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quinta-feira, 3 de julho de 2014

'O GRANDE HOTEL BUDAPESTE': ARREBATADOR DA PRIMEIRA À ULTIMA CENA


Durante o período entre as duas guerras mundiais, um 'concierge' de um famoso hotel na Europa faz amizade com um jovem empregado e os dois se envolvem no roubo de uma pintura renascentista inestimável e na batalha por uma fortuna de família - tudo isso em meio às mudanças ocorridas na Europa do começo do século 20.

Lendo a sinopse acima,não dá pra se ter ideia do filme soberbo que é 'O Grande Hotel Budapeste', longa dirigido por Wes Anderson e que estreia hoje em 50 salas em todo o Brasil , depois de maravilhar espectadores nas últimas edições dos principais festivais de cinema, Berlim principalmente, onde foi ovacionado de pé.

Diretor de 'Moonrise Kingdom' e 'Os Excêntricos Tenenbaums', Anderson é certamente um dos diretores e roteiristas mais originais do cinema americano atual: inconfundível, expressivo e carregado de uma visão artística que o distancia da mesmice, proporcionando ao espectador uma experiência única e arrebatadora.

Aqui, estamos na fictícia República européia de Zubrowka, na década de 1930, acompanhando as aventuras do 'concierge' Gustave H. (Ralph Fiennes) e de Zero Moustafa (Tony Revolori, jovem, e F. Murray Abraham, adulto), mensageiro que se torna seu inseparável amigo - os dois trabalham no hotel que dá título ao filme, numa região alpina do Leste Europeu.

Ralph Fiennes e Tony Revolori, em cena do longa - Fotos dessa postagem: Divulgação/20th Century Fox Brasil

Excêntrico, amante de poesia, perfumes e senhoras mais velhas, o gerente se vê vítima de uma conspiração quando sua adorada Madame D (Tilda Swinton, envelhecida com maquiagem mas absolutamente sensacional) é encontrada morta.

Produção livremente inspirada na obra do austríaco Stefan Zweig - que se exilou no Brasil no século passado e cometeu suicídio em Petrópolis em 1942 - nas mãos de Anderson, a trama se transforma um filme espirituoso, bem conduzido e delicioso de se ver, ratificando o talento e estilo único do cineasta, que carrega sempre no acabamento visual com paleta de cores marcante, os característicos 'travellings' e a extrema habilidade de Anderson em explorar personagens, mesmo os que estão de passagem – o longa tem participações especiais de Tom Wilkinson, Bill Murray, Harvey Keitel, Owen Wilson, Willem Dafoe, entre  muitos outros estelares.

Tilda Swinton é Madame D no longa

Aliás, essa é a grande habilidade do diretor: trabalhar com maestria elementos visuais diferentes, personagens diversos, gêneros variados (o filme mescla comédia, suspense, romance, ação e drama) sem nunca se perder em uma cena sequer.

Owen Wilson - à frente - em cena do longa

Absolutamente arrebatador, o longa entrega ao espectador muita habilidade e confiança para levar adiante uma trama ambiciosa, sem que, em nenhum momento, o fantasioso mundo apresentado pareça forçado.

Filmaço.

Confira o trailer do longa:
*****
'O GRANDE HOTEL BUDAPESTE'
Título Original:
THE GRAND BUDAPEST HOTEL
Gênero:
Drama
Direção:
Wes Anderson
Roteiro:
Hugo Guinness, Wes Anderson
Elenco:
Adrien Brody, Bill Murray, Bob Balaban, Carl Sprague, Edward Norton, F. Murray Abrahams, Florian Lukas, Gabriel Rush, Harvey Keitel, Heike Hanold-Lynch, Jason Schwartzman, Jeff Goldblum, Jude Law, Karl Markovics, Léa Seydoux, Mathieu Amalric, Matthias Matschke, Milton Welsh, Owen Wilson, Paul Schlase, Rainer Reiners, Ralph Fiennes, Saoirse Ronan, Tilda Swinton, Tom Wilkinson, Tony Revolori, Willem Dafoe
Produção:
Jeremy Dawson, Scott Rudin, Steven M. Rales, Wes Anderson
Fotografia:
Robert D. Yeoman
Montador:
Barney Pilling
Trilha Sonora:
Alexandre Desplat
Duração:
100 min.
Ano:
2014
País:
Alemanha / Estados Unidos
Cor:
Colorido
Estreia no Brasil:
03/07/2014
Estúdio:
American Empirical Pictures / Indian Paintbrush / Scott Rudin Productions
Distribuição:
20th Century Fox Brasil
Classificação:
14 anos
Cotação do Klau:

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

BERLIM 2014: 'O GRANDE HOTEL BUDAPESTE', QUE ABRIU FESTIVAL, MOSTRA UMA EUROPA MUITO PARTICULAR ENTRE GUERRAS


Através da sua obra, o diretor americano Wes Anderson tem se dedicado a reinventar, com romantismo, o mundo em que vivemos – especialmente, o mundo em que a classe média vive- e se seus filmes não costumam se passar em uma época específica, mas ainda assim têm uma ambientação antiga.

