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segunda-feira, 29 de agosto de 2011

OBRAS DO DINAMARQUÊS OLAFUR ELIASSON VÃO INVADIR SP EM SETEMBRO


Não conte para ninguém, porque ainda é segredo, mas o dinamarquês Olafur Eliasson está tentando criar um tornado num quartinho...

O espaço fica no seu estúdio, instalado em uma antiga fábrica de cerveja de 1842, num prédio de três andares em Prenzlauer Berg, o bairro intelectual da ex-Berlim Oriental, hoje em dia uma das áreas mais efervescentes da cidade.

Numa mescla do laboratório de cientista maluco com um estúdio de arte e fábrica, Olafur, 45, um dos artistas contemporâneos mais conceituados do mundo, transfigura o banal em experiências que parecem mágica: tem 45 funcionários, entre arquitetos, engenheiros e designers.

A primeira coisa que se vê ao entrar no prédio é uma cozinha para 40 pessoas, dedicada à culinária vegetariana experimental.

E ele,é vegetariano? "Não, mas acho que é preciso experimentar nessa área. Chamo grandes cozinheiros para discutir aqui. Alice Walker foi uma delas", disse à Eliasson à revista Serafina, referindo-se à chef do Chez Panisse, em Berkeley, na Califórnia.

Gareth McConnell
O artista dinamarquês Olafur Eliasson no jardim de seu estúdio na Alemanha
O artista dinamarquês Olafur Eliasson no jardim de seu estúdio na Alemanha

Experimentar é preciso, parece ser o seu lema.

Em uma de suas maiores ousadias, colocou um sol gigante dentro da Tate Modern, em Londres, em 2003.
A obra era tão sedutora e inusitada que os visitantes deitavam-se no chão da galeria para receber a luz e o calor que vinham da imensa bola amarela, como se estivessem em uma praia.

Em 2008, instalou cachoeiras artificiais em Nova York, num projeto que custou US$ 15,5 milhões. O espanto das pessoas fazia pensar que tinham visto um milagre, não uma obra de arte.

O sol não virá, pela falta de um espaço adequado, mas a cachoeira, os labirintos de cores, espelhos imensos e névoa criada com luzes serão algumas das dez obras do artista que chegam a São Paulo a partir de 30 de setembro, nos Sescs Pompeia e Belenzinho e na Pinacoteca.

Haverá até um trabalho de Olafur com o cineasta brasileiro Karim Aïnouz, de 
Madame Satã (2002) e O Céu de Sueli  (2006).

É a primeira vez que o dinamarquês faz um trabalho com imagens reais, captadas por uma câmera no Minhocão.
Como brinca Aïnouz, é uma mistura de Bauhaus, o concreto duro de São Paulo e o brutalismo de Paulo Mendes da Rocha - o Minhocão nunca mais será visto da mesma forma.

A vinda de Olafur a São Paulo marcará uma virada histórica do Videobrasil, que deixa de ser um festival de uma só linguagem (o vídeo) e se abre para todo tipo de arte.

"A obra do Olafur é paradigmática desse movimento. Não tem qualquer limitação, se impõe como experiência sensorial", diz Solange Farkas, curadora-geral do festival, que realiza neste ano sua 17a edição.

A ideia de criar um tornado artificial talvez resuma as intenções estéticas desse dinamarquês educado na Academia Real de seu país e radicado em Berlim desde 1995.

Ele é profundamente erudito, dá aulas numa das escolas de arte mais famosas do mundo, Künste de Berlim - na Universidade de Artes -, e quase todas as suas questões já foram discutidas na história da arte -o modo como se percebe a cor, a maneira como o movimento altera a forma, o jeito que a luz muda o espaço.

Seria um bê-á-bá não fossem as estratégias do artista. 
A primeira delas é estudar bem a cidade onde as obras estarão expostas.

Há quatro meses, ele esteve em São Paulo e ficou fascinado com lugares para os quais ninguém dá a mínima, como as lojas de luzes da rua da Consolação, na região central, e teve duas ou três ideias - a mais chocante é para quem acha o espaço público da cidade um lixo.

