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domingo, 8 de março de 2015

INEZITA BARROSO, A MULHER MAIS FELIZ QUE CONHECI


Uma Dama, assim, com 'D' maiúsculo.

Uma mulher de gestos finos, elegantes, inteligente e contadora de histórias absolutamente irresistíveis.

Essa era Inezita Barroro, que hoje nos deixou.

Meses atrás , depois de muito tempo sem vê-la, topei com ela, na porta da Santa Casa, centro de São Paulo.

Sempre com um sorriso no rosto, me beijou nas duas bochechas, como sempre fazia, e disse que iria almoçar na padaria na esquina da Rua Jaguaribe com Cesário Motta Jr - ela morava ali do lado.

Elegante, me convidou e eu, com pressa, tive de declinar do convite - se eu soubesse...

Convivi muito com Inezita - desde os anos 1980 quando ela já era uma Lenda da Música e já apresentava o 'Viola, Minha Viola' na TV Cultura - em seus shows, nas gravações do programa e no Restaurante Parrerinha , que nem existe mais e onde ela ia jantar todos os dias na sua mesa cativa.

Ao contrário de uma de suas músicas mais famosas - a 'Moda da Pinga' - nunca colocou uma gota de álcool sequer na boca e dizia que isso era o maior motivo para, já em idade avançada, manter a voz maravilhosa que tinha.

Relembre Inezita interpretando 'Moda da Pinga':


Era famosa desde 'Lampião de Gás',  mas eu gostava mesmo de ouvi-la cantar 'Ronda', a imortal criação do gênio Paulo Vanzollini - me arrepio só de lembrar, até hoje, a primeira vez que a ouvi.

Em junho de 2013, logo após a morte de Vanzollini, Inezita o homenageou no 'Viola, Minha Viola', interpretando 'Ronda'.

Veja:


Sempre simpática, sempre acolhedora, de uma inteligência exemplar, a serviço do folclore e das tradições culturais do Brasil, uma pesquisadora que foi aos mais longínquos rincões deste país, pesquisando, colhendo e gravando.

Uma das mulheres mais sensacionais que eu tive o prazer de conhecer, tinha completado noventa anos de idade no último dia 4 de março, já internada no Sírio-Libanês.

Depois soube, que, meses atrás, tinha caído da cama na casa da única filha em Campos do Jordão, região serrana de São Paulo, e nunca mais foi a mesma.

Relembre Inezita cantando 'Lampião de Gás':


No dia em que completou 90 anos, na quarta (4), Inezita  já estava sedada no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde estava internada  desde o último dia 19 de fevereiro.
Segundo a única filha de Inezita, Marta, a mãe não chegou a saber da morte de um amigo próximo, um dia antes.

"Ela já estava sedada e nem viu a morte do José Rico", disse – o  sertanejo era frequentador assíduo do  ‘Viola Minha Viola’.

Segundo a filha, a cantora teve uma morte tranquila e sem dor.

"Ela não sofreu em nenhum momento. Meu medo era que ela sentisse dor, ficasse agitada, mas isso não aconteceu", contou, durante velório da mãe, na Assembleia Legislativa de São Paulo, na manhã desta segunda (9).

A última gravação do programa, há 35 anos no ar na TV Cultura, foi realizada no fim do ano passado, na casa de Marta, em Campos do Jordão, em São Paulo.

"Na última gravação do 'Viola', a equipe dela tirou o chapéu. Foi impressionante porque ela estava com dificuldade e gravou o programa. Ela pediu para mandarem um carro lá [para a casa da filha]. Se você pensar que ela tinha 60 anos de carreira, é incrível mesmo", observou Marta.

O último programa com Inezita foi exibido no Natal e quando a cantora fez 90 anos, o "Viola" prestou uma homenagem a ela, mas sem sua presença.

Dias depois da última gravação, Inezita foi diagnosticada com pneumonia e ficou de cama.
"Com 90 anos, na cama, aí eu vi que o negocio não estava bom. A pneumonia pegou e não teve jeito", contou Marta.

O músico Joãozinho, que trabalhava com Inezita havia 18 anos como arranjador musical, endossa: a cantora trabalhou até o último momento.
"Como uma mulher de 90 anos, claro, sem tanta energia", comentou.

Ele defende que Inezita esteva além do universo da música caipira. 

"Ela gravou 'Moda da Pinga', mas também gravou 'Ronda'. Ela gravou de tudo", disse o músico.

O temperamento forte de Inezita também foi lembrado pela filha.

