quarta-feira, 28 de setembro de 2011

SEGUNDO CRÍTICOS, SILÊNCIO SOBRE HOMOSSEXUALIDADE NAS ESCOLAS LEVA AO BULLYING


Meus amigos:

Os jovens  gays americanos estão se matando por culpa dos abusos cometidos contra eles, principalmente nas escolas.

Quando um jornal da importância do The New York Times entra no debate sobre o bullying contra os adolescentes homossexuais nas escolas do interior americano, principalmente, podemos esperar mudanças efetivas nesse estado de coisas.

É essa matéria que eu separei para vocês, hoje:

A cidade de Anoka, no estado do Minnesota, tem um distrito escolar suburbano em expansão e sua maior parte está localizada no distrito da congressista Michele Bachmann.

Nesse setembro, Anoka atraiu a atenção dos americanos ao protagonizar uma das guerras culturais mais acirradas dos EUA – sobre como a homossexualidade deve ser discutida nas escolas.

Depois de anos de um conflito duro entre os defensores de alunos homossexuais e os cristãos conservadores, a questão já é altamente polêmica aqui.

Em julho, seis alunos entraram com um processo alegando que funcionários da escola não impediram o bullying incansável contra os homossexuais e que uma política do distrito - que exigia que os professores permanecessem “neutros” nas questões de orientação sexual - havia alimentado um silêncio opressivo e um estigma corrosivo.

Também neste verão americano, pais e alunos daqui aprenderam que o Departamento de Justiça federal estava envolvido profundamente numa investigação de direitos civis por conta de queixas de assédio contra um aluno gay do distrito - a investigação ainda está em andamento.

Evaristo Sá/AFP

Enquanto isso, grupos cristãos conservadores pediram que as escolas evitassem quaisquer descrições da homossexualidade ou do casamento do mesmo sexo como algo normal, alertando contra qualquer capitulação ao que eles chamam de “plano homossexual” para recrutar jovens para um “estilo de vida anormal e pouco saudável.”

Acrescentando um elemento incendiário a mais, o distrito escolar sofreu oito suicídios estudantis nos últimos dois anos, fazendo com que funcionários do estado declarassem estar diante de um “contágio suicida”.

Se o bullying homofóbico contribuiu para alguma dessas mortes é algo muito questionado aqui.

Afinal, alguns amigos e professores dizem que quatro dos alunos estavam sofrendo por conta da identidade sexual.

Em muitas cidades maiores, aulas de tolerância à diversidade sexual agora fazem parte da rotina da educação para saúde e treinamento anti-bullying.

Mas nos subúrbios a batalha continua, talvez agora mais amarga do que aqui no Distrito Escolar Anoka-Hennepin, ao norte de Minneapolis que, com 38 mil alunos, é o maior sistema escolar de Minnesota.

A congressista Michele Bachmann não falou sobre os suicídios ou sobre o debate acirrado sobre política escolar, e também não respondeu aos pedidos de entrevista da reportagem - ela já expressou "ceticismo" no passado sobre programas anti-bullying e é aliada do Conselho Familiar de Minnesota, um grupo cristão que se opôs veementemente contra qualquer retrato positivo da homossexualidade nas escolas.

Funcionários da escola dizem que estão no meio de uma batalha, enquanto defensores dos direitos dos homossexuais dizem que não há um meio termo nas questões de direitos humanos básicos.
“Acho que os adultos estão muito mais interessados em nos transformar num campo de batalha do que os alunos”, disse Dennis Carlson, superintendente das escolas.
“Temos pessoas na esquerda e na direita, e estamos tentando encontrar um terreno comum nesses assuntos.”

“Manter as crianças em segurança é uma preocupação comum”, diz ele, apontando para as iniciativas do distrito para combater o bullying e as novas iniciativas anti-suicídio.

Crianças gays e alguns pais e apoiadores dizem que essas iniciativas foram enfraquecidas pelo que chamam de “silenciamento” da discussão sobre diversidade sexual no distrito – uma política, adotada em 2009 em meio a um acalorado debate público, segundo a qual “ensinar sobre orientação sexual não faz parte do currículo adotado pelo distrito” e que os funcionários “deveriam permanecer neutros em questões relativas à orientação sexual.”

O processo foi aberto em julho em prol de seis alunos e ex-alunos, pelo Southern Poverty Law Center e pelo Centro Nacional pelos Direitos das Lésbicas, quando testemunharam ou ouviram relatos de atitudes homofóbicas, tendendo a “ignorar, minimizar, descartar, ou em alguns casos, culpar a vítima pelo comportamento abusivo dos outros alunos.”

Uma das vítimas, Kyle Rooker, 14, não declarou sua orientação sexual mas foi percebido como gay por um colega de classe, diz ele, em parte porque ele gosta de usar cachecóis brilhantes e cantar músicas de Lady Gaga.
No ensino médio ele era chamado por apelidos quase diariamente e uma vez urinaram nele por cima da parede enquanto ele usava o banheiro.

“Adoro atenção, mas esse é o tipo de drama com o qual eu simplesmente não consigo lidar”, disse Kyle, acrescentando que quando ele foi ameaçado no vestiário, funcionários da escola fizeram ele se trocar no escritório do assistente do diretor em vez de impedir o bullying.

A demanda do distrito por neutralidade sobre a homossexualidade, diz o processo, é inerentemente estigmatizante, inibiu os professores de responder mais agressivamente ao bullying e os impediu de combater estereótipos destrutivos.

“Esta política envia claramente uma mensagem para os alunos LGBT de que há algo de vergonhoso no jeito deles e que eles não são pessoas válidas na história”, disse Jefferson Fietek, professor de teatro na Anoka Middle School for the Arts.

Fietek, conselheiro de uma Aliança Gay-Hétero recentemente formada na escola, disse que conhece vários alunos gays e lésbicas que tentaram ou consideraram seriamente o suicídio.

Colleen Cashen, psicóloga e conselheira da Northdale Middle School, disse que ao excluir a homossexualidade, a política criou “um clima de vergonha”, e que interpretações contraditórias da administração deixaram os professores com medo de testar os limites, vendo a homossexualidade e a história dos direitos gays como temas tabu.
“Acredito que a política está criando um ambiente tóxico para os alunos”, diz ela.

Carlson, o superintendente, concordou que o bullying persiste, mas negou fortemente que o ambiente escolar é em geral hostil.

Ele disse que receberá bem iniciativas que possam resultar das negociações sobre o processo ou com os investigadores federais.
“Nós queremos que todos os alunos se sintam acolhidos e seguros”, disse ele.

Mas pais conservadores organizaram-se para fazer lobby contra mudanças.
“Dizer que você deveria aceitar duas mães como sendo uma família normal – isso seria defender direitos”, disse Tom Prichard, presidente do Conselho Familiar de Minnesota.
“Não deveria haver tolerância ao bullying, mas esses grupos estão usando o tema para tentar fazer avançar uma agenda social.”

Um grupo de pais do distrito que são aliados próximos do conselho familiar recusaram os pedidos de entrevista. 

Seu site diz que a depressão entre os adolescentes gays costuma ser culpa dos defensores dos direitos homossexuais que geram a falta de esperança: “quando uma criança foi deliberadamente mal informada sobre as causas da homossexualidade e dizem a ela que os atos homossexuais são normais e naturais, toda esperança de recuperação é retirada dela.”
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Matéria do jornalista Erik Eckholm,  publicada no The New York Times em 19.9.2011


Tradução: Eloise De Vylder

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