"Há uma tradição muito grande de dividir os espaços em São Paulo. Apesar de megalomaníaca, a cidade promove boas relações entre o público e o privado. Há camadas íntimas, como esquinas, escadas, becos, em pleno espaço público."

Olafur criou obras pensando nessas tensões, característica "de uma cidade que se reinventa todo dia".

A primeira providência é desprezar a oposição: "Tento não contrapor hospitalidade e hostilidade"
É uma posição política sua - a de não facilitar a difusão de contrastes simplórios.

Olafur também tirou o peso da arte, inatingível para a maior parte das pessoas comuns - e essa talvez seja a chave do seu sucesso.

Trabalhos como Seu Corpo da Obra, um labirinto de cores que será montado no Sesc Pompeia, só existe com a participação do público.

É uma forma de transformar a audiência, ou seja, o objeto da arte, em parte da obra - isso não é novidade, mas o modo como ele promove essa mudança de ponto de vista é bem diferente.

"Tento ligar a sensibilidade estética com a sensibilidade ética."
Parece coisa de quem não gosta de confronto. 
Ele concorda: "Prefiro a ideia de parlamentarismo, de renegociar valores. Que linguagem pode transformar conceitos em realidade?", questiona.
E responde: "Literatura, arte, dança. A criatividade faz perguntas que o resto da sociedade não faz".

A ideia de colocar os valores em xeque chega às pessoas por meio de luzes e espelhos.
Os trabalhos têm a ambição não declarada de fazer o público olhar para si mesmo de um jeito novo.
"Gosto de reverter a perspectiva", diz.

"Você vê a própria sombra e a imagem criada pela lâmpada faz você pensar no seu corpo.Conforme a luz muda, sua sombra torna-se imprevisível.É bom pôr o seu corpo em perspectiva quando se vive num mundo que cultiva o ego", explica.

Essa política da sutileza é bem característica da Escandinávia, recentemente abalada pelo massacre de Oslo, e também parece ser de Olafur.
Nada é imposto, nada é definitivo.

No filme que fez com Aïnouz, chamado Sua Cidade Empática (2011), Olafur usa o conceito de "after image", a imagem que se forma no cérebro segundos após a projeção.

É quase circense, e o cineasta brasileiro adora que um artista do porte de Olafur, com entrada no museu que bem entender, use mecanismos mambembes dos séculos 19 e 20.
"Ele tem um quê de ilusionista", afirma Aïnouz.

Olafur se diverte com a comparação, mas põe freios na imagem: "Gostaria de ser um mágico sem segredos, que revelasse o mistério antes de cortar a cabeça da mulher".

Há também uma vertente política nisso.
"É uma experiência muito individual. Só você vê aquilo, ninguém mais. É só seu. O contrário dos filmes de Hollywood."

Apesar de expressar tão bem suas ideias e conceitos e sonhar com um número de mágica sem segredos, o artista fala com reserva de sua vida privada.
Não dá para saber qual é a sua fortuna, mas seus trabalhos costumam ser vendidos por mais de US$ 5 milhões, e já fez parcerias com grifes como Louis Vuitton e BMW.

Um dos fatos mais surpreendentes é o que ele mais procura esconder: criou um orfanato em Adis Abeba, na Etiópia.
O projeto chama-se 121 Ethipopia, e é mantido pela Fundação Hekla, criada por Olafur e sua mulher, a historiadora de arte Marianne Krogh Jensen.
Foi da Etiópia que vieram as duas filhas adotivas do casal, mas desse assunto ele não fala.

E não reclama de pagar 45% do que ganha de impostos, como ocorre na Alemanha.

Considera a taxa justa e acha que é preciso dar um pouco mais ao mundo.

