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domingo, 14 de novembro de 2010

ODETE ROITMAN VOLTOU!

Exibida originalmente pela TV Globo, em 1988, a novela "Vale Tudo" virou um fenômeno depois que começou a ser reprisada pelo canal pago Viva.

A trama, durante sua exibição, entra por diversas vezes para os trending topics - a lista de assuntos mais comentados do Twitter.

Um dos personagens mais emblemáticos do folhetim - e da carreira de Beatriz Segall -, Odete Roitman voltou ao ar na última semana.

Acompanhada do repórter James Cimino, a atriz reviu, duas décadas depois, sua primeira cena na trama - é o que mostra o vídeo abaixo.

Beatriz, 84, também comenta o seu "orgulho" pela vilã, embora evidencie o cansaço em ter que responder aos fãs "quem matou Odete Roitman" por diversas vezes.

"Cada pessoa que me pergunta pensa que está sendo original. Mas eu não aguento mais."

Leia também: Beatriz Segall diz que fãs podem tirar foto com ela, mas não abraçá-la

No Twitter, a devoção do público por Odete é evidente.

Jovens que não eram nascidos durante a primeira exibição da novela aguardavam ansiosamente a chegada da vilã - criaram até perfis falsos de personagens da trama em que reproduzem frases do roteiro e gírias da época.

Neste outro vídeo abaixo, a atriz responde dúvidas dos internautas sobre a personagem e comenta a peça de teatro em que estreou na última semana, "Conversando com Mamãe", em cartaz no Rio.

Baseada no texto do cineasta argentino Santiago Carlos Oves, o espetáculo tem direção assinada por Susana Garcia e retrata os conflitos familiares entre uma mãe, vivida pela atriz, e seu filho, interpretado por Herson Capri.

Leia a reportagem com Beatriz Segall na coluna Mônica Bergamo, publicada na edição deste domingo da Folha:



Luciana Whitaker/Folhapress
Beatriz Segall, 84, em seu apartamento, no Rio

Beatriz Segall volta a viver o sucesso da vilã Odete Roitman e diz que tinha prazer em falar "aquelas coisas horrorosas" sobre o Brasil -pois todas, na sua opinião, eram verdadeiras

Faltam cinco minutos
para o meio-dia da última quinta-feira. "Vale Tudo", novela de Gilberto Braga e Aguinaldo Silva reexibida pelo canal a cabo Viva, está prestes a começar. Enquanto, na ficção, os personagens da trama aguardam nervosos pela primeira aparição de Odete Roitman, o repórter James Cimino espera por Beatriz Segall, 84, atriz que há 22 anos deu vida à personagem, na sala do apartamento dela, no Leblon, no Rio.


Ela vai rever, duas décadas depois, a primeira cena que fez no papel mais emblemático de sua carreira e, talvez, da TV brasileira. Na tela, tia Celina (Nathália Timberg) liga para Odete em Paris. Enquanto isso, o telefone toca na casa de Beatriz. Sua inconfundível voz diz "Alô" duas vezes e faz eco com o som da TV. A ligação cai.
Beatriz surge em seguida e se senta no sofá para assistir ao folhetim. O canal pago, de repente, sai do ar.
Vera Lúcia, que há quatro anos trabalha para Beatriz, comenta: "Todo dia tem esse problema". Ela assiste a "Vale Tudo" para se lembrar de detalhes da trama e diz não seguir nenhuma novela atual. "São muito ruins. Agora, com a aparição da Odete Roitman, eu vou ficar no pé da dona Beatriz."
Com as mãos um pouco trêmulas, a atriz aperta os botões do controle remoto tentando sintonizar novamente o canal. A primeira cena que consegue ver é a do mordomo Eugênio (Sérgio Mamberti) dizendo que a aparição de Odete à trama é equivalente à chegada da Bruxa do Oeste no filme "O Mágico de Oz". "Que horror o que fizeram de mim", diz Beatriz.
Ela conta que Odete Roitman não foi apenas um papel popular. "Antes de "Vale Tudo", os atores pediam para ganhar mais para interpretarem vilões, pois não conseguiam fazer comerciais", afirma.


"Na minha época, ninguém queria fazer vilão. Em "Água Viva", a Tônia Carrero fez um pampeiro para não fazer a vilã e tivemos que trocar os papéis. Mal sabia ela que a Lurdes, o papel que ficou para mim, tomaria conta da novela. Aliás, acho que fiz um dos primeiros anúncios como vilã. O Washington Olivetto [publicitário] me ligou na véspera do assassinato da Odete. Eram 18h e ele estava bolando um anúncio para uma companhia de seguro. Usou uma foto minha com a frase: "Nunca se sabe o dia de amanhã. Faça seguro"."


