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terça-feira, 18 de junho de 2019

R.I.P.: FRANCO ZEFIRELLI, UM DOS MAIS VERSÁTEIS CINEASTAS ITALIANOS

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Ele tinha 96 anos e morreu neste sábado (15) em casa, na Itália
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O filho de Zeffirelli, Luciano, confirmou que seu pai morreu em casa por volta das 12h deste sábado na Itália:

"Ele sofreu durante um tempo, mas se foi de uma forma pacífica", afirmou Luciano.

Zeffirelli ficou famoso por dirigir filmes como "La Traviata" e "Romeu e Julieta", pelos quais foi indicado ao Oscar, mas também por produções de óperas e obras para a televisão.

Relembre cena de "Romeu e Julieta":


O cineasta encantou as plateias pelo mundo com sua visão romântica e produções muitas vezes extravagantes.

O cineasta italiano Franco Zeffirelli em foto de 2009, em Roma — Foto: Alessandra Tarantino/AP
Franco Zeffirelli em foto de 2009, em Roma — Alessandra Tarantino/AP

Em uma entrevista em 2013, quando completou 90 anos, ele afirmou que o público em geral se lembraria dele principalmente por sua produção de "Romeu e Julieta", que ganhou as telas em 1968, além da minissérie para a televisão "Jesus de Nazaré", de 1977, e o filme "Irmão Sol, Irmã Lua", de 1972, um belíssimo tributo a São Francisco de Assis e Santa Clara - e para mim, o seu melhor filme.

Relembre cena de "Irmão Sol, Irmã Lua":


Nascido em 12 de fevereiro de 1923 em Florença, Zeffirelli foi fruto de um caso extraconjugal entre sua mãe, costureira de sucesso casada com um advogado, e um cliente vendedor de tecidos.

A mãe do cineasta, como não poderia dar ao filho o sobrenome do marido ou do amante, escolheu um nome que ouviu em uma ópera de Mozart, que falava dos "zeffiretti gentili" (ventos suaves).

Um erro de transcrição no cartório o transformou em Zeffirelli.

Franco Zeffirelli, cineasta italiano, em foto de 1974 — Foto: Jerry Mosey/AP
Franco Zeffirelli, em foto de 1974 — Jerry Mosey/AP

Um dos poucos artistas que apoiaram politicamente o polêmico Silvio Berlusconi, Zeffirelli foi senador do partido fundado pelo magnata das comunicações, Forza Italia, de 1996 a 2001.

Em suas memórias, o cineasta assumiu sua homossexualidade e disse que foi apaixonado pelo grande cineasta e intelectual Luchino Visconti, com quem colaborou durante muitos anos.

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Visconti ao lado de Zefirelli - AP
"Sou homossexual, mas não gay, uma palavra que odeio, que é ofensiva e obscena", escreveu.

"Com Visconti vivi um amor atormentado, esgarçado, mas nunca apagado. Para mim, Luchino era o modelo de tudo o importante", acrescentou Zeffirelli, que lembrou ainda seu amor pela cantora lírica Maria Callas, "a única mulher por quem me apaixonei".

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Com a Diva da Ópera, Maria Callas - ANSA
Em janeiro de 2018, Zeffirelli foi acusado pelo ator Johnathon Schaech de ter abusado sexualmente dele durante as filmagens do filme "Sparrow", em 1992.

Schaech, que era um ator novato na época, afirmou que o diretor entrou em seu quarto de hotel enquanto ele dormia, deitou ao lado ele e o tocou sem sua permissão, além de ter sido verbalmente abusivo e agressivo.

Na ocasião, a família do cineasta, que já estava com a saúde debilitada, negou a acusação em um comunicado e afirmou que o ator teria raiva do diretor, que, após as filmagens, dublou as falas de Schaech devido a um problema de dicção dele.

"As afirmações não são verídicas. Diretores têm estilos diferentes e quando eles estão lidando com atores que não têm experiência, às vezes, eles são mais exigentes e pressionam mais", disse o comunicado.