Aguardando a exposição com extrema ansiedade.

domingo, 29 de maio de 2011

FABIO ASSUNÇÃO: PALCO ABERTO


Após 11 anos longe do teatro, Fabio Assunção volta à cena, ganha uma nova filha e fala sobre sua recuperação com muito trabalho

A vida pública e a intimidade de Fabio Assunção andam em descompasso. 

Ele quer falar sobre, pensar a respeito e se concentrar em seus próximos trabalhos. 

O que as pessoas querem saber é sobre seu drama com as drogas. 
Confiante, simpático e sorridente, ele recebe Serafina para uma entrevista a 40 dias de sua volta ao teatro depois de 11 anos longe dos palcos. 

Fotos: Bob Wolfenson 

Mas torna-se desconfiado, tenso e reflexivo quando a conversa envereda para seus problemas pessoais. 
"Se eu não tivesse essa tensão, seria um cara confortável com uma coisa que me fez mal", justifica Fabio. 

É simples comprovar esse descompasso. 
Se você digitar "Fabio Assunc..." no Google, a primeira coisa que aparece é: "Fabio Assunção drogas". 
"É desconfortável saber que alguém vai clicar meu nome e encontrar essa discrepância. Isso marcou minha vida, mas minhas vitórias também marcaram. É uma questão de tempo isso mudar." 

No momento, a vida profissional de Fabio Assunção parece estar em "pause". 
Mas não está, pelo contrário. 
Com a agenda lotada de trabalhos, ele espera que, em alguns meses, o interesse pelo seu nome vá além das notícias dos últimos anos. 

Sua nova peça, a primeira desde 2000, chama-se "Adultérios" e foi escrita por Woody Allen em 1995. 
Originalmente chamada "Central Park West", se passa no grande parque nova-iorquino, onde seu personagem, um escritor que aguarda sua amante, começa uma conversa surreal com um mendigo amalucado. 
"Fazer teatro é como começar um novo romance. Inspira exclusividade", diz. 

A peça também está sendo produzida por Assunção e a estreia acontece no teatro Shopping Frei Caneca, em São Paulo, em 5 de julho. 

O fato de o interesse público a respeito de um dos atores mais queridos do Brasil recair em cima de sua intimidade, em vez de seu trabalho no cinema ou na TV, provavelmente depõe mais contra nós do que contra ele. 
Independentemente disso, quem enfrenta diariamente o "Fabio Assunção drogas" é o Fabio Assunção que está sentado em frente ao repórter. 
Ele roda sem parar, no dedo anular esquerdo, sua enorme aliança fabricada com três tipos de ouro (amarelo, branco e rosa) e resume o que pensa do assunto: 
"Não gosto".

ROTEIRO
O ator também tem planos para o cinema e a TV. 
No segundo semestre, foi convidado a gravar um episódio da série "As Brasileiras", de Daniel Filho. 
Na mesma época, entra em cartaz o longa "O País do Desejo", de Paulo Caldas (de "Baile Perfumado"), em que Fabio interpreta um padre. 
E acabou de assinar contrato para atuar em um novo filme, produzido por Mariza Leão, de "Meu Nome Não É Johnny". 


Além disso, há dois anos e meio, escreve um roteiro para o cinema, a respeito da relação entre um pai e um filho. 
Mas as lembranças dos dramas recentes ainda são fortes. 
Em 2008, Fabio saiu na metade da novela "Negócio da China" e se internou numa clínica nos Estados Unidos para tratar a dependência de cocaína. 
"Fui lá porque, na primeira vez em que fui no Narcóticos Anônimos, saiu no jornal. Minha condição de vida não permite o anonimato, mas é uma deselegância enorme falar assim de um local de compartilhamento e de privacidade." 

Um dos lados mais obscuros do vício são as recaídas. 
E a recaída do galã da Globo virou manchete. 
No final do ano passado, estava escalado para ser protagonista de "Insensato Coração", mas foi afastado após faltar a gravações. 
"O tratamento envolve você estar em casa, com a sua família, e com a pessoa com quem você faz análise. Fui para o Rio gravar e fiquei num hotel sozinho. Teria de ficar 11 meses. Depois de duas semanas, desisti." 