Para ela, "a população está cada vez mais acostumada com os tipos vilões, principalmente na política". O cenário atual, diz, "é mais escandaloso" do que em 1988, quando a novela foi ao ar.


"O que se ouve nas conversas é que o brasileiro tem convicção absoluta de que tirar vantagem vale a pena. Acho que os governos de hoje são mais escandalosos, porque as coisas são feitas mais à vista. Às vezes até com o aval do presidente da República. O Brasil continua merecendo uma banana", diz ela, em referência à antológica cena do final de "Vale Tudo", em que o vilão (Reginaldo Faria) dá uma "banana" para o Brasil e foge.


De repente, a atriz interrompe o discurso político. Ela olha para a tela e aponta Claudio Corrêa e Castro como o maior ator do Brasil. Elogia em seguida a performance de Glória Pires e observa como Nathália Timberg estava bonita na época.


Renata Sorrah, a Heleninha, está em cena. Desesperada com a chegada da mãe, toma um calmante. Beatriz novamente comenta: "Olha só o estrago que "eu" faço. A Renata fez muito bem esse papel. Agora, a Glória Pires realmente brilhou".


É estranho ver a atriz elogiando tanto a personagem que a imortalizou e ao mesmo tempo a estigmatizou. Até hoje, é chamada de Odete na rua. Outro dia, em SP, diz que uma jovem chegou a arrancar-lhe os óculos escuros para ver seus olhos.


"Não é que me irrita. Me cansa. Foto eu não tiro. Uma vez o Claudio Corrêa e Castro foi processado porque um maluco tirou uma foto com ele e saiu pelo Brasil vendendo um espetáculo em seu nome. No teatro é mais difícil de evitar, mas quando as pessoas vêm eu falo: "Tudo bem. Só não me abrace!" Detesto intimidade forçada."


Esse tipo de afirmação rendeu à atriz uma fama de intratável. Ela diz não ter "a menor ideia" do porquê disso. Acha que o que acontece com ela é o mesmo que acontecia com Bette Davis.


"Aliás, é uma comparação que fazem volta e meia e que me deixa muito orgulhosa. Mas ela era antipática por natureza. Eu sou [do signo] de leão, mas um leão domado. Às vezes digo as coisas de brincadeira, mas com o semblante sério. Se a pessoa não tem senso de humor, não posso fazer nada. Mas não maltrato ninguém, não..."


No Twitter, a devoção do público por Odete Roitman é evidente. Jovens que não eram nascidos durante a primeira exibição da novela aguardavam ansiosamente a chegada da vilã. Criaram perfis falsos de personagens da trama em que reproduzem frases do roteiro e gírias da época como "visual bem transado" e "chérie" (bordão da personagem Solange).


Esses mesmos jovens comparam "Vale Tudo" com as novelas atuais, que consideram inferiores. Beatriz Segall acha que o que mudou a novela foi o dinheiro do anunciante e a concorrência.


"A Globo foi atrás do público dessas emissoras que começaram a produzir programas menos elaborados. Hoje vejo coisas na Globo que no tempo do doutor Roberto Marinho não aconteciam. Certo tipo de cena, de personagem, as bobagens que são ditas, a falta de consistência nos enredos...". E mais: "A Globo hoje não tem elenco para fazer um remake de "Vale Tudo'".


Sua relação com o ex-patrão era "muito distante". "Ele não dava muita confiança para a gente, não. Uma vez nós jantamos. A dona Lily [Marinho, mulher do empresário] foi muito simpática, me falou coisas. Fui à casa dele algumas vezes, mas nunca consegui desenvolver uma conversa."


Nesta semana, os fãs de Odete no Twitter farão uma festa para celebrar a volta da megera em uma cobertura no bairro de Perdizes. O nome: "Laje Tudo". A Folha pediu que eles mandassem perguntas para Beatriz responder como se fosse a vilã.


Uma delas foi a seguinte: "Odete, de que cor você pintaria aquela gentinha marrom [forma como ela se referia aos brasileiros]?" Beatriz gargalha e responde com o mesmo desprezo peculiar da personagem: "De marrom mesmo. É uma cor triste".


"Ela era engraçada. Dizia coisas horrorosas sobre o Brasil, mas eram todas verdadeiras. Eram coisas que os brasileiros precisavam ouvir, não com aquele pedantismo todo. Eu até nem gosto de falar isso, porque o público me confunde com a personagem, mas eu tinha prazer em falar aquelas coisas, porque elas precisavam ser ditas."


