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domingo, 15 de julho de 2012

'NA ESTRADA': APÓS OITO ANOS, WALTER SALLES TRANSPORTA PARA AS TELONAS LIVRO REFERÊNCIA DA CULTURA BEAT


O projeto de transpor a chamada "referência da geração Beat" para as telonas vem de muito tempo, desde que o livro "On the Road" tornou-se best-seller nos anos 50.

Escrito por Jack Kerouac e publicado em 1957, o livro se tornou uma das maiores referências da contracultura, embalando gerações à procura de liberdade e experimentação na própria pele, tudo isso numa era pré-Internet.

A transposição era um dos sonhos de direção de Gus Van Saint e de Francis Ford Coppola, que manteve os direitos mas preferiu atuar somente na produção executiva em "Na Estrada", longa que estreou na sexta (13) aqui no Brasil, depois de uma gestação de oito longos anos.

Concorrente à Palma de Ouro em Cannes 2012, a coprodução França- EUA - Brasil - dividiu opiniões em sua passagem pelo festival francês, o que com certeza ocorrerá também nas suas exibições nos cinemas.

Imagens: Divulgação - Playarte
O ator Sam Riley, em cena de "Na Estrada"
Conduzido pela criatividade do diretor brasileiro Walter Salles, da inspiração do roteirista portorriquenho Jose Rivera e das belas imagens do diretor de fotografia francês Éric Gautier - parceiros de Salles em "Diários de Motocicleta" (2004) - o longa se apropria da melancolia do livro, narrando as memórias do escritor iniciante Sal Paradise - alter ego de Kerouac -, interpretado com intensidade e  absoluta verdade pelo ator britânico Sam Riley.

Assim, nostalgia é o que se vê nessas aventuras juvenis na estrada de Sal e seu amigo Dean Moriarty - alter ego do escritor Neal Cassady - interpretado por Garrett Hedlund com uma intensidade que lembra Marlon Brando quando jovem.

Hedlund chegou a ser citado pelo próprio Kerouac para o papel, numa das muitas tentativas frustradas de adaptação para o cinema.

A tensão entre as diferenças profundas entre os dois personagens, unidos por uma mesma fome de vida, embalam uma vertiginosa troca de paisagens - de Nova York ao México - e a viagem, dos dois e de vários companheiros de caronas pela estrada,montam uma sucessão de acontecimentos como bebedeiras, canções, trabalhos eventuais, comida ruim ou nenhuma, a exposição ao clima, a camaradagem encontrada e logo perdida - e as mulheres.

Dean - Garrett Hedlund - e Sal - Sam Riley, em cena de "Na Estrada"
Se são personagens secundárias no livro, as mulheres ocupam mais espaço na telona e a principal é Marylou, a primeira mulher de Dean, que se torna um elo entre ele e Sam, já que Dean insiste em que ela vá para a cama com o amigo.

Marylou é interpretada por Kristen Stewart, que, deixando a saga "Crepúsculo" para trás, tem aqui o seu melhor papel no cinema, disparado.

Essa amoralidade, que também leva ao consumo de drogas, além do álcool, é um lembrete de um tempo bem mais libertário e libertino do que os dias atuais, uma espécie de sonho utópico em busca de uma vida sem limites que a chegada da maturidade mostra para Sal, mas não para Dean, que sonha em viver sem compromissos para sempre.

Kristen Stewart como Marylou: seu melhor papel no cinema
A segunda mulher de Dean, Camille, personagem inspirada em Carolyn Cassady é essa "voz da razão" na vida dele, já que, mãe de seus dois filhos, ela sinaliza seu desejo de parada e estabilidade.

Kisten Dunst interpreta Camille, num desempenho razoável.