Ainda não era a hora. 
"Depois dos Estados Unidos, num segundo momento, fiquei cinco meses em dois lugares diferentes no Brasil. Mas o tratamento ainda está sendo feito agora e não acaba. Tenho psiquiatra uma vez por mês e faço duas sessões de análise por semana." 

O ator optou por uma pequena produção para voltar a atuar. 
Mas, dois meses antes de completar 40 anos (em 10 de agosto), e depois de 21 anos de atuação, já se sente maduro o suficiente para encabeçar um grande elenco no palco. 
Em "Adultérios", seus colegas de cena são Norival Rizzo, no papel do mendigo, e Carol Mariottini, que vive a amante, sob direção de Alexandre Reinecke.

 Inquieto, tem ensaiado os dois papéis, o do escritor e o do mendigo doido. 
"O Norival é um ator excelente e estamos pensando em alternar. Algo do tipo: quinta e sábado, eu faço o escritor; sexta e domingo, o mendigo".


ELE E ELLA
Fora desse descompasso está Ella Felipa. 
É uma menina que faz três semanas na segunda-feira, 30/5, e que, por nove meses -enquanto estava na barriga de Karina Tavares-, chamava-se apenas Felipa. 
"Eu gostava do nome simples, mas sinceramente acho Felipa muito certinho, muito correto demais, muito número par, entende? Dei várias sugestões nesses nove meses, mas a Karina não comprou nenhuma ideia." 

De repente, no domingo, depois do jogo contra o Santos no Pacaembu (que terminou 0 x 0, para desânimo do corintiano e de seu primeiro filho, João, 8), pintou um nome na cabeça. "Deixa eu colocar Ella antes do Felipa?", implorou o papai. 
Karina e o sogro aprovaram e as contrações começaram. 
"Ela ouviu o nome e saiu", gaba-se. 

O nome não é uma homenagem à cantora Ella Fitzgerald, mas poderia ter sido. 
Esse terreno é fértil na imaginação de Fabio Assunção, um jazz maníaco de primeira categoria. 
Wynton Marsalis é um de seus preferidos. 
George Benson é outro. 
Seu amor pela música provocou uma ideia curiosa: 
"Eu e a Karina estamos pensando em não dar muito acesso a imagens para a Ella nesse primeiro ano. Nem DVDs infantis nem joguinhos no iPad. Tenho a sensação de que tudo que bate ali, nesse momento, fica; é importantíssimo." 

Daí a ideia de prover Ella Felipa apenas de comida, amor e canções. 
"A música te leva a outros lugares. Todo dia coloco ela no meu peito e ficamos uma hora e meia ouvindo blues, jazz, música clássica... Mas também baixei a série 'for babies' [para bebês]. Escutamos Beatles for babies, Elvis for babies, Coldplay for babies etc." 
Essa série traz as músicas tocadas de forma singela, uma tortura para roqueiros tradicionais, mas uma delícia divertida para pais e rebentos. 
Quando Fabio conta que baixou esse material auditivo pela internet, pergunto a ele sobre pirataria. 
"Não baixo nada pirata. Tenho conta na Apple americana e uso a loja do iTunes. Não tenho nenhum filme pirata em casa. Mas faço CDs para os amigos o tempo todo." 

Sua biblioteca musical é de tirar o chapéu. 
Ele tem um disco de um terabyte só com músicas, mais 167 gigabytes de canções em seu computador. 
Se ele fosse para uma ilha deserta apenas com seus 167 gigas e um fone de ouvido, talvez morresse de fome antes de escutar tudo: seriam necessários dois meses e meio, 24 horas por dia, para que todas as canções fossem executadas sem repetição. 
Já seu disco com um terabyte rodaria por 437 dias e noites, ou uns 15 meses consecutivos sem dormir. 


