O presidente do Senado, Coroné Sarney, criou uma comissão para tratar da reforma política.
Agora vai!
Já diziam os humoristas e os antenados de plantão que, quando não se quer resolver um problema, que se crie uma comissão.
O presidente dessa comissão criada pelo eterno presidente do Congresso é um macaco véio, o senador carioca Francisco Dornelles, de 76 anos.
Só que fazem parte dessa comissão dois senadores e ex-presidentes das República: o mineiro Itamar Franco e o alagoano Fernando Collor - aquele!.
Em resumo, a chance de haver consenso é zero.
Um eventual fracasso dos trabalhos dessa comissão não pode ser julgado como ruim, pois, se tomarmos como base as ideias recentes defendidas por alguns partidos, o Coroné Sarney prestará um serviço ao embananar o processo.
Afinal, melhor não ter mudança nenhuma, do que adotar propostas sem noção, como a do voto em lista partidária - e não mais nos candidatos a deputados - federais e estaduais - e a vereador.
Outra proposta, que foi muito falada nos últimos tempos, é o voto majoritário para deputado, e essa eu assino embaixo.
Funciona assim: se São Paulo tem 70 vagas na Câmara, que os 70 mais votados sejam os eleitos. É a regra básica da democracia - onde quem tem mais votos, ganha - simples assim.
Só que, na real, o voto majoritário na eleição para o Congresso teria como efeito imediato aumentar a irrelevância dos partidos políticos, onde os Tiriricas sempre venceriam.
Hoje, os votos dados a todos os candidatos são contados para os partidos, e cada legenda recebe o número de cadeiras proporcional ao total de apoios obtidos pelos seus candidatos.
Esse "modelo frankestein" não está na proporcionalidade, está nas coligações partidárias em eleições para o Poder Legislativo, onde o eleitor escolhe um nome do partido "A", e seu voto ajuda o candidato dos partidos "B", "C" e "D" a serem eleitos.
Eliminar esse puteiro teria efeito saneador, e o resultado das urnas ficaria mais claro e fiel ao pensamento dos eleitores.
Mas esse tipo de mudança é pouco falado, quando o tema é reforma política.
Assim, infelizmente o jeito é torcer para que a papelada da comissão do Coroné Sarney tenha o mesmo destino de todas as anteriores: o arquivo.
Até segunda.
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Amanhã começam os novos anos, legislativos e judiciário do Brasil, e nos dois poderes temos algumas características raras ou inéditas.
No Judiciário, o ano começa sem que a Doutora Dilma tenha ainda indicado um novo ministro para o Supremo Tribunal Federal.
Esse foi um abacaxi que ela herdou do Luiz Inácio, e que vem atrasando muito pautas importantes para o país, como a votação final da Lei da Ficha Limpa, por exemplo.
No Legislativo, teremos nada mais, nada menos do que 22 partidos representados. É o número mais elevado desde a volta do pluripartidarismo, no início da década de 80.
Só para comparação: na Colômbia, há 12 partidos com deputados eleitos; no Chile, 8; no México, só 7.
Já na Argentina, que sempre faz questão de parecer diferente dos seus vizinhos de "latinoamérica", nossos "hermanos" tem 35 blocos políticos no Congresso, eleitos pelo modelo distrital, o que serve de alerta aos defensores desse sistema como a salvação para todos os males políticos do Brasil.
Mas, voltando para cá: 8 dos 22 partidos com deputados eleitos receberam 75,4% dos votos para a Câmara, na eleição do ano passado.
O Brasil tem hoje 27 partidos, e os 5 que não elegeram deputados tiveram, juntos, 0,6% do total de votos para a Câmara.
Desde 1986, nunca um partido havia eleito deputados em todas as 27 unidades da Federação. No ano passado, o PMDB - nosso querido partido puteiro - foi o único a repetir a façanha, e o PT terá representantes de 23 Estados e do Distrito Federal.
Como dá pra perceber, a democracia brasileira tem defeitos e muitas arestas para aparar, e o principal problema ainda são as leis que continuam respaldando agremiações sem o apoio popular correspondente.
Com o fim da ditadura militar, fazia todo sentido dar tempo de TV, dinheiro do fundo partidário a rôdo e benefícios sortidos a todos os novos partidos.
Só que já se passaram 25 anos, e, se, em um quarto de século uma sigla não conseguiu dizer a que veio, é lesivo à democracia brasileira que todos sejamos obrigados a manter as vantagens oferecidas até agora.
Ficaríamos livres de vermos, eleição após eleição, os embusteiros que há décadas vendem ideias rejeitadas pelo eleitor, como o aerotrem do Levy Fidélix, o municipalismo, a volta do Império e toda sorte de maracutaias que só existem para mamar o seu, o meu, o nosso dinheiro via fundo suprapartidário.
Ficaríamos livres também de vermos preciosos minutos da programação de nossas rádios e tevês perdidos no falatório desses partidos nanicos, que só servem, realmente, para agirem como linha auxiliar de ataques, os mais covardes, das agremiações que realmente mandam nesse país.
É urgente que se façam alterações nas regras eleitorais, para que esse puteiro finalmente acabe: o fim das coligações para eleger deputados e a criação de uma cláusula de desempenho, onde só teria amplo acesso ao rádio e à TV o partido com 5% ou mais dos votos.
Horário eleitoral, hoje em dia, só serve pra encher linguiça, e já que é obrigatório, deveria ser usado para que se debatam os grandes problemas do país.
Até segunda.
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A nova tentativa de Delúbio Soares de reintegrar-se aos quadros do Partido dos Trabalhadores está em perfeita sintonia com a intenção declarada do ex-presidente Luiz Inácio de desmontar o que ele costuma chamar de "a farsa do mensalão".
Único expulso do PT em 2005, por "gestão temerária" das finanças da agremiação, Delúbio permeneceu calado nos momentos mais difíceis, em obediência que seria exemplar em qualquer organização stalinista.
Quando falou, foi para jurar fidelidade à sigla: "O PT não é um partido, é o meu projeto de vida", disse ele, ainda em 2005.
À medida que o julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal se aproxima, os petistas movimentam-se para receber de volta o homem que levou sozinho boa parte da culpa, para reduzir danos no governo e proteger autoridades mais graúdas.
A campanha eleitoral de 2010, que impediu a mais recente tentativa do ex-tesoureiro de voltar ao PT, terminou com a vitória da Doutora Dilma, e, agora, só uma intervenção dela, na avaliação dos petistas, impediria a reintegração de Delúbio.
O GloboO ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares
Passados cinco anos e meio das revelações sobre o mensalão, o discurso de Luiz Inácio de que tudo não passou de uma "tentativa de golpe" para tira-lo do poder, foi comprado pelo petismo e muitos setores da esquerda.
Mas a versão do ex-presidente vai para o ralo, ao se ler a denúncia do procurador-geral da República: "formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, e outros crimes, que tiveram o intuito de garantir a continuidade do projeto de poder do Partido dos Trabalhadores, mediante a compra de suporte político de outros partidos e do financiamento futuro e pretérito de suas próprias campanhas eleitorais" - é o que está escrito na denúncia.
O possível retorno de Delúbio tem como objetivo dar amparo partidário ao ex-dirigente,já que, abandonado na estrada, ele poderia pôr em risco o plano lulista de reescrever a história.
O líder do PT na câmara, deputado Cândido Vaccarezza, um dos entusiastas da reabilitação do ex-tesoureiro, já disse que "nenhuma pena é eterna", e a frase é sinônimo de verdade para apaniguados do petismo, sempre agraciados pela mão na cabeça que Luiz Inácio insiste em passar.
Até segunda.
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Na última quinta feira, o alerta foi dado: vem tempestade forte na próxima terça.
Imediatamente, o poder público colocou todas as suas equipes na rua, e praticamente todos os bueiros foram limpos, para evitar enchentes.
A população das áreas de risco será retirada de suas casas, indo de ônibus até locais seguros, mantidos pelo governo, com telefone e internet sem fio de graça, onde terão comida e abrigo decente.
Tudo isso aconteceu nesses últimos dias...na cidade de Nova York.
No caso de mais uma tragédia no Rio, é só juntarmos tudo o que o povo de lá tem passado nos últimos anos, e o resultado será a incompetência do poder público - principalmente do governador Cabral, o falastrão - e o retrato de um país que tem mais vocação pra ser submarino do que ser iate.