Odete surge em cena novamente. Beatriz grita: "Olha ela! As roupas, embora hoje estejam fora de moda, eram sensacionais. Eu acho essa cena emblemática. Ela define a Odete. Ela se derrete com o namoradinho que trouxe da Europa, humilha, manda. É pesada, grossa e malcriada com o genro. Essa novela tem cenas antológicas. Continua atual".


Tão atual que Beatriz não pensou duas vezes ao responder à seguinte pergunta de um internauta: "Dona Odete, você se foi há 20 anos e isso aqui continua a mesma merda. Por que voltou?". E Beatriz: "Para lembrar às pessoas que continua tudo uma merda".

FOLHA.com
Veja Beatriz Segall respondendo mais perguntas dos internautas

domingo, 15 de agosto de 2010

ENTREVISTA: GALVÃO BUENO

A coluna de Mônica Bergamo - na Folha de S.Paulo de hoje - traz uma ótima entrevista com o principal narrador esportivo do país.
Leia:

Em SP para o lançar, na terça, um vinho e um espumante que levam seu nome - o "Bueno Paralelo 31" e o "Bueno Cuvée Prestige", assinados pelo francês Michel Rolland - Galvão pega régua e compasso: ele pretende redesenhar a vida profissional a partir de 2014, ano em que narrará, no Brasil, uma Copa do Mundo "pela última vez".

O locutor recebeu a coluna no hotel Hyatt, onde fica quando está na cidade - ele hoje vive em Mônaco.

Entre copos de vinhos e declarações de amor à mulher, Desirée, falou sobre vários assuntos.

A seguir, um resumo:

Foto: Marisa Cauduro / Folhapress
Galvão Bueno no hotel Hyatt, em SP

VOLTA DA SELEÇÃO
Um espetáculo.
Esse primeiro jogo [contra os EUA, na terça] resgatou o nosso jeito de ser, a nossa irreverência, a molecagem sadia.
Você vê o Ganso, o Neymar e o Pato, que tinham que estar lá na Copa da África. Fiquei extremamente feliz.
Tive mais prazer em transmitir esse amistoso do que nos seis jogos que fiz na Copa.

NA ÁFRICA
Transmitir jogos da seleção brasileira, na minha profissão, é um êxtase.
Mas talvez esta tenha sido a única das minhas dez Copas em que não tive nenhum prazer [nas partidas].
Você sentia que os jogadores não jogavam com gosto, eles jogavam com raiva, mais para dar respostas do que pelo prazer de jogar.
Isso não é o futebol brasileiro.
O processo foi tão doloroso, tão triste, uma coisa tão exagerada, tão radical.

DUNGA
Eu sempre defendi o Dunga.
Ele começou muito bem, caminhou bem e depois se perdeu inteiramente.
Por que uma pessoa tão vitoriosa tem que se alimentar de revanchismo?
E não foi só Dunga.
Foi o [auxiliar técnico] Jorginho, o [supervisor] Américo Faria.... Quem se alimenta de ódio e de revanche está sempre mais perto da derrota do que da vitória.
Nós saímos da Copa sem usar a terceira substituição.
Talvez não tivesse ninguém pra colocar, porque ele não levou a seleção.
Levou os amigos dele.
Folha - A briga com Dunga afetou o ânimo da TV Globo?
Nós? Nada. Zero. Não quer falar? Não fala. Punido foi o pobre do torcedor brasileiro. E o que falaram, que a [apresentadora] Fátima Bernardes pediu uma entrevista e ele não deu, que ele pediu cabeça de gente...conversa fiada.
Quem é ele para pedir cabeça de alguém na TV Globo?
E por que a bronca?
O Dunga tinha traumas antigos que foram alimentados pelos assessores.
O problema não era a TV Globo.
É que é legal eleger a Globo.
É legal eleger a Folha.
É legal eleger a revista "Veja" [como alvo].
E eleger o Galvão.
É o maior barato.
Para os outros.

