A postagem de hoje é para aqueles que ainda ousam dizer disparates contra a união homoafetiva, principalmente afirmando que ela é dispensável.
Finalmente, e após longo tempo lutando na Justiça, o fotógrafo Marco Rodrigues, de 66 anos, conseguiu reaver o apartamento no bairro do Leblon - Rio de Janeiro - onde viveu com o companheiro, o artista plástico Jorge Guinle Filho, o Jorginho, que morreu em decorrência da Aids em 1987.
Marco já fez a sua mudança, mas a disputa pelo imóvel com Estevão Wermann, que foi amigo de Jorginho Guinle - pai do artista plástico - e comprou o espólio, continua, no Superior Tribunal de Justiça - STJ.
Segundo o advogado André Chateaubriand Martins, ainda há o julgamento do recurso impetrado por Wermann no STJ.
Enquanto isso, Marco comemorou e pôde voltar ao seu lar - de fato e de direito - graças a uma decisão judicial de cumprimento provisório de sentença.
"É um momento de alegria. Nunca duvidei de que voltaria para a minha casa".
O Globo
Marco Rodrigues, finalmente sossegado em sua casa, conforme Jorginho sempre quis
Marco estava casado com Jorginho havia 17 anos, quando o quadro de saúde do artista plástico se agravou.
O golpe de saber que o companheiro era doente de Aids não foi o pior que Marco sofreu: mesmo devotando todo o seu tempo, vida e amor ao companheiro doente, num momento de fraqueza, permitiu que a família de Jorginho - uma das mais tradicionais do Rio - o levasse para um tratamento em Nova York.
Os abutres fizeram Marco acreditar que nos EUA, Jorginho seria melhor tratado, mas o que eles queriam, mesmo, era afastar os dois, tanto que Jorginho, longe de Marco, não resistiu e morreu logo depois - era o ano de 1987.
De volta ao Brasil, os abutres da família Guinle nem respeitaram a memória de Jorginho e, numa época em que a união estável homoafetiva não era reconhecida, a Justiça acabou não reconhecendo a sociedade entre os dois.
Com isso, os herdeiros Dolores Brosshard - mãe de Jorginho - e Wermann - que havia comprado o espólio de Guinle pai - entraram com uma ação de reintegração de posse do apartamento onde Marco havia passado toda uma vida ao lado de Jorginho.
Em fevereiro de 2008, Marco foi despejado do apartamento.
Os advogados entraram com ação de usucapião urbano e, em 2009, Marco ganhou a briga na Justiça, em primeira instância.
O dono do espólio recorreu à segunda instância e perdeu e, agora, cabe a decisão do STJ.
A luta de Marco foi pioneira no Brasil e ajudou vários casais gays cujos cônjuges passaram pela mesma rapinagem da família do companheiro morto.
A disputa pelos bens chamou a atenção da sociedade carioca - em 1989, o juiz José Bahadian reconheceu a validade de um testamento deixado por Jorginho Guinle, onde ele deixou sua vontade expressa de que Marco tinha direito à metade dos seus bens.
Como Jorginho era um membro da fina flor carioca, o caso ganhou notoriedade na mídia, e chegou a ser tema de uma extensa reportagem na primeira página do jornal The Washington Post.
O Globo
Marco e Jorginho, em imagem do começo dos 80: final feliz 24 anos depois
A família apresentou um segundo testamento, ligeiramente modificado pelos juízes, que concederam 75% da herança para a mãe e 25% para o pai, mas os advogados de Marco souberam, com brilho, superar mais esse obstáculo, e o fotógrafo finalmente está de volta à sua casa, de onde não deveria jamais ter sido retirado.
Do céu, Jorginho Guinle deve estar muito feliz.
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Matéria Base: Célia Costa - jornal O Globo
Dados Adicionais e Redação Final: Cláudio Nóvoa
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