Na mesma quinta passada, logo depois de dar a notícia de Nova York, o "Jornal Nacional" mostrou que choveu mais em Portugal e na Austrália do que no Rio de Janeiro, onde o número de mortos foi esmagadoramente superior.
Ficamos sabendo também que o serviço de meteorologia emitiu aviso especial sobre a iminência de fortes chuvas, precisamente nas áreas serranas que acabaram sendo devastadas.
Uma das prefeituras reconheceu ter recebido o aviso cinco horas antes.
Nada foi feito.
No sábado, a "Folha de S.Paulo" deu que desde 2008, o Rio de Janeiro sabia perfeitamente que havia riscos tremendos nas cidades que foram as principais vítimas.
O que foi feito? Nada.
Tudo somado, o que se tem é o óbvio fato de que chuvas torrenciais podem acontecer, deslizamentos formidáveis também - e, até aí, a culpa é só da natureza -, mas falta, no Brasil, acontecer a prevenção.
Já nem digo a prevenção original, a de proibir construções em áreas de risco, o que, aliás, o "Fantástico" de ontem mostrou que existem, aos milhares, na cidade de São Paulo.
A incompetência do poder público impediu que essa providência fosse tomada e, se fosse, nem teria efeito, pois falta fiscalização.
Falo sobre a prevenção de, diante da iminência da catástrofe, minimizar os danos ou, ao menos, as mortes, os danos mais terríveis, o esfacelamento de famílias, a dor e o sofrimento dos feridos.
O que nós estamos cansados de ver, é que o poder público não está presente nem antes, nem durante, e nem depois das tragédias.
E o que me chamou a atenção, nesses dias de horror, foi o fato de repórteres chegarem a lugares onde, segundo informam, nenhum socorro conseguiu chegar.
E repórteres de TV, ao vivo, com toda a parafernália necessária para uma transmissão ao vivo.
Se eu fosse governador do Rio, teria vergonha de por a minha cara pra fora da porta.
Infelizmente, a cara de pau desse Sérgio Cabral não tem medida.
No ano passado, sua excelência estava passando as festas de fim de ano numa praia a 100 km do Rio, e só se dignou a aparecer dois dias depois das tragédias e das mortes.
Agora, Cabral estava na Europa passeando, e demorou quatro dias para aparecer ao lado da Doutora Dilma em Nova Friburgo - aliás, ela pelo menos foi lá e meteu o pé no barro; no ano passado, o Luiz Inácio nem se dignou a fazer.
Parece que não bastaram as mortes nas cidades do Rio de Janeiro e Niterói, no começo do ano passado.
Enquanto os maus governantes, como Sérgio Cabral e Gilberto Kassab - que teve a desfaçatez de dizer nessa semana que a cidade de São Paulo está preparada para enfrentar enchentes - estão se lixando pro povo, tudo continuará como está.
É urgente que se façam leis que punam os governantes, para que estes paguem, civil e criminalmente, pelos prejuízos e pelas mortes, que poderiam ser evitadas.
Até segunda.
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É impressionante a enxurrada de sandices que nosso querido ex-presidente Luiz Inácio fez, no apagar das luzes do seu governo.
Na última semana, ficamos sabendo de um fato que eu considero gravíssimo: a concessão de passaportes diplomáticos para o par de Cláudios - Marcos Cláudio e Luiz Cláudio - filhos do ex-presidente, um dia antes do papai largar o osso.
Os Cláudios são uns craques: entraram pobres em 2003 e saem com seis empresas em 2011, um deles vivendo num apartamento nos Jardins - bairro nobre de SP - onde o aluguel é de R$ 12 mil mensais, pagos por empresário com contratos - SURPRESA! - com o governo do papai!
Não se pode discordar do Ministro da Defesa Nelson Jobim quando ele diz que é "ridícula" a crítica a Luiz Inácio, por usar quartel do exército no Guarujá para tirar suas férias depois de passar a faixa pra Doutora Dilma - estadia aliás paga por nós, lógico.
Também não é totalmente absurda a fala de Marco Aurélio Garcia, assessor internacional de Luiz Inácio, de que um passaportezinho diplomático, a mais ou a menos, não faz mal a ninguém, referindo-se ao passaporte exclusivo de autoridades que os Cláudios e um neto de 14anos do ex-presidente ganharam no último dia do seu governo.
Com esses passaportes, os Cláudios não pegarão filas dos simples mortais, não terão bagagem revistada, e uma série de benesses.
Marcos Cláudio ao menos prometeu devolver o seu.
E o que será que ele e os irmãos fizeram com os passaportes italianos, que conseguiram depois de encher o saco da mãe, Dona Marisa primeira, a Muda, essa sim neta de italianos e apta a ter um passaporte que permite a ela e aos seus descendentes viajar por quase todo o mundo - Europa e Estados Unidos inclusive - sem precisar de visto?
São, sim, coisas menores.
O problema que vejo aqui é a cultura, a soma do veraneio, dos passaportes, da Gamecorp, dos padrinhos, dos atos assinados à sombra, das empresas, do aluguel pago pelo amigo - expediente que o pai dos Cláudios usou muito também.
O resultado dessa desfaçatez é que Luiz Inácio se sente dono do Brasil, acha que os filhos têm de aproveitar a "oportunidade" e desconsidera o exemplo que ele dá à nação como mito, como ídolo que é.
Se o presidente pode, a ministra da Casa Civil pode, o amigão coroné Sarney pode, todo mundo pode!
Ainda bem que a Doutora Dilma tem só uma filha, e, por enquanto, só um neto.
Até segunda.
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Quero aproveitar o primeiro "País Puteiro" de 2011, para desejar a você, que me vê ou me lê agora, um excelente ano novo.
E 2011 começou com Dilma Rousseff, no seu discurso de posse, no último sábado, destacando o "significado histórico" de ser a primeira mulher presidente do Brasil: "Venho para abrir portas".
No final, se emocionou ao lembrar dos que estiveram com ela na luta armada contra a ditadura militar: "Muitos da minha geração, que tombaram pelo caminho, não podem compartilhar a alegria deste momento. Divido com eles essa conquista, e rendo-lhes minha homenagem".
Na abertura, o elogio da condição feminina, projetando o futuro; no encerramento, a memória dos radicais da sua geração, reparando o passado: foi o molde que Doutora Dilma - e agora vou passar a chama-la sempre assim em homenagem ao estupendo jornalista Elio Gaspari - escolheu ao vestir a faixa presidencial.
Nem por isso a nova presidente se desviou do seu eixo pragmático.
O discurso passou em revista a pauta já conhecida do "melhorismo" - o que já fizemos e o que ainda falta fazer - tudo com bom senso e equilíbrio, sem rancores nem radicalismos.
O destaque, como ela já tinha prometido, ficou reservado ao combate à miséria: "A luta mais obstinada do meu governo será pela erradicação da pobreza extrema". Afinal, é um governo "de esquerda".
Se Doutora Dilma começou bem, o ex-presidente Luiz Inácio poderia ter terminado sua passagem pelo planalto em companhia melhorzinha, né?
O presidente do senado, coroné Sarney, foi o convidado de honra para acompanhar Luiz Inácio no avião de Brasília até São Bernardo do Campo, um ato oportunista e patético.
Um dinossauro populista e retrógado, criado nos porões da ditadura, travestido de democrata-presidente do congresso nacional deu posse a Doutora Dilma, e foi prestigiado horas mais tarde no ABC por Luiz Inácio.
Afinal, este é o Brasil.
Ainda no sábado, muitos observaram a abordagem menos emocional dos discursos da nova ocupante do Palácio do Planalto em comparação ao seu antecessor.
O agora ex-presidente comportou-se como uma estrela pop durante a maior parte de seus dois mandatos.
Sua origem humilde, a pouca educação formal, e o fato de ser o primeiro operário a ter ocupado a presidência da República, deu ao Luiz Inácio uma certa licença para transgredir protocolos, e petistas e puxa sacos sortidos passaram a enxergar como normais as suas grosserias, seus discursos sem noção e suas piadinhas sem graça.
Críticas, mesmo as mais leves, eram interpretadas como puro preconceito.
Essa blindagem em torno do petista impediu maiores repercussões, quando, num evento recente, ele sugeriu que um repórter fosse se tratar ; disse o sem noção: "...quem sabe fazer uma psicanálise".
Esse foi apenas um exemplo das muitas grosserias indesculpáveis de Luiz Inácio.
