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sábado, 26 de fevereiro de 2011

OSCAR 2011: CONFIRA OS INDICADOS A MELHOR FILME ESTRANGEIRO

Quatro dramas e uma "quase" ficção científica brigam pelo Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, com destaque para o mexicano "Biutiful" e o dinamarquês "Em um Mundo Melhor".

De fato, "Biutiful", o esperado quarto filme de Alejandro González Iñárritu, que conseguiu um grande número de indicações nos festivais internacionais, está menos cotado após sua derrota no Globo de Ouro e no Bafta.

A surpreendente vitória de "Em um Mundo Melhor", da dinamarquesa Susanne Bier, no Globo de Ouro, pode agora se repetir em Hollywood, onde outro cotado à consagração é o grego "Dente Canino", de Giorgos Lanthimos.

No entanto, tanto o argelino "Fora da Lei", de Rachid Bouchareb, como o canadense "Incêndios", de Denis Villeneuve, chegam com alguma chance graças à boa recepção por parte do público.
Confira as chances de cada um:

"Biutiful": Um drama sem resquício para a esperança

Este é o quarto longa de Iñárritu que entra na disputa por Oscars.

"Amores Brutos" foi indicado em 2001 à estatueta de Melhor Filme Estrangeiro, mas perdeu para "O Tigre e o Dragão".

Três anos depois, "21 gramas" (2003) rendeu indicações para Naomi Watts (Melhor Atriz) e Benicio del Toro (Melhor Ator Coadjuvante), que não levaram os prêmios.

Já "Babel", apesar de suas sete indicações em 2007, faturou apenas a estatueta de Melhor Trilha Sonora.
Com um esquema muito diferente de suas produções anteriores, "Biutiful" se foca principalmente em Uxbal - Javier Bardem -, e não em vários personagens e diversas linhas narrativas.

A história de "Biutiful" é a de um pai de dois filhos que vive em uma ensurdecedora e sórdida cidade europeia, Barcelona, e sofre os primeiros sintomas de um câncer que descobriu quando já era terminal.

Tudo o que lhe cerca, desde uma mulher psicótica que o trai com seu irmão, dos corruptos policiais à dilaceradora sobrevivência de imigrantes africanos e chineses em apartamentos e porões insalubres, tudo, absolutamente tudo, é sujeira e desolação.

"Em Um Mundo Melhor": Por que a violência não serve para nada

Com roteiro da própria diretora, Susanne Bier, e de Anders Thomas Jensen, "Em um Mundo Melhor" fala sobre as relações humanas, do contato entre pais e filhos e entre pessoas de diferentes culturas ou classes sociais, removendo medos, frustrações e vinganças para demonstrar que a violência não tem lugar nelas.

Esta não é a primeira vez que um filme de Bier concorre ao prestigioso prêmio - "Depois do Casamento" foi um dos finalistas em 2006 -, mas sim a primeira na qual conta com verdadeiras chances de ganhar a estatueta de Melhor Filme Estrangeiro, como ficou comprovado ao receber o Globo de Ouro.

Bier disse que não quer "dar respostas" com seu filme, mas colocar perguntas sobre como resolver conflitos que levam a uma escolha entre a vingança e o perdão.

"Incêndios": O conflito do Líbano visto por uma mulher

O canadense Denis Villeneuve leva neste ano ao Oscar "Incêndios", seu nono longa-metragem, que apresenta um olhar feminino sobre o horror de uma guerra que representa a ocorrida no Líbano.

Baseada em obra de mesmo título do dramaturgo libanês Wajdi Mouawada, o diretor canadense descreve neste drama o percurso de dois irmãos gêmeos desde o Canadá, onde morreu sua mãe, até o Líbano de suas origens, viagem que ambos iniciam para realizar um último desejo expressado em seu testamento.

Esta é só uma desculpa para que "Incêndios" aborde às claras os confrontos civis entre cristãos e muçulmanos de mesma nacionalidade que transformaram o país, nos anos 70, em um cenário trágico, marcado pelo estigma do ódio entre irmãos com a religião como elemento de distorção.

Embora o filme não tenha passado pelo crivo dos júris do Bafta e do Globo de Ouro, recebeu amplo apoio de público nos 12 países onde entrou em cartaz.

"Fora da Lei": Nunca houve bons e maus

O filme do diretor francês de origem argelina Rachid Bouchareb recebeu críticas ferozes de políticos direitistas e de ex-veteranos franceses da Segunda Guerra Mundial, que o acusaram de desonrar a memória das "vítimas francesas" da guerra da Argélia e dos massacres de Setif.

Mas o cineasta pretendia ir à frente.

Queria que "Fora da Lei" fosse, segundo suas palavras, um filme que provocasse um debate sobre o passado colonial da França na Argélia, mas não um protesto violento.

O filme mostra as barbaridades cometidas tanto pelo lado francês como pelo argelino, e descreve sem ponderações os massacres de uns e outros, e dos argelinos entre si. "Fora da Lei" é a segunda incursão de Bouchareb em Hollywood após "Dias de Glória", indicado ao prêmio em 2007.