As diferenças entre o pai de João, 8, e o pai de Ella Felipa são muitas. 
A mulher, em 2003, era a ex-modelo e empresária Priscila Borgonovi. 
Hoje é a publicitária e fotógrafa Karina Tavares. 
A necessidade de provar a si mesmo que era bom pai levava Fabio a querer participar de todos os momentos. 
Hoje, está mais tranquilo: 
"Sei que sou um pai presente". 

As expectativas também eram bem diferentes. 
"Com João, tudo era mais fantasioso. Por exemplo, pedi para o médico colocar música clássica na sala do parto na hora do nascimento. Mas, na confusão do momento, não dei o CD para ele. O médico lembrou do meu pedido e ligou numa rádio, com um locutor falando do trânsito (risos)."

NA VILA MARIANA
Esse amor pela música, que impele Fabio Assunção em seus momentos mais importantes, vem de longe. 
Começou a aprender piano aos 9, e passou para coral e violão. 
Com 15 ou 16 , fundou sua própria banda de rock, a Delta T, na qual tocava guitarra. 
Escrevia canções como "Procurando por Ti" e cantava. 
"Foi um desastre completo", lembra. 

O pai trabalhava em banco e, após 25 anos, comprou uma banca de jornal na Vila Mariana, onde moravam. 
A mãe foi professora e diretora de escola municipal. 
Apesar do fracasso como roqueiro, a experiência de certa forma o levou à atuação. 
No ginásio, Fabio exercitava seu QI de 133 (inteligência muito acima da média, segundo a escala) no colégio Bandeirantes. 
Mas festivais de música pela rede Objetivo o aproximaram da unidade Vergueiro dessa escola, onde foi fazer o colegial. 

A 100 metros, ele descobriu o Centro Cultural São Paulo e, lá dentro, um grupo de teatro amador - nota do Klau: foi nessa época que eu, que fazia parte desse grupo, o conheci.

Daí para a estreia no infantil "A Bruxinha que Era Boa" foi um ano. 
Cursou seis meses de publicidade e largou para entrar na Fundação das Artes, escola de teatro em São Caetano. 
Tinha 17 anos. 
Um ano depois estava na Globo. 

E o que atraiu Fabio para o mundo das artes? 
"Tinha um cara no grupo de teatro que não tinha dinheiro nem para um despertador. Para conseguir ir para o ensaio, ele bebia alguns copos de água antes de dormir. O que o acordava toda manhã era a vontade de urinar. Era o despertador do cara!".
Pessoas assim cativaram Fabio Assunção para sempre. 
Hoje, ele é um deles. 
"Sou melhor hoje do que há dez anos. Há mais coisas positivas do que negativas, pois as negativas já passaram. Aconteceu. E é isso."

Matéria do Jornalista Ivan Finotti para a revista Serafina, da Folha de S.Paulo de hoje

*****
O Brad Pitt brasileiro?
Por Laura Mattos

Fabio Assunção tinha tudo contra ele em 2007: era o mocinho da novela, enfrentava como antagonista um vilão charmoso de Wagner Moura e, pior, estava viciado em drogas. 

Em uma cena de "Paraíso Tropical", Moura pega Assunção pelo colarinho e o prensa contra a parede. 
Assunção surge em close, magro, abatido, e boa parte daquilo não era ficção. 
Mas levou a novela até o fim, até Daniel acabar com Olavo. 
Não era qualquer bonitinho que Moura enfrentava. 

Com carinha de anjo, Assunção corria o risco de ficar preso aos papéis de bom moço. 
E assim foi por um bom tempo. 

Mas ele sempre brigou com seu "physique du rôle", e não só fora da tela. 
Em 2004, vestiu terno preto, camisa preta e gravata preta para interpretar Renato Mendes, o jornalista mau caráter de "Celebridade". 
Era um vilão de Gilberto Braga, grande responsabilidade, e Assunção se saiu muito bem, um sacana encantador. 

Mas os problemas pessoais ofuscaram o talento em 2008, quando abandonou o mocinho de "Negócio da China"
Doente, não conseguia mostrar muito mais que os olhos azuis. 

