segunda-feira, 5 de setembro de 2011

FESTIVAL DE VENEZA: FILMES ITALIANOS ABORDAM IMIGRAÇÃO


A imigração na Itália é um tema importante no Festival de Cinema de Veneza deste ano, com vários filmes domésticos assumindo uma visão crítica sobre como as autoridades do país e o povo italiano estão lidando com uma onda crescente de recém-chegados.

A questão não poderia ser mais atual em um ano em que dezenas de milhares de imigrantes ilegais, fugindo dos distúrbios políticos no norte da África e da guerra civil na Líbia, chegaram na Itália e em que outras centenas se afogaram no mar.

Terraferma, do diretor Emanuele Crialese, explora como as vidas de um pescador e sua família em uma ilha remota na costa da Sicília é transformada quando ele resgata uma etíope grávida do mar e a esconde em sua casa.

O filme, que está na principal competição do festival, fala de uma história ficcional e não identifica a ilha, mas seu elenco inclui uma ex-imigrante que sobreviveu à perigosa jornada no mar e a história poderia facilmente se passar em Lampedusa - um pedaço de terra italiano que vem suportando o peso dos refugiados da Tunísia e Líbia.

Divulgação
Cena de"Terraferma", do diretor Emanuele Crialese

O número de africanos que arriscam suas vidas para cruzar o mar Mediterrâneo em barcos frágeis frequentemente sobrepuja a população de Lampedusa, que é de cerca de 5.000 pessoas, transformando a ilha em um campo de refugiados a céu aberto, onde os imigrantes são deixados por conta própria e os moradores locais se sentem abandonados pelo Estado.

No filme, o pescador Ernesto conhece apenas a lei do mar - ele sente uma obrigação moral em ajudar as pessoas em águas turbulentas, não importa o que dizem as autoridades.

Mas alguns parentes não estão tão convencidos: o  fluxo de imigrantes ilegais está arruinando a reputação da ilha como paraíso turístico, e a guarda-costeira pune os moradores que não relatam os imigrantes para a polícia tomando seus barcos.

Crialese decidiu fazer o filme em 2009 depois de ler a história de uma africana que foi um dos cinco sobreviventes em um barco lotado que passou 21 dias à deriva no mar sem ajuda antes de chegar a Lampedusa.

"Fiquei hipnotizado pelo rosto dela, por sua expressão. Ela tinha acabado de passar pelo inferno, três semanas em alto mar, com pessoas que os viam, se aproximavam e jogavam água e então os abandonavam novamente. E ela parecia ter chegado ao paraíso", disse.

Crialese ofereceu à mulher, identificada apenas como Timnit T., a parte da etíope grávida, no filme que é uma denúncia clara à repressão da imigração ilegal do governo do primeiro-ministro Silvio Berlusconi e a sua falta de preparo em frente de emergência humanitária.

"Para mim, a resposta do Estado é totalmente inadequada", disse Crialese depois que o filme foi bem recebido em uma exibição para a imprensa no domingo.

"Deixar as pessoas morrerem no mar é um sinal de uma grande falta de civilização, para um país que se diz civilizado", disse.

Confira o trailer de "Terraferma":

Uma mensagem similar, embora em um estilo diferente, também permeia Cose dell'altro mondo, uma comédia de Francesco Patierno que imagina o que aconteceria à Itália se seus quatro milhões de trabalhadores imigrantes desaparecessem de repente.

A resposta do filme: o país iria parar, com fábricas fechando por falta de pessoal, os idosos abandonados em cadeiras de rodas e sem ninguém para cuidar deles, hospitais sem enfermeiras e o lixo se acumulando nas ruas.

Confira o trailer de "Cose dell'altro mondo":

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