O cineasta iraniano Jafar Panahi afirmou ser inocente da acusação de fazer filmes contra líderes iranianos, em uma carta escrita na prisão de Evin ( Teerã) em que se encontra, e que foi divulgada no Festival de Cannes.
"Sou inocente. Não fiz nenhum filme contra o regime iraniano".
Panahi, 49 anos, está detido desde 1º de março, por estar produzindo um filme sobre as disputadas eleições presidenciais de 2009.
"Não assinarei nenhuma confissão forçada devido a ameaças", disse na carta, agradecendo a França por apoiar sua libertação.
"Calorosos abraços de minha pequena e escura cela na prisão de Evin", escreveu ele, cumprimentando aqueles que "junto com minha mulher, minhas crianças e conterrâneos vieram me visitar no lado de fora e estão trabalhando para que eu seja libertado".
Sua atual detenção impediu que ele fosse a Cannes, onde foi convidado para fazer parte do júri que escolhe o vencedor da Palma de Ouro.
Na quarta-feira, o presidente do júri, o diretor americano Tim Burton, pediu a libertação de Panahi e o júri deixou um assento simbolicamente vazio no palco em homenagem ao cineasta durante a abertura do evento.
O Irã não respondeu oficialmente aos pedidos.
Os filmes iranianos têm se destacado nas últimas décadas graças a Panahi e a diversos outros renomados cineastas, como Abbas Kiarostami, mas a censura do Estado liderado pelo presidente Mahmoud Ahmadinejad - o amigo do peito do Luiz Inácio - torna difícil o trabalho desses artistas no Irã.
A reeleição de Ahmadinejad em junho de 2009 causou uma série de manifestações nas ruas do país, que causaram confrontos com as forças de segurança, deixando mortos e presos.
"Não vamos esquecer dos milhares de outros presos indefesos no Irã", afirma Panahi na carta. "Assim como eu, eles não cometeram crime algum e a minha causa não é mais importante que a deles."
Na quinta-feira, os organizadores do Festival de Cannes exibiram um curta-metragem no qual Panahi descrevia o interrogatório policial ao qual foi submetido algum tempo antes de sua última prisão.
No curta de três minutos, Panahi afirma que oficiais de segurança iranianos o interrogaram por três horas com questionamentos ameaçadores.
"Quando saí, afirmaram que eu seria convocado de novo", diz Panahi no vídeo. "Um policial me perguntou: 'por que você fica no Irã?
Por que não vai fazer filmes no exterior?".
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