Alguns personagens que brotam pelo caminho mostram um sabor especial, que mostram melhor essa época e o maior deles é Old Bull Lee - Viggo Mortensen, espetacular - espécie de guru junkie diretamente calcado na figura do escritor William S. Burroughs, autor de "Almoço Nu" e  que era o mais velho do grupo beat -  ironicamente, apesar das viagens de todos os tipos que fez, foi o que morreu mais velho, com 83 anos.

Viggo Mortensen como Old Bull Lee, em "Na Estrada"
Kerouac e Cassady morreram antes dos 50 anos, o poeta Allen Ginsberg - no filme representado pelo personagem Carlo Marx, interpretado por Tom Sturridge -, com 71.

Pequenas, porém marcantes são as cenas de três outras atrizes: Amy Adams - como Jane, mulher de Old Bull Lee, e alter ego de Joan Vollmer, primeira mulher de Burroughs que ele matou acidentalmente com um tiro; Elisabeth Moss - como Galatea Dunkel, a jovem esposa abandonada pelo marido, Ed Dunkel (o estreante Danny Morgan), representando os personagens reais Al e Helen Hinkle; e Alice Braga - como Terry, jovem mexicana com quem Sal tem um rápido caso quando colhe algodão na Califórnia e que evoca Bea Franco, que escreveu várias cartas a Kerouac, em 1947.

Steve Buscemi interpreta um homem que dá carona aos protagonistas e Terrence Howard - indicado ao Oscar por "Ritmo de um Sonho" -, vive o músico Walter, traduzindo uma pegada mais jazzística do que roqueira na trilha sonora assinada pelo argentino Gustavo Santaolalla.

Assim, o longa propõe um mergulho na melancolia, na perda, na passagem do tempo e das paixões, onde a câmera gruda nos personagens e nos mostra seu turbilhão, sua ânsia de viver, sua pulsão pelo movimento, pela experiência direta e realiza, assim, seu maior desafio, o de capturar o aspecto fugaz do tempo presente, as relações humanas imperfeitas, passageiras, fundamentais.

Confira o trailer do filme:
*****
"NA ESTRADA"
Título Original:
On The Road
Diretor:
Walter Salles
Elenco:
Kristen Stewart, Amy Adams, Viggo Mortensen, Kisten Dunst, Garrett Hedlund, Alice Braga, Sam Riley
Produção:
Charles Gillibert, Nathanaël Karmitz, Jerry Leider, Rebecca Yeldham, Walter Salles
Roteiro:
Jose Rivera
Fotografia:
Eric Gautier
Trilha Sonora:
Gustavo Santaolalla
Duração:
137 min.
Ano:
2011
País:
EUA/Brasil/França
Gênero:
Drama
Cor:
Colorido
Distribuidora:
PlayArte
Estúdio:
American Zoetrope / Film4 / MK2 Productions / Video Filmes
Classificação:
16 anos
Cotação do Klau:

quarta-feira, 23 de maio de 2012

FESTIVAL DE CANNES: 'NA ESTRADA', DIRIGIDO POR WALTER SALLES A PARTIR DO LIVRO DE JACK KEROUAC, É OVACIONADO



"Na Estrada/On The Road", filme do brasileiro Walter Salles, passou por duas situações distintas na suas exibições nesta quarta no Festival de  Cannes.

Na manhã, a produção foi recebida com poucos aplausos e uma certa frieza por parte da imprensa mundial.

À noite, porém, o filme foi ovacionado pelo público presente à sessão de gala em que foi exibido.

O longa começou a ser aplaudido ainda nos créditos, mas, quando as luzes foram acesas, todas as pessoas que estavam no cinema se levantaram para cumprimentar a equipe.

Apesar de a atitude ser normal nas sessões com os responsáveis pelas produções, a rodada de aplausos durou cerca de seis minutos, chegando quase a uma aclamação.
Sebastien Nogier/Efe
Kristen Stewart, Garrett Hedlund, Walter Salles, Kirsten Dunst e Viggo Mortensen no tapete vermelho de Cannes 2012

A Ministra da Cultura, Ana de Hollanda, assistiu ao filme na área reservada ao júri oficial de Cannes e gostou do que viu.
"O filme é lindo. Acho que tem chances de ganhar a Palma de Ouro", disse a ministra, que deixa a cidade nesta quinta (24) depois de fazer um ótimo trabalho de visibilidade da cultura brasileira, principalmente a cinematográfica, no principal festival de cinema do  mundo.

