quarta-feira, 7 de setembro de 2011

UMA MÃE COMO CHER...OU NEM AS MÃES SÃO FELIZES


Mãe é sempre mãe e nós as amamos em qualquer condição, mas para além desta sentença clichê existem alguns tipos de maternidade bem específicos.

Tem a mãe ausente, aquela que nunca está presente nos momentos de afetividade ou correção. 

Uma amiga homossexual diz (brincando com a teoria freudiana): "mãe ausente, pai dominador, é lésbica na certa"
Para além da piada politicamente incorreta, a maioria das mães mesmo se culpam o tempo todo de ausentes, mais do que realmente são.

Também tem a mãe super protetora, aquela que a afetividade encobre e esmaga a correção. O filho dessa mãe pode cometer homicídio, mas pra ela foi a vítima que se jogou na faca ou sem querer disparou a bala que a matou. 
Ela carrega a culpa dos erros do filho.

Seguindo esse esquematismo, tem a mãe madrasta, a que a correção supera a afetividade. Continuando a brincadeira da minha amiga: "mãe dominadora, pai ausente, é freudiano na certa"
Enfim, essa mãe finge não ter culpa, finge bem aliás.

Por fim, tem mães como Cher, a cantora, que passeia entre a ausente, a madrasta e a super protetora - no fundo, as mães são um pouco de todas mais uma pitada de sua individualidade e projeção do que é ser uma boa matriarca.

Quando Chastity Bono, sua única filha com Sonny Bono, disse aos 17 anos para ela que era lésbica, Cher ficou uma fera, uma madrasta e chegou a expulsar momentaneamente a filha de casa. 
Logo em seguida, ela – como muitas mães - se culpou pela sua ausência, sentiu o desnorteio da notícia. 
Ela se perguntou onde errou, os shows e o fato de ficar longe da filha teriam causado isso? Mas depois percebeu que não havia erro concreto e sim erro de mentalidade.

Quando Chastity perdeu a namorada em 1994 para a doença de Hodgkins, um tipo de câncer, ela pensou em suicídio. 
Aí a mãe super protetora saiu do armário. 
Ela cuidou da filha, a levou para terapeuta.

Anos se passaram e a mãe foi a oradora da convenção da PFLAG (Parentes, Familiares & Amigos de Lésbicas e Gays), em 1997, e a filha escreveu um livro. em 1998, Family Outing: A Guide to the Coming Out Process for Gays, Lesbians, and Their Families, sobre como ela e amigos saíram do armário e como é o processo familiar de aceitação.

Mas a sexualidade é mais ampla que imaginamos e o processo de Chastity não estava concluído. 
De lésbica, ela percebeu que era na verdade transexual - ou transgênero para alguns - e fez a operação de mudança de sexo e de nome em 2010. 
 Chastity agora é Chaz Bono
E como tal resolveu participar de um reality show, Dancing with the Stars/Dançando com as Estrelas, da emissora americana ABC.

Chaz acabou sendo alvo de críticas no fórum e blog do programa. 
Muitos condenam a sua cirurgia e o chamam de “nojento” , já outros o apoiam e dizem que irão assistir essa temporada só por ter a presença do filho de Cher.

Mas a mãe foi a que ficou mais irritada e escreveu em seu Twitter no final do mês passado: "Mães não conseguem deixar de ficarem bravas com intolerantes estúpidos que mexem com seus filhos"
E também tuítou: "Chaz está sendo violentamente atacado em blogs e fóruns por sua participação no programa! Esta ainda é a América, certo? É preciso coragem para fazer isso".

Danny Moloshok / Reuters

Cher e Chaz, mãe e filho, uma família sim!

Nessa segunda-feira, 5, ela ainda continuou: 
“Não podemos entender o transexual/transgênero, mas imagine que você acordou com um sexo diferente, ao menos tente. E deixe meu filho em paz. Eu fico doente com essas pessoas. [por causa delas, as intolerantes] Uma pessoa pode acordar de manhã e dizer: 'Estou chateado, porque se mudarei de sexo me exporei ao ridículo e ao ódio'”.

É, no mundo dos fundamentalistas e intolerantes, nem as mães são felizes, ou melhor, podem ser felizes. 

Mas Cher é, ela briga por ele, tem orgulho de seu filho e seu filho dela, e isso faz dos dois - como diz o título de um dos seus hits - Strong Enough [Fortes o Bastante].

*****
Matéria publicada hoje,  no blog do jornalista Vitor Ângelo

Um comentário:

Anônimo disse...

Chorei, chorei e chorei de tristeza pela intolerancia, de emoçäo pela coragem de mudar, de alegria em saber que mesmo com as dificuldades estamos caminhando rumo a igualdade, sei que ainda falta muito mas estou feliz em ler reportagens como esta que nos daö a dignidade de poder ser quem realmente somos.
Parabéns ao Chaz e a Cher!

Marcela Volpato - Suíça

Adorei a matéria, e chorei mesmo.
Nossa, fikei emocionada.
Hj vou começar bem minha quinta.
Bjs saudades.

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