SINOPSE:
Em um mundo pós-apocalíptico, Malorie (Sandra Bullock) e seus filhos precisam chegar em um refúgio para escapar do Problema, criaturas que ao serem vistas fazem pessoas se tornarem extremamente violentas.
De olhos vendados para não serem afetados, a família segue o curso de um rio para chegar à segurança.
CRÍTICA:
As particularidades combinadas dos cinco sentidos do corpo humano são o que fazem com que a nossa percepção do mundo ao redor seja completa.
Não é difícil concordar que a ausência de uma delas promove lacunas na nossa compreensão sobre tudo, mas dimensionar isso na prática é uma experiência totalmente diferente do que simplesmente ter a empatia sobre o assunto.
Abordando a complexidade de uma vida com certas limitações, Bird Box acaba sendo muito mais que um filme pós-apocalíptico.
E embora, erroneamente, seja comparado com Um Lugar Silencioso, sua essência caminha para uma vertente mais distinta.
Muito mais do que enfrentar os desafios do desconhecido em situações adversas, o longa faz uma sensível e profunda reflexão sobre o que nós nos acostumamos a chamar de deficiências.
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Sandra Bullock em cena do longa - Fotos dessa Postagem: Divulgação/Netflix |
E talvez o erro seja justamente analisar o longa como uma extensão barata de um estrondoso sucesso independente nos cinemas.
A nova produção da Netflix é sim capaz de promover uma tensão palpável, mas também articula uma narrativa que faz uso da nossa própria imaginação, sem mostrar as “criaturas” donas do pavor e do medo, apresentando apenas sua sombra diante do público.
E por fazer jogos mentais com um medo que nasce e mata a partir dos receptores sensoriais, a gigante do streaming também promove uma experiência sinestésica na audiência.
Naturalmente, somos tragados por um contexto tortuoso de um mal que não tem face, mas gera consequências fatais.
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Cena do longa |
Aqui, uma onda de suicídios é desencadeada a partir de uma manifestação “alienígena”, que cega a lucidez das pessoas, levando-as a cometer atrocidades a si mesmas a partir de estímulos da própria consciência.
Basicamente, é como se traumas ou memórias dolorosas do passado chamassem ao pé do ouvido, provocando uma drástica e explosiva insanidade mental.
Dentro dessa premissa, Sandra Bullock divide parte do seu tempo cercada por sobreviventes enclausurados em uma quase mini sociedade e rodeada pelas claras águas de um rio sem fim.
Com uma narrativa que se desenvolve com sua cronologia entrelaçada, início e meio se misturam, desenhando um roteiro que mais diz respeito à sobrevivência humana do que a um mal aterrorizante em si.
E é aí que está a má compreensão: achar que o longa é um conto pós-apocalíptico sobre criaturas sombrias e misteriosas.
O cerne da produção, de fato, reside no próprio homem, nas durezas e dores que carrega, nas mentiras que esconde e em suas respostas sensoriais ao mundo.
E nesta espiral psicológica, Mallorie (Bullock) é forçada a descobrir novos sentidos e a aflorar aqueles que já possui, levando uma vida em plena escuridão, não importa quão claro esteja o dia.
Esse contraste entre o físico e a psique humana produzem um drama encantador, que desafia nossa percepção sobre o que seria, genuinamente, a cegueira.
Explorando - inicialmente - apenas a ausência da vista, o longa cresce vertiginosamente, trazendo uma tensão sufocante consigo, que explode em uma das atuações mais profundas de Sandra Bullock.
Intensa, a vencedora do Oscar entrega uma atuação que chega ao seu pico mais caótico, tamanha fragilidade.
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Cena do longa |
Com seus movimentos limitados por uma cegueira temporária, ela tenta tatear no escuro em busca de sobrevivência, à medida que descobre uma maternidade às avessas, em virtude do contexto social vigente.
Profunda e dolorosa, é notável o quão delicada e real foi sua entrega, que atinge o seu ápice em uma declaração desesperada em um bosque com árvores altas, cercada pelo verde que não se pode ver e por uma enorme exaustão de uma vida vivida pela metade.
Um dos momentos mais poderosos do filme, ele também é um sensível grito de socorro pela solidão que a vida se tornara sem a visão.
Com uma fotografia que tem seus pontos altos nas paisagens naturais por onde o rio e a correnteza passam, o filme se concentra em seus personagens, fazendo com que toda a trama parta e gire em torno deles.
Bem mais que um conto apocalíptico sobre o fim do mundo, o filme de Susanne Bier é mais um relato emocional sobre a consciência humana mediante as circunstâncias mais adversas.
E fazendo do seu fim uma surpresa agradável e imprevisível, a produção se encerra de maneira extremamente simbólica e representativa.
Sem dizer muito, os minutos finais coroam o longa como um conto avassalador sobre a vida, muito além do que os olhos podem ver.
Filmaço.
TRAILER:
FICHA TÉCNICA:
BIRD BOX
Título Original:
Bird Box
Gênero:
Terror, Suspense
Direção:
Susanne Bier
Elenco:
Sandra Bullock, Trevante Rhodes, Sarah Paulson e outros
Roteiro:
Eric Heisserer
Trilha Sonora:
Trent Reznor, Atticus Ross
Produção:
Scott Stuber, Chris Morgan, Barbara Muschietti, Dylan Clark
Diretor de fotografia:
Salvatore Totino
Diretora de elenco:
Jina Jay, Mary Vernieu
Distribuição internacional:
Universal Pictures
Produção:
Bluegrass Films, Universal Pictures
Distribuidor brasileiro:
Netflix
Nacionalidade:
EUA
Duração:
1h 57min
Classificação Indicativa:
16 anos
COTAÇÃO DO KLAU:
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