 "As coisas tinham que ser do jeito dela. No tempo dela. Mas ela era muito divertida, falava coisas que ninguém imaginava. A pessoa estava falando algo super serio, de repente ela gritava 'vai, Corinthians!'", relembra.

Segundo a filha, também era desejo de Inezita que seu caixão fosse coberto com a bandeira do Estado de São Paulo, durante o velório

E assim foi: no velório, seu caixão está coberto com a bandeira das treze listras, que ela soube honrar tão bem.
Caixão de Inezita no velório da Assembléia paulista, coberto com a bandeira do Estado - Paduardo/AGNews
Após um momento exclusivo para a família, o velório foi aberto aos visitantes por volta das 9h. 

O enterro está marcado para as 17h. desta segunda (9), no Cemitério Gethsêmani, aqui em SP.

Geralmente não fico tocado quando meus ídolos se vão, mas Inezita era especial - e eu estou, sim, tristíssimo.

A Mulher se foi no dia internacional delas , mas a extensa obra da Artista Maior permanece.

O texto de Zuza Homem de Mello, na 'Folha', relembra à perfeição a mulher e a sua obra.


sexta-feira, 4 de maio de 2012

TINOCO, ÍCONE DA MÚSICA BRASILEIRA



Em 1943, os dois irmãos vieram para São Paulo, onde participaram de programas radiofônicos de calouros, sem sucesso. 

Do primeiro concurso que ganharam, com a música "Adeus, Campina da Serra", na Rádio Difusora, saiu o nome artístico Tonico e Tinoco. 
O primeiro disco foi lançado em 1944, e os primeiros sucessos vieram pouco depois, com "Percorrendo o Meu Brasil", "Cana Verde" e "Canoeiro".

Tinoco formou uma dupla sertaneja ao lado do irmão mais novo, Tonico, nos anos 1930 - a dupla terminou em 1994 com a morte de Tonico, no dia 13 de agosto daquele ano, ao cair da escada do prédio onde morava. 

O último show da dupla foi na cidade mato-grossense de Juína, em 7 de agosto de 1994.

Divulgação
A dupla sertaneja Tonico e Tinoco

A primeira apresentação profissional de Tonico e Tinoco foi em 15 de agosto de 1935, ao lado do primo Miguel. 
Dupla Coração do Brasil foi uma das primeira duplas sertanejas. 
Seus sucessos mais conhecidos incluem as músicas "Chalana", "Tristeza do Jeca" e "Chico Mineiro", entre outras.

Em 60 anos de carreira, Tonico e Tinoco realizaram cerca de mil gravações, divididas em 83 discos que venderam mais de 150 milhões de cópias, realizando cerca de 40 mil apresentações em toda a carreira. 
A dupla ainda ganhou dois prêmios Sharp e participou de seis filmes.
Após a morte de TonicoTinoco ainda cumpriu contrato de shows e fez cerca de 30 apresentações sem o irmão. 
Posteriormente, seguiria carreira solo ao lado de seu filho, Tinoquinho.
A cantora e apresentadora Inezita Barroso, que na última quarta  (2) recebeu Tinoco em seu programa "Viola Minha Viola", falou sobre o colega sertanejo. 
"Nunca o vi tão animando. Ele brincou com todo mundo [no programa], falou um monte de bobagem. Estou triste, mas nem tanto, porque ele estava muito alegre", disse ela ao UOL, por telefone.

Ela também comentou a importância de Tinoco ao lado de Tonico para a música brasileira. "Eles abriram a porteira para a música de raiz. Antes era coisa de caipira, mas ele venceram, arrebentaram e continuaram cantando igual até morrer. É o que eu pretendo fazer também. Influenciaram todas as boas duplas sertanejas". 

O programa inédito vai ao ar neste domingo (6), às 9h, na TV Cultura
O repertório da dupla Tonico e Tinoco foi cantado por Divino e Donizete, Duo Glacial, Mazinho Quevedo e Adrielli, Ivan Lobo e Vitor César, além do sanfoneiro Zé Cupido.