CALA A BOCA GALVÃO
Foi um barato, uma grande gozação.
E virei papagaio!
O Ayrton Senna me chamava de papagaio e agora virei oficialmente. [Aponta o céu] Ele deve estar morrendo de rir.
Mas eu tomei um susto, é claro.
Começou quando eu e a Fátima apresentávamos o show de abertura da Copa.
Aquele em que você dançou na bancada?
Sou baladeiro, festeiro.
Saímos de lá numa felicidade imensa, "do cacete", a audiência foi um espetáculo.
E veio aquele aluvião, o Cala a Boca Galvão [espectadores tuitavam para que Galvão não falasse no meio do show].
Esse Twitter é um troço doido.
Quando vi, me procuraram Folha, "O Globo", "Veja", "El País", "New York Times".
Pra falar um português claro, eu pensei: fodeu.
Pensei: e agora?
Vamos divulgar nota oficial?
Mas não sou político.
Não cometi crime.
Aí surgiu a ideia de falar no [programa] "Central da Copa", com o Tiago Leifert.
Ele é brincalhão.
Me vejo nele.
Eu era folgado e abusado na idade dele.
E assumi a brincadeira.
O que poderia ter sido ruim virou um grande barato.
Teve também aquele maluco que fez o vídeo dizendo que Cala a Boca Galvão queria dizer "Save the Birds". Sensacional.
Virou um troço mundial mesmo.
Até propus à Globo que fizéssemos uma campanha séria [em defesa de pássaros em extinção].
Eu virei cult.

A VOZ
No jogo de Brasil e Holanda na Copa, eu travei.
A minha voz falhava, parecia carro de embreagem ruim.
O Cleber Machado chegou a ficar de prontidão.
Me apavorei.
No Brasil, o [cantor] Zezé Di Camargo me indicou o Luiz Cantoni, otorrinolaringologista.
Ele botou câmeras na minha garganta:
"Olha isso!". Estava forrado de placas brancas.
Peguei um fungo na boca, na garganta, na faringe.
Sabe micose no dedo?
Eu tenho nas cordas vocais.
Rinite fungótica.
Ó que nome doido?
Tomei anti-inflamatórios, fungicidas e estou fazendo cinco gargarejos diários com Micostatin.
Já estou quase perfeito.
É o Fala Galvão. Voltei a gritar.

O FUTURO
A Copa de 2014 será a última que vou narrar.
Porque é uma entrega total.
Eu saio da Copa moído, acabado.
Vou estar com 66 anos, 42 de profissão.
E eu sou um saltimbanco.
Deus me deu duas mulheres excepcionais: a Lucia, minha primeira mulher, que morreu em janeiro, e a Desirée.
Elas sempre foram mãe e pai.
Eu tenho cinco filhos, dois netos maravilhosos.
Quero dar um pouco mais pra mim e mais de mim pra eles.
Mas eu não quero sair da Globo nunca mais!
Eu vou fazer 30 anos de Globo em 2011.
Vou fazer um livro, "30 Anos de Estrada".
E sou louco para fazer um programa de auditório. Doido.
Tipo Silvio Santos?
Tipo Faustão. Ou Jô.
O Pedro Bial se rasgou no "Big Brother".
Aquilo lá é um programa de auditório.
E o Bial é gênio.
Cineasta, poeta, repórter, escreve como ninguém.
É o Chacrinha dos dias de hoje.
No "BBB", passou a ser atacado. Como eu.

Há preconceito contra o que é popular?
No Brasil tem preconceito contra todo mundo que faz sucesso. Ponto.

SALÁRIO
Ganho mais do que preciso e menos do que mereço.
R$ 1 milhão por mês?
Você é que está falando [risos].
Eu não posso.
Mas, se não for, tá perto [mais risos].
Dizem que talvez eu seja o maior salário da Globo.
Mas não quer dizer que eu ganhe mais.
Eu não faço merchandising, comerciais. Não posso e não devo.

A GLOBO MANDA NA BOLA
Isso é uma bobagem.
Eu acho até que devia mandar mais.
Porque ela paga as contas [a emissora compra dos clubes o direito de transmitir jogos].

LULA
Você já viu alguém dizer não para entrevistar o Lula?
Eu disse.
A assessoria dele me procurou para fazer um "Bem, Amigos".
Quando eu vi, ele ia dar entrevista para todas as televisões.
Eu falei: "Obrigado, não quero".

O Brasil melhorou?
Melhorou. Sem dúvida.
Nos últimos 16 anos, melhorou.
Entendeu os 16 anos?

CRAQUES AMIGOS
Quando sofri um acidente [em 2004], o Kaká ligou para o hospital.
E disse à Desirée: "Diga que é o outro filho dele. O do futebol".
Essa é a nossa relação.
Pelé, Rivellino, Zico, Júnior, Falcão, são gênios.
E meus amigos há 30 anos.
Mas hoje tá mais difícil.
Para falar com um jogador, você passa por 18 assessores.
E provavelmente, se não for o Galvão, não fala com eles.