No ano passado voltou à TV em grande forma, na minissérie "Dalva e Herivelto", após uma temporada de manchetes sensacionalistas. 
Com o bigodinho, o terno branco e as marchinhas de Herivelto Martins, deixou de lado aquele baixo astral. 

Em cena, é um ator que faz o público ver o personagem, não o cara com altos e baixos na vida privada. 

No final de 2010, abandonou o papel de vilão de "Insensato Coração", a pouco mais de um mês da estreia. 

Fabio Assunção não é alguém que se substitui facilmente. 
Sempre soube escolher papéis e brigar contra estereótipos. 
É ele seguir na busca por trabalhos mais densos, vencer seu problema pessoal e teremos o nosso Brad Pitt.

*****
De minha parte, considero Fábio Assunção o melhor ator da geração dele, disparado.
Vê-lo num palco é um momento precioso, especialíssimo, e com certeza estarei na estreia dessa nova peça em que atuará, e com certeza brilhará como sempre.

Toda sorte, saúde e felicidade para Fabio Assunção, seus filhos, sua família, sua vida.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

2011 É O ANO DE NATALIE PORTMAN

2011 é o ano de Natalie Portman: grávida, a atriz formada em psicologia em Harvard tem tudo para levar o Oscar por "Cisne Negro" - o filme estreia aqui no Brasil na próxima sexta (4).

"Aparelhos de tortura".
É assim que Natalie Portman descreve as sapatilhas de ponta que usou durante mais de um ano, em treinos diários, quando deixou de sair com os amigos, parou de beber e passou a comer o mínimo possível.

Tudo em nome de "Cisne Negro", filme que já lhe rendeu um Globo de Ouro e sua segunda indicação ao Oscar, além dos melhores elogios de sua carreira.

Divulgação

Natalie Portman, em imagem promocional de "Cisne Negro"

"A disciplina física ajudou a construir o lado emocional da personagem. Você só percebe o sentido desta vida de estilo meio monástico quando a pratica",
diz a atriz à Serafina. "Seu corpo passa por dores extremas constantemente. Passei a entender melhor esse tipo de processo de autoflagelo do bailarino."

No longa do cineasta Darren Aronofsky - "Réquiem para um Sonho", de 2000, e "O Lutador", de 2008 -, ela é Nina, uma dançarina insegura e ingênua, porém perfeccionista, escolhida para fazer o papel duplo de "O Lago dos Cisnes": o inocente cisne branco e o vilão sedutor cisne negro.

Sufocada pela mãe protetora - Barbara Hershey - e instigada pelo coreógrafo tarado - Vincent Cassel -, ela tem surtos delirantes durante os ensaios.

E, num desses devaneios, vem uma das cenas mais comentadas dos últimos meses, na sua cama de menina, com uma bailarina da companhia de dança - Mila Kunis -, após um porre monumental que as duas tomam juntas em bares de Nova York.

"Não discutimos antes de filmar aquela cena. Ficamos amigas durante a produção e isso certamente facilitou. Seja homem ou mulher, cenas de sexo são iguais", conta Kunis.

Confira o trailer de "Cisne Negro":


A fragilidade de Portman, magérrima e com menos de 1,60 metro de altura, faz suar o espectador na cadeira do cinema, ainda mais quando a história toma um rumo inusitado e vira um filme de terror. O tour de force de Nina é vibrante.

Mas não foram só elogios e prêmios que fizeram valer o sacrifício dos treinos extremos, que incluíram também 1,5 km de natação diária para tonificar os músculos e 15 horas de trabalho nos 40 dias de filmagem. Portman, 29, conheceu nos sets o francês Benjamin Millepied, 33, de quem está noiva e grávida de quatro meses.

Ele é coreógrafo e ator do filme, assim como principal bailarino da New York City Ballet, onde se passa a trama de "Cisne Negro". Os dois moram juntos em Nova York, e o casamento deve acontecer neste ano, apesar do veneno das revistas de fofoca, que consideram o francês um mulherengo bastante ambicioso.