Por telefone, Sérgio Reis disse ao UOL que é fã de Tonico e Tinoco desde os 10 anos de idade. 
"É um dia difícil para mim porque me tornei o que sou por causa deles. Meu pai me deu uma viola quando eu era criança porque eu ficava ouvindo a dupla no rádio. Consegui ficar amigo deles e hoje a viola está autografada pelos dois e guardada a sete chaves". 
Reis também contou que Tinoco iria participar da gravação de seu DVD, no dia 8 de maio.
REPERCUSSÃO
Ele era da geração da criação, ele respaldava aquela época de Cornélio Pires, Raul Torres, Florêncio, essa turma, lá por volta dos anos 40, 50, época em que o sertanejo saiu da porta do rancho e virou radiofônica. Essa história viva se encerrou hoje, o último que a representava já não está mais. Tonico e Tinoco explodiram um movimento que era restrito.
César Menotti, cantor da dupla César Menotti e Fabiano, por telefone
A viola do sertanejo hoje chora de saudade, hoje chora por alguém que vai deixar marca em cada acorde que a gente ouvir, em cada nota que tocar, em cada voz de um sertanejo, em cada frase, em cada história de quem ama este gênero... Ah! Vai ter, sim, sempre, o tom de um mestre, de dois ícones, Tonico e Tinoco. Os dois, agora, se encontram no céu, com as bênçãos de Deus.
Zezé Di Camargo, cantor, por e-mail
Ao lado de Tonico, Tinoco foi símbolo de um Brasil chamado de caipira. E, no fundo, a gente é caipira. Caipira é quem gosta de mato, a natureza, quem ama o simples, quem fala de amor sem rodeios, quem conhece a força de uma viola. Eles nos ensinaram a ter amor e orgulho por ser caipira. Brasil, verde e amarelo, mistura de cores, união de raças, hoje chora por quem tão bem representou a alma desta pátria. Nosso país é sertanejo e Tonico e Tinoco os símbolos desta bandeira.
Luciano, cantor da dupla Zezé Di Camargo e Luciano, por e-mail
Nossos mestres estão partindo para outro plano. Tinoco, vá em paz e obrigado por sua existência. A música brasileira, e principalmente a sertaneja, é eternamente grata a você.
Bruno e Marrone, por e-mail
Tonico e Tinoco foram como professores para muitos músicos. Foram heróis em uma época em que não tinha internet, televisão. Os dois fizeram um baita nome na música. A perda é muito grande. Tinoco era muito humilde, não tinha quem falasse mal deles.
Milionário, da dupla Milionário e José Rico, por telefone
Morreu uma pedra preciosa da música caipira nacional: um viva e gratidão a Tinoco!
Marcelo Tas, apresentador, pelo Twitter
Morreu o cantor Tinoco da dupla Tonico e Tinoco. Gênios da música de raiz, do romantismo à moda antiga. Eu era criança, em Cachoeira Paulista, quando vi pela primeira vez Tonico e Tinoco cantando na festa do padroeiro. Nossa homenagem ao artista popular brasileiro que de canto a canto leva sensibilidade, talento, cultura.
Gabriel Chalita, político, pelo Twitter
Cresci ouvindo música sertaneja, moda de viola, tonico e Tinoco eram visitas frequentes naquelas caixas, me ensinaram muito sobre poesia...
Emicida, rapper, pelo Twitter
Acabei de acordar e vi uma notícia que me deixou muito triste..Tinoco, a razão de a música sertaneja ser tão popular, faleceu hoje..Todos nós sertanejos, ao lado do Brasil todo, estamos orando por você, Tinoco! Descanse em paz...
Luan Santana, cantor, pelo Twitter
A despedida

Tinoco morreu na madrugada desta sexta-feira (4) após sofrer duas paradas cardíacas. Segundo o filho e empresário do cantor, José Carlos Perillo Perez, o pai teve uma crise respiratória na tarde de quinta-feira, quando foi internado no Hospital Municipal Ignácio de Proença de Gouvêa, na Mooca, zona leste de São Paulo, por volta das 15h. 
Segundo os familiares, os médicos afirmaram que, pelos sinais apresentados pelo cantor, ele havia sofrido um enfarte dois dias antes, apesar de não ter sentido sintoma algum em casa.

O velório do músico aconteceu no Cemitério da Quarta Parada, no Belém, zona leste da capital, e o enterro, às 17h no Cemitério da Vila Alpina. 
Tinoco se apresentaria na Virada Cultural paulistana às 13h do domingo (6), no palco Arouche.
Em comunicado, a Prefeitura de São Paulo e a Secretaria Municipal de Cultura lamentaram a morte do cantor, dizendo que o artista contribuiu expressivamente para a história da música sertaneja.
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Com informações da Agência Estado

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

DIVA CAIPIRA, INEZITA BARROSO COMEMORA 60 ANOS DE CARREIRA


Toda quarta-feira, centenas de homens e mulheres de idade avançada se reúnem à tarde no 451 da avenida Tiradentes, em São Paulo, mais precisamente no auditório do teatro Franco Zampari, onde é gravado o Viola, Minha Viola, da TV Cultura.