Para que se possa medir o tamanho da grosseria, imagine qual seria o impacto se Barack Obama nos EUA sugerisse em uma entrevista que um jornalista procurasse um médico; teria de passar pelo constrangimento de se desculpar em público.
Desde a sua eleição e até a posse, no sábado, Doutora Dilma seguiu de forma obstinada o figurino traçado.
Não produziu ações fora do estabelecido pela liturgia do cargo, e parece pretender conferir à presidência mais dignidade, serenidade e nobreza, o que é altamente positivo.
A função de presidente da República exige do seu ocupante muito mais que a capacidade de se comunicar com as massas como se o Planalto fôsse o SBT, e o povo brasileiro as colegas de trabalho do Silvio Santos.
Afinal, se até a Hebe não aguentou e puxou sua limusine - chique, a Diva jamais "puxaria o carro" - um pouco de simancol fará bem ao país e à política.
Até segunda!
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Na última quinta, Tiririca foi conhecer sua nova casa, justamente quando seus pares tratavam de aprovar a toque de caixa um aumento salarial de 62% para eles mesmos - de R$ 16,5 mil para R$ 26,7 mil.
"Acho bacana, acho legal. Cheguei em um bom dia, dei sorte", comentou Tiririca, no centro do picadeiro legislativo, cercado por repórteres.
Antes mesmo de assumir, fez o papel dele, de idiota útil, ou de bobo da corte - porque os palhaços somos nós.
Já virou clichê a afirmação de que os políticos fazem a sociedade de otária.
Mas como reagir a um Congresso que zomba e tripudia abertamente da opinião pública?
Um Congresso cada vez mais nem aí aos anseios do país, cada vez menos capaz de propor ou debater as questões nacionais?
Um Congresso que segue direitinho, de A a Z, a cartilha da fisiologia, e gira só em torno de seus próprios interesses, tirando proveito, malandramente, do papel irrelevante a que vai sendo confinado?
Esse aumento escorchante cai, agora, como uma espécie cereja do bolo da desfaçatez sobre o escândalo das emendas.
Como ficamos sabendo, também na última semana, deputados usaram institutos de fachada e empresas em nome de laranjas, para desviar recursos destinados à promoção de "eventos culturais".
A fraude não é exatamente nova, nova é que, agora, sua escala é industrial.
E você vê alguma punição à vista? Nem Eu.
A remuneração anual de suas excelências vai a US$ 204 mil, mas não fica "só" nisso.
Além do salário, agora engordado, sua excelências têm direito a R$ 60 mil de verba de gabinete - para supostamente contratar assessores - e ao chamado "cotão", que chega a R$ 34 mil, para gastos com telefone, correio, auxílio moradia, passagens a rodo,correspondência grátis, carros com motoristas para uns, polpudos planos de saúde para todos.
E, assim, os US$ 204 mil pulam para US$ 896 mil por ano.
Para falar a língua deles - é um puteiro.
Ganhavam pouco, diziam.
Talvez até ganhassem, mas o aumento aprovado é tão desproporcional, que passaram a ganhar mais do que congressistas de todos os países relevantes - quinze por cento mais, por exemplo, do que nos Estados Unidos, que têm uma economia 12 vezes maior.
E o melhor da história é o efeito cascata: aumenta o salário dos parlamentares em Brasília, aumentam os salários dos parlamentares no país inteiro - nas assembléias legislativas nos estados, e nas câmaras de vereadores dos municípios - uma verdadeira festa às vésperas do Natal .
O "argumento" de que ganham pouco vem acompanhado de uma explicação simples - o de que, ganhando bem, não precisariam roubar.
O puteiro fica ainda mais revoltante porque revela características que todo mundo aceita do que é "ser brasileiro".
É no Brasil que existe a maior diferença entre o salário do congressista e a renda média da população - de praticamente 20 vezes - e suas excelências fazem questão de reproduzir na ilha da fantasia deles, e no mundo real dos que deveriam representar, a mesma distância que existe no conjunto do país, obscenamente desigual, por mais que o lulo-petismo tenha suado para vender uma lenda, a da queda da desigualdade.
A velocidade de um fórmula 1 com que aprovaram o autoaumento de cerca de R$ 10 mil contrasta obcenamente com as discussões em torno de um reajuste de R$ 10 - e não de R$ 10 mil - para o salário mínimo, e outros projetos de interesse da população, que seguem a passo de cágado.
Ainda bem que o Tiririca foi eleito - ele não tem pudor em festejar a feliz coincidência entre sua primeira visita à Câmara dos Deputados e a aprovação do aumento.
Os tiriricas de São Paulo e do resto do país estão de parabéns, porque são mais espertos do que todo o mundo desenvolvido.
Besta mesmo é quem paga conta, além, é claro, dos 14 milhões de miseráveis que continuam vivendo em condições medievais, à espera de um "futuro", que insiste em chegar antes para uns, do que para outros.
Pior: nem para dizer que nós é que somos os palhaços.
Afinal, ninguém que aprovou o aumento usurpou o cargo, Foram todos eleitos pelos "tiriricas" cá de baixo.
Bem feito, pra mim e pra você.
*****
Essa coluna volta no ano que vem.
FELIZ 2011.
***** E você pode acompanhar essa coluna em vídeo HD, já postado no You Tube:
Queria comentar com vocês essa matéria, que acabei de ler no "O Globo":
"Quanto é oito dividido por quatro? - Não sei, preciso de um papel".
Evanildo, 18 anos, cursa o 3º ano do ensino médio numa escola estadual em Maceió, e acaba de fazer vestibular para a Universidade Federal de Alagoas.
Entrevistado pelo jornal carioca, pode virar universitário, mas é o retrato de uma tragédia.
Alagoas e Maranhão são os dois Estados brasileiros com os piores resultados no Pisa, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos, realizado a cada três anos, e que compara o desempenho em leitura, matemática e ciências de jovens de 15 anos, em 65 países.
A terra arrasada, e há décadas submetida à oligarquia do literato coroné Sarney - um dos mais queridos "companheiros" de Luiz Inácio, invariavelmente ostenta, em qualquer ranking que se faça, os piores indicadores sociais do país.
O Brasil obteve avanços expressivos no Pisa desde 2000, mas segue em situação vexatória: 57º em matemática, 53º em ciência e leitura.
O mais alarmante, no caso brasileiro, é que aumentou, nos últimos três anos, o abismo entre as escolas públicas e privadas.
Com exceção das escolas federais,que respondem por pouco mais de 200 mil alunos num universo de 52,5 milhões, a competência para leitura na rede pública brasileira fica em 58º lugar no ranking, e a rede privada ocupa a 9ª posição.
Só que a rede pública tem 85% dos estudantes dos ensinos fundamental e médio, e a distância entre o desempenho nas escolas públicas e nas particulares, que se ampliou, caracteriza um quadro nítido de apartheid.
Como se vê, fazemos ainda pouco caso do que significa formar Evanildos, pois é esse o país que Dona Dilma vai receber:
1 - Os brasileiros que ganham mais de R$ 10.200 são apenas 3 milhões, e os que sobrevivem com menos de R$ 1 mil são79 milhões, e olha que aqui estou falando de renda familiar, não individual. 2 - Apenas 1,5% dos brasileiros habitam a cobertura brasileira ,41% moram mesmo é no porão, e 40%, ocupam o andar de baixo, o que, estatísticas à parte, o sentido comum manda chamar de pobres esses 80%.
3 - Por mais incrível que possa parecer, há brasileiros em condição ainda pior, conforme constatou o jornal "O Estado de S. Paulo", ao verificar dados do Ministério de Desenvolvimento Social: "Entre as 12,7 milhões de famílias beneficiárias do Bolsa-Família, 7,4 milhões (58%) encontram-se na faixa de renda entre R$ 70 e R$ 140 mensais por pessoa da família. Dessas, 4,4 milhões (35% do total dos beneficiários) superaram a condição de extrema pobreza com o pagamento do benefício. Mas ainda restam 5,3 milhões (42%) de miseráveis no programa".
Resumo da ópera lulista: quase a metade dos pobres entre os pobres não levanta cabeça nem mesmo com a ajuda do governo, indispensável para que pelo menos não morram de fome.
Quanto aos dados desastrosos sobre educação já citados, fico apenas com a certeza de que o desnível educacional entre a escola dos mais ricos e a dos mais pobres é uma forma de perpetuar as condições que descrevi aqui.
Dá para dizer que um país assim é "emergente"?