Paul Buck/Efe

Natalie Portman na cerimônia do Screen Actors Guild Awards, no domingo (30)

O lado caxias da personagem Nina encontra certa ressonância em Portman. A atriz fez balé até os 12 anos, quando praticava duas ou três horas por dia, mas parou para se dedicar à escola e às aulas de atuação.

"Não sou uma perfeccionista, mas gosto de disciplina", diz Portman, vegetariana rigorosa desde os oito anos. Não usa sapatos de couro nem jóias vindas de países em conflito. Sua estilista favorita é Stella McCartney.

Leitora voraz, Portman costuma levar dezenas de livros para os sets de filmagens. Mergulhou em biografias de gente do mundo da dança para construir sua personagem. Ela é também formada em psicologia em Harvard, o que ajudou a entender melhor as manias de Nina.

"Nina é de fato um caso de algo que estudei na faculdade", comenta a atriz, rindo. "Ela tem um comportamento obsessivo-compulsivo, este seria meu diagnóstico. Balé realmente se presta a isso, tem um sentido de ritual. Só mesmo anos e anos de terapia."

SUPERPROTEGIDA

Nascida em Jerusalém, Natalie Hershlag, seu nome real, se mudou para os EUA aos três anos, por conta da carreira do pai médico. Fixaram-se em Long Island, Nova York, em 1990.

Filha única, foi descoberta por um caça-talentos aos nove anos em uma pizzaria. Ganhou um agente e fez seu primeiro longa aos 11 anos.

Assim como Nina, também é superprotegida pelos pais.

Chegou a dizer não para papéis importantes depois do assédio criado pelo sucesso de "O Profissional". Ela só podia participar de eventos para dar autógrafos para crianças e deixou de estrelar "Lolita" (1997) e "Havana Nights" (2004), sequência do seu filme preferido de adolescência, "Dirty Dancing - Ritmo Quente" (1987).

"Me apaixonei por Natalie desde aquele primeiro filme, com ela pequena", lembra o diretor. "Desde aquela época queria fazer um filme com ela."

Divulgação

A atriz, em cena de "Cisne Negro"

O mesmo aconteceu com outros diretores famosos, como Woody Allen e Tim Burton, que a escalaram para papéis menores nos respectivos "Todos Dizem Eu te Amo" e "Marte Ataca!", ambos de 1996.

Mas, enquanto atores mirins iam tentar a vida em Hollywood, ela deixou as bonecas Barbie em casa e foi para Boston, terminar os estudos de quatro anos em Harvard. Entre umas férias e outras, filmou a trilogia "Guerra nas Estrelas", como a rainha Amídala, embora tenha perdido a pré-estreia do primeiro longa porque tinha que estudar para uma prova.

"A universidade me ensinou como eu era capaz de trabalhar duro. Na primeira semana eles te dão uma lista de coisas para ler, tipo mil páginas em quatro dias", disse Portman. "Meu estômago embrulhava, mas percebi que conseguiria dar conta."

De fato, Portman não é uma atriz padrão. E, apesar de algumas comédias açucaradas esquecíveis, a atriz passou a fazer escolhas arriscadas nos anos 2000.

Como quando raspou a cabeça para interpretar uma terrorista em "V de Vingança" (2006) ou quando tirou (quase) toda a roupa para ser uma stripper em "Closer - Perto Demais" (2004), com Julia Roberts, Clive Owens e Jude Law, que rendeu uma indicação ao Oscar de atriz coadjuvante.

Aqui, mais uma vez, ela resolveu evitar o burburinho da mídia e se mandou para Jerusalém, onde estudou hebraico, árabe e história durante seis meses na Hebrew University. Também aproveitou para filmar outro independente, "Free Zone" (2005), de Amos Gitai, na fronteira entre Israel e Jordânia.