"Dente Canino": Uma mordida surrealista

Vencedor do prêmio "Um Certo Olhar" no último Festival de Cannes, "Dente Canino" ("Kynodontas'', título original) é uma mordida implacável de bom cinema por parte do diretor grego Giorgos Lanthimos, que explora a extinção do núcleo familiar.

Trata-se de uma narração "quase" de ficção científica, cheia de simbolismos, na qual alguns pais que pensam que a família está em perigo de extinção decidem criar um mundo dentro de sua própria casa, mostrada desde uma estética bonita, luminosa, aberta e cheia de gente bonita, mas com um fundo bem obscuro.

É de se destacar a presença em Hollywood do grego Lanthimos que, com este terceiro filme, se transformou em um dos mais novos talentos do cinema europeu e porta-bandeira de um país onde o cinema, segundo ele mesmo, "praticamente não existe".

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

"LONDON RIVER - DESTINOS CRUZADOS" PROPÕE A SUPERAÇÃO DE PRECONCEITOS E MEDOS PARA UMA CONVIVÊNCIA MELHOR

"London River - Destinos Cruzados", de Rachid Bouchareb - "Dias de Glória"-, é um drama sobre pais em busca de filhos, perdas e encontros, mas acima de tudo mostra uma Inglaterra multirracial, que tenta superar preconceitos e medos para um presente mais pacífico.

A ação se passa em julho de 2005, na época em que Londres sofreu atentados terroristas, acompanha os personagens por alguns dias e os desdobramentos do fato que muda drasticamente suas vidas.

Brenda Blethyn - de "Orgulho e Preconceito" - interpreta Elisabeth, fazendeira que vive na região rural da Inglaterra, e naqueles dias turbulentos, não consegue falar com a filha, moradora em Londres.
Depois de vários recados no celular da garota sem resposta, a mãe decide ir para a Capital.

Para lá também vai Ousmane - Sotigui Kouyaté, de "Coisas Belas e Sujas"-, à procura do seu filho, de quem não tem notícias faz tempo - o pai abandonou o agora rapaz quando este ainda era criança, e mantém contatos esparços só com a mãe do jovem, que mora na África.
Falando apenas francês, Ousmane depende da ajuda de estranhos para encontrar o filho.

Desde o começo fica evidente que os caminhos de Elisabeth e Ousmane vão se cruzar, mas o roteiro, assinado por Bouchareb, Olivier Lorelle e Zoe Galeron, nunca cai no óbvio - o casal de filhos perdidos tinha uma ligação, que os dois pais vão desvendando aos poucos - e isso leva a uma coincidência de suas buscas.

Foto: DivulgaçãoO ator Sotigui Kouyaté e a atriz Brenda Blethyn, em cena do filme

As primeiras reações de Elisabeth são o medo e a acusação, porquê ela crê que o próprio Ousmane tenha culpa no desaparecimento de sua filha.
Hospedada no apartamento da garota,fica surpresa em ver-se num bairro muçulmano, descobrindo outros fatos que não sabia sobre a filha, Jane - alguns deles têm a ver com o filho de Ousmane, Ali.

Quando Bouchareb propõe um diálogo amigável entre os dois personagens, sugere que esse mesmo entendimento se faz necessário para a Inglaterra multiétnica e contemporânea, e o medo de Elisabeth se converte em esperança e amizade com Ousmane.

Ganhador do prêmio de ator no Festival de Berlim do ano passado, o ator mali Kouyaté, morto no último mês de abril, ficou conhecido especialmente por seu trabalho com o inglês Peter Brook, e aqui revela-se uma presença que enche a telona.
Muito alto e magro, com uma calma que parece transmitir sabedoria e compaixão, o personagem é quem dá o apoio necessário para Elisabeth em sua jornada, mas é ele quem talvez sofra mais, pelo temor de que seu filho possa ser um terrorista.
O que aconteceu, afinal, com Ali e Jane é um suspense mantido até quase a cena final.

Bouchareb dirige com competência e precisão, deixando, boa parte do trabalho nas mãos da dupla de seus dois grandes atores, numa decisão acertadíssima.

Se em seu filme anterior, "Dias de Glória" (2006), ele olhou para uma das feridas abertas da França - os argelinos que lutaram na 2a Guerra Mundial -, aqui ele investiga uma outra que diz respeito ao mundo contemporâneo: a questão da convivência e aceitação mútua, independente da nacionalidade, de credos ou opções políticas.

Um belo filme.