No divertido 'O Grande Hotel Budapeste', que abriu oficialmente a competição do 64º Festival de Cinema de Berlim esta noite e foi exibido para jornalistas no início da tarde desta quinta-feira, é um pouco diferente: o romantismo está lá, intacto, mas o período é demarcado com clareza: a década de 1930, época entre as duas guerras mundiais que transformaram a Europa.

Mas não quer dizer que Anderson - diretor de 'Os Excêntricos Tennenbaums' (2001) e 'Moonrise Kingdom' (2012) - tenha ficado interessado no realismo, de uma hora para outra.

Seu Leste Europeu é imaginário, com a ação se passando no Grande Hotel Budapeste do título, que fica em um balneário no país fictício de Zubrowka, invadido durante a guerra e depois tomado pelo comunismo.

No presente, o Sr. Moustafa (F. Murray Abraham) conta a um escritor (Jude Law) as aventuras vividas ali pelo 'concierge' Gustave H (Ralph Fiennes) e seu jovem protegido, o mensageiro Zero (Tony Revolori).

Os dois se metem numa enrascada depois da morte de Madame D (Tilda Swinton), uma condessa que recebia tratamento especial de Gustave H e deixa para ele um quadro valioso.

Passam a ser perseguidos pelo filho de Madame D, Dmitri (Adrien Brody,  um personagem visivelmente inspirado em Salvador Dalí), e seu capanga Jopling (Willem Dafoe, um vampiro dos anos 1930).

Os vilões (que incluem os nazistas, claro) não chegam a dar medo: são patéticos como os malvados dos desenhos animados.

Assuntos como intolerância aos estrangeiros e homossexuais são mencionados de forma leve e cômica, um sinal de que o cineasta não está tão preso assim a seu mundinho e percebe o que acontece fora dele.

Suas inspirações para criar esse universo tão particular são as mais variadas, começando pela obra de Stefan Zweig (escritor austríaco que se suicidou em Petrópolis, em 1942, depois de fugir do nazismo na Europa).

“Realmente sou apaixonado por seus livros, mas o filme não é baseado neles. Usamos alguns elementos e principalmente a atmosfera das obras para criar uma versão própria da história”, afirmou Wes Anderson na coletiva que se seguiu à sessão de imprensa.

O diretor Wes Anderson e o ator Ralph Fiennes, antes da coletiva em Berlim - Johannes Eisele/AFP

'O Grande Hotel Budapeste' também foi influenciado por filmes dos anos 1930 e 1940, como 'Grande Hotel' (1932), com Greta Garbo, e 'A Loja da Esquina' (1940), de Ernst Lubitsch.

Para Ralph Fiennes, que interpreta o refinado Gustave H, representante de uma época que está deixando de existir, não houve nem o que pensar quando o roteiro chegou às suas mãos.
“Era único. O mais engraçado é que o Wes me perguntou: qual personagem você gostaria de interpretar?”, contou na coletiva - a repórter Mariane Morisawa estava presente - deixando claro que a escolha de Gustave H era óbvia.

O diretor admitiu que essa é a sua estratégia. 
“Já percebi que, quando você oferece um personagem em particular para um ator, ele costuma gostar de todos os outros, menos daquele que você ofereceu”, contou, provocando risos.
“Mas o papel foi escrito para Ralph” - entregou.

'O Grande Hotel Budapeste' tem a participação de vários atores que já trabalharam com o cineasta, como Tilda Swinton e Edward Norton (que estiveram em 'Moonrise Kingdom'), Willem Dafoe e Jeff Goldblum (que participaram de 'A Vida Aquática com Steve Zissou'), Adrien Brody ('Viagem a Darjeeling') e Jason Schwartzman, Owen Wilson e Bill Murray, que fizeram quase todos os seus filmes e aparecem aqui em papéis pequenos.

“Não sei por que continuamos aceitando, já que só nos oferecem trabalho duro, por longas horas, e pagamentos baixos”, disse Murray, em tom de brincadeira.
“Acho que é porque gostamos de Wes, é a única explicação.”

Em seguida, os dois entraram num bem-humorado debate sobre os sacrifícios exigidos dos atores.
“Você quer começar a falar de 'O Fantástico Sr. Raposo'? Primeiro, trabalhamos na fazenda. Depois, você me fez ir para a Inglaterra por uma semana para fazer uma dublagem de 20 minutos. Depois, fui a Paris”, contou Murray.

Anderson encerrou o assunto, em tom de brincadeira:
“Nem vem que fazemos um trabalho muito eficiente”.

'O Grande Hotel Budapeste' é o filme de abertura perfeito: relevante, visualmente impactante e otimista, mesmo que trate de temas sérios e não esconda certa melancolia.

Assista o trailer de 'O Grande Hotel Budapeste':