terça-feira, 6 de setembro de 2011

FESTIVAL DE VENEZA: HOJE FOI DIA DA NOVA VERSÃO DE 'O MORRO DOS VENTOS UIVANTES' E DO JAPONÊS 'HIMIZU'


A britânica Andrea Arnold surpreendeu nesta terça (6) em  Veneza com uma versão naturalista do clássico O Morro dos Ventos Uivantes caracterizada pela ausência de diálogos e trilha sonora, enquanto Sion Sono apresentou Himizu, uma adaptação de um mangá com foco no terremoto do Japão.

No caso da versão do clássico de Emily Brontë, a cineasta - que ganhou o Oscar em 2005 de Melhor Curta por Wasp- resolveu se deixar levar por seus sentimentos para compor uma versão complexa da já complicada história vitoriana.

Assim, a diretora traz um Heathcliff negro para uma história de amor impossível por conta das diferenças sociais e na qual a natureza não só protagoniza as imagens, mas se mostra como um elemento importante no comportamento dos personagens.

"É um livro muito profundo e quase além da compreensão", explicou Andrea em entrevista coletiva, na qual considerou que para algumas pessoas que vivem em uma área tão selvagem como os protagonistas da história, essa natureza tem que ser obrigatoriamente parte de sua vida.

As dificuldades de adaptação fizeram com que a diretora decidisse dar muito mais importância às imagens do que ao som, daí a ausência quase total de música e os poucos diálogos dos personagens.

"Sou obcecada pelo cinema e o cinema é imagem. É possível contar qualquer história só com imagens", afirmou a cineasta.

Uma curiosidade do filme é que a protagonista do trágico romance do século 19, Catherine Earnshaw, é interpretada na fase adulta pela jovem atriz Kaya Scodelario – que, apesar de inglesa, é filha de uma brasileira - morou algum tempo no Brasil e fala fluentemente o português.

AFP
A atriz Kaya Scodelario durante a pré-estreia do filme "Wuthering Heights" no Festival de Veneza

Aos 19 anos, Kaya é uma das poucas não estreantes do elenco, tendo já conquistado relativa fama na Inglaterra por sua atuação na bem-sucedida série de TV Skins, que estrelou por quatro temporadas.

Na coletiva do filme, Kaya confessou que tinha pavor de filmes de época, entre outras coisas, “porque não tinha cursado escola de teatro”.

Seu agente, no entanto, a convenceu de que o filme de Andrea Arnold seria “uma coisa bem diferente” - o que realmente foi desde a escalação, já que ela foi até dispensada de testes.

Arnold contou que conheceu o trabalho da atriz através de um DVD enviado para o casting, e que só teve que “olhar para ela”, quando a encontrou pessoalmente, para saber que tinha encontrado a sua Catherine.
“Antes mesmo de falar com ela senti que era certa para a personagem”, disse a diretora.

Confira o trailer do filme "O Morro dos Ventos Uivantes":

O japonês Himizu também exibido nesta terça, é uma adaptação do mangá de mesmo nome de Minoru Furuya que foi modificada pelo diretor Sion Sono após o terremoto registrado no Japão em março.

A história, violenta, já era um projeto do diretor, que mudou parte do roteiro para refletir o que o terremoto representou para o povo japonês.

O protagonista é Sumida, um jovem de 14 anos que vive com sua mãe em uma casa precária junto a um lago, onde alugam botes para navegar.

Sua mãe o abandona e seu pai vive dando-lhe surras, o que é testemunhado por uma série de personagens surrealistas que vivem em tendas construídas com plástico após terem perdido tudo por conta do terremoto.

Andrew Medichini/Associated Press
Diretor Sion Ono (à esquerda) posa ao lado da atriz Fumi Nikaidou e do ator Shota Sometani em Veneza

"No Japão há uma nova forma de pensar que está relacionada com esse grande desastre", relatou Sono em entrevista coletiva.

Segundo o diretor, nos últimos 10 anos foram produzidos no país muitos mangás focados "na solidão, na tristeza e no isolamento", o que se transformou em realidade depois do terremoto, lamentou.

Por isso, decidiu mudar o final obscuro e lúgubre do texto original por um mais aberto. 
"Queria dar uma mensagem de esperança a todo Japão", explicou.

O diretor Sion Sono, conhecido por seus filmes ásperos e anárquicos, inseriu os fatos reais em um roteiro que ele havia acabado de escrever quando a catástrofe aconteceu.

"Cada cena mudou drasticamente", disse ele à Variety.
"O mangá original não continha qualquer esperança, mas depois do 11 de março achei que não deveria fazer um filme sem esperança. Senti que precisava transmitir isso no filme."

Confira o trailer de "Himizu":

Os dois filmes - que não entusiasmaram a plateia - são mais uma demonstração da variada e acertada seleção da 68ª edição do Festival de Veneza.

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Com EFE e Cineweb - Neusa Barbosa, em Veneza

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