LEGENDÁRIOS
Um programa cheio de atitude, questionamentos e bom humor. Mas que, acima de tudo, é do bem e é para toda a sua família
Na mistura de humor com jornalismo, cada um tem a sua personalidade, mas, vistos em sequência, “Legendários”, “Pânico” e “CQC” apresentam mais do mesmo.
Vi a última edição dos três programas: trataram dos mesmos assuntos, entrevistaram as mesmas pessoas, fizeram piadas iguais, e falaram as mesmas grosserias.
Até a estrutura dos três programas na abertura é igual: nenhum tem início na hora certa –aguardam o melhor momento de entrar no ar em função dos intervalos comerciais da programação da concorrência.
Emissora: Record |
Horário: sáb, às 21h45 |
Duração: 75 min |
Idade: 10 anos |
Ibope médio (15/5): 6 pontos |
Diferencial: Tamanho do elenco |
Eles começam praticamente da mesma forma: seus apresentadores saúdam a pequena plateia que está no estúdio ao vivo, um vídeo gravado dá a escalada das atrações e, em seguida, entra um longo intervalo comercial, de cinco minutos. A duração do interminável espaço de propaganda é motivo de visível preocupação nos três programas: “A gente vai, mas a gente volta daqui a pouquinho”, promete Emilio Surita, no “Pânico”, antes do intervalo.
“O programa está mais indecente que a convocação de Grafite para a seleção”, promete Marcelo Tas, no “CQC”, antes do “break”.
Na volta do intervalo do “Legendários”, Mion implora: “Pede para sua mãe tirar da novela agora”, referindo-se à reprise do último capítulo de “Viver a Vida”, na Globo
As piadas com Dunga se repetem e são cansativas, nos três programas. “Reserva só é bom para vinho”, diz Mion, numa referência aos jogadores que não são titulares em seus times. “A comissão técnica não quer concorrentes”, diz Surita, sobre a proibição aos programas humorísticos de entrevistar os jogadores. É a seleção do “Zangado”, diz Tas - em mais uma demonstração de piada nova.
PÂNICO NA TV
Nosso intento aqui é só alegrar o seu domingo
Neymar, boleiro do Santos, é entrevistado pelos três programas, e a mesma pergunta é feita ao menino da vila na Record, RedeTV e Band: “Você é virgem?” Neymar dá respostas parecidas. “Sou virgem”, ele responde aos três. Só no “Legendários” diz algo diferente, depois que Mion pede para ele falar em “off”, mas faz o público ouvir o áudio da gravação,onde ele diz que não é virgem.
Os três também são iguais no péssimo hábito de fazer propaganda da emissora dentro do programa: “Legendários” apresenta um clipe da novela “Ribeirão do Tempo”; “Pânico” fala do “RedeTV News”, puxa o saco da RedeTV e promete exibir uma versão em 3D no próximo domingo; e o “CQC” apresenta um clipe sobre “A Liga”.
Emissora: Rede TV |
Horário: dom, às 20h40 |
Duração: 240 min |
Idade: 14 anos |
Ibope médio (16/5): 12 pontos |
Diferencial: A longa duração |
Recheados de anunciantes, “Pânico”, “CQC” e, em menor escala, “Legendários”, também passam de todos os limites aceitáveis, na inserção de ações comerciais dentro do programa - o chamado “testemunhal”, onde os apresentadores falam das qualidades de diferentes produtos.
“Legendários”, “Pânico” e, um pouco menos, “CQC” também se igualam em referências e piadas com a Globo.
Num quadro sobre a seleção de Dunga, o programa da Record faz críticas e ironias a Pedro Bial e Galvão Bueno. Na RedeTV, um quadro imita Luciano Huck e Ana Maria Braga, muito sem graça por sinal, apesar do Rodrigo Scarpa imitando a Ana Maria.
Chama a atenção a preocupação dos três programas em fazer o chamado “humor do bem” - quadros supostamente humorísticos tratando de temas sérios. “Legendários” abordou o alcoolismo; “Pânico” falou de anorexia e o “CQC” combateu o desperdício de água .Tudo muito chato e previsível.
CQC
O programa da família brasileira
O que diferencia os programas
Dos três programas de variedades mais badalados do momento, “Legendários” é o que mais se preocupa com o tal “humor do bem”. “Vocês vão ver matérias questionadoras, matérias que vão deixar você pensando, matérias que vão fazer você rir”, promete Mion no início. “Ninguém segura essa galera do bem”, diz a música de abertura. Para mim, é uma chatice só.
Além da série de “pegadinhas” destinadas a falar dos problemas do alcoolismo, o programa também exibe um quadro de assistencialismo com toques infantis: o personagem “SuperTição” - a coisa mais sem graça da TV brasileira nos últimos anos - realiza o sonho de uma criança pobre – uma bola de futebol autografada pelo atacante Washington, do São Paulo. "Inédito" na tv, né?