O diretor brasileiro fez questão de cumprimentar todos os atores - Kristen Stewart, Viggo Mortensen, Garrett Hedlund, Sam Riley, Kirsten Dunst, Tom Sturridge e Danny Morgan - e o produtor Roman Coppola com dois beijos.

Ele ainda agradeceu ao público, que contava com o ator Robert Pattinson - presente para prestigiar a namorada, Kristen Stewart - e um dos primeiros a chegar ao Palais des Festivals.

Hedlund, dono do papel de Dean Moriarty, um dos amigos que viaja pelos Estados Unidos em busca de experiencias sexuais e de "expansão da mente", era o mais emocionado do elenco.

Na média, a avaliação da crítica internacional foi boa.

O site "The Hollywood Reporter" diz que Salles fez um trabalho respeitável ao adaptar o romance, embora o filme "raramente proporcione o tipo de prazer inebriante que retrata".

A crítica também destaca o elenco - principalmente a atuação de Kristen Stewart - a Bella da saga "Crepúsculo" -, a fotografia e o ritmo do longa.

 Para o "HR", o ponto negativo é a falta de estrutura dramática e também que o sucesso final do filme vai depender se o público vai conseguir ou não se conectar à história do nascimento da contracultura americana.

O "Le Monde" lembra que os cineastas Francis Ford Coppola, Gus Van Sant e Joel Schumacher iniciaram a adaptação do livro, mas não concluíram o projeto - e que Salles o fez com "cores brilhantes e emoções vivas".

A publicação francesa também destaca a boa atuação de Kristen Stewart e a fotografia.

O "Le Figaro" diz que Salles, ao vencer o "desafio impossível" de filmar o livro de Kerouac, reinventou o "road movie", mesmo estilo de "Diários de Motocicleta" (2004) - também dirigido por ele.

"["On the Road" é] O tipo de filme cult, literalmente alucinante e que faz você querer embarcar imediatamente em um louco passeio 'rimbaudiano' de ácido" - conclui o "Figaro".

O jornal britânico "The Guardian" foi o que pior avaliou o longa - duas de cinco estrelas - escrevendo que "Na Estrada" tem "boa aparência", mas é "sem direção" e narcisista.
Divulgação
Sam Riley, Kristen Stewart e Garrett Hedlund em cena de "Na Estrada", de Walter Salles

"On the Road", livro cult de Jack Kerouac, é um hino à liberdade da juventude regado a sexo e drogas.

Kerouac - que se batizou de Sal Paradise no romance autobiográfico sobre seus anos errantes no fim dos anos 1940 e início da década seguinte - fica magnetizado por um mulherengo carismático chamado Dean Moriarty, que vive apenas para o presente.

Sal pega a estrada com o amigo, durante os passeios dionisíacos, lê Joyce, Celine e Proust e começa a perceber como a literatura pode nascer da experiência de vida.

Com apenas 29 anos, Kerouac escreveu o livro em três semanas em abril de 1951, datilografando de maneira contínua em 36 metros de papel, que ele mesmo cortou e grampeou juntos.

Inspirado por uma carta confusa de seu amigo e companheiro de viagem Neal Cassady - que virou Dean no livro - Kerouac decidiu contar a história de seus anos na estrada de uma forma que refletisse a fluidez do improviso do jazz.

Jack Kerouac gostaria de ter visto Marlon Brando no papel do lendário herói apaixonado Dean Moriarty na adaptação para o cinema de seu livro, mas a obra demorou 55 anos para chegar às telonas, em um dos "desenvolvimentos" mais longos da história do cinema.