"Me surpreende que o Sr. Schaech tenha esperado tanto tempo e escolhido esse momento exato para fazer suas acusações, agora que o maestro, por causa de sua condição de saúde, não pode se defender", afirmou Pippo Corsi Zeffirelli, filho do cineasta.

A acusação não deu em nada.

Mais um gênio que se vai.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

'O REI DE ROMA': COMÉDIA ITALIANA GANHA TRAILER

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Longa chega aos cinemas no dia 07 de março
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No vídeo, o empresário bilionário Numa Tempesta (Marco Giallini) demite seus advogados após eles não conseguirem subornar os juízes para livrá-lo da condenação por fraude fiscal.

Confira:


Na trama, Numa Tempesta é um focado e carismático homem de negócios que, levado por uma gigante ambição em ser bem sucedido, faz qualquer coisa para fechar novos acordos, mesmo que isso o leve a infringir a lei.

Depois de uma negociação dar errado, ele é pego pela polícia e condenado a cumprir um ano de serviço social.

Para tentar salvar sua fortuna, Numa encontrará uma solução onde menos espera.

Com direção de Daniele Luchetti (Meu Irmão É Filho Único), o longa integrou as programações da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e da última edição do Festival do Rio.

Com distribuição da Pagu Pictures, O Rei de Roma estreia no Brasil em 07 de março.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

VIRNA LISI: DIVA ITALIANA DAS TELONAS


Virna Lisi, uma das mais importantes atrizes italianas de todos os tempos, teve a sorte de ser dirigida em sua longa carreira por importantes realizadores - como Alberto Lattuada, Mario Monicelli, Dino Risi, Henri Verneuil e Joseph Losey.

Considerada pelos críticos a 'Marylin Monroe italiana', Lisi atuou em filmes italianos, franceses e em Hollywood, dividindo as telonas com grandes nomes de sua geração, como Marcello Mastroianni, Richard Burton e Alain Delon.

Virna Lisi em 1971 - AFP Photo
Ela atuou em 80 filmes feitos para as telonas e também teve cerca de 40 trabalhos para a televisão , sempre ousando em papéis de vamp e também de mulheres mais velhas, muitas vezes ficando irreconhecível para o público.

Depois de 40 anos de carreira, obteve o importante reconhecimento do Festival de Cannes, que concedeu a ela em 1994 a Palma de Melhor Atriz Coadjuvante, pela sua magnífica interpretação de Catherine de Medicis em 'A Rainha Margot' de Patrice Chéreau - longa estrelado pela francesa Isabelle Adjani.

Veja Vina Lisi em isabelle Adjani, em cena de 5 minutos de 'A Rainha Margot':


Pelo mesmo longa, levou também o César Prix - principal prêmio do cinema francês - de Melhor Papel Secundário Feminino.

Virna Lisi nasceu em Ancona, Itália, em 8 de Novembro de 1936, onde passou os primeiros anos antes de mudar para a capital, Roma, com a sua família.

Quando tinha 16 anos o cantor Giacomo Rondinella, amigo dos seus pais, convenceu-os a deixarem-na atuar a seu lado, na pequena comédia musical 'E Napoli Canta', dirigida por Armando Grottini.

Ela continuou a fazer pequenos papéis de ingênua até estourar em 'A Mulher de Quem se Fala' (1956), de Francesco Maselli.

Virna Lisi, em foto de 1969 - AFP Photo
O Gênio Vittorio Gassman apresentou-a a Giorgio Strehler, diretor do Piccolo Teatro de Milão e na Primavera de 1956, o encenador escolheu-a para interpretar Lucile Desmoulins em 'Les Jacobins', de Federico Zardi, ao lado de Serge Reggiani interpretando Robespierre.

Depois do seu casamento -  em abril de 1960, com o arquiteto Franco Pesci - ela passou a priorizar a sua vida pessoal mas voltou aos palcos para 'Eva' (1962), com direção de Joseph Losey, com Jeanne Moreau e depois com 'A Tulipa Negra' (1963) , de Chistian Jacque e 'Le bambole' (1964), de Dino Risi.

Virna Lisi no Festival de Cannes de 2002 - AFP Photo
A partir daí, Virna despertou interesse de Hollywood e lá se foi ela para Los Angeles, levando o marido e o filho de dois anos, onde assinou um contrato de sete anos com a Paramount Pictures e  logo estreando em 'Como Matar a Sua Mulher' (1965), dirigida por Richard Quine e contracenando com Jack Lemmon.

Nessa temporada em Hollywood, para não ser rotulada como atriz que só fazia papéis de ' loira sexy', chegou a recusar 'Barbarella', de Roger Vadim - que foi um imenso sucesso para a carreira de Jane Fonda – e rompeu o seu contrato, ao fim de três anos.

Voltando à Europa, sua carreira prossegue de Roma a Paris, Londres ou Berlim, às vezes em produções de Hollywood como 'A Árvore de Natal' (1969), de Terence Young, 'Barba-Azul' (1972), de Edward Dmytryk ou 'A Serpente' (1972), de Henri Verneuil.

Continuou na ativa até recentemente - seus últimos longas foram 'O Mais Belo Dia De Nossas Vidas' (2002), de Cristina Comencini e 'Boogie Woogie' (2009), de Andrea Frezza.

Virna Lisi morreu em Roma, nesta quinta (18), aos 78 anos.

Segundo a agência de notícias Ansa, a causa da morte não foi divulgada.

Segundo a imprensa italiana, Virna Lisi morreu "tranquilamente, durante o sono", um mês depois de receber o diagnóstico de uma doença incurável.

Vai fazer falta.

Em foto em Hollywood nos anos 1960 - Getty Images

FILMOGRAFIA DE VIRNA LISI:

La corda d'acciaio, de Carlo Borghesio (1953)
E Napoli canta, de Aldo Grottini (1953)
Violenza sul lago, de Leonardo Cortese (1954)
Il Cardinale Lambertini, de Giorgio Pastina (1954)
Piccola santa, de Roberto Bianchi Montero (1954)
Ripudiata, de Giorgio Chili (1954)
Desiderio 'e sole, de Giorgio Pastina (1954)
Lettera napoletana, de Giorgio Pastina (1954)
Il vetturale del Moncenisio, de Guido Brignone (1954)
La rossa, de Luigi Capuano (1955)
Le diciottenni, de Mario Mattoli (1955)
Vendicata!, de Giuseppe Vari (1955)
Luna nuova, de Luigi Capuano (1955)
Addio Napoli!, de Roberto Bianchi Montero (1955)
La piccola guerra, de Arthur Joffè (1955)
Lo scapolo, não creditada, direção de Antonio Pietrangeli (1955)
La donna del giorno, de Francesco Maselli (1956)
Il conte di Matera, de Luigi Capuano (1957)
Totò, Peppino e le fanatiche, de Mario Mattoli (1958)
Vite perdute, de Andrea Bianchi (1958)
Il mondo dei miracoli, de Luigi Capuano (1959)
Il padrone delle ferriere, de Anton Giulio Majano (1959)
Caterina Sforza, la leonessa di Romagna, de Giorgio Chili (1959)
Un militare e mezzo, de Steno (1960)
Sua Eccellenza si fermò a mangiare, de Mario Mattoli (1961)
Romolo e Remo, de Sergio Corbucci (1961)
5 marines per 100 ragazze, de Mario Mattoli (1962)
Eva, de Joseph Losey (1962)
Il giorno più corto, de Sergio Corbucci (1963)
Il delitto Dupré, de Christian-Jaque (1963)
Il tulipano nero, de Christian-Jaque (1964)
Agente Coplan: missione spionaggio, de Maurice Labro (1964)
La donna del lago, de Luigi Bazzoni e Franco Rossellini (1965)
Oggi, domani, dopodomani, de Eduardo De Filippo (1965)
Come uccidere vostra moglie, de Richard Quine (1965)
Le bambole, de Dino Risi (1965)
Casanova '70, de Mario Monicelli (1965)
Made in Italy, de Nanni Loy (1965)
Signore & signori, de Pietro Germi (1966)
Una vergine per il principe, de Pasquale Festa Campanile (1966)
U-112, assalto al Queen Mary, de Jack Donohue (1966)
Not With My Wife, You Don't!, de Norman Panama (1966)
La venticinquesima ora, de Henri Verneuil (1967)
La ragazza e il generale, de Pasquale Festa Campanile (1967)
Arabella, de Mauro Bolognini (1967)
Le dolci signore, de Luigi Zampa (1968)
Meglio vedova, de Duccio Tessari (1968)
Il suo modo di fare, de Franco Brusati (1969)
If It's Tuesday, This Must Be Belgium, de Mel Stuart (1969)
L'arbre de Noël, de Terence Young (1969)
The Secret of Santa Victoria, de Stanley Kramer (1969)
Tempo di violenza, de Sergio Gobbi (1970)
Giochi particolari, de Franco Indovina (1970)
La statua, de Rodney Amateau (1971)
Il bel mostro, de Sergio Gobbi (1971)
Roma bene, Carlo Lizzani (1971)
Improvvisamente una sera… un amore, de Sergio Gobbi (1972)
Barbablù, de Edward Dmytryk (1972)
Il serpente, de Henri Verneuil (1973)
Zanna Bianca, de Lucio Fulci (1973)
Il ritorno di Zanna Bianca, de Lucio Fulci (1974)
Al di là del bene e del male, de Liliana Cavani (1977)
Ernesto, de Salvatore Samperi (1979)
Bugie bianche, de Stefano Rolla (1980)
La cicala, de Alberto Lattuada (1980)
La donna giusta, de Paul Williams (1982)
Sapore di mare, de Carlo Vanzina (1983)
Amarsi un po', de Carlo Vanzina (1984)
I Love N.Y., de Alan Smithee (1987)
I ragazzi di via Panisperna, de Gianni Amelio (1989)
Buon Natale… buon anno, de Luigi Comencini (1989)
A Rainha Margot, de Patrice Chéreau (1994)
As Cento e Uma Noites, direção de Agnès Varda (1995)
Va' dove ti porta il cuore, de Cristina Comencini (1996)
Il più bel giorno della mia vita, de Cristina Comencini (2002)
Boogie Woogie, de Andrea Frezza (2009)

sexta-feira, 1 de março de 2013

'CÉSAR DEVE MORRER': FILME DOS IRMÃOS TAVIANI COM ELENCO DE DETENTOS FAZENDO SHAKESPEARE É SENSACIONAL



Vencedor do Urso de Ouro na Berlinale 2012, "César Deve Morrer" é um filme ágil, visceral e maravilhoso e que nem parece ter sido feito por dois diretores octogenários - os irmãos italianos Paolo e Vittorio Taviani.

Com uma extensa carreira de mais 60 anos, uma Palma de Ouro em Cannes - por "Pai Patrão" (1977) - e com várias obras consagradoras - como "Allonsanfan" (1974), "Kaos" (1984) e "Bom Dia Babilônia" (1987) - os irmãos, em seu primeiro filme digital, escolheram como elenco nada menos que os detentos da imensa prisão de segurança máxima Rebibbia, nos arredores de Roma.

Os irmãos Paolo e Vittorio Taviani posam na prisão de segurança máxima Rebibbia, nos arredores de Roma, durante as filmagens - fotos dessa postagem: Divulgação/Europa Filmes
Contando com a assessoria do diretor teatral Fabio Cavalli, a trama acompanha uma montagem da peça "Júlio César", de William Shakespeare, por um grupo de prisioneiros.

A já tão explorada obra clássica  ganha um novo olhar, algo mais denso e real e essa escolha causa uma humanização dos personagens e traz o espectador para perto de figuras míticas como César, Brutus e Cássio - quando pensaríamos em ver grandes nomes da história, sempre apresentados de maneira distante e com recalques, sendo interpretados por ex-traficantes e mafiosos?

Com a câmera focada no rosto dos candidatos, os Taviani pedem apenas que eles digam seus nomes e de onde vêm, revelando a impressionante afinidade entre os atores e a trama da peça - a conspiração para assassinar o imperador romano Júlio César - e
exploram com extrema habilidade essa tênue fronteira entre vida e arte, entre realidade e encenação, usando o próprio ambiente da prisão como cenário principal, já que o filme se ocupa principalmente dos ensaios da peça.

Cena do longa
As paredes nuas e descascadas, a luz natural que entra pelas janelas com grades, os muros altos viraram aqui, sem muitos artifícios, os corredores do Fórum Romano e os palácios da ficção, sem que para isso o espectador precise mais do que acompanhar a impressionante dedicação de seus intérpretes.

Cena do longa
No lugar em que toda a esperança parece perdida, o filme mostra que é possível obter a essência de um teatro que se aproxime da complexidade da vida.

As performances de Salvatore Striano - como Brutus, Cosimo Rega - como Cássio, e Giovanni Arcuri - como César, todos eles condenados a muitos anos de cadeia por crimes como assassinato ou tráfico, são impressionantes, magnéticas e inesquecíveis.

A cena do assassinato de César, encenada por traficantes e ladrões condenados: sen-sa-cio-nal!
Um senhor filme, denso, maravilhoso, que vale cada fotograma filmado - e onde dois senhores dão uma aula de como fazer cinema de qualidade máxima usando criatividade, elenco engajado e câmera firme.

Filmaço.

Além da Berlinale 2012, o longa levou o David di Donatello Awards de Melhor Direção, Melhor Edição, Melhor Filme, Melhor Produtor e Melhor Som - foi indicado também a Melhor Fotografia, Melhor Música e Melhor Roteiro.

Confira o trailer do filme:


*****
'CÉSAR DEVE MORRER'
Título Original:
Cesare Deve Morire
Diretor:
Paolo Taviani, Vittorio Taviani
Elenco:
Cosimo Rega, Salvatore Striano, Giovanni Arcuri, Antonio Frasca, Juan Dario Bonetti, Vittorio Parrella, Rosario Majorana, Vincenzo Gallo, Francesco de Masi, Gennaro Solito, Francesco Carusone, Fabio Rizzuto, Maurilio Giaffreda
Produção:
Grazia Volpi
Roteiro:
Paolo Taviani, Vittorio Taviani
Fotografia:
Simone Zampagni
Trilha Sonora:
Giuliano Taviani, Carmelo Travia
Duração:
76 min.
Ano:
2012
País:
Itália
Gênero:
Drama
Cor:
Colorido
Distribuidora:
Europa Filmes, Mares Filmes
Estúdio:
Rai Cinema / Kaos Cinematografica / Le Talee / Stemal Entertainment / La Ribalta-Centro Studi Enrico Maria Salerno
Classificação:
Livre
Cotação do Klau:

sexta-feira, 27 de julho de 2012

'AQUI É O MEU LUGAR: SEAN PENN, MESMO SEM CANTAR, PERSONIFICA VELHO ROQUEIRO NUMA INTERPRETAÇÃO INSPIRADA


Tendo como ponto de partida uma música de David Byrne - "This must be the place" - "Aqui é o Meu Lugar", novo longa do diretor italiano Paolo Sorrentino, nos apresenta o roqueiro Cheyenne - Sean Penn - envelhecido, entediado e exilado em Dublin, Irlanda, renegando suas origens judaicas.

Com a voz insegura, rosto maquiadíssimo, batom vermelho, unhas pintadas e cabeleira negra desgrenhada, o cantor parece se esconder na infância.

Fotos: Imagem Filmes - Divulgação
Sean Penn é Cheyenne, um roqueiro, em "Aqui é o Meu Lugar", de Paolo Sorrentino
O auto-exílio é deixado para trás quando Cheyenne  toma coragem para voltar a Nova York e se despedir do pai moribundo.

Sean Penn - Cheyenne - e Frances McDormand - Jane - em cena do longa
Sua mulher, a bombeira Jane - Frances McDormand -, e uma fã, a garota Mary - Eve Hewson -, ficam na Irlanda esperando a sua volta - só que essa mudança, da Irlanda para os EUA, transforma o longa num "road movie".

Como a reconciliação real com o pai se torna impossível, o amadurecimento do cantor se dá quando ele assume a função paterna, perseguindo um oficial nazista responsável por levar seu pai para Auschwitz.

Com a viagem, Cheyenne parece nunca pertencer ao local em que está, permanece sempre em trânsito e sua casa agora são os quartos de hotéis, nas estradas que cruzam os EUA e que serve como um rito tardio de passagem para a vida adulta.

Sean Penn como o roqueiro Cheyenne, em cena do longa
Penn, ator muito acima da média, é realmente a melhor coisa do longa e não apenas no visual anos de 1980, mas no gestual, na voz contida e fina, uma lembrança à la Michael Jackson que vem lá do fundo e parece esconder mais feridas do que devia.

Como o protagonista é um cantor, a trilha sonora, lógico, é especialíssima e, mesmo que Cheyenne nunca apareça cantando, só a aparição de David Byrne, interpretando justamente "This must be the place" já vale o ingresso.

David Byrne - como ele mesmo: já vale o ingresso
É muito inspirador ver cineastas de outros países usarem os EUA como cenário: a luz, a fotografia, a ambientação, enfim, nos mostra uma outra América, que num primeiro momento parece ser igual, mas que é muito diferente da que estamos acostumados.

O longa fez muito barulho em Cannes 2011 - acabou levando o Prêmio do Júri Ecumênico e indicado à Palma de Ouro - e é o primeiro longa de Sorrentino a estrear comercialmente no Brasil, já que os filmes anteriores do cineasta - "Il Divo" e "O Amigo da Família" - só foram exibidos por aqui em festivais.

Ao lado de nomes como Emanuele Crialese - de "Novo Mundo" - e Matteo Garrone - de "Gomorra" - Sorrentino forma uma trinca que está renovando - para melhor - o  atual cinema italiano.

Confira o trailer do filme:

*****
"AQUI É O MEU LUGAR"
Título Original:
This Must be the Place
Diretor:
Paolo Sorrentino
Elenco:
Sean Penn, Eve Hewson, Frances McDormand, Judd Hirsch, David Byrne
Produção:
Andrea Occhipinti, Francesca Cima, Nicola Giuliano, Mario Spedaletti
Roteiro:
Paolo Sorrentino, Umberto Contarello
Fotografia:
Luca Bigazzi
Trilha Sonora:
David Byrne, Will Oldham
Duração:
120 min.
Ano:
2011
País:
EUA
Gênero:
Drama
Cor:
Colorido
Distribuidora:
Imagem Filmes
Estúdio:
Indigo Film / Lucky Red / Medusa Film / France 2 Cinéma / ARP Sélection / Element Pictures / Pathé / Irish Film Board / Eurimages Council of Europe / Canal+ / CinéCinéma / France Télévision / Intesa San Paolo / Section 481 / Programme MEDIA de l'Union Européenne / Sky
Classificação:
12 anos
Cotação do Klau:

sexta-feira, 15 de junho de 2012

'A PRIMEIRA COISA BELA': RETRATO REVELADOR SOBRE AMADURECIMENTOS A DURAS PENAS OU TARDIO



Demorou, mas finalmente a comédia dramática "A Primeira Coisa Bela", do italiano Paolo Virzì e produzida em 2010, chegou às telonas brasileiras hoje.