Ainda falta muito feijão com arroz na mesa dos brasileiros para ao menos sermos chamados assim.
A melhor coisa que aconteceu nesse final de ano foi sem dúvida o site Wikileaks, aquele que divulga documentos sigilosos e correspondências diplomáticas, e que colocam na luz da verdade todos os conchavos, abusos e imaturidade dos poderosos, principalmente os estados Unidos.
Aqui no Brasil, nossos governantes resolveram apostar no contrário; Aqui, documentos do governo podem ficar eternamente sem serem conhecidos.
Fernando Henrique Cardoso - nossa querida tia véia invejosa da janela - institucionalizou o sigilo eterno.
Luiz Inácio até ensaiou uma mudança, que ficou só na promessa, pois terminará seu mandato sem eliminar essa anomalia brasileira.
Isso quer dizer que, nos 16 anos da retomada do Estado Democrático de Direito no país, com tucanos e petistas no comando, não avançarmos um milímetro nessa área.
Aqui no Brasil, certos documentos públicos podem ser classificados como sigilosos por um período, que depois é renovado indefinidamente.
Quando estava na Casa Civil, Dona Dilma enviou ao Congresso um projeto de lei que previa direito de acesso a informações públicas, e reduzia os assuntos dos papeis onde o segredo seria eterno.
A Câmara dos deputados, surpreendentemente teve coragem, e eliminou de uma vez essa cultura do subterrâneo - e o texto do projeto passou então a determinar que o prazo máximo de segredo seria de 25 anos, renováveis por uma única vez.
Não é o ideal, mas representava um grande avanço, já que nenhum documento ficaria mais de 50 anos fora dos olhos da sociedade.
Só que, como geralmente acontece, quando o projeto chegou ao Senado, como a mula da piada, empacou.
O Ministério das Relações Exteriores e o da Defesa querem manter a possibilidade de segredo eterno, para que, não se sabe.
No final de seu mandato, Luiz Inácio poderia ter dado uma ordem para que a lei fosse aprovada, e passaria para a história com o presidente que produziu a maior abertura de papeis públicos desde o descobrimento do país.
Mas esse não é o perfil do nosso presidente-vaselina, né?
O presidente preferiu não arbitrar, e a decisão final sobre o rumo desse projeto ficará nas mãos de Dona Dilma a partir de janeiro, quando assumir o Palácio do Planalto.
O mundo vê, neste início de século 21, vazamentos em massa de informação - já são 85 os países com alguma legislação que facilita o acesso a dados públicos.
Não faz sentido o Brasil continuar empacado, cultivando tamanho atraso como a regra do sigilo eterno.
Até segunda!
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Confira essa postagem, também em Vídeo HD, já postado no YouTube:
Parece que ninguém foi contra a presença das Forças Armadas no Rio de Janeiro no atual momento, já que a operação de caça à bandidagem, realizada com todo o êxito nesta semana, seria um fracasso completo sem o apoio de Exército, Marinha e Aeronáutica.
Destaco também um efeito colateral positivo nisso tudo: os militares vão, com esses atos, reconstruindo sua imagem perante os brasileiros porquê, depois de 21 anos de ditadura militar, os brasileiros criaram uma espécie de horror, de fobia em relação a tudo que se referia a milicos, principalmente ao Exército, e é muito bom, numa democracia, a população reconhecer o valor e para que servem, afinal, as Forças Armadas num Estado de Direito.
Aliás, nesse caso do Rio, o Exército fugiu da luta o quanto pode, só quando viu que os blindados da Marinha eram sucessos de público e crítica é que resolveu entrar, e sem seus soldados, o Complexo do Alemão não teria sido conquistado, com toda certeza.
Exército, Marinha e Aeronáutica no combate ao crime organizado é para ser uma exceção, nunca a regra.
As polícias é que devem ser aparelhadas e treinadas para exercer essa função, e se a segurança no Rio chegou ao fundo do poço, a responsabilidade é dos governadores , desde o ainda tão endeusado Brisola, aos recentes "Garotinho e Garotinha", e de suas políticas sem noção para o setor.
Lembro aqui que a operação militar atual não é a primeira. Na Eco-92, o Rio virou cidade de primeiríssimo mundo, com o patrulhamento ostensivo do Exército. No final de 1994, as Forças Armadas já haviam participado de ação muito parecida, e os resultados sempre foram positivos.
É muito provável que daqui a alguns dias o Rio esteja pacificado. Mas sem a ação rápida do Estado para ocupar as áreas tomadas da bandidagem, veremos rapidinho a maioria pedindo outra vez as Forças Armadas. Ao cidadão, resta torcer, e esperar que desta vez seja diferente.
As imagens das bandeiras do Brasil e do Rio de Janeiro hasteadas no alto do Complexo do Alemão simbolizavam, ontem, a vitória das forças policiais e militares sobre o tráfico naquele território.
Mas eram, também, imagens para consumo da mídia nacional - principalmente as organizações Globo - e sobretudo, a internacional.
Afinal, neste momento, todos falam sobre a competência, do país para sediar a Copa de 2014, e a do Rio para fazer a Olimpíada em 2016.
Na sexta, o jornal francês "Le Monde" dizia: "Violência acirra as dúvidas sobre a capacidade do Brasil organizar a Copa e os Jogos".
O inglês "The Guardian" foi bem mais direto: "O Brasil está tentando limpar a cidade à beira-mar antes da Copa e dos Jogos Olímpicos".
Nada como um bom e velho jornal britânico para nos dizer as coisas que nossa mídia chapa branca nem ousa dizer, né?
A "limpeza à beira-mar" de que o "Guardian" fala talvez seja a primeira obra real de infraestrutura do país, a fim de viabilizá-lo aos interesses bilionários envolvidos nos dois eventos esportivos, e ninguém seria louco de dizer que se trata, desta vez, de uma limpeza cosmética, para inglês ver.
Nunca as forças repressivas do Estado haviam enfrentado os traficantes com tanta determinação e força organizada.
Organizada demais para quem foi apanhado de surpresa, já que há coisas ainda muito mal esclarecidas nisso tudo.
O ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, disse anteontem que não havia absolutamente nada provando de que a ordem para incendiar a cidade maravilhosa tinha saído de dentro dos presídios de segurança máxima - a mídia chapa branca é que vem repetindo isso como verdade incontestável.
Ao menos o ministro e o Secretário de Segurança carioca, Jose Mariano Beltrame, são sinceros de não entrar no "oba oba".
Outro exemplo é o do bilhetinho deixado como recado num dos ônibus incendiados, que dizia: "Com UPP não há Olimpíada". Você acredita que um traficante seja alfabetizado pra escrever, e mais, que tenha realmente escrito isso?
Será que eu corro o risco de perder minha cidadania brasileira, se perguntar a quem interessaria o pânico que se instalou no Rio, e estranhar que isso tenha ocorrido logo após as eleições?
E eu tenho ainda mais uma pergunta: com tudo o que vimos nessa semana, o tráfico vai diminuir?
A verdade é que vai diminuir se o consumo diminuir. Mas o consumo está diminuindo? Lógico que não, né?
As drogas - lícitas ou ilícitas - estão enraizadas na sociedade, e seguem os princípios básicos de qualquer comércio: se há gente que compre, há gente quem venda. Óbvio.
O que pode acontecer agora é o tráfico ficar mais sofisticado e, provavelmente, sem controle de territórios e tanta matança.
Só para lembrar: Nova York consome mais drogas do que o Rio, e nem por isso há mais mortes. Por aqui, a questão é bem mais complexa do que prender traficantes.
O complexo é prevenir o consumo, com programas de educação, coisa nada impossível, porquê as pesquisas sobre drogas lícitas, como o cigarro, mostram que o consumo está caindo.
Aqui em São Paulo, uma experiência na qual jovens são treinados por especialistas em comunicação e saúde pública, para falar sobre os riscos de consumo de drogas permitidas ou proibidas pela juventude, mostra que, apesar do pouco tempo do programa - realizado na favela de Heliópolis - os primeiros resultados começam a aparecer.
O que combate o tráfico, na real, são programas de educação, emprego e saúde pública.
Ainda vai demorar muito tempo, mas as pessoas acabarão percebendo e aceitando que, desde que seja feito um acerto em nível mundial, legalizar a droga atualmente ilícita, para fiscalizá-la, se não é uma solução desejável, ao menos provocaria menos danos do que sua proibição.
ATÉ SEGUNDA!