Para eles, a paulistana da Barra Funda Ignez Magdalena Aranha de Lima é uma Diva e, no caso de Ignez - ou Inezita Barroso, seu nome artístico - uma Diva caipira.

Aos 86 anos, ela está completando 60 de carreira, metade deles apresentando o programa musical mais antigo da TV brasileira e que proporciona a maior audiência da emissora estatal paulista - dá de 3 a 4 pontos no Ibope.

Para comemorar a data, a TV Cultura exibiu no último domingo (7), com reprise no próximo sábado (13), às 20h, uma versão especial do programa.

Como nos bons tempos da era do rádio, Inezita aparece acompanhada de 27 músicos de orquestra, cantando alguns clássicos de sua carreira, como Flor do Cafezal, Meu Limão, Meu Limoeiro e Lampião de Gás, com destaque para o clássico dos clássicos, a já cult Moda da Pinga, que ela canta no vídeo abaixo.


Para sempre, Inezita será associada à música de raiz nascida nos rincões do Sudeste e do Centro-Oeste do país - Paraná, Mato Grosso, Goiás e principalmente Minas Gerais e São Paulo -, a que se dedica desde criança.

Isso num meio predominantemente machista, carola e pinguço, e justo ela, que nunca foi de beber, mas não dispensa a caipirinha de sábado: "Sem vodca, pois não sou russa."

Movimentando-se com um andador por causa de um tombo recente, coberta de maquiagem e extremamente lúcida, ela diz: "A cultura caipira está dentro de cada um de nós. E é fantástica.
Antigamente havia um preconceito, mas hoje todo mundo sabe que não precisa ser acadêmico para ser poeta".

Viola é um programa sem concessões que faz contraponto ao sertanejo universitário -micaretas, axé e baladas pop - um gênero comercial que apenas de longe remete às origens rurais.

A ideia do programa é apresentar a velha geração de violeiros ainda em forma e os poucos expoentes da nova geração - uma das tendências atuais enche Inezita de orgulho: as violeiras, contrariando o machismo do meio.

De acordo com Aluísio Milani, roteirista do programa, "para honrar e reverenciar Inezita todos tocam só o que ela gosta - e todos sabem do que ela não gosta".

E do que ela não gosta?
"Pergunte o que ela acha do Luan Santana."

No Viola, instrumentos eletrificados, à exceção do baixo, não entram.
"Nossa base é a viola, o violão e a sanfona. A música caipira se afasta cada vez mais da raiz, e isso é muito ruim. É sempre assim: onde entra o dinheiro, sai a cultura", diz Inezita.

"O tecladinho pode ser bom para dançar, mas para mim é um realejo deitado, um instrumento sem alma. Qualquer coisa que altere os ritmos da música de raiz é ruim. Mas a pior coisa que eu já vi foi um trio elétrico invadindo uma procissão da Festa do Divino, em Mogi das Cruzes [interior de São Paulo]".
E conclui: "A boa música é feita de ritmo, história, boa poesia e comunicação com o público. O mundo mudou muito, mas a cultura caipira nunca vai morrer".

Uma biografia de Inezita ainda não foi escrita, mas em março o jornalista Assis Angelo lançou A Menina Inezita Barroso (Cortez Editora), livro sobre a infância e a adolescência dela, ilustrado com xilogravuras, para o público infantojuvenil.

Completando o ciclo de comemorações, a gravadora Microservice deve lançar dentro de dois meses uma luxuosa caixa contendo seis CDs, com músicas selecionadas pelo produtor e pesquisador Rodrigo Faour.

Intitulada O Brasil de Inezita Barroso,  a caixa recupera pérolas da música regional, de folclore e sertaneja interpretadas por Inezita entre os anos de 55 e 61.

"Ela é pioneira nesse repertório e as gravações originais são de ótima qualidade", diz Faour.
"É um luxo tê-la na ativa."

Luxo que seus fãs, eu incluso, usufruem com extrema alegria.

Inezita é um sol de vitalidade e inteligência.

Para minha tristeza, é pena que o restaurante Parreirinha acabou fechando anos atrás porquê, todas as noites em que lá ia, lá estava ela, a irradiar alegria por todo o salão - Inezita ia jantar no Parreirinha todas as noites.

Se alguém souber, por favor, me diga onde ela janta agora!
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Matéria  base do jornalista Morris Kachani, para a Folha de S.Paulo
Redação final: Cláudio Nóvoa