty ImagesO diretor Aki Kaurismäki em Cannes

Em "Le Havre", o cineasta constrói esse microcosmo pausado e cômico no qual, apesar do ambiente gélido, um coração frágil bate dentro de cada personagem.
"Finlândia e Suécia são os únicos países que não poderiam ter sido cenário deste filme, porque ninguém ficaria tão desesperado para ir para lá", afirmou Kaurismäki.

A partir desta observação, a entrevista coletiva se transformou em um tipo de extensão de "Le Havre".

Quando Karuismäki foi repreendido pelo moderador por acender seu cigarro elétrico, disse:
"Não posso apagá-lo, precisaria um cinzeiro elétrico", para em seguida enfiá-lo na boca do lado contrário.

Quando um jornalista começou a perguntar "Te parece irônico...", ele cortou para responder: "Tudo!". E quando acabou a pergunta com um "... que a esperança exista só nos filmes e não na vida?", o diretor ainda contra-atacou: "Se a vida te parece decepcionante terá que perguntar a ela, não a mim".

Confira o trailer de "Le Havre":


Ao lado de Kaurismäki estavam os integrantes do elenco do filme: sua musa habitual, Kati Outinen, que volta a emprestar seu físico de governanta para a heroína romântica, e os atores franceses Jean-Pierre Darroussin - figura carimbada do cinema de Robert Guédiguian - e André Wilms, com o qual volta a trabalhar após
"La Vie de Bohéme".
"O personagem também se chama Marx. É um flerte do filme que ninguém viu com este que ninguém verá", prosseguiu o diretor, que também colocou no elenco a cadela Laika, "atriz canina" de quinta geração.

Com ela e os atores franceses, Kaurismäki não pôde se comunicar abertamente, já que não domina o idioma deles - nem o canino, nem o francês -, mas disse: "Sou burro, mas não idiota" em cristalino português, para depois acrescentar que sabe "reconhecer quando um ator está atuando bem em qualquer idioma".

Mas o cineasta, que já levou a Palma de Ouro com "O Homem sem Passado", volta com vontade de vencer.
"Agora quem fala é o Kaurismäki produtor. O diretor e o roteirista foram pescar. Estou muito contente de estar em Cannes", afirmou.


Ao fim da entrevista coletiva, os presentes aplaudiram quase tanto quanto no próprio filme.



BASEADO EM CANÇÃO DE CHICO BUARQUE, "O ABISMO PRATEADO" É APRESENTADO EM CANNES

O diretor brasileiro Karim Ainouz apresentou nesta terça (17) "O Abismo Prateado", a história de uma separação amorosa inspirada na canção "Olhos nos olhos", de Chico Buarque, na Quinzena dos Realizadores, mostra paralela do Festival.

Violeta - interpretada por uma sensual Alessandra Negrini - é uma dentista moradora do Rio de Janeiro, casada e mãe de um menino de 15 anos.

O casal parece viver bem no novo apartamento que acabou de comprar e a paixão parece estar acesa, uma vez que o filme começa com uma tórrida cena de amor.

Porém, pouco tempo depois um "terremoto" abala a vida de Violeta, quando seu marido - interpretado por Otto Jr - envia a ela de Porto Alegre uma mensagem dizendo:
"Meu amor, já não te amo mais. Sinto que estou sufocado ao teu lado e vou embora para a Patagônia".

O filme conta as 24 horas que se seguem na vida de Violeta, sua peregrinação, seu desespero, seu desejo de partir imediatamente até Porto Alegre para buscar o marido.

A roteirista Beatriz Bracher disse que o filme "não pretende explicar as razões psicológicas da separação. Ele começa com uma forte cena de amor para que logo seja sentida a ausência do homem", explicou.


Já Ainouz falou da canção de Chico Buarque que o inspirou a pensar na história.
"Uma certa noite, quando eu estava num trecho de Copacabana onde o mar bate muito forte e a onda já levou muita gente, notei esse perigo, o abismo", explicou.

"A separação para ela é como um terremoto e a canção é a partida do processo. Talvez dentro de algum tempo, quem sabe daqui a uns 10 anos, será melhor. A personagem da qual trata 'Olhos nos olhos' também é uma mulher abandonada", analisa.

"Chico Buarque é um dos maiores compositores do Brasil, muitas de suas músicas têm a ver com o Rio de Janeiro, onde há esse forte contraste entre a natureza e a civilização. Queria que o Rio fosse como um personagem, como um espelho da personagem de Violeta", considerou.

"Venho do Nordeste do Brasil, onde existe uma estrutura matriarcal muito forte, uma vez que muitos homens abandonam suas mulheres. Queria falar dos maridos que se vão. Este me parece ser um tema muito importante para as mulheres brasileiras", acrescentou.

Na sua solidão, Violeta se encontra com um jovem pai e sua filha, abandonados pela mulher.
"Isso a faz sair de dentro de si mesma e se dar conta de que outras pessoas vivem a mesma situação que ela", afirma o diretor.

Alessandra Negrini disse que "a separação ocorre após uma ligação telefônica, só se escuta a voz, enquanto a canção de Chico Buarque entoa algo como 'se voltar e olhar nos meus olhos, verá que terei rejuvenescido".

"O importante para mim era entrar nesse estado de espírito da mulher abandonada, onde não há um enredo, tudo se dá através da emoção, do sentimento",
afirmou a atriz.

Numa das cenas do filme, vê-se Violeta dançando sozinha em uma boate ao som da música "Maniac", da trilha sonora de Flashdance.