Veja o trailer do filme:


"LONDON RIVER-DESTINOS CRUZADOS"
Título original:
London River
Diretor: Rachid Bouchareb
Distribuição: Arte France
Elenco:
Brenda Blethyn
Sotigui Kouyaté
Roschdy Zem
Gênero: Drama
Duração: 87 min
Ano: 2009
Data da Estreia: 01/10/2010
Cor: Colorido
País: Reino Unido, França, Argélia
COTAÇÃO DO KLAU:


sexta-feira, 21 de maio de 2010

CANNES: INDEPENDÊNCIA DA ARGÉLIA AINDA É TABU - FILME TAILANDÊS É APLAUDIDO DE PÉ


Filme sobre independência da Argélia
provoca protestos

Um filme sobre a luta sangrenta pela independência da Argélia foi exibido hoje - onde foi bem recebido - com forte aparato policial, enquanto manifestantes do lado de fora protestavam, gritando que o filme macula a memória do Exército francês.

"Hors la Loi" (Fora da Lei), pela equipe responsável pelo premiado "Dias de Glória" (2006), completa a seleção oficial e acrescenta um elemento de controvérsia ao maior festival de cinema do mundo.

Quase cinco décadas após a independência da Argélia - em 1962 - o diretor Rachid Bouchareb trata de uma questão que ainda é altamente delicada na França, mas disse que sua intenção é provocar discussões, e não confrontos.
Foto: AFP

O diretor Rachid Bouchareb chega para a exibição do seu filme


"Eu sabia que o passado colonial e a relação com o passado colonial entre França e Argélia ainda é muito tensa, mas acho que as reações e tudo o que vem sendo dito, antes mesmo de alguém assistir ao filme, têm sido excessivas."

Como se para destacar o que ele disse, policiais de choque se postaram diante do Palácio dos Festivais, enquanto centenas de manifestantes portando bandeiras, entre eles veteranos militares e partidários da Frente Nacional, de extrema direita, passaram em passeata pela prefeitura de Cannes.

"Queremos deixar claro com nossa manifestação que é intolerável que dinheiro público francês seja usado para macular o Exército francês e as ações da França na Argélia", disse o ex-senador francês e veterano de guerra Jacques Peyrat.

Milhares de pessoas morreram na brutal guerra de independência da Argélia, um conflito que deixou feridas profundas ainda abertas na Argélia e na França.

Mas Bouchareb disse que espera que o país ajude a fomentar um debate aberto e que "depois disso precisamos passar para outra coisa".

"Não há razão pela qual gerações posteriores tenham que herdar o passado desta maneira."

"Hors la Loi" trata de um tema que decorre de "Dias de Glória", do mesmo diretor, que contou a história de soldados do norte da África que combateram pela França na 2a Guerra Mundial.

O filme foca três irmãos - papéis dos atores Jamel Debbouze, Roschdy Zem e Sami Bouajila - três dos quatro atores de "Dias de Glória" ,que receberam um prêmio coletivo de melhores atores em Cannes - 2006.

A trama começa em 1925, quando uma família argelina é expulsa de suas terras ancestrais depois de as terras serem dadas a um colono europeu, e passa por um incidente notório ocorrido em 1945 - quando tropas francesas abriram fogo contra manifestantes pró-independência, desencadeando uma explosão de violência na qual foram mortos milhares de argelinos e cerca de 100 europeus.

A parte principal da história acontece na França, para onde a família se muda, indo viver em uma favela nos arredores de Paris, e mostra a brutalidade da polícia francesa e também a violência fria do movimento pró-independência argelina FLN.

Mas os criadores do filme negam que "Hors la Loi" seja antifrancês e disseram que não acreditam que a maioria dos franceses o enxergará assim.

"A França é um grande país, e este filme vai contribuir para a memória histórica", disse Tarak bem Ammar, um dos co-produtores.

Para mim, essa é uma das maiores propostas que o Cinema pode fazer; colocar o dedo nas feridas abertas, e com isso discutir e resolver esses tabus i glórios, guerras principalmente.

Esse eu também quero ver!

*****

"Lung Boonmee Raluek Chat", da Tailândia, é aplaudido de pé

Outro filme exibido hoje foi o tailandês "Lung Boonmee Raluek Chat".

O filme foi aplaudido de pé, mas a história ficou de lado na entrevista coletiva em que o diretor contou as dificuldades que sofreu para chegar ao festival - como Bangcoc estava sob toque de recolher, sair do país era praticamente impossível.

Weerasethakul passou pela embaixada da França, da Espanha e da Itália até conseguir embarcar para o festival, em meio aos tiroteios e barricadas do exército que tomavam o centro da cidade.

O filme fala, de uma forma pausada e tranqüila, sobre uma Tailândia em que as pessoas ainda acreditam em fantasmas e a pressa não existe.

"Lung Boonmee Raluek Chat" ("O tio Boonmee lembra suas vidas passadas") é um filme difícil de classificar, em que os silêncios contam tanto ou mais que os diálogos.

É a história das lembranças do tio Boonmee através dos espíritos das pessoas que fazem parte de seu passado ou de suas vidas anteriores.

"Para os tailandeses, especialmente os criados no noroeste, é normal a influência da crença animista, a transmigração das almas. Para nós os animais e as plantas têm espírito, sempre foi assim", contou o diretor de forma natural.

Um filme pouco comercial, mas poético e com um cinema baseado na ilusão, como assinalou o diretor.

A ver.