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sexta-feira, 30 de março de 2012

RODRIGO SANTORO DÁ SHOW DE INTERPRETAÇÃO EM 'HELENO - O PRÍNCIPE MALDITO', RETRATO DA GLÓRIA E DECADÊNCIA DE UM BOLEIRO


Rodrigo Santoro é realmente um ator espetacular: consegue tirar leite de pedra - ao aceitar papéis em Hollywood muito aquém do seu talento, como o rei Xerxes, de "300" - sem riscar por um segundo seu carisma e prestígio.

Mas Santoro é bom mesmo na composição de personagens que exigem dele um mergulho de cabeça na vida, no gestual e na voz do retratado.

E foi justamente isso - um grande mergulho - que fez Santoro perder 12 quilos e treinar com o ex-jogador Cláudio Adão para interpretar uma das maiores lendas do futebol brasileiro e  maior ídolo do Botafogo antes de Garrincha, Heleno de Freitas (1920-1959).
Divulgação
Rodrigo Santoro, em cena de "Heleno"

Dirigido por José Henrique Fonseca e produzido pelo próprio Santoro, o drama "Heleno" já percorreu o mundo em festivais - levou um prêmio de melhor ator no Festival de Havana 2011 para Rodrigo Santoro -  e, ao contrário do que muitos esperam, não versa sobre o mundo do futebol, e sim sobre o homem Heleno.

Com inspiradíssima fotografia em preto e branco - do premiado Walter Carvalho - o longa mostra um personagem trágico, que flertou com a fama e a glória mas tinha encontro marcado com a queda.

Ao contrário da maioria dos boleiros brasileiros, Heleno era filho de um industrial e proprietário de cafezal, era formado em Direito e tinha hábitos refinados, mas sua paixão maior era o futebol.

Entrou para o time do Botafogo em 1937 e ficou até 1948,com um impressionante recorde de 209 gols em 235 partidas.

Craque dentro de campo, Heleno era o cão em pessoa: perfeccionista e chegado numa briga, tinha poucos amigos, como o colega Alberto - interpretado por Erom Cordeiro - e o dono do time, Carlito Rocha - Othon Bastos - que depois dele se afastou.

Fora do clube, o atleta nunca deixou a vida boêmia e intensa: vivia no Copacabana Palace, mergulhado em champanhe e viciado em éter e lança-perfume, rodeado de mulheres com quem teve casos escandalosos, simbolizados no filme pela cantora Diamantina - interpretada pela atriz colombiana Angie Cepeda.
Divulgação
Heleno, drogado e cercado pela biscataiada: começo da queda

Lógico que, com todos esses excessos na glória, o longa passa então a revelar o caminho da decadência, que não tardou a vir com uma sífilis, que causou loucura progressiva.

O boleiro também vestiu a camisa da seleção e ainda passou pelo Boca Juniors, o Vasco - onde obteve seu único título estadual, em 1949 - , o Atlético Junior de Barranquilla, o Santos e o América, onde encerrou tristemente a carreira.

Seu único filho, que teve com a única mulher com quem casou, Silvia - interpretada no filme por Alinne Moraes - nem o conheceu, já que a mãe, com medo dos acessos do marido, abandonou-o quando o menino tinha um ano.
Divulgação
Alinne Moraes interpreta a mulher de Heleno, Silvia

A interpretação de Rodrigo Santoro é brilhante e tocante em todo o longa, mas é particularmente excepcional nos momentos finais, quando o jogador, extremamente fragilizado, encontra-se internado num hospital psiquiátrico em Barbacena (MG), onde viria a morrer, aos 39 anos, não contando com nada além da dedicação de um enfermeiro - Mauricio Tizumba.

Ao término da projeção, não tem como não lembrarmos de outros mestres da bola, que sucumbiram ao esquecimento e à morte.

Filmaço.

Confira o trailer do filme:

*****
"HELENO - O PRÍNCIPE MALDITO"
Diretor:
José Henrique Fonseca
Elenco:
Rodrigo Santoro, Alinne Moraes, Othon Bastos, Herson Capri, Angie Cepeda, Erom Cordeiro, Orã Figueiredo, Henrique Juliano, Duda Ribeiro
Produção:
José Henrique Fonseca, Eduardo Pop, Rodrigo Teixeira, Rodrigo Santoro
Roteiro:
José Henrique Fonseca, Felipe Bragança, Fernando Castets
Fotografia:
Walter Carvalho
Duração:
116 min.
Ano:
2010
País:
Brasil
Gênero:
Drama
Cor:
Preto e Branco
Distribuidora:
Downtown Filmes
Classificação:
14 anos
Cotação do Klau:

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

FESTIVAL DE TORONTO: COM MELHOR PAPEL DE SUA CARREIRA NO CINEMA, RODRIGO SANTORO PROTAGONIZA 'HELENO', EXIBIDO SEGUNDA


Dez anos se passaram desde que Rodrigo Santoro se tornou um dos principais rostos do novo cinema brasileiro, com Bicho de Sete Cabeças (2001), de Laís Bodanzky.

Agora, Santoro, 36, faz a melhor interpretação de sua carreira nas telonas em Heleno, que teve estreia mundial anteontem no TIFF.

O novo filme é o primeiro em que Santoro também é produtor, tendo trabalhado desde a concepção do projeto e do roteiro com o diretor José Henrique Fonseca - de O Homem do Ano (2003).

Divulgação
Rodrigo Santoro, em cena do filme "Heleno", de José Henrique Fonseca

Baseado na história real de Heleno de Freitas - jogador de futebol e um dos maiores ídolos do Botafogo do Rio - o longa, que tem estreia no Brasil prevista para março do ano que vem, narra a tragédia do boleiro, a partir dos anos 1940.

Heleno viu seu talento e sua carreira serem destruídos por um temperamento irascível e pela sífilis cerebral, que o matou com apenas 39 anos, em 1959, esquecido e falido.

"Ele era obcecado com a perfeição, não só dele, mas de todo o time que jogava ao seu lado", explicou Santoro, que usou essa mesma obsessão para moldar sua performance.
"A vida é muito curta para não dar o seu melhor."

A exuberante atuação de Santoro vai além da transformação física - ele perdeu 20 kg para viver os últimos dias de Heleno - abrangendo também a arrogância do playboy carioca, seu charme e a derrocada numa clínica em Barbacena (MG), onde viu Pelé ascender ao estrelato na Copa de 1958.

O trabalho do ator e a degradação física do personagem remetem às espetaculares performances recentes de Marion Cotillard em Piaf - Um Hino ao Amor e de Natalie Portman em Cisne Negro.

Outra referência clara é Robert de Niro em Touro Indomável (1980) - não é por acaso que o longa é fotografado por Walter Carvalho, num preto e branco inspirado no clássico de Martin Scorsese.

Heleno reverencia o Rio dos anos 40 e 50 com visual e estilo, mas peca ao ignorar o lado popular do futebol.

Para um filme que fala sobre o maior esporte nacional, tendo como pano de fundo a derrota na Copa do Mundo de 1950 e a vitória em 1958, faltam a paixão e a presença do torcedor, o que torna a genialidade do protagonista algo meramente citado, mas nunca mostrado no longa.


Mesmo assim, a platéia presente em Toronto gostou.
*****
Daniel Oliveira - Colaboração para a FOLHA em Toronto