***** E você pode conferir essa coluna em vídeo HD, já postado no YouTube:
Depois do livro-entrevista - onde o papa Bento 16 finalmente entrou no século 12 - a notícia da semana foi, para mim, a chegada ao olimpo dos grandes maquiadores paulistanos de um profissional de peso:nada mais, nada menos, do que o prefeito da cidade, Gilberto Bolinha Kassab.
Agora está até publicado no "Diário Oficial" do município: todos os locais visitados pelo prefeito Bolinha Kassab na cidade de São Paulo têm de ser maquiados antes de sua chegada.
Na verdade, já funcionava assim, só que não era oficial.
Em março, a "Folha de S.Paulo" revelou que existia uma "operação prefeito", apelido pejorativo dado por assessores às ações de limpeza realizadas horas antes da chegada de Bolinha.
Na época, o jornal acompanhou o "make-up" em quatro locais visitados pelo prefeito - em Guaianases, Vila Formosa e Tatuapé, na zona leste - e em Americanópolis, na zona sul.
O que mudou, de março para novembro, é que agora existe uma portaria do secretário das Subprefeituras, Ronaldo Camargo, determinando que os subprefeitos se envolvam pessoalmente na operação, que ganhou status de prioridade.
A portaria foi publicada no Diário Oficial do município na semana passada, e trata das rotinas internas das subprefeituras em relação aos eventos em que "sua excelência maquiadora" estará presente.
O texto estabelece que os subprefeitos ficarão responsáveis, em suas áreas de abrangência, por todas as ações determinadas pelo cerimonial de Bolinha. "As rotinas das subprefeituras com relação a fiscalização, limpeza e demais ações eventualmente pertinentes deverão ser realizadas com a maior agilidade possível e sob a coordenação dos subprefeitos", diz a portaria.
Assim, quando o rechonchudo prefeito chegar, tudo estará perfeito - sem lixo nas ruas, com guias e sarjetas pintadas, mato aparado e sem camelôs irregulares, tudo sob a coordenação pessoal do subprefeito - e se alguma coisa der errado, ele é que vai responder.
A "operação Embonecando Kassab" não é ilegal, como também não há irregularidade na portaria. Mas cá entre nós, que é imoral, é, já que a prefeitura não explica por que o prefeito não pode conhecer um local onde os seus munícipes habitam como ele é, sem maquiagem.
Consultada a respeito da operação, a prefeitura informou que o prefeito Bolinha "costuma fazer visitas-surpresa para averiguar a qualidade dos serviços prestados pelos órgãos públicos, e que a limpeza da cidade cumpre um calendário rigoroso, acompanhado pessoalmente pelo prefeito e pelo secretário das Subprefeituras".
Se a visita é de surpresa, a prefeitura não explicou, nem a portaria, o precioso tempo gasto pelo sub-prefeito e funcionários da subprefeitura para a realização da "Operação Embonecando Kassab".
Com certeza, eles devem ter tarefas melhores a fazer, não é?
Enquanto isso, nem chegaram as chuvas de verão pra valer e já vemos pontos importantes da cidade debaixo d'água por mais de 12 horas, a merenda das escolas municipais continua uma lavagem, e o prefeito segue se deslocando pela cidade de helicóptero, porquê o trânsito infernal e a falta de obras de infra-estrutura são para serem usufruídos pela patuléia que votou nele, não é mesmo?
E ele ainda tem mais dois longos anos de mandato pela frente.
SOCORRO!
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Quando somos obrigados a usar a expressão "partido de aluguel", em geral chamamos assim certas legendas nanicas.
Mas como chamar um partido que apoia o governo Luiz Inácio - ou Dona Dilma - no plano federal, e ao mesmo tempo dá seu apoio ao governo Serra Nomuro -ou Alckmin TFP - em São Paulo?
Partido bandoleiro? Partido oportunista? Partido ao meio? Partido aos pedaços?
E olha que aqui eu não estou citando apenas o PMDB - nosso querido partido puteiro - verdadeiro partido de artistas circenses, capaz de garantir a vice-presidência do governo de Dona Dilma, segurar com uma mão o governo Alckmin TFP, e com a outra fazer o gesto de "vem comigo" - comum às putas de rua - para atrair o prefeito Bolinha Kassab do DEM - que está louquinho pra ser peemedebista.
Coloco nessa renca também o PSB, o PDT e o PV, três partidos que têm a pretensão de serem levados a sério ou possuir programa e diretrizes diferenciados.
Isso no papel, porquê, na prática, pertencem à base do governo petista no federal e à base do governo tucano em São Paulo.
E a coerência? Não existe.
Basta invocarem as "diferenças" regionais, para justificar a adesão a "X" aqui e "Y" acolá, e vice-versa.
E o caso mais curioso é o do PSB - Partido Socialista Brasileiro.
O partido cresceu, elegeu ou reelegeu seis governadores - entre eles Eduardo Campos, em Pernambuco, com jeito de que pode ser uma liderança de nível nacional.
Mas o PSB em São Paulo se prestou ao papel de partido de aluguel para a candidatura no mínimo sem noção de Paulo Skaf - aquele empresário que liderou o "Xô, CPMF!" - que os governadores do partido agora querem de volta.
Afinal, qual é a do PSB? Você sabe? Então me conte, porquê eu não sei.
E o DEM? o Democratas tornou-se uma espécie de bicho em extinção, de testemunha de como é difícil fazer oposição no Brasil, e isso também se aplica a São Paulo, onde os governos tucanos mandam e desmandam na Assembleia Legislativa há quase vinte anos consecutivos, usando os mesmíssimos métodos de aliciamento do governo federal de que tanto desaprovam em público.
E já sabemos que Alckmin TFP nesse exato momento está empenhadíssimo em promover um arrastão nas legendas que também lambem as botinas de Luiz Inácio/DonaDilma - como o PR, o PRB e o PP, além das já faladas aqui.
Afinal, quase todos estão na política para isso mesmo: fazer negócios.
E todos querem ser e pertencer ao único partido que de fato importa - o partido do poder.
Até segunda.
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Serra Nomuro tem a pretensão de se tornar presidente do PSDB, na convenção que o partido realiza entre maio e junho de 2011.
Mas, o que pretende Nomuro com isso?
Se manter no jogo político nacional, para não desaparecer de vez.
Só que, desta vez, o candidato da oposição - derrotado por Dona Dilma na corrida à presidência - vai encontrar resistência bem maior à sua pretensão.
No seu partido, a percepção de que o futuro da tucanada passa pela capacidade de entender e sinalizar desde já que Serra Nomuro é passado.
Ou em bom português: a fila andou.
Na presidência do partido, o ex-governador seria uma espécie de terceiro turno contra
Dona Dilma, prejudicando e muito a construção de um consenso partidário em torno do nome de Aécio Neves.
Não é à toa que o senador eleito - que ainda acabou emplacando seu vice como governador e Itamar Franco para formar dobradinha mineira com ele no senado - acaba de propor, segundo suas próprias palavras, uma "refundação" do PSDB, a fim de "atualizar o programa" e "recuperar sua identidade partidária".
Quando Aécio fala em "atualizar" e "recuperar a identidade", nos dois casos ele quer dizer:
"Bye-Bye, so long, very well, Serra Nomuro, chegou a minha vez".
O candidato de Aécio para presidir o PSDB hoje é Tasso Jereissati, que nunca se bicou com
Serra Nomuro, todos sabemos.
Aécio imagina que Tasso seria o nome capaz de fazer a ponte entre ele e Geraldo TFP Alckmin, evitando que a relação entre a tucanada de Minas e de São Paulo caminhe para um estremecimento perigoso.
Aécio, neste momento, joga suas fichas para disputar a presidência do Senado, num esforço claro para demonstrar que tem bom trânsito entre os partidos, inclusive os da base aliada de Dona Dilma.
E só pra lembrar: Foi Cid Gomes (PSB), irmão de Ciro e governador do Ceará, quem lançou em público o nome do mineiro para o comando da Casa.
Porém, a Geraldo TFP Alckmin pode interessar uma aliança tática com Serra Nomuro para evitar que Aécio se projete desde já como líder principal do "novo PSDB".
Apostar todas as suas fichas nisso é o que resta a Serra Nomuro, depois da ladeira abaixo que a eleição presidencial o lançou.
Até segunda!
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Confira essa coluna em vídeo HD, já postado no Youtube e no UOL:
Em 23 de agosto, aqui nesse mesmo espaço, não só disse, como coloquei como título da postagem, a frase: "DONA DILMA JÁ ESTÁ ELEITA".
