sábado, 8 de maio de 2010

"O GRANDE GATSBY" NOS DÁ UMA ÓTIMA COMPARAÇÃO ENTRE OS ANOS 20 E OS 70

É engraçado como a vida nos dá surpresas, a maioria das vezes tristes, mas algumas agradáveis.

Não via esse filme desde os anos 70 - época de minha adolescência - e, essa obra, com sua estupenda direção de arte, figurinos e interpretação de um senhor elenco, me marcou profundamente.
Foi com esse filme que criei o hábito de, se gostasse, voltaria ao cinema e o reveria incontáveis vezes.
No caso deste filme específicamente, nem me lembro mais quantas vezes foram, só sei que foram muitas.

E foi uma belíssima surpresa eu dar de cara com esse DVD, esse semana.

Vendo esse filme hoje, com meus olhos cinquentões, tive a percepção de que "O Grande Gatsby" (1974) é o melhor retrato do espírito pessimista da época em que a trama se passa.

O filme dirigido Jack Clayton, baseado no estupendo romance de F. Scott Fitzgerald e com roteiro de Francis Ford Coppola retrata com absoluta fidelidade uma América fervilhante da década de 20, com festas luxuosas regadas a champanhe e jazz.
Mas por trás dessa alegria, sente-se no ar uma certa melancolia e incerteza. No filme, essa impressão serve como um prenúncio da grande crise de 1929, com a "crash" da Bolsa de Nova York.

Paralelamente, aqui no nosso mundinho real do começo da década de 70, vivíamos o início de uma depressão econômica após um período de grandes avanços - principalmente de costumes e tecnológicos.
São épocas diferentes na sua essência, mas vistas por mim agora, parece que estabelecem um diálogo entre si.
E é nesse encontro desses dois períodos primordiais do século passado que fazem com que essa obra mereça ser revisitada com novos olhos.

Vencedor do Oscar de Melhor Trilha Sonora e Melhor Figurino, "O Grande Gatsby" reconstrói com absoluta fidelidade a década de 20, na suntuosa casa de Jay Gatsby (Robert Redford), um homem misterioso e rico que promove festas grandiosas em Long Island, que fica bem ao lado de Nova York.
Aos poucos, o espectador se dá conta que Gatsby procura reconquistar o amor de Daisy Buchanan (Mia Farrow), que trocou Gatsby no passado por um homem rico, coisa que ele na época não era.
No pararelo, temos o suspense sobre a real origem da fortuna de Gatsby, com indícios de que ela vem da manipulação de jogos.

Aqui o dinheiro é o elemento catalisador, é o grande motor para a construção de relações humanas, ao mesmo tempo que também é a causa da infelicidade e incertezas que marcam os protagonistas.
É um mundo cínico, maquiado pela pompa adquirida pelo dinheiro que essa pequena obra