Portman já declarou que, apesar de ter cidadania americana, seu coração está mesmo em Israel. Ela costuma ler o jornal Haaretz, já disse que gostaria de fazer um filme baseado num livro de Amos Oz e defende o exército do país, apesar de não ter se alistado -o exército é obrigatório para residentes.

"Eu não poderia fazer isto. Mas, no mundo em que vivemos, em certos países, você não pode deixar de ter um exército", diz ela. "Obviamente estou me referindo a Israel. Se Israel não tivesse um exército, o país não existiria."

Nos próximos meses, ganhe ou não o Oscar, Portman chegará aos cinemas brasileiros como uma avalanche, em quatro lançamentos - além de "Cisne Negro", em 4 de fevereiro, está na comédia "Sexo sem Compromisso" (25/02), na adaptação de HQ "Thor" (29/04) e na comédia histórica "Your Highness" (prevista para agosto).

"Amo a sensação de explorar, tentar coisas diferentes", diz, com um sorriso perfeito. "Meu critério para escolher trabalhos é fazer coisas que nunca fiz e também com as quais possa me identificar. E, claro, tem que ser divertido."

Experiência Visceral, por Ricardo Calil

O balé "O Lago dos Cisnes" já inspirou diversas fantasias românticas nos palcos e nas telas. Em "Cisne Negro", Darren Aronofsky o reinventa como terror psicológico -próximo ao seu "Réquiem para um Sonho" (2000) e ainda mais de "Repulsa ao Sexo" (1965) e "O Bebê de Rosemary" (1968), de Roman Polanski.

Não falta imaginação visual ao diretor, seja para os delírios da protagonista, seja para os ensaios do balé -filmados com câmera na mão quase colada a Natalie Portman, como se ele estivesse documentando uma batalha sangrenta, não uma dança etérea.

Mas Aronofsky não tem muita sutileza psicológica. O filme bate tantas vezes na tecla de que Nina Sayers (Portman) precisa se entregar ao lado negro da força, que podemos confundi-la em algum momento com Luke Skywalker. E o fato de ela ser filha de uma bailarina frustrada é quase um capítulo de "Freud for Dummies".

Mas há Natalie Portman para compensar. Ao contrário de Nina, ela se joga sem medo no inferno da personagem que representa; em seu rosto, há o virginal e o demoníaco. É Portman quem transforma "Cisne Negro" em uma experiência visceral.

Um Oscar de melhor atriz estaria em boas mãos.


Escolhas nada óbvias:
Por onde e com quem andou a diva israelense nos últimos anos

"O Profissional" (1994), de Luc Besson
Na sua espetacular estreia no cinema, ela apega em armas, fuma e se apaixona por um assassino, tudo isso aos 11 anos

Moby
A atriz e o músico novaiorquino saíram algumas vezes em 2000, mas o namoro não engatou. Decidiram ser só amigos

"Guerra nas Estrelas, episódios I, II e III" (1999-2005), de George Lucas
A atriz não gosta de suas performances nesta trilogia, ao contrário dos fãs da série

Gael García Bernal
O ator mexicano passou várias vezes pela sua vida. Namoraram de 2003 a 2004, com um breve retorno em 2007

"Closer - Perto Demais" (2004), de Mike Nichols
Primeiro papel sexy, como uma stripper americana em Londres. Namoraram de 2003 a 2004, com um breve retorno em 2007

Jake Gyllenhaal
Colega de Portman em "Entre Irmãos" (2009), namoraram em 2006. Ele disse que ela é a
"Audrey Hepburn da nossa geração"

Devendra Banhart
O músico cabeludo e talentoso, ídolo dos indies e fã da música brasileira, foi namorado da atriz durante seis meses em 2008

"Um Beijo Roubado" (2007), de Wong Kar-Wai
No filme de estrada do diretor chinês, faz uma ótima ponta como uma espertalhona jogadora de pôquer

*****

Matéria da repórter Fernanda Ezabella, publicada na revista "Serafina", da Folha de S.Paulo, em 30.01.2011