O rótulo "artista pop" já não cola mais para definir Andy Warhol, como todos que visitaram sua última exposição aqui em SP - "Andy Warhol, Mr. America" - puderam constatar.
Fotos:
Divulgação Andy Warhol Foundation for the Visual Arts
imagem de "Self-Portrait" (1986)
Lógico, estão nas obras - como nas gravuras de Marilyn Monroe e nas das latas de sopa Campbell's - os elementos que marcam a chamada "arte pop", o uso de elementos do mundo das celebridades e da publicidade - nessas imagens, Warhol sempre se apropriou de fotos de jornal.
Mas o que a exposição revelou com intensidade é, em primeiro lugar, uma faceta crítica, que até então costuma ser atribuída apenas ao pop inglês, onde o movimento surgiu - com a famosa colagem "O que Exatamente Torna os Lares de Hoje Tão diferentes, Tão Atraentes", de Richard Hamilton, de 1956.
Se Warhol não usava ironias em seus títulos, elas estão presentes, contudo, em suas próprias construções.
Suas celebridades são maquiadas com cores fortes e berrantes, outro elemento que o caracteriza como pop, mas exibidas após situações de fraqueza.
Na série sobre Jackie Kennedy, por exemplo, ela surge não quando estava gerando um padrão de beleza para o país, mas no momento de luto, pos morte do marido presidente.
É como se Warhol apontasse para o poder ambivalente da imagem que se torna impressa, afinal ela não é capaz de revelar tudo.
Nesse sentido, o custo da fama revela-se perverso e sem glamour.
Mesmo assim, ao colorir essas imagens, ele apela para a sedução, uma das razões que o tornou a ser tão reconhecido popularmente.
Outro caráter importante da exposição foi o de exibir, junto com os trabalhos mais famosos, sua obra mais experimental, até então normalmente vista em pequenas mostras ou como trabalhos menores, e que nunca tínhamos visto por aqui.
Warhol produziu filmes alternativos em grande quantidade -17 deles foram mostrados - e trabalhou em vários suportes, chegando até a criar ambientes imersivos, como "Silver Clouds" (nuvens prateadas), de 1966, ou "Cow Wallpaper" (papel de parede de vaca), de 1972.
São trabalhos gênese das instalações contemporâneas, que o levam muito além da mera produção pop.
Finalmente, o curador Philip Larratt-Smith acertou em cheio ao apontar o caráter sarcástico de Warhol em relação aos mitos americanos.
O artista abordou a violência contra os negros, em "Confrontos Raciais", a miséria, em "Desastres do Atum Enlatado", retratou temas tabus como a homossexualidade, a obsessão pela morte e, como se não fosse suficiente, a sociedade do espetáculo.
Assim, quem observa apenas as cores fortes e as imagens sedutoras, fica apenas na superfície da obra de Warhol, mas quem quiser se aprofundar de fato nessas imagens, vai descortinar um mundo não colorido e tampouco atrativo, o que afinal é o retrato da América.
Veja agora alguns dos trabalhos do artista, que estavam na exposição - cerca de 170 obras, entre 26 pinturas, 58 gravuras, 39 trabalhos fotográficos, duas instalações e 44 filmes:
Essa série de serigrafias de Marilyn Monroe, de 1967, foi produzida pouco após seu suposto suicídio.
Segundo Philip Larratt-Smith, curador da mostra, na trajetória de Warhol há uma explosão de criatividade sem precedentes.
Ele passou da pintura para a serigrafia, depois para a fotografia, instalação, produção cinematográfica, gerenciamento de uma banda de rock até a publicação de uma revista.
"Cow [Yellow on Blue]" (1971)
Exímio desenhista, Warhol tornou-se um dos mais célebres artistas comerciais dos anos 1950. No final da década de 1950, realiza sua notória exposição com obras que mostram latas de sopa Campbell's pintadas a mão, na Ferus Gallery de Los Angeles. Imagem de "Campbell's Soup II: Hot Dog Bean" (1969)"Self-Portrait in Drag" (1980) faz parte de série que revela homens que se travestem e convivem com um sistema tão ambíguo quanto o das divas do cinema, que aparentam ser o que não são. "Vote McGovern" (1972). O artista desconstruindo o mito Richar NixonRetrato "Mao" (1972), onde Andy Warhol usa cores fortes e berrantes, que fazem o ex-líder chinês parecer uma drag queen usando muita maquiagem."Jackie" (1964), revela faceta crítica do artista"Uncle Sam" , de 1961Warhol também retratou excluídos e marginalizados, como na série "Race Riot" , de 1963, que mostra policiais espancando negros.
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