"Esta música acessa a memória, é uma música muito importante para a nosaa geração. E quando Violeta a escuta, entra como que em um transe, como se acessasse uma época de 15 anos atrás, da última vez em que foi a uma boate", disse Ainouz.


JODIE FOSTER ACREDITA QUE AMIGOS SÃO PARA SEMPRE, E REITERA AMIZADE COM MEL GIBSON

No pior momento da carreira de Mel Gibson, sua amiga Jodie Foster o dirige em
"Um novo despertar", filme apresentado nesta terça (17) fora de competição em Cannes e onde o ator australiano faz um 'striptease' emocional, com seu personagem deprimido que encontra salvação em um fantoche de castor - daí o título original, "The Beaver".

"O castor é um animal que constrói coisas e depois as destrói",
explicou Jodie em entrevista coletiva, um paralelo vivido por Gibson na atualidade - o ator construiu um duradouro estrelato em Hollywood e agora parece empenhado a jogar por terra o prestígio conquistado com sua vida pessoal.

"Para este personagem não pensei em mais ninguém. Mel é alguém que entende o humor, a luz e o encantamento do personagem, mas também conheço profundamente sua luta para continuar em frente", afirmou Foster, que no filme também interpreta a esposa do protagonista - a obra tem também os talentos juvenis de Jennifer Lawrence e Cherry Jones.

Essa mudança será, ao menos, curiosa, já que o empresário de sucesso que está imerso em uma depressão há dois anos, começa a recuperar o entusiasmo pela vida ao comunicar-se única e exclusivamente - inclusive durante suas relações sexuais - por meio do castor fantoche.

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A diretora se mostrou radiante e feliz no festival francês após o fracasso registrado nos Estados Unidos, onde arrecadou apenas US$ 300 mil desde o dia da estreia em 6 de maio.

Confira o trailer de "Um Novo Despertar/The Beaver":


Para "salvar" Mel Gibson após seus problemas com álcool e suas polêmicas declarações antissemitas, Jodie Foster aplicou a medicina que com ela funciona muito bem em seu amigo.
"Os filmes são para mim uma viagem de sobrevivência. Para mim é difícil admitir que algo me incomoda. Os filmes são uma forma de tratamento emocional e intelectual", explicou.

“Mel influenciou na má bilheteria”, admitiu Jodie.
“Mas não me preocupei com a vida pessoal dele. Mel sempre foi o primeiro na minha lista para o papel”.

Desde julho do ano passado, o ator é acusado de agredir sua ex-namorada, Oksana Gregorieva e, em março último, ele decidiu se entregar à polícia para ser fichado e interrogado – na mesma noite em que “Um Novo Despertar” estreava num festival de cinema americano.

Pelo mesmo motivo, Gibson não participou da coletiva de imprensa - segundo a produção do filme, ele tinha compromissos em Los Angeles, mas chegará a tempo para a sessão de gala na noite desta terça.
“Mel virá sim. Ele não vai falar, mas virá”, admitiu Jodie, sorrindo.

Mesmo com a vida turbulenta, Gibson tem uma boa atuação em “Um Novo Despertar”, e, em seu terceiro filme como diretora, Foster faz uma aposta arriscada: Walter Black, o personagem de Gibson, é um executivo que entra em crise de depressão, se recusa a se comunicar com a família e passa a falar através de um fantoche de castor que achou no lixo e que nunca mais tira de sua mão.

Poderia ser ridículo, mas Jodie segura bem o tom do drama familiar, e se mostra uma amiga dedicada.
“Mel é um amigo de muitos e muitos anos. Nunca trabalhei com alguém que fosse mais adorado pelos colegas em Hollywood. É um homem complexo, e leva isso pro seu trabalho. Acho que ele queria muito mostrar esse seu lado na tela.”

Mas, como boa amiga e colega, não culpou só Gibson pelo fracasso.
“É um filme especial. Não foi feito para agradar todo mundo. Tenho que ficar feliz só pelo fato de ter feito um filme que amo. Eu não sou a bilheteria do meu filme”, desabafou.

“Um Novo Despertar”, segundo ela, aborda a depressão, mas quer trazer outros temas.
“Não é um filme sobre a doença da semana. Fala sobre perda, a relação entre pais e filhos, a necessidade de conexão de todo ser humano. Os filmes que falam sobre só doença ficam melhor na TV do que no cinema.”

No ano que vem, Jodie volta como atriz no novo filme de Roman Polanski,
“Deus da Carnificina”,
e depois deve contracenar com Matt Damon e Wagner Moura em “Elysium”, ficção científica do mesmo diretor de “Distrito 9”, Neill Blomkamp.

Jodie Foster
é uma das personalidades de Hollywood que mais admiro, Mel Gibson é um bom ator e, pelo trailer e a receptividade da obra no Festival, parece que vem coisa boa aí.

Vamos aguardar.

Em tempo:
Como previsto pela diretora, "Um Novo Despertar" pode mesmo ser mais bem-sucedido na Europa.
Ele começou sua trajetória no continente sendo aplaudido de pé por dez minutos em Cannes, na noite desta terça (17), segundo o Hollywood Reporter.
Algumas das pessoas próximas a Foster estavam chorando ao fim da sessão.
Mel Gibson, que não compareceu à coletiva de imprensa e nem esteve presente para a foto oficial do filme, apareceu à noite para a sessão - conforme a diretora tinha prometido - mas o ator, muito elogiado no Festival por sua performance, não falou com jornalistas.

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Com Folha de S.Paulo, AFP, EFE, UOL e Getty Images