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quarta-feira, 2 de junho de 2010

JORNALISTAS RUSSOS SÃO PAGOS COM SANGUE

Depois da falência do comunismo na então União Soviética, o mundo assistiu seus domínios, principalmente a Rússia, chafurdarem no que a Humanidade tem de pior.

O governo é corrupto, de uma grandeza que assombra até a nós, brasileiros, habituados desde as capitanias hereditárias ao tema.

Milionários começaram a pipocar aos montes, e suas fortunas se originam em tráfico de armas, drogas, chantagem e toda sorte de bandidagens.

Por aqui, tivemos o russo Boris Berezovski e o iraniano Kia Jorabichian, que conseguiram lavar fortunas na lavanderia que montaram no Corinthians.

Enquanto isso, o povo russo sofre com a falta de tudo: alimentos, transporte, gás, esperança.

Apenas poucos gatos pingados, principalmente jornalistas, ousam se insurgir contra esse estado de coisas.

E é esse o foco da reportagem do ótimo repórter Clifford J. Levy, do jornal americano "The New York Times", que teve o título dessa postagem.

Leia:

KHIMKI, Rússia - Mikhail Beketov foi alertado, mas não parou de escrever. Sobre transações fundiárias duvidosas. Empréstimos irregulares. Subornos por baixo da mesa. Tudo isso era evidência, argumentava ele em seu jornal, da corrupção desenfreada num subúrbio de Moscou.
"No ano passado, pedi a renúncia da liderança municipal", disse Beketov em um de seus últimos artigos. "Dias depois, meu automóvel foi explodido. O que me espera a seguir?"
Não muito tempo depois, ele sofreu uma selvagem agressão em frente de casa e foi deixado sangrando sobre a neve. Seus dedos foram esmagados, e três deles tiveram de ser amputados, como se os agressores quisessem ter certeza de que ele nunca mais escreveria uma só palavra.
Beketov também perdeu uma perna. Aos 52 anos, está numa cadeira de rodas, com o cérebro tão danificado que é incapaz de pronunciar uma só frase.
Os policiais prometeram uma investigação minuciosa, mas mal ergueram os olhos das suas mesas. Vídeos de vigilância foram ignorados. Vizinhos não foram ouvidos. Informações sobre o desagrado de políticos com Beketov foram tidas como "não confirmadas", segundo entrevistas com autoridades e moradores.

Foto: James Hill para o New York Times
O editor Mikhail Beketov, agredido em 2008, após desafiar autoridades

Cultura da impunidade
Depois de rejeitar repetidos apelos de Beketov por proteção, o Ministério Público assumiu o caso, mas não parece ir muito longe. Colegas do jornalista se dizem ansiosos para dar informações sobre quem no governo foi atingido pelas revelações dele. Mas ninguém perguntou.
Passados 18 meses, ninguém foi preso.
O incidente marca o início de uma onda de ataques não resolvidos e de intimidação oficial contra jornalistas, ativistas de direitos humanos e políticos de oposição em toda a região, que inclui os subúrbios de Moscou, mas não a cidade propriamente dita.
Tais intimidações -entre as quais estão também os esforços agressivos de promotores para fechar novos veículos de comunicação e ONGs- funcionam como uma enervante dissuasão.
E, em alguns casos nos últimos anos, a violência descambou para a pistolagem. A corrupção é disseminada na Rússia, e o governo costuma funcionar mal. Mas a maioria dos jornalistas e ONGs evita se aprofundar nesses temas.
A cultura russa da impunidade representa o exemplo mais flagrante da incapacidade do país em estabelecer leis reais nestas duas décadas desde o colapso da União Soviética. O presidente Dmitri Medvedev já repreendeu o "niilismo jurídico" do país. Mas, sob o governo de Medvedev e do seu antecessor, o hoje premiê Vladimir Putin, tal niilismo persistiu. E entre os maiores beneficiários estão os políticos do partido governista, o Rússia Unida.
Boris Gromov, governador da região de Moscou, comandou o 40? Exército durante a guerra soviética no Afeganistão, e seus adversários acham que ele governa com o mesmo sentido de ordem de um general. Gromov, nomeado por Putin, encheu o governo local com ex-colegas do Afeganistão, como o prefeito de Khimki, Vladimir Streltchenko.
Beketov fundou seu jornal, o "Khimkinskaia Pravda" ("A verdade de Khimki"), em 2006. Ele escrevia regularmente sobre supostos casos de corrupção envolvendo autoridades locais, em geral membros do Rússia Unida.

Uma denúncia repercute

Foto: Yrui Grachev
Iuri Gratchov, vítima de violência ao sair de casa

Suas reportagens tiveram repercussão nacional quando ele questionou por que a prefeitura, para ampliar uma avenida, demoliu um monumento que continha restos mortais de aviadores soviéticos.
E ele abordava incansavelmente o destino da floresta de Khimki, uma área intocada a uma improvável proximidade de Moscou.
Praticamente sem que a opinião pública notasse, o governo planejava que uma rodovia para São Petersburgo cruzasse a floresta. Beketov suspeitava que as autoridades estivessem lucrando secretamente com o projeto.
Desacostumados a esse tipo de crítica, os governantes locais o fustigaram publicamente. Beketov recebeu telefonemas ameaçadores. Pediu em vão ajuda às autoridades, segundo colegas. Chegando em casa certo dia, achou seu cão morto na soleira da porta. Então, seu carro foi explodido.
Em vez de investigar a explosão, os promotores abriram um inquérito criminal sobre o jornal dele. Amigos dizem que Beketov lhes contou que um funcionário municipal havia lhe feito um alerta sobre suas reportagens.
Numa noite de novembro de 2008, Beketov foi atacado, provavelmente por várias pessoas.
Iulia Jukova, porta-voz da comissão investigadora do Ministério Público na região de Moscou, disse que o departamento conduziu um rigoroso inquérito, mas teve de arquivá-lo por falta de provas. Ela afirmou que os investigadores precisavam ouvir Beketov, mas que seus médicos não autorizaram. (Beketov está incapaz de se comunicar desde o ataque.)
O governador Gromov e o prefeito Streltchenko não quiseram conceder entrevista para esta reportagem. Depois da agressão, Streltchenko declarou que não tivera envolvimento com o crime, mas se queixou da atenção dada ao assunto.
"Não quero dizer que foi bom o que aconteceu com o Mikhail", disse. "Mas quero que vocês separem a verdade da inverdade."
Em Solnietchnogorsk, ao norte de Khimki, o jornal "Solnietchnogorsk Forum" publicou denúncias sobre como os políticos locais tentavam dispensar eleições para manter o poder.
O editor do jornal, Iuri Gratchov, tem 73 anos. Em fevereiro de 2009, vários homens o agrediram quando ele saía de casa, fazendo-o passar um mês na UTI, com concussões e fraturas.
A polícia inicialmente disse que ele estava bêbado e caíra. Em seguida, afirmou que ele havia sido vítima de um assalto comum, embora só tivesse sido levada uma pasta com material para ser publicado no jornal. Os bandidos não foram achados, e políticos do Rússia Unida disseram que o ataque não tinha relação com o trabalho de Gratchov.
"Talvez tenham sido 'hooligans', ou talvez tenha sido ao acaso", disse Nikolai Bojko, dirigente local do partido, também veterano do Afeganistão. "A ideia de que tenha sido encomendado -não acredito nisso."

Jornal processado

Foto: Bell Tower
Andrei Khmelevski: repórter foi surrado dentro de casa

Os promotores tiveram mais sucesso procurando provas de que o "Solnietchnogorsk Forum" havia cometido uma calúnia. Abriram processo contra o jornal, querendo fechá-lo. Enquanto isso, em Khimki, um novo jornal da oposição, o "Khimki Nach Dom" ("Khimki é o nosso lar"), foi fundado para ajudar a manter o trabalho de Beketov.
O editor, Igor Belousov, 50, é profundamente religioso. Publica o calendário ortodoxo russo no jornal. Já trabalhou na prefeitura, mas diz ter saído por causa da corrupção.
Não muito tempo depois de lançar o jornal, Belousov foi acusado de calúnia, numa ação cível movida por promotores, e num processo penal aberto pelo prefeito Streltchenko. Em fevereiro, a polícia o deteve sob acusação de vender cocaína. Documentos judiciais mostram que o caso se baseia no depoimento de um traficante que não se lembrava de detalhes básicos do suposto crime.
"Tínhamos muito jornalistas aqui, mas todos sofreram e todos desistiram", disse Belousov. "Só sobrei eu, e agora estou desistindo."

domingo, 16 de maio de 2010

CANNES: CINEASTA IRANIANO JAFAR PANAHI, EM CARTA ESCRITA NA PRISÃO, SE DIZ INOCENTE

O cineasta iraniano Jafar Panahi afirmou ser inocente da acusação de fazer filmes contra líderes iranianos, em uma carta escrita na prisão de Evin ( Teerã) em que se encontra, e que foi divulgada no Festival de Cannes.

"Sou inocente. Não fiz nenhum filme contra o regime iraniano".

Panahi, 49 anos, está detido desde 1º de março, por estar produzindo um filme sobre as disputadas eleições presidenciais de 2009.

"Não assinarei nenhuma confissão forçada devido a ameaças", disse na carta, agradecendo a França por apoiar sua libertação.

"Calorosos abraços de minha pequena e escura cela na prisão de Evin", escreveu ele, cumprimentando aqueles que "junto com minha mulher, minhas crianças e conterrâneos vieram me visitar no lado de fora e estão trabalhando para que eu seja libertado".

Sua atual detenção impediu que ele fosse a Cannes, onde foi convidado para fazer parte do júri que escolhe o vencedor da Palma de Ouro.

Na quarta-feira, o presidente do júri, o diretor americano Tim Burton, pediu a libertação de Panahi e o júri deixou um assento simbolicamente vazio no palco em homenagem ao cineasta durante a abertura do evento.

O Irã não respondeu oficialmente aos pedidos.

Os filmes iranianos têm se destacado nas últimas décadas graças a Panahi e a diversos outros renomados cineastas, como Abbas Kiarostami, mas a censura do Estado liderado pelo presidente Mahmoud Ahmadinejad - o amigo do peito do Luiz Inácio - torna difícil o trabalho desses artistas no Irã.

A reeleição de Ahmadinejad em junho de 2009 causou uma série de manifestações nas ruas do país, que causaram confrontos com as forças de segurança, deixando mortos e presos.

"Não vamos esquecer dos milhares de outros presos indefesos no Irã", afirma Panahi na carta. "Assim como eu, eles não cometeram crime algum e a minha causa não é mais importante que a deles."

Na quinta-feira, os organizadores do Festival de Cannes exibiram um curta-metragem no qual Panahi descrevia o interrogatório policial ao qual foi submetido algum tempo antes de sua última prisão.

No curta de três minutos, Panahi afirma que oficiais de segurança iranianos o interrogaram por três horas com questionamentos ameaçadores.

"Quando saí, afirmaram que eu seria convocado de novo", diz Panahi no vídeo. "Um policial me perguntou: 'por que você fica no Irã?
Por que não vai fazer filmes no exterior?".
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