segunda-feira, 5 de setembro de 2011

FESTIVAL DE VENEZA: COM GARY OLDMAN E COLIN FIRTH NO ELENCO, 'O ESPIÃO QUE SABIA DEMAIS' É EXIBIDO E VIRA CONCORRENTE AO LEÃO DE OURO


O novo concorrente inglês ao Leão de Ouro, O Espião que Sabia Demais - para aproveitar o título do livro original de John Le Carré –, confirmou a força das produções britânicas na competição deste ano: recebeu aplausos na sessão da imprensa e da indústria, na manhã desta segunda (5), um pouco menos do que Shame, de Steve McQueen, é verdade.

Mas o filme mostrou-se um projeto sólido, apesar do tema complicado, envolvendo um jogo cruzado de espiões britânicos em 1973 durante a Guerra Fria.

À primeira vista uma escolha surpreendente para comandar este tipo de história, o sueco Tomas Alfredson - do terror adolescente cult Deixa Ela Entrar - comentou na coletiva de hoje que “não sabia” se era ou não uma vantagem ser estrangeiro para lançar um olhar de fora sobre um ambiente tipicamente britânico, inclusive com a maioria de atores dessa nacionalidade, Gary Oldman, John Hurt e Colin Firth à frente do elenco.
“Sendo suecos, ficávamos mais próximos à União Soviética. Mas não sei porque ser estrangeiro seria melhor para interpretar o trabalho deste autor [John Le Carré]”.

AFP PHOTO / GIUSEPPE CACACE
Colin Firth acena na sessão de fotos do filme "O Espião que Sabia Demais", no 68º Festival de Veneza

A dificuldade de adaptação da obra, porém, foi assumida pelo diretor: “Quando li o livro, achei que seria totalmente impossível fazer um filme a partir dele. Você tem que achar um fio dentro do texto e seguir, por isso, só se pode fazer uma seleção a partir do livro. Os roteiristas [Peter Straughan e Bridget O’Connor] fizeram um trabalho fantástico”.

Entretanto, algumas liberdades foram tomadas - o roteirista Peter Straughan contou que a cena de uma curiosa festa de Natal reunindo os espiões e suas famílias “baseou-se na vida real”.
“Mas sempre voltávamos ao livro”, destacou.

Voltando à Inglaterra e deixando de lado os  papeis violentos que o tornaram famoso – como o Drácula de Drácula de Bram Stoker, de Francis Ford Coppola, entre outros -, Gary Oldman comentou como foi interpretar o sutil e introvertido espião George Smiley:
“No passado, interpretei personagens muito frenéticos, que se expressavam emocionalmente de um modo muito físico. Como ator, até certo ponto, se está à mercê da indústria e da imaginação daqueles que te contratam. O casting, aqui, foi imaginativo. Por sorte, Tomas viu algo em mim e me deu esta oportunidade de interpretar algo muito diferente”.

Oldman - que ostentava o vasto bigode do Comissário Gordon na entrevista - está filmando Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge nos EUA, e veio rapidamente a Veneza para o lançamento deste filme - também agradeceu a chance de trabalhar com vários colegas:
“Falo por mim, mas acho que é seguro dizer que admiramos o trabalho uns dos outros. Lembro de nós todos sentados numa mesa e, devo dizer, senhor Hurt, no primeiro dia eu estava muito nervoso” - John Hurt riu do comentário.


AP
Gary Oldman, ostentando o bigode do Comissário Gordon - seu papel na saga "Batman" - comparece à premiére de exibição de gala de "O Espião que Sabia Demais" em Veneza 2011

Único ator com idade o bastante - tem 71 anos - para ter vivido o clima da Guerra Fria, quando a então URSS e os EUA mediam forças, Hurt foi convidado a compartilhar suas lembranças.

Lembrou de ter vivido a II Guerra Mundial quando criança e que, durante a Guerra Fria, “havia muita neurose sobre o que acontecia no Leste Europeu”.

Segundo o ator, John Le Carré “é o melhor autor sobre esta época e esta é sua obra-prima. Foi um privilégio fazer parte deste projeto e absorver a sua precisão”.

Quando se comentou se a lentidão e complexidade do filme colocava em risco o seu sucesso junto ao público, Colin Firth discordou: “Acho que tem havido uma tendência a se subestimar as plateias. Acredito que as pessoas não querem apenas tiroteios e explosões. Sou otimista”.

Indagado sobre o que mudou em sua vida profissional depois de ter vencido o Oscar 2011 de melhor ator - por O Discurso do Rei - Firth disse apenas: “Nem tanto mudou com o Oscar. Escolhi o melhor do menu que me foi oferecido e foi este filme. Na verdade, é o que faço sempre, acho que nada mudou”.

Modesto...

Confira o trailer do filme:

Os que gostam da ação e de muita adrenalina, vão ficar decepcionados.

Embora, durante mais de duas horas, o espectador entre em contato com a guerra fria e o embate entre os serviços secretos, Tomas Alfredson  preferiu deixar-se guiar mais pelo tema central do livro - a solidão, através dos personagens, que se afirmam pelas expressões, as atitudes e os cenários, - do que pela ação e os diálogos.

De Budapeste a Londres, passando por Istambul, Gary Oldman, espião-mestre do MI16 - mesma agência britânica de James Bond - e personagem central aparece mais como um anti-herói, que vai mergulhar no trabalho para descobrir um agente soviético, no momento em que se prepara para a aposentadoria.

Se o elenco é fenomenal - além de Oldman, Hurt e Firth, o filme tem Tom Hardy e Stephen Graham - cujos papéis se precisam à medida que a história complexa avança, um filme de espionagem concebido "como um ensaio sobre o fato de ser homem e enfrentar o problema da solidão", explicou o cineasta.

"Quando me pediram para fazer o filme, vi que não era possível realizá-lo se não encontrasse um fio condutor e, então, escolhi um tema", contou.

Luzes e objetos parecem escolhidos como as cores da paleta de um pintor.

Um Citroën DS bege metálico aparece de forma recorrente, deslocando-se com a mesma lentidão da fumaça  - que sai das lareiras - dos departamentos secretos, com o clima geral fazendo lembrar a melancolia de uma sinfonia de Mahler.

Os diálogos são reduzidos ao essencial e todos os personagens se deslocam como se estivessem em quadros dos grandes mestres, com as cenas nos primeiro, segundo e terceiro planos oferecendo as mesmas perspectivas de uma tela de Turner.

Tomas Alfredson
também disse à imprensa ter-se inspirado pela "pintura e a música" e "não apenas pelo cinema".

Foi a oportunidade para os atores de "mostrar alguma coisa a mais" em relação ao que o público está habituado, disse Gary Oldman, que vive um personagem impassível e frio.
"Este filme me permitiu apresentar alguma coisa de mim, diferente".
*****
Matérias de Neusa Barbosa - Cineweb  e AFP, de Veneza
Redação Final: Cláudio Nóvoa

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