segunda-feira, 17 de maio de 2010

VIÚVAS DA DITADURA

No programa eleitoral do PT ,exibido nesta quinta-feira, e onde Dona Dilma devia ter sido a estrela , quem roubou a cena foi o presidente Luiz Inácio, que associou a imagem da candidata à do líder sul-africano Nelson Mandela. Disse o marido de Dona Marisa Primeira, a Muda que, como o Prêmio Nobel da Paz, a ex-ministra da Casa Civil passou por brutal repressão política antes de ser a mãe do PAC.

É evidente que um abismo de diferenças separa Dona Dilma de Mandela, e ainda que um observador irônico possa dizer que a candidata do PT tem mais de mandona do que de líder contra o apartheid, o programa eleitoral desta semana teve como acerto principal o de ter feito referência, desde os primeiros minutos, ao passado político de Dona Dilma -que setores mais extremados, sem jogo de cintura e sem noção da oposição vinham tentando explorar do modo mais calhorda possível.

E foi isso que o Luiz Inácio quis passar: a candidata tem um passado de guerrilheira, sim, mas isso foi nos anos 60, como Mandela teve um passado de guerrilheiro de pegar em armar sim, mas isso foi a muito tempo atrás, depois disso ficou trinta anos preso para se tornar nos anos 90 o líder do renascimento democrático do seu país.

Você já deve ter recebido - sem pedir - um sem número de e-mails, mensagens e outras lorotas via internet, chamando Dona Dilma de "terrorista" pra baixo, não é?

Alguns até se dão ao trabalho de mandar junto a ficha de "terrorista" da candidata, aquela mesma ficha cor de rosa falsa que, tempos atrás, a "Folha de S.Paulo" publicou como se fôsse verdadeira e foi, óbvio, obrigada a dar um "erramos" e pedir mil desculpas.

Invocada contra ela, esses atos anônimos e, portanto, covardes, tem no Brasil democrático de hoje o mesmo significado que teriam as de "subversivo" e "comunista" para descrever Serra Nomuro, seu adversário do PSDB, que, elegante e verdadeiro como sempre, desautorizou essa sordidez e lembrou, que também foi perseguido e exilado pelo regime militar.

Serra lembrou que foi integrante da Ação Popular - grupo organizado por estudantes católicos que era radicalmente de esquerda - ficou exilado no Chile entre 1965 e 1973 e era o incendiário presidente da UNE, União Nacional dos Estudantes, quando os militares deram o golpe em 1964 e inauguraram um dos mais tristes períodos de nossa história recente.

Estamos no décimo ano do século 21, e os candidatos de 2010 não devem ser julgados pelas convicções que tinham em 1964.

É o compromisso que tenham, hoje, com os direitos humanos, a liberdade de expressão, o sistema de mercado e a democracia que merece ser cobrado a todo instante.

E pra mim, chega a ser curioso que, depois de encerradas as discussões sobre a revisão da Lei da Anistia, haja ainda covardes, anônimos e adeptos do "quanto pior, melhor", interessados em reviver um clima de caça às bruxas -na direita e na esquerda- que a sociedade brasileira lutou tanto para superar.

Veja - e ouça essa coluna, já postada no YouTube:

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