VIDA EM MÔNACO
Foi um presente que me dei.
Quando Ayrton morava lá, eu falava: "Um dia eu vou ser gente pra morar aqui".
É uma coisa de realização, de você fazer aquilo que projetou há 25 anos.
Lá, em duas horas, estou em qualquer país para narrar um jogo.
Facilitou a vida.
Meus filhos estudam em escola internacional.
O Luca tem nove anos. Lê, fala e escreve em inglês e em francês.

Você tinha sete empregados no Brasil e lá só tem um.
Dois eram seguranças.
Um era motorista. O outro era jardineiro.
Aqui, sou aconselhado a ter segurança, carro blindado.
Lá não tem nada disso.
A Desirée põe a mesa do jantar, os meninos tiram.

E no Brasil?
O Luca é muito inteligente.
Mas eu sempre desconfiei que ele não era tão inteligente quanto a diretora da escola aqui dizia.
Porque ele é filho do Galvão.
Lá, eles têm que caminhar por eles.
Do lado bom e do lado mau.
Meu filho Cacá Bueno é um gênio como piloto [de Stock Car].
Sofreu anos de perseguição por ser meu filho.
No auge da rejeição ao Galvão, ele subia no pódio e vaiavam.
Faziam o mesmo coro do "Galvããão, viado".
É uma sacanagem. Machuca muito.

DIVINA VAIDADE
A Desirée é uma mulher e uma mãe espetacular.
Me devolveu a vaidade, a vontade de viver mais, de ser mais jovem.
Ela é 18 anos mais nova.
E um amigo me disse: "Galvão, a gente tem a idade da mulher que ama".
Ó que coisa bonita!
Há dez anos fiz plástica, na pálpebra.
Acho até que tá na hora de dar um tapinha aqui [no pescoço].
O papinho tá feio, tá caído aqui, ó!

AMOR AOS 60
Aos 49, quando conheci Desirée, ele foi arrebatador.
Aos 60, ele é encantador.

SEXO AOS 60
Um espetáculo.

domingo, 25 de abril de 2010

GUILHERME ARANTES!


Mônica Bergamo


CHORA, GUILHERME!

Com shows no Bar Brahma até julho, Guilherme Arantes diz que errou ao cantar para 'a grã-finada', chora ao falar de novos cantores e ri quando lembra de paixões como Elis Regina e Rita Lee. Por Marcus Preto

Letícia Moreira/Folha Imagem
Guilherme Arantes olha vitrine de loja na Santa Ifigênia

Chorar em público nunca foi problema para Guilherme Arantes. "Fui crucificado nos anos 80 por ser doce, e ter raiz romântica. Rasgava o peito e me chamavam de brega. Mas o mundo precisa dos angustiados. A nova geração traz de volta a doçura perdida na cocaína dos anos 80. Eu ia ver os Titãs e só tinha homem de preto gritando "ô, ô, ô, ô". Pensava: "Que é isso? Hitler venceu?"."

Caminhando pela rua Santa Efigênia, perto do Bar Brahma, em SP, onde estreou temporada de 16 shows na semana passada, ele defende a tese: o capitalismo absorveu os métodos do fascismo para vender cultura de massa. Está preocupado. "Como é que um nazista homofóbico [Dourado] vence o Big Brother [reality show da TV Globo]? Que sociedade é essa?
As raízes de um holocausto permanecem latentes." Torceu pela vitória de Dicesar, mas acha que o grande vencedor dessa edição do programa global foi Serginho. "É o único que vai trilhar carreira de artista. É uma figura talentosa, amorosa, carinhosa, querida."

No palco do Brahma, na esquina da avenida Ipiranga com a avenida São João ("comia muita salsicha por aqui com a minha primeira namorada"), o mesmo que abriga velhos e até então esquecidos ícones como Cauby Peixoto e Demônios da Garôa, o cantor espera reencontrar, nos shows às quartas-feiras, os seus fãs mais antigos e fiéis. "Eu estava com o público errado. Fazia shows em casas grandes, como o antigo Palace [atual Citibank Hall], em que os ingressos custam pra cima de R$ 100. A grã-finada que tem esse dinheiro vai ver Coldplay, não o Guilherme Arantes." Na temporada atual, que vai até julho, os ingressos custam R$ 60.

"Outro dia, o [cantor de rap] Mano Brown me falou: "Os pobres amam você, mano! Cê nunca foi engomadinho de Ipanema, do Leblon. Cê é o cara que não tinha medo de sentimento. A gente te ama".