Na trama, acompanhamos Anna - Micaela Ramazzotti - e seu casal de filhos por quase quarenta anos, com a ação indo e voltando no tempo, mostrando uma Anna juvenil,  apelidada de "Miss Mamma", abandonando o marido - Sergio Albelli - tentando refazer sua vida com seus filhos, entrando em relacionamentos sem futuro e enfrentando acusações sobre sua conduta.

Tudo para chegarmos ao presente, onde Anna - agora interpretada por Stefania Sandrelli - é uma doente terminal, morando numa clínica e tentando reatar a relação com o filho, Bruno - Valerio Mastandrea -, professor universitário viciado em drogas.

Fotos: Divulgação/Califórnia Filmes
Cena de "A Primeira Coisa Bela"
O diretor, que escreveu o roteiro com mais dois colaboradores - parte para a desconstrução da relação familiar a cada cena do passado para, mais tarde, reconstruí-la, num trabalho delicado e que entrelaça o passado e o presente, atingindo um equilíbrio entre o emotivo e o cômico, sem nunca pender para extremos.

Aqui, mais do que uma justificativa do passado, o presente é o desenvolvimento natural dos personagens, suas mudanças ou reafirmações.

Anna, mesmo com a saúde debilitada, não mudou, é extrovertida, cheia de amor para dar e tentando, a todo custo, agradar aos filhos, sem abrir mão de sua individualidade.

Cena de "A Primeira Coisa Bela"
Estes, por sua vez, parecem ter se retraído por acompanharem, ao longo da juventude, o comportamento da mãe e, consequentemente, têm dificuldades nos relacionamentos amorosos.

Bruno não consegue assumir a seriedade de um relacionamento e sua irmã, Valeria - Claudia Pandolfi -, apesar de aparentemente bem casada, mantém um romance com seu chefe.

Saga familiar em tom intimista, o longa permite conhecimento de várias histórias desses personagens, e o desenvolvimento dá conta de criar uma personalidade bem delineada para cada um deles, mesmo para aqueles que aparecem menos na trama, como é o caso de Cristiano - Paolo Ruffini -, filho de um advogado para quem Anna trabalhou e é o maior respiro cômico do filme.

A trilha sonora é um espetáculo à parte, a começar pela canção que empresta o título ao longa - "La Prima Cosa Bella", sucesso italiano romântico do começo da década de 1970 , quando começa a história - chegando à banda de rock contemporânea de Livorno - Bad Love Experience - onde se passa boa parte da trama.

Cena de "A Primeira Coisa Bela"

O retorno de Bruno para a região onde nasceu e cresceu é um acerto de contas com seu passado e com sua mãe, o que escancara a vocação do longa para um olhar revelador sobre amadurecimentos, mesmo que a duras penas, ou mesmo que tardio.

O longa foi o candidato da Itália ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2011.

Confira o trailer do filme:

*****
'A PRIMEIRA COISA BELA'
Título Original:
La Prima Cosa Bella
Diretor: 
Paolo Virzì
Elenco: 
Valerio Mastandrea, Micaela Ramazzotti, Valeria Michelucci, Dario Ballantini, Marco Messeri, Fabrizia Sacchi, Roberto Rondelli, Sergio Albelli, Aurora Frasca, Giacomo Bibbiani, Emanuele Barresi
Produção: 
Marco Cohen, Fabrizio Donvito, Benedetto Habib, Gabriele Muccino, Carlo Virzì, Paolo Virzì
Roteiro: Paolo Virzì, Francesco Bruni, Francesco Piccolo
Fotografia: 
Nicola Pecorini
Trilha Sonora: 
Carlo Virzì
Duração: 
122 min.
Ano: 
2010
País: 
Itália
Gênero:
 Drama
Cor: 
Colorido
Distribuidora: 
Califórnia Filmes
Estúdio: 
Motorino Amaranto / Medusa Film / Indiana Production Company
Cotação do Klau:

quarta-feira, 16 de maio de 2012

CONHEÇA NANNI MORETTI, O PRESIDENTE DO JÚRI DE CANNES 2012


Ao longo de três décadas, o diretor, ator e roteirista italiano Nanni Moretti - que a partir de hoje é o presidente do júri do Festival de Cinema de Cannes - foi um crítico de seu tempo e um italiano até a medula, amado e odiado.

Desde sua estreia formal em 1978, quando era muito jovem, Moretti - nascido na montanhosa Brunico, em 1953 -, surgiu no panorama do cinema mundial, revelando-se como um autor com uma visão muito crítica do mundo e de si mesmo, cheia de ironia.

Observador da sociedade sagaz e multifacetado, Moretti alcançou reconhecimento internacional com "Querido diário" (1993), um relato entre realidade e ficção, premiado em Cannes - nesse filme, o cineasta, conhecido por sua timidez, narra sua batalha pessoal contra o câncer.

Esse estilo insólito, íntimo, sem preconceitos, caracterizou toda sua carreira, que se iniciou em 1976 com "Sou um autárquico", título decididamente premonitório. 
Seus primeiros filmes, já marcados por seu compromisso político e social, falam dos jovens. Sua produção era caseira e cheia de improvisos.

Ao longo de sua fecunda e variada carreira, Moretti não só foi diretor, como, com frequência, ator, roteirista, produtor e inclusive editor do mesmo filme. 
Por este motivo e por sua tendência a se inspirar em suas próprias experiências, o chamam de "Woody Allen" do cinema italiano.

Identificado como cineasta comprometido com a esquerda e ferrenho defensor de sua independência, Moretti ganhou em 2001 a Palma de Ouro de Cannes com "O quarto do filho" ("La stanza del figlio"), em que deixou de lado seu sarcasmo habitual para contar um drama sobre a perda de um filho.

Reflexivo, culto, o cineasta - filho de um professor universitário de epigrafia grega e formado em um dos liceus tradicionais de Roma, onde sua mãe era professora - decidiu, aos 47 anos, deixar de lado o que ele define como "uma etapa de autocelebração e autoindulgência" para se arriscar em um melodrama.

"Uma entrada definitiva na maturidade pessoal e profissional", confessou, ao falar do filme, que descreve os temores íntimos de todo pai depois do nascimento em 1996 de seu primeiro e único filho, Pietro, que teve com Silvia Nono, de quem está separado.
AP
Nanni Moretti, diretor italiano e presidente do júri do Festival de Cannes - edição 2012

Depois de um período dedicado à política, durante o qual se opôs e se expôs pessoalmente contra a vitória eleitoral do magnata das comunicações Silvio Berlusconi - a quem dedicou o filme "O crocodilo" ("Il caimano") - retornou em 2011 às telonas com uma comédia: "Habemus Papam", sobre as fobias de um novo Papa - longa que ainda está em cartaz aqui em São Paulo.

De fácil acesso para os romanos, que podem cumprimentá-lo frequentemente na antiga sala de cinema Sacher - que comprou e restaurou no fim dos anos 80, no bairro de Trastevere, onde produz cinema independente -  Moretti é o oposto do homem extrovertido e pomposo que interpreta em seus filmes como "Palombella rossa/Pomba Vermelha" ou "Aprile/Abril".

O homem de esquerda mais crítico da esquerda, admirador confesso de Visconti, Pasolini, Ferreri, Bellocchio, dos irmãos Taviani, Bertolucci, Hitchcock, Buñuel e Truffaut, é construtor de um cinema livre, longe das normas e da produção padrão.

"Em meus filmes ri muito da esquerda, de minha geração, da relação entre pais e filhos, da escola e do mundo do cinema e inclusive, em 'Querido diário', do câncer que tive há 20 anos", disse em uma entrevista.

"Por que não? Nada deveria ser tabu no século XXI", afirmou com seu estilo provocador, que pode cativar ou irritar, mas que não deixa ninguém indiferente.

Alguma dúvida de que a edição 2012 do Festival de Cannes - o mais prestigiado e importante do mundo - tem um presidente à sua altura?