Falava sobre as pesquisas de então, que davam 17 pontos de vantagem, em média, para a candidata do Luiz Inácio, e previ que ela ganharia no primeiro turno, de lavada.
Minha previsão não se confirmou: Dona Dilma e Serra Nomuro protagonizaram um segundo turno repleto de baixarias e atos que ficariam melhor na era medieval, e eu passei a receber, como nunca antes recebi da net, uma saraivada de críticas, a maioria da tucanada xiita de plantão.
Separei alguns comentários desses discípulos da Soninha Francine, para que vocês tenham uma idéia do que andei lendo:
"danielarroz 2 semanas atrás Trouxa, fica aí lambendo as botas dessa boneca inflável do Lula, dizendo que serra perderia de lavada... Agora as pesquisas já dão empate técnico, e olha que são quase todas pesquisas encomendadas pelo PT, tão confiáveis como as do primeiro turno. Agora por mais que a dilma ganhe, a gente sabe que quase metade da população não a aprova. Cade os oitenta e tantos porcento de aprovação do lula???"
Dani, você só esqueceu de dizer que eleição em segundo turno, quem ganha tem um pouco mais de 50% dos votos válidos, e quem perde tem um pouco menos.
"RiekaardVDB 2 semanas atrás Trouxa. apoia ladrões e estelionatarios Apoia Erenice, Dirceu e outros descarados."
Meu caro, se você lesse ou assistisse às postagens anteriores, veria que eu não apoiei nem apoio, nem a Erenice, nem o Zé Dirceu, nem "outros descarados".
"passeador20000 2 semanas atrás tanto trabalho pra errar suas previsões.. sinto muito"
Errei, e reconheço que errei. Mas acertei que Dona Dilma levaria com margem de mais de dois dígitos.
"Paalermoo 4 semanas atrás Quebrou a Cara. Segundo turno Serra x Dilma. kkkkkkkk.. Eu votei Marina agora sou SERRA. FORA DILMA, FORA PT."
Meu querido palerma, quero dizer, "Paalermoo": No PV, só a Tia Marina Silva ex-Malafaia não apoiou o Nomuro. Todos, do presidente do partido, José Luiz Penna ao candidato ao governo do Rio de Janeiro, Fernando Gabeira, apoiaram o Nomuro no segundo turno. O PV sempre foi, e vai continuar sendo um partidozinho satélite da tucanada, essa é a triste verdade.
Mas o comentário que eu mais gostei foi esse:
"eliaschagas82 6 dias atrás vídeo de merda!!!"
Adorei!
Agora, quanto ao resultado final do segundo turno, se não foi uma vitória de lavada, também não foi uma vitória apertada, como ainda acreditavam alguns poucos tucanos na véspera.
Dona Dilma ganhou com folga, com 12 milhões de votos de vantagem.
E se o Congresso terá composição mais governista do que o atual, as eleições revelaram que ainda há, sim, e por mais incrível que pareça, uma oposição neste país, já que só os tucanos governarão oito Estados, entre eles São Paulo e Minas.
Vocês podem até pensar que não houve, afinal, a lavada de que falei. Não houve, em termos.
O "recado das urnas" veio principalmente do Nordeste, onde Dona Dilma obteve vitória esmagadora sobre Serra Nomuro.
Lá, a petista ultrapassou os 70% dos votos - uma vantagem de 41 pontos sobre o tucano, a quem derrotou em todos os Estados da região.
Em números, isso representa 10,7 milhões de votos a mais que do que Serra Nomuro teve, só no Nordeste.
É quase toda a diferença obtida no país.
O resultado foi diferente no restante do país, onde Dona Dilma teve 52%, e Serra Nomuro , 48%.
Sabia-se que Minas tinha importância estratégica e peso simbólico, como sabia-se que Serra Nomuro deve ter lá suas razões para espinafrar Aécio Neves, que por sua vez deve ter ainda mais razões para não mover um palito por Serra Nomuro, porquê as razões do fiasco tucano vão muito além do fato de que Dona Dilma derrotou Serra Nomuro por 58% a 42% no segundo maior colégio eleitoral do país.
Mas, mesmo que o tucano tivesse batido a petista com 80% dos votos em Minas, ainda assim ela teria vencido a eleição.
Foi o Nordeste que fez a diferença. A votação de Dona Dilma na região foi inferior à de Luiz Inácio em 2006 (77%), mas superior a que ele teve em 2002 (61%).
O recado das urnas nordestinas é claríssimo, e espelha o novo protagonismo e a autoestima de um pedaço do país que historicamente serviu de cartão postal das nossas piores desigualdades sociais, e que agora, pelo legítimo instrumento do voto, finalmente passa a se fazer ouvir.
Até segunda.
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Você pode conferir também essa postagem em vídeo HD, já postado no YouTube e no UOL:
O destaque nesse segundo turno da campanha à presidência, é o tema da descriminalização do aborto.
Questão complexa, que por envolver convicções pessoais e religiosas, só poderia ser decidida legitimamente pela mulher que deseja abortar, ou por meio de uma consulta popular, o tal "plebiscito sobre", de que tanto martelou no primeiro turno Tia Marina Silva Clorofila ex-Malafaia.
Nem por isto é fora de questão que o tema se torne presente no debate eleitoral, já que é direito do eleitor conhecer as opiniões dos candidatos sobre o tema.
Só que, em vez de ocasionar uma discussão racional e franca, a disputa sucessória tem-se caracterizado por uma atitude retrógrada, ignorante e obscurantista.
Obscurantista, não pela rasa identificação que se costuma fazer entre a firmeza de convicções religiosas e um espírito medieval de caça às bruxas, já que se pode perfeitamente ser contra o aborto em qualquer circunstância, sem ser um fanático fundamentalista - e mesmo sem professar nenhuma religião como eu, que sou ateu.
O obscurantismo marca a campanha eleitoral quando o que se procura é, antes, confundir o eleitor do que esclarecer as próprias posições.
O exemplo maior disso é o slogan do "direito à vida", que aparece na propaganda eleitoral de ambos os candidatos ao segundo turno.
Como se sabe, essas palavras têm um sentido claro para o eleitorado católico - e cristão de modo geral -, já que podem ser traduzidas como uma condenação do aborto, mesmo nos casos já admitidos na lei brasileira -o de gravidez por estupro e o de risco de morte para a mãe.
Nenhum dos dois candidatos propõe a revogação desse dispositivo mas, que lancem mão ao lema do tal "direito à vida" é sintoma da dificuldade de ambos em defender o que já existe na legislação, contrário às ideias dos eleitores que pretendem conquistar.
Pessoalmente, considero que a legislação vigente deve ser flexibilizada, de modo a permitir que, já sofrendo numa circunstância evidentemente dramática e dolorosa, qualquer mulher em solo brasileiro possa interromper a gravidez, sem que seja considerada criminosa por isso.
Cerca de 1,1 milhão de abortos clandestinos são feitos anualmente no país, na grande maioria das vezes em condições precaríssimas, em ambientes que mais parecem um açougue de quinta categoria do que uma sala de cirurgia.
Os abortos mal feitos dão um gasto de mais de R$ 850 milhões por ano ao SUS, e são a terceira causa de mortalidade materna no Brasil.
Em 56 países, que representam 40% da população mundial, o aborto é permitido sem restrições até a 12ª semana de gravidez - limite máximo que se poderia admitir, e com o qual eu concordo.
Com certeza, políticas públicas de esclarecimento e garantia de acesso a meios anticoncepcionais - como a pílula do dia seguinte -, poderiam, se amplas, intensivas e duradouras, prevenir a gravidez indesejada e reduzir de maneira drástica o número de mulheres que se valem, numa situação extrema, do traumático recurso.
Só que alguns setores religiosos, como é certo e sabido, são contra até mesmo o uso de anticoncepcionais e da camisinha - que nos dias atuais não serve só para não ter filhos, mas principalmente para evitar contágio por doenças sexualmente transmissíveis.
A sociedade felizmente evoluiu na direção oposta, e hoje os jornais já trazem a informação que o tema do aborto só fez cerca de 1% dos eleitores mudarem seu voto em 3 de outubro.
Fica provado, assim, que tivemos segundo turno muito mais pelo tráfico de influência da companheira Erenice na Casa Civil - e o salto alto de Dona Dilma, Luiz Inácio e companhia bela - do que pela pregação religiosa/medievalesca que pastores e padres fizeram contra a petista.
