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quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

"CHICO XAVIER" NA TV É MAIS PESSOAL, E, POR ISSO, MELHOR QUE O FILME

Nada mais elucidativo sobre a tendência do cinema nacional em reproduzir o estilo e a linguagem da televisão que a transformação de um filme em série de TV sem provocar nenhum tipo de estranhamento no espectador.

"Chico Xavier", e "O Bem Amado" - experiência similar exibida na semana passada - são exemplos disso.

No caso da história do médium, a produção dos dois formatos foi praticamente indistinta.
"Sabíamos que tínhamos um número maior de cenas, mas eu ainda não sabia o que estaria no filme e o que estaria na minissérie", diz o diretor Daniel Filho, que há cinco anos foi convidado para fazer um filme baseado no livro "As Vidas de Chico Xavier", do jornalista Marcel Souto Maior.

Ique Esteves/TV GloboLaura Cardoso e Nelson Xavier - que interpreta Chico adulto - em cena da minissérie

Ao receber um roteiro de cem páginas, o diretor, expoente do cinema "padrão Globo", percebeu que ele renderia mais que duas horas para um filme comercial, e propôs o segundo produto.

Filme e série só se separaram na edição: Daniel optou por centrar o longa na entrevista que Chico Xavier deu ao célebre programa "Pinga Fogo" da extinta TV Tupi, e numa história dramática poderosa: a do casal - vivido por Tony Ramos e Christiane Torloni - que perde o filho e consegue esclarecer circunstâncias da sua morte numa carta psicografada pelo médium.

O material excedente, de cerca de uma hora, trazia um mergulho mais aprofundado na infância e na vida pessoal de Chico e foi muito bem incorporado à série.
"Será uma transposição mais fiel à biografia", diz Daniel.

A série mostrou melhor as relações com a madrinha - interpretada por Giulia Gam - que o maltratava, e com a mãe morta, o primeiro espírito que Chico vê e interage - vivida por Letícia Sabatella.

O filme teve 3,4 milhões de espectadores, o que permite esperar ibope melhor que o de outras experimentações no horário pós-"BBB", como "Amor em 4 Atos", que teve 21 pontos na estreia.

A emissora bancou parte da produção com um valor não revelado, e o diretor também teve uma ajudinha do poder público: do total de R$ 12 milhões, ao menos R$ 5,3 milhões vieram de mecanismos federais de incentivo e de um edital da Prefeitura de Paulínia.

No cinema, o filme já faturou R$ 30 milhões.

Nos capítulos já exibidos, o destaque ficou com o ator Ângelo Antonio, que interpreta Chico Xavier jovem.

Ator meticuloso, Antonio transpira bondade em todas as cenas em que aparece, a essência da personalidade do médium mais conhecida, e a cena do pedido de bênção para sua nova e dedicada vida ao próximo, que Chico pede de joelhos ao padre que é seu amigo e confessor desde a infãncia - interpretado magistralmente por Pedro Paulo Rangel - é, desde já, uma das melhores cenas da TV neste ano.

Estou gostando mais dessa história na telinha do que na telona, o que confirma que o projeto é, sim, feito muito mais para a TV do que para o cinema.

"CHICO XAVIER"
QUANDO:
de terça (25) a sexta (28), após o "BBB"
ONDE: Globo
COTAÇÃO DO KLAU:

sexta-feira, 2 de abril de 2010

"CHICO XAVIER": FILME FICA MUITO AQUÉM DA IMPORTÂNCIA DO MÉDIUM


Santo ou demônio? Confiável ou falsário?
Essas foram algumas dúvidas que o médium brasileiro Chico Xavier levantou por toda sua vida.
O longa "Chico Xavier", feito sob encomenda para o aniversário de 100 anos do seu nascimento, parece que não se preocupou muito com esse tipo de conflito.

Dirigido por Daniel Filho (dos campeões de bilheteria "Se eu fosse você"), a partir de um roteiro de Marcos Bernstein ("Central do Brasil"), e baseado na biografia "As vidas de Chico Xavier", de Marcel Souto Maior, o filme traça um retrato chapa-branca de seu protagonista - que morreu em 2002.