Confira atuações de Kristen Stewart e Kristen Dunst, em trechos de "Na Estrada":

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Essa trama maravilhosa entrou na disputa pela Palma de Ouro , prêmio máximo do Festival de Cannes, nesta quarta, pelas mãos do diretor brasileiro Walter Salles, em um filme considerado por suas estrelas um tributo às revoluções de hoje.

O longa "On the Road/Na Estrada" relata uma viagem pelos Estados Unidos no fim dos anos 1940, repleta de álcool, drogas, sexo, amizade e "fala da perda da inocência" - segundo o cineasta.

Retrata personagens lendários, como Sal Paradise - interpretado por Sam Riley -, alter ego de Kerouac.

Em um dos filmes mais aguardados do festival, o cineasta brasileiro mantém a fidelidade ao espírito exuberante da bíblia da geração beat, com um retrato vigoroso da América pós-guerra.

O longa  tem no elenco, além de Riley, Garrett Hedlund, Kristen Stewart, Kirsten Dunst, Viggo Mortensen e a brasileira Alice Braga.

Garret Hedlun interpreta Dean Moriarty, inspirado no escritor Neal Cassady; Kristen Stewart interpreta Luanne (Marylou), a primeira esposa de Cassady, e Kirsten Dunst é Carolyn Cassady, a segunda esposa deste.

Salles, diretor de "Central do Brasil" (1998) e que já levou a Cannes "Diários de Motocicleta" (2004) "Linha de Passe" (2008), mostra os personagens em meio a bebidas, drogas e mulheres, enquanto viajam pelos Estados Unidos, com uma parada no México.

"Eu já fiz alguns road movies e percebi, ao fazê-los, que quanto mais você se distancia de suas raízes, do ponto inicial, mais você ganha perspectiva sobre quem você é, de onde você veio e, eventualmente, quem você quer ser", declarou Salles.
"Mas você também deixa parte de você para trás", explicou.

Salles - que fez um longo processo de pesquisa, viajando pelos Estados Unidos e entrevistando dezenas de pessoas, antes de iniciar as filmagens - destacou que foi fiel ao livro, mas recordou que o longa-metragem é uma adaptação.

"Queria sobretudo dar uma profundidade tridimensional aos personagens", declarou o diretor, que começou a pensar na adaptação há oito anos.

Viggo Mortensen, que também disse ter sido inspirado pelo livro durante a juventude, interpreta Old Bull Lee - um equivalente ao guru junkie Williams S. Burroughs.
Alberto Pizzoli/France Presse
O diretor Walter Salles e a atriz Kirsten Stewart antes da exibição de "Na Estrada", em Cannes

Na saga "Crepúsculo", Kisten Stewart faz uma personagem dividida entre dois amores.

Já em "Na Estrada", sua Marylou também tem sentimentos por dois homens, mas ela resolve tudo na cama - seria essa a grande diferença para a virginal Bella?

"[Em Crepúsculo] Ela quer muito fazer sexo", brinca a atriz, que começou a conversar com Salles quando era menor de idade e isso a impossibilitaria de atuar no longa com a dedicação necessária para as sequências mais picantes.

"Fiquei feliz de ter feito aniversário pouco antes de filmar. Eu queria ter experiências genuínas na tela não tive dúvidas de que iria fundo nestas cenas."

Kristen fica nua duas vezes no longa e se envolve com os personagens principais, vividos por Sam Riley e Garrett Hedlund, em cenas tórridas de sexo.
"Contanto que sejam feitas com honestidade, não há nada para ficar com vergonha."

O projeto, assinado em Los Angeles em janeiro de 2010 e concluído em maio em Cannes com os coprodutores europeus, foi realizado com um orçamento de 25 milhões de euros e filmado durante o verão.

Confira o trailer de "Na Estrada":

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Com Rodrigo Salem - Folha de S.Paulo - e Agências Internacionais