O Brasil precisa com urgência de um plebiscito sobre o aborto, para que a população seja esclarecida sobre os vários aspectos envolvidos na questão, longe das religiões todas que, para mim, só servem para levar a Humanidade ao começo do século 12, para dizer o mínimo.
Confira a coluna de hoje em vídeo, já postado no YouTube e no UOL:
Ontem, o Brasil teve a sua sexta eleição presidencial seguida, que marca a consolidação do regime democrático, apesar de todas as suas imperfeições.
O Brasil vive em democracia desde 1985, e lá se vão 25 anos depois dos 21 anos da ditadura militar que começou em 1964.
Antes da ditadura, tivemos liberdade política de 1945 a 1964, mas foram realizadas nesse período só quatro eleições presidenciais.
Nesse tempo, o país, de fato, amadureceu.
Em 1989, era comum circular o diz-que-diz sobre ameaça dos militares tomarem o poder após a eleição.
Em 1994 e 1998, o PT tentava se destacar num mundo pré-queda do Muro de Berlim, fazia campanha contra o Plano Real, e atucanada se acostumou com o adversário fraco.
Em 2002, tucanos quiseram impor a polarização, na base do "ou nós ou o caos", a estratégia do medo fracassou, e Luiz Inácio e o PT chegaram ao poder, mergulhando de cabeça em mensalões e aloprados.
Mesmo assim, o eleitor foi generoso em 2006 e deu a Luiz Inácio mais quatro anos.
Nas eleições atuais, mesmo com um debate longe de ser o ideal, o Brasil teve três candidatos com chances de chegar ao Planalto que poderiam com folga disputar o cargo de presidente de qualquer país do planeta.
Lógico, ainda há muito a fazer.
Nosso Congresso continua distante da vontade popular e continua aprovando leis esdrúxulas.
A Justiça, que deveria arbitrar tudo isso, principalmente o STF, é covarde.
Só não existe dúvida de que a democracia está aí, vigorosa, fazendo do Brasil um país melhor.
Quanto à eleição de ontem, o encolhimento na candidatura de Dona Dilma foi maior do que as pesquisas realizadas nos dias anteriores conseguiram captar.
Serra Nomuro Malafaia se beneficiou, sobretudo, da arrancada final de Tia Marina Silva Clorofila ex-Malafaia, que atingiu quase 20% dos votos válidos e, no Nordeste, teve um desempenho bem acima do esperado.
Porém, a tal "onda verde" não foi o único fator que desgastou Dona Dilma, já que também houve uma onda tucana na reta final, particularmente expressiva em São Paulo, onde as pesquisas projetavam até a véspera uma vitória de Dona Dilma, e onde Serra Nomuro derrotou a petista em casa, o maior colégio eleitoral do país.
Mesmo não liquidando a fatura ontem, Dona Dilma segue até o próximo dia 31 como favorita para vencer no segundo turno, mas terá de administrar a frustração de um resultado pra lá de amargo, já que o clima de "já ganhou" contaminou não só a candidata e seu padrinho Luiz Inácio, como a base de sustentação e a militância petista.
Como em 2002, contra Luiz Inácio, Serra Nomuro parte para o segundo turno como azarão, mas desta vez, ressuscitou literalmente das cinzas, já que sua morte política foi decretada sucessivas vezes - inclusive por gente do seu próprio partido - no decorrer da campanha.
E eu ressalto aqui um senhor exemplo de lealdade, e posso falar com a convicção de que nem nele votei: Foi simplesmente emocionante o apoio dado ao Serra Nomuro, do começo ao fim da campanha até ontem, pelo governador eleito de SP Geraldo TFP Alckmin.
Quanto praticamente todos os tucanos de alta plumagem - como Aécio, FHC, Artur Virgílio, Tasso Jereissati e Sérgio Guerra - fingiam que o apoiavam, Alckmin estava com o candidato à presidente o tempo todo, inclusive ontem, dia da votação.
Num meio alimentado por falcatruas, desmandos e maus exemplos, Alckmin nos deu um senhor exemplo de lealdade.
Agora, mais do que conseguir o apoio formal de Tia Marina, as campanhas terão de mapear e conquistar os seus eleitores, do evangélico aos jovens ricos e instruídos dos centros urbanos, um eleitorado heterogêneo.
Segundo o Datafolha, 50% dos eleitores de Tia Marina vão agora de Serra Nomuro, enquanto 29% vão de Dona Dilma.
Os 21% restantes, por enquanto, não vão com nenhum dos dois, e a única certeza, hoje, é que a disputa será muito mais difícil do que parecia.
E para encerrar, é bom constatar que, se o palhaço Tiririca foi o campeão de votos em São Paulo, e os ex-boleiros Romário e Danlei também foram eleitos no Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul respectivamente, figuras igual ou tão mais exóticas, como o pugilista Maguila, a prostituta Mulher Pera, os ex-boleiros Marcelinho Carioca, Vampeta e Dinei, e o pagodeiro espancador de mulheres Netinho de Paula, não foram eleitos.
E foi um avanço democrático que figuras execráveis da política, como Artur Virgílio, Marco Maciel e Romeu Tuma - que não foram reeleitos - e Cesar Maia - que passou longe do senado - voltem finalmente ao parque dos dinossauros, de onde não devem sair nunca mais.
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Confira essa coluna, já postada em vídeo, no YouTube e no UOL:
Quando todas as pessoas de bem desse país esperavam que a sua mais alta Corte resolvesse a insegurança jurídica que se instalou nessas eleições - por conta da vigência da lei da Ficha Limpa ter sido aprovada pelo Congresso sem se definir se seria aplicada agora ou não - assistimos, estarrecidos, na última quarta feira, a uma palhaçada sem precedentes na história desse país.
E no dia seguinte teve mais: o candidato do DF, Joaquim Roriz, ao renunciar à candidatura e lançar no seu lugar sua "mulher laranja", mostrou até que ponto esses ladrões e canalhas aboletados no poder podem chegar para garantirem suas propinas - nossas - de cada dia.
Sua renúncia indica a vigência real - ainda que parcial - da Lei da Ficha Limpa.
Do ponto de vista jurídico, há um impasse no Supremo Tribunal Federal, onde a Corte se dividiu ao meio, mas, na prática, a nova regra já causa efeitos em todo o país.
Apesar de todo o clima quente deste final de campanha eleitoral, observo que o Brasil passa por um momento de amadurecimento da Democracia.
Na quinta, quando Roriz anunciou sua saída, ficou claro que a indecisão do STF na noite anterior havia provocado um resultado concreto.
Os dez ministros racharam, cinco para cada lado, sobre a validade da norma nesta eleição. O presidente do Supremo, Cezar Peluso, ministro que eu pessoalmente acreditava bastante, se recusou a usar a prerrogativa do voto de minerva para desempatar.
Só para lembrar: Peluso é contra a validade da Ficha Limpa da forma como a lei foi aprovada no Congresso, e ao se abster de tomar uma decisão - recusando-se a votar duas vezes -, emitiu um sinal, que políticos interpretaram como: é só uma questão de tempo até que a Ficha Limpa seja irreversível.
O caso mais vistoso é o de Roriz, pois ao desistir, autoaplica-se a norma da Ficha Limpa.
E mesmo sem renunciar, alguns candidatos sofrerão nas urnas o efeito de terem seus nomes associados a um passado chafurdado na lama grossa e negra da política.
Afinal, nunca vimos a mídia gastar tanto tempo nas TVs e rádios e espaço em jornais e revistas para relatar, em detalhes, quem são os pendurados em processos, maracutaias, roubos de grana pública, apropriações indébitas, tráfico de influência....
Realmente, teria sido muito melhor se o Congresso tivesse aprovado a lei de maneira mais rápida e correta, e que o STF também anunciasse com urgência a constitucionalidade da medida.
Como esse cenário de sonho não existiu, nem nunca será uma realidade, o importante, o que realmente fica, é o avanço institucional da democracia, ainda que trôpega e sem muito método.
Quando a nós, do andar aqui de baixo, ficou muito difícil aceitar a posição do STF a respeito da Ficha Limpa, já que nunca antes na história deste país houve uma manifestação popular tão saudável e eletrizante como a observada pela aprovação da Lei, uma iniciativa popular.