O Chico Xavier do filme, interpretado pelo garoto estreante Matheus Costa, Ângelo Antonio ("2 Filhos de Francisco") e Nelson Xavier ("Narradores de Javé") nas diversas fases de sua vida, é um personagem sem muitos dilemas interiores -há umas poucas vaidades, mas conflito mesmo, daqueles de consumir, não existe. Desde pequeno, ele parece aceitar tranquilamente seu dom e sua missão, o que, para quem acompanhou a sua trajetória de vida, sabe que não é verdade.

Foto: Divulgação Globo Filmes

Nelson Xavier interpreta Chico adulto

Morando com a madrinha (Giulia Gam, de "A Guerra dos Rocha"), o pequeno Chico é visto como um ser estranho por ela, que tem medo e fascinação aom mesmo tempo pela sua mediunidade. A única a compreendê-lo é a mãe morta (Letícia Sabatella, de "Não por acaso"), com quem ele aparece em longos diálogos.

ASSISTA AO TRAILER :



Mais tarde, morando novamente com o pai (Luis Melo, "Encarnação do Demônio"), ele ganha outra cúmplice - a madrasta (Giovana Antonelli, de "Budapeste"). Com alguns saltos de roteiro, Chico chega à vida adulta, quando sua mediunidade se manifesta com mais força e ele começa a estudar a doutrina espírita.

Ainda morando em sua cidade natal, Pedro Leopoldo (MG), recebe pessoas que pedem sua ajuda para se comunicar com parentes e amigos que já morreram. Nessa mesma época, Chico começa a receber as visitas de uma entidade que recebe o nome de Emmanuel (André Dias), que o acompanhará ao longo de sua vida.

A narrativa de ficção é pincelada por trechos de uma participação real no programa de entrevistas "Pinga-Fogo", na TV Tupi, na década de 1970. Nele, uma espécie de "Roda Viva" de sua época, Chico é sabatinado pelas mais diversas pessoas, que colocam em xeque seus poderes e crenças.

Essa entrevista na TV é usada como costura aos episódios da vida do médium no filme, e também serve para amarrar outra linha narrativa do longa, a da história do casal Orlando (Tony Ramos, de "Tempos de Paz") e Gloria (Christiane Torloni, de "Onde andará Dulce Veiga?"), que perderam um filho em um acidente recente.

Ela está desesperada, enquanto o marido, que é o diretor do "Pinga-Fogo", é cético. Essa parte do roteiro não se baseia numa história específica - embora sua conclusão venha de um fato real, envolvendo uma carta psicografada pelo médium.
O casal serve como identificação do público na telona.
E, para não deixar ninguém de fora, um deles acredita em Chico Xavier e suas cartas, e o outro é o cético que não acredita em nada disso.

Como personagem cinematográfico, falta a esse Chico Xavier conflitos e nuances, já que ele aceita a sua missão muito facilmente, dizendo: "Eu sou como um carteiro, recebo cartas, e aí entrego".
O único senão é um pouco de vaidade, causa de alguns desentendimentos com Emmanuel, mas nada muito sério.
Quando se muda para Uberaba, onde abre seu centro, Chico já é bastante conhecido e recebe visitas de pessoas de vários cantos do país em busca de comunicação com mortos.

Daniel Filho é um ótimo diretor, mas nesse trabalho ele parece não ter qualquer ambição mais cinematográfica.
É um filme feito para as massas, que devem se emocionar em cada momento calculado para fazer chorar - especialmente as cenas que mostram a comunicação entre pais e filhos, em que um dos envolvidos já morreu.

Foto: Divulgação Globo Filmes

Nelson Xavier, Daniel Filho e Ângelo Antônio, numa coletiva de imprensa sobre o filme

Por outro lado, como bem mostram as imagens finais do longa, tiradas do programa "Pinga-Fogo" real, Chico Xavier era uma figura maior, bem maior do que aquela mostrada pelo filme.
Sem dúvida, não seria fácil captar num longa de ficção uma figura tão complexa como o médium.
O que não se justifica são alguns momentos rasos do filme.

Chico Xavier é um dos mais importantes brasileiros de todos os tempos.
Sua história seria melhor contada, talvez, numa minissérie de TV, com muitos capítulos.

Enquanto isso, permita-se mergulhar nos mais de 450 livros psicografados por ele, e na ótima biografia

"As vidas de Chico Xavier", de Marcel Souto Maior.

Avaliação do Klau: