Na visão de Saul Steinberg, as mulheres de Nova York eram pavões em casacos de pele, caubóis eram seres estranhos ornamentados com penduricalhos delicados e automóveis e insetos tinham o requinte de carros alegóricos.
Mas tudo isso se arquitetava a partir da linha, elemento central de sua obra.
Mesmo as mais complexas construções visuais do cartunista moldávio que se radicou nos Estados Unidos se estruturam em torno dos traços mais simples.
Imagens: Divulgação
Trabalho de Saul Steinberg (1914-99) que está em exposição na Pinacoteca
Esse olhar pautado pelas filigranas, capaz de reduzir a complexidade do mundo à crueza do traço preto sobre fundo branco está em exposição na Pinacoteca do Estado de São Paulo, depois de passar pelo Instituto Moreira Salles, no Rio.
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| Trabalho de Saul Steinberg (1914-99) que está em exposição na Pinacoteca |
São cem desenhos e quatro projetos de mural que destrincham a América do pós-guerra em composições que oscilam entre a ironia mais ácida e certa aura singela.
Embora muito de sua obra tenha ficado conhecida nas páginas da New Yorker - revista em que foi assíduo colaborador - a mostra dá cabo da vastidão de seu trabalho.
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| Trabalho de Saul Steinberg (1914-99) que está em exposição na Pinacoteca |
"Steinberg é o mestre do desenho econômico", resume Roberta Saraiva, curadora da exposição.
"Sua obra reúne qualidades raras: uma espécie de humor mundano combinado a uma ironia fina e aparente facilidade que não dispensa o rigor da construção."
Um desenho que está na mostra ilustra esse último ponto com exatidão: um homem sentado à mesa desenha uma linha contínua, que salta do plano do desenho e se transforma numa enorme massa de traços ao mesmo tempo selvagens e ordenados, como se uma inércia precisa guiasse a composição sem se perder no meio do caminho.
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| Trabalho de Saul Steinberg (1914-99) que está em exposição na Pinacoteca |
Em tudo, sejam suas mulheres, seus caubóis ou insetos imaginários, parece haver uma volúpia formal, uma complexidade balofa, mais americana impossível.
São seres articulados não em torno de um esqueleto, mas definidos pelos acessórios que carregam.
Steinberg eleva o frívolo à condição de elixir vital de seus personagens.
Duas Mulheres Lutando, desenho de 1945, é uma abstração de sopapos que transforma a figura feminina em estrupícios histéricos trajando saltos e joias.
Em contraponto, dois caubóis se digladiam armados em frente a uma loja Sears, a violência e o consumo como lastro de figuras quase carnavalescas.
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| Trabalho de Saul Steinberg (1914-99) que está em exposição na Pinacoteca |
"A riqueza de detalhes nos adereços dos caubóis aparece como uma espécie de adorno que confere a essa figura ao mesmo tempo graça e um certo tom jocoso", observa Saraiva.
"Há uma ironia na representação dessa figura icônica."
No caso, uma acidez que traduz para a rotina da vida na América seus próprios ícones, questionando balizas morais de um país ao deturpar os códigos visuais de seus bastiões.
Steinberg constrói então em seus desenhos uma crônica visual em que se destacam as entrelinhas.
Tanto que buscava seus personagens nos lugares mais mundanos, longe da excentricidade.
Ele mesmo escreveu que gostava de retratar "gorduchas de meia-idade, dessas que estão sempre nos cafés comendo um pedaço de pão, sempre sorrindo".
Interessava "as aventuras dessas mulheres acostumadas às suas vidas pacatas e banais".
SAUL STEINBERG
Onde: Pinacoteca do Estado de São Paulo
Endereço: pça. da Luz, 2, São Paulo
Tel: 0/xx/11/3324-1000)
Quando:de ter. a dom., das 10h às 18h
Até: 6/11
Quanto: R$ 6 - grátis aos sábados
Cotação do Klau:
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