Há dez anos, foi convidado para ser executivo de gravadora. Não topou. "Tem gente que não serve pra ser do mundo corporativo. Eu sou um livre atirador." Montou seu próprio estúdio, o Coacho do Sapo, na Bahia. "Sempre que eu cantava "Pedacinhos", o [senador] ACM chorava. Era a música preferida do filho dele [Luís Eduardo Magalhães, morto em 1998]. Ele deve chorar até hoje, não sei se lá em cima ou se lá embaixo". Guilherme vive em Salvador desde 2000.

"A Bahia tinha uma tradição de ser o lugar gerador de transgressão estética. Não só na música como no cinema, em outras áreas. Mas a transgressão baiana saiu do cérebro e foi pro sexo. O baiano aceitou um papel atribuído pelo sudeste. Topou ser o bobo da corte da playboyzada, que vai pra lá beijar na boca. Ficou rasteiro."
Wanessa Camargo devia fazer um disco country, opina. "Mas os filhos do agronegócio só querem cantar em inglês, esse é o problema. É uma molecada da burguesia, da qual fazem parte Sandy e Junior, Wanessa e todos esses filhos dos sertanejos. Os pais não têm problema nenhum de serem jecas porque vendem a jequice. Mas os filhos querem ser americanos."

Em seu estúdio, deve gravar um trabalho dos sumidos Antonio Carlos e Jocafi. A base instrumental do CD vai ficar por conta do cantor revelação Marcelo Jeneci e dos também novatos Curumin e Gustavo Ruiz. "Queria virar estrategista da música, um cara que faz a diferença, que propõe o novo nesse mercado em ruínas."

Os olhos ficam molhados pela primeira vez quando fala em Jeneci, que considera "meu primeiro sucessor". Estão compondo uma música em dupla. "A gente só teve uma primeira reunião, mas passamos mais tempo chorando do que qualquer coisa. Eu me vi com a idade dele, lembrei dos meus 20 anos. Foi muito forte."

Aos 56 anos, os fios na cabeça parecem ainda mais ralos para quem tem na memória a cabeleira que ele ostentava nos anos 80. "Usei o cabelo enquanto teve. Devia ter cortado no auge, marcaria um estilo. Eu era lindíssimo. Não só fiz músicas lindas, mas era um cara lindo."

Guilherme Arantes está no terceiro casamento. Tem cinco filhos. "Nunca assumi a persona do pegador. Era um cara chorão, emotivo." Namorou Elis Regina, para quem compôs o hit "Aprendendo a Jogar".

"Adoro essas confusões, são coisas que mexem com a tua vida. Minha paixão por Rita Lee também foi assim. Estive ali no começo dos anos 90, ela estava separada do Roberto [de Carvalho]. Mas logo me afastei, eles voltaram. Têm uma relação karmica, anterior a essa vida. Resolvi ser solidário a ambos e me afastei naturalmente."

Diz ter mais "orgulho" das mulheres que "me deram oportunidade, mas eu não peguei." Uma das últimas, ele diz, foi a inglesa Lisa Stansfield. "Saltei fora. Essas divas são um perigo, mexem com a nossa vaidade. É como ter uma Ferrari. Você se sente o super-homem, mas a manutenção é cara."

Compôs, com Nelson Motta, "Marina no Ar" para Marina Lima. "Quem pegou ela foi o Nelsinho, que também adora uma encrenca. Em 1979, na praia, ela deitou na canga e tirou a parte de cima do biquíni. Meu organismo de paulistano bobão deu resposta imediata. Pediu pra eu passar óleo de coco nas costas dela. Fiquei num estado... Mas não avancei. Tinha certeza que ia dar na trave."

"Lotus", seu último CD, vendeu pouco. "Hoje, sem jabá, até Ana Carolina venderia como eu." Mas, diz, cantoras como Vanessa da Mata e Adriana Calcanhoto gostam de suas canções. "Eu tô virando cult". Maria Bethânia pediu a Guilherme uma música inédita. Ele demorou, e "Eu em Você", a tal canção, ficou de fora do último disco dela. "Como Bethânia, de quase 70 anos, falaria de amor? Fiquei somando todos os amores da minha vida para tentar entender, e por isso demorei." Bethânia gravou a música depois, e ela pode entrar numa novela. "Se eu conseguir emplacar outro sucesso na voz dela, sou capaz até de chorar."

sexta-feira, 26 de março de 2010

99% DOS FAZENDEIROS BRASILEIROS NÃO CUMPREM COM SUAS OBRIGAÇÕES TRABALHISTAS


Coluna MÔNICA BERGAMO, na "Folha de S.Paulo" de hoje:

NA CARNE
Uma investigação feita "in loco" em 1.020 fazendas pela própria CNA, a Confederação Nacional da Agricultura, revela que menos de 1% -é isso mesmo, 1%!- dos estabelecimentos rurais visitados por profissionais da entidade cumprem as leis trabalhistas no campo. O relatório, assinado por professores da Universidade Federal de Minas Gerais e da FGV-SP, será divulgado na próxima semana.