O STF tem a obrigação de ser o "guardião da Constituição", mas com esse empate difícil de ser engolido, a mais alta Corte do Brasil tomou uma atitude antipatriótica, pois, além de impedir que a nação dê um passo em direção à moralidade política, vai contra a vontade do povo, jogando no lixo o artigo 1º da Constituição, que diz que "O poder emana do povo".
Esse mesmo povo que custeia a Corte Suprema, pagando os mais altos impostos do mundo, e um sem número de mordomias aos meritíssimos, iguais ou até maiores às benesses dos poderes Executivo e Legislativo.
Quando se esperava uma solução, o STF, em vez de resolver um impasse, como lhe cabe, consegue criar dois.
É uma afronta a todos os brasileiros de bem.
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Confira essa coluna em vídeo, já postado no YouTube e no UOL:
No bê-a-bá dos políticos, de esquerda ou de direita, ao enfrentarem verdades ou uma crise, essas duas saídas são campeãs: a amnésia total dos fatos e a desqualificação de seus adversários e acusadores.
E essas regrinhas não valem só para os políticos brasileiros, não.
Quando o então presidente americano Ronald Reagan teve de depor no Congresso dos EUA, nos anos 80, sobre o escândalo Irã-Contras, sua frase mais marcante foi "I don't recall" (eu não me lembro).
Repetiu a frase várias vezes ao ser perguntado a respeito da participação de assessores da Casa Branca num esquema complexo e ilegal de venda de armas envolvendo o Irã e contrarrevolucionários anticomunistas na Nicarágua.
Fotos: Arquivos do Klau O ex-presidente Reagan
Agora mesmo, o presidente da França, Nicholas Sarkozy, está enfiado até o pescoço num escândalo de financiamento de campanhas, onde a dona da L'oreal, em troca de benesses para sua empresa firmar monopólio na mina de ouro que são os produtos de beleza, recheou os bolsos do "petit garçon" com muitos e muitos Euros.
O presidente francês, Sarkozy
Aqui no Brasil, anos 90, o governo Fernando Henrique Cardoso - nossa tia véia invejosa da janela de plantão - também teve suas putarias, e das boas.
A maior delas foi a compra de votos a favor da emenda da reeleição, em 1997. Deputados confessaram, em conversas gravadas, terem se vendido por R$ 200 mil para votarem a favor da mudança da Constituição, que permitiria a FHC mais um mandato.
O PT de então caiu matando, a tucanada reagiu dizendo que os deputados eram desqualificados, a Procuradoria Geral da República engavetou o caso, e, no Congresso, uma CPI foi abafada ao custo de dois ministérios para o PMDB: - nosso querido partido puteiro - Justiça e o sempre recheado de verbas, Transportes.
Enfim, não aconteceu rigorosamente nada, ninguém foi punido, e a tia véia se reelegeu em 1998.
Anos depois, Luiz Inácio usa da mesma cartilha: também não se lembrou de nada do mensalão, e vive desqualificando o acusador até hoje.
Agora, Dona Dilma diz não se recordar de tráfico de influência na Casa Civil, quando a pasta estava sob seu comando - aquele ministério que a propaganda dela diz ser "ocupado pelo mais importante assessor do presidente".
Dentro do PT - e a própria candidata repetiu isso ontem -, a desqualificação é sobre a origem das figuras dispostas a relatar o lobby escancarado, feito dentro do Palácio do Planalto.
"São bandidos", repetem os lulistas, como se algum escândalo possa acontecer só com o envolvimento de pessoas íntegras, honestas, e acima de qualquer suspeita.
Assim, petistas e tucanos reagem de forma absolutamente igual, se flagrados fazendo o que não devem.
E chega até a ser um atentado à inteligência dos eleitores conscientes a tucanada ficar agora posando de boa moça, apontando seus dedos sujos de lama, grossa e negra, para quem quer que seja.
As virgens
Como já dizia aquele poeta popular: "Não tem virgem na zona".
Zona Brasil
E eu completo: "Nem na política"
Farinha Brasil
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Esta coluna já está postada em vídeo, no YouTube e no UOL:
Psicóloga de formação, ela começou a aparecer para o grande público num quadro de cinco minutos, nos anos 80, no programa "TV Mulher" da Globo, onde, às onze e quinze da matina, abordava temas como orgasmo feminino, masturbação, sexo na terceira idade e homossexualidade.
Seu quadro fez tanto sucesso, e recebia tantas cartas - nessa época não tinha e-mail - que a Globo, em plena ditadura militar, aumentou seu tempo para dez minutos diários.
Lógico, os pseudo moralistas de plantão começaram a persegui-la, adjetivando a psicóloga - casada com um descendente da ilustre família Matarazzo - com toda sorte de maldades.
Prostituta, devassa, sem vergonha...
Determinada, Marta não só passou por tudo, como aproveitou a polêmica para se lançar na política, seguindo os passos do marido.
Foi uma das fundadoras do Partido dos Trabalhadores, e foi eleita deputada federal com uma das maiores votações que esse país já viu, com votos vindos, principalmente, das mulheres, de quem sempre defendeu os direitos, e dos gays, de quem comprou brigas históricas.
Em plenos anos 80, final do período militar, Marta foi o sopro de ar fresco que a Câmara presisava para renascer, a mesma Câmara que teve destacados parlamentares cassados pela ditadura.
De cara, apresentou um projeto polêmico: o que permitia a união jurídica entre pessoas do mesmo sexo.
Numa época em que pouco se falava do tema, o projeto provocou toda uma onda fascista contrária, tamanha, que até hoje permanece em alguma gaveta da Câmara, à espera de aprovação.
Depois dessa experiência legislativa, Marta voltou a ocupar espaços na televisão, com programas vanguardistas, polêmicos, e, acima de tudo, inteligentes.
Televisão que faz pensar, entre outros temas importantes, é tudo o que se espera de um país e de um povo que querem tomar para si a condução de seus próprios destinos.
Aproveitando o naufrágio do malufismo pós Pitta, Marta foi eleita prefeita da maior cidade do país, também com votação recorde.
Aproveitou os primeiros dias na prefeitura para finalmente encerrar um casamento que tinha acabado fazia tempo, e passou a circular em público com um novo amor, depois transformado em segundo marido.
As mal amadas e os hipócritas de plantão não perdoaram, e quem saia pelas ruas da cidade, ouvia até os seus eleitores a chamarem de "vagabunda", só por ter tido a coragem e honestidade de acabar um casamento com um dos políticos mais queridos deste país.
Marta só quis ser feliz e verdadeira, nada mais.
O mesmo público que quase a apedrejou em praça pública foi o mesmo que foi beneficiado por dois dos mais importantes projetos de um político, em todos os tempos:
Os CEUs - Centro de Educação Unificados - , que nem apareciam nas suas promessas de campanha, foram responsáveis por levar arte, cultura, educação e esporte a áreas da periferia, não só para quem neles estudava, mas para toda a população do entorno.
Já o Bilhete Único - que permite ao passageiro usar até 4 conduções em duas horas pagando o valor de uma só passagem -, permitiu que os brasileiros de São Paulo, finalmente, pudessem desfrutar plenamente do direito constitucional de ir e vir.
Se não fôsse por dois túneis - mal - construídos na região da Avenida Faria Lima, e de um certo descontrole nos meses finais de governo, seu mandato como prefeita teria sido irretocável.
Mesmo assim, pagou o preço por ter sido honesta consigo mesma, e de ter ouvido o chamado da paixão após os cinquenta anos. Não foi reeleita.
Nessa eleição, é candidata ao senado,apontada pelas pesquisas como já eleita, e pode vir a ser uma excelente líder do governo de Dona Dilma no Congresso.
Só que, na ânsia de voltar ao mundo político pelo voto, tomou uma decisão temerária, e difícil de engolir: aceitou para compor sua chapa nada menos que Netinho de Paula, pagodeiro, empresário, apresentador de TV e uma das personalidades mais obtusas dos últimos tempos.
Em 2005, Netinho espancou sua então esposa, até sangrar. Fez o mesmo com humoristas e desafetos.
É um homem iletrado, tacanho, preconceituoso, despreparado e violento, exatamente o contrário que Marta pregou durante toda a sua vida.
Na ânsia de ser eleita, de ser querida novamente pelo eleitores, e ao aceitar fazer acordo com essa figura, Marta Suplicy iguala-se em tamanho a ele.
É triste, muito triste ver que, assim, a defensora das mulheres e das minorias joga sua biografia na lata do lixo.
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