Emissora: Band |
Horário: seg, às 22h15 |
Duração: 120 min |
Idade: 12 anos |
Ibope médio (17/5): 4,4 pontos |
Diferencial: A "pegada" política |
Problemas vistos desde a estreia continuam se repetindo, e, de tão mal editada, uma reportagem sobre o “Red Bull Race” no Rio parece estar pela metade.
A personagem “Teena” - outra sem graça - faz perguntas sem sentido para Washington Olivetto,num quadro que ainda nãodisse a que veio.
No “Pânico”, o que vale é o humor de duplo sentido, rasteiro, grosseiro, com conotação sexual. Do início ao fim, do “Rolê com Dicró” ao quadro com “Bicesar e Serginho”, todos insistem no mesmo tipo de gracinha, muito cansativa.
As piadas de futebol também se repetem, para o tédio do telespectador. O anteriormente acima da média Evandro Santo, o "Cristian Pior", apareceu num lugar em que não deveria sequer ser escalado, não é a dele - uma partida de futebol beneficente - e se repetiu o tempo todo em perguntas sobre “bola nas costas”, “bola pra dentro” etc. Um desperdício de talento. Em outro quadro, “Marília Gabriherpes” entrevista o jogador “Adricano”, que fala: “Vou meter oito gols nelas, entrar com bola e tudo.” Aja saco.
A longa duração do programa parece provar que os produtores e editores do “Pânico” não fazem uma triagem do que efetivamente vai ao ar. Quadros longos, chatérrimos e sem graça vem um após o outro, como o encontro das “panicats” com jogadores dos Harlem Globetrotters, as entrevistas de “Tucano Huck” com atores da Globo, as entrevistas de “Amaury Dumbo” com celebridades de quinta categoria, e as entrevistas de “Bicesar e Serginho” com freqüentadores de uma balada noturna. Tudo muito chato, previsível, grosseiro.
Com seu elenco estelar de anos fazendo menos do menos, é o mais novo membro - o repórter “Charles Henriquepedia” - que rouba a cena, abordando famosos sem deixa-los falar – ele vai vomitando os seus conhecimentos enciclopédicos sobre figuras como a ex-paquita Andrea Veiga e do casal Luciano Huck e Angélica. Depois, caracterizado como o boleiro Vagner Love, Charles foi ao Maracanã torcer pelo Flamengo na derrota da equipe para o Universidade, do Chile. Foi o único momento realmente engraçado no programa, que, aliás, bateu recorde de audiência no último domingo. O que prova que baixaria e grosseria, infelizmente, ainda dá Ibope.
O “CQC” diz que é um “resumo semanal de notícias”, mas cada vez menos trata de assuntos da atualidade. O comandante Marcelo Tas - o que aconteceu com ele, meu Deus? - não perde a oportunidade de fazer humor de péssimo gosto, ao apresentar Rafinha Bastos como “a próstata mais lisinha do continente” (em referência a uma matéria que Rafinha fez na semana anterior, onde fez um exame de próstata, filmado e exibido no programa). E a insistência nas piadas sobre gays, como um programa humorístico qualquer, faz com que o programa continue descendo ladeira abaixo: “Ajude a Casa do Heterossexual”, pede Rafinha. “Dê um pouco a quem não dá nada a ninguém.” Hahaha, muito engraçado...
Recheado de propaganda até nas suas vinhetas, o programa anunciou com orgulho uma entrevista com o jogador Kaká - feita durante uma ação comercial da Gilette - logo depois de mostrar que a mesma empresa é anunciante do “CQC”. Jabá desse naipe é a pior coisa da TV, e é demais para o meu gosto.
Uma longa, cansativa e repetitiva reportagem denuncia a falta de creches em Limeira (SP). Ao final, o secretário municipal promete construir novas creches até dezembro e o “CQC” diz que volta à cidade no Natal para ver se o compromisso foi cumprido. Em outro quadro “do bem”, Marcelo Tas diz: “É da maior importância cuidar da água.” Chato, chato, chato.
Como é sempre chata a menina que é a mais nova membro da trupe, que em Brasília critica os deputados que estão atrapalhando a votação do projeto “Ficha Limpa”. “Até pra emprego de gari você precisa de ficha limpa”, diz, para completar a chatice, MarceloTas ao final.
Uma reportagem sobre a “sensacional” Virada Cultural nada diz que houve uma morte no evento. E, para encerrar a edição, Tas chama um vídeo no “Top 5” e a edição exibe outro, o que se tornou o momento melhor de humor na edição.
Finalizando:
.O "Legendários" ainda precisa dizer a que veio, e fazer valer o altíssimo investimento que a Record fez no Mion e na renca de gente que ele trouxe da MTV.
. O "Pânico" precisa se reiventar urgentemente. Do jeito que está, a Rede TV! deveria ter vergonha de exibir um programa tão rasteiro, infantil e grosseiro.
. O "CQC" anda tropeçando no seu próprio ego, e cai do salto a cada edição.
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