DEGRADANTE
A CNA, que é presidida pela senadora Kátia Abreu (DEM-TO), enviou técnicos e professores universitários para as fazendas como se fossem "fiscais" do governo. Entre as falhas encontradas, estão trabalhadores sem carteira assinada, alojamentos inadequados e empregados que costumam almoçar no campo, e não em refeitórios apropriados, o que é considerado "degradante" pelo Ministério do Trabalho.

CARTILHA
As visitas foram feitas em sete estados -Alagoas, Tocantins, Maranhão, Bahia, Mato Grosso do Sul, Goiás e Pará. Os técnicos da CNA orientaram os fazendeiros e retornaram aos estabelecimentos rurais depois de quase dois meses. Em 18% dos casos, os proprietários tomaram providências para melhorar a situação -o que, na opinião da entidade, mostra que, quando informados, os ruralistas procuram se adequar. Só no Maranhão as coisas continuaram praticamente iguais.

domingo, 14 de março de 2010

HUMORISTAS SE UNEM CONTRA O ABOMINÁVEL "POLÍTICAMENTE CORRETO"

Humoristas ou qualquer grupo, reunidos contra o abominável "políticamente correto", que eu acredito ser a prada desse século, sempre terão meu apoio irrestrito!

Domingo, 14 de março de 2010

Mônica Bergamo
bergamo@folhasp.com.br

Leticia Moreira/Folha Imagem
Reunidos no Risadaria, festival cômico que acontece somente no próximo fim de semana, em São Paulo, humoristas armam batalha contra o politicamente correto e fazem piadas com negros, anões, homossexuais e deficientes físicos

"Que tal se a gente fizesse a Pararisadaria? Uma programação só com apresentações de humoristas deficientes?" A ideia surge, não se sabe de onde, e todos embarcam. "Eu conheço uns cinco. Só cadeirante tem três. Tem um sem dedo...", lista Diogo Portugal. "Sem dedo não vale. Entra na categoria presidente", pondera Marcelo Tas. "Meu produtor também é cadeirante. E conheço um imitador manco", acrescenta Diogo. "O Diogo tem um curral onde ele cria humoristas com defeito", ri Marcelo Madureira, que faz sua autoconvocação: "Vou até amputar uma parte do corpo pra participar. A gente tem que dar uma porrada no politicamente correto".

O surto de inspiração coletivo é resultado de uma reunião séria para preparar um evento cômico. Acostumados a fazer piada nos palcos e na TV, os humoristas Diogo Portugal, do programa "Zorra Total", Marcelo Tas, do "CQC", Marcelo Madureira, do "Casseta & Planeta", Paulo Bonfá, do "Rockgol", e Caco Galhardo, cartunista da Folha, estão no escritório da produtora Infinito Cultural, à beira da marginal Pinheiros, em SP, para discutir os últimos detalhes do Risadaria, "maior evento de humor do país", que acontece de sexta a domingo no pavilhão da Bienal.

O festival terá debates, encontros entre artistas e um concurso de novos talentos. Entre um café e um biscoitinho, os cinco curadores e o produtor Alain Levi vão acrescentando surpresas à programação já divulgada. "A gente podia colocar um anão com uma bandeja levando remédio para a [cantora] Vanusa", diz Tas. A cantora foi convidada para interpretar (sem erros) o hino nacional. Outra ideia é colocar os comediantes em jaulas com placas de "não alimente os animais".

Idealizador desse Carnaval, Bonfá sugere uma homenagem aos personagens que inspiram tantas piadas ou "O Panteão dos Incentivadores do Humor Nacional": Jesus Luz ("preferia quando ele fazia o milagre dos peixes"), Ronaldo, Barrichello, Dunga, Paulo Maluf, Luciana Gimenez, Luciano Huck ("o Bono brasileiro, casado com a Madonna brasileira"), a revista "Caras" ("um showroom, a salvação de um humorista sem ideias"), Roberto Justus, Daniella Cicarelli, Galvão Bueno, Rogério Ceni, Tony Ramos, Sandy e Junior, os BBBs, Silvio Santos ("o mais imitado")...

O presidente Lula "é hors-concours", diz Diogo. "É um artista de stand-up comedy", afirma Tas. Em véspera de eleição, os alvos preferenciais são os presidenciáveis Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB). "O que é a Dilma sambando no Carnaval com um gari? E o Serra na praia de terno? Que coisa constrangedora!", diz Tas. "Se eles se deixassem mostrar do jeito que são, mal-humorados e feios, eles podiam angariar simpatia. Não dá pra fingir que é simpático por sete meses [até a eleição]", explica o eterno professor Tibúrcio.

Nos EUA, acredita Bonfá, a piada sai mais fácil. "Lá, os candidatos vão aos humorísticos. Os americanos são pragmáticos. Entendem que ganham a simpatia dos eleitores quando provam que sabem brincar."

"E se a gente fizesse uma sessão de humor negro só com negros?". "Não dá. [Os negros] Vão roubar todo mundo na plateia", diz Madureira. Chico Anysio e Millôr Fernandes serão homenageados no evento. Os Trapalhões não terão a mesma deferência, mas não saem do discurso do grupo. "Eles hoje não poderiam ir pro ar. Cearenses, negros e usuários de peruca iam dizer que aquilo denigre a imagem deles", diz Bonfá, reclamando do politicamente correto. "Ninguém se tornou alcoólatra porque assistiu ao Mussum tomando "mé"." "O politicamente correto é a maior ameaça ao humor no Brasil hoje", diz Diogo. "É um problema maior que o buraco na camada de ozônio. Não só pro humor, pra humanidade", afirma Madureira. "É uma sombra que paira em cima de nós", completa Caco. "Uma sombra vinda do Canadá [que seria sem graça]."
Diogo conta que, em um show seu, uma espectadora o censurou por ter feito piada com Lula: "Tome cuidado, hein!" "Aí, eu continuei: "Olha, gente, a sobrinha do Lula. Deve estar no Bolsa Família"." Um vídeo da cena foi parar no YouTube. Diogo afirma que teve um show cancelado em Guarulhos, cidade governada pelo PT. (A Secretaria de Cultura da cidade diz que o show nem chegou a ser marcado e que, neste mês, agendou apresentações de humoristas como Danilo Gentili e Marco Luque, do "CQC".)

"O politicamente correto e a censura são a mesma coisa", diz Marcelo Madureira, que afirma já ter recebido "recados" do governo Lula. Segundo ele, o ex-ministro Luiz Gushiken (Comunicação) e a primeira-dama, Marisa Letícia, teriam pedido para os Cassetas "pegarem leve". "Pra bom entendedor, meia palavra bosta."
Para Tas, a "patrulha ideológica" está sempre de plantão. "O mundo tá muito limpinho. Ninguém sua. Todos querem controlar a sua imagem. Tá tudo photoshopado [consertado no Photoshop]. Somos contra a photoshopagem do mundo." Enquanto alguém escapa pra ir ao banheiro, uma nova ideia surge para o Risadaria: colocar patrocínios nos toaletes, como os dos bancos de praça. "Esse mictório foi um oferecimento de Luciano Huck", brinca Madureira. "Ou de Eike Batista!"

Voz grave no meio das piadas, o produtor Alain freia os ânimos. "Precisamos consultar o jurídico antes. Se alguém processa, é complicado." "Agora, tudo é processo", diz Tas, que tem dois contra ele. "É o controle através do poder da grana, com os processos como forma de intimidação."

"Isso é uma coisa recente. As minorias se dizem incomodadas, mas querem mesmo é indenização por danos morais. O politicamente correto passa pela casa dos milhões de dólares", reclama Madureira. "A única associação que ainda não me perseguiu foi a dos veados heterossexuais."

De repente, um barulho estranho. "Que isso, é uma sirene?", indaga Caco. "Não, é que eu tô com problema de gases", brinca Bonfá. Diogo chama o colega num canto: "Qual é o deadline da reunião? Tenho que sair pra fazer uma gravação prum banco".

O Risadaria tem patrocínio de empresas como Devassa, Volkswagen e Nextel, via Lei Rouanet, e ingressos que vão de R$ 30 a R$ 100.

É quase hora do rush e os humoristas ainda não elegeram os novos talentos. O grupo decide os vencedores. Madureira, distraído, ainda vota. "Madureira, você tá parecendo o [Michel] Temer, tá trancando a pauta!", diz Tas. Os curadores do humor caem no riso e começam a recolher caricaturas e textos cômicos de volta às pastas. "Mas quem pagou?", insiste Madureira. "Eu não recebi nada e costumo julgar as coisas conforme quem paga melhor."

Reportagem: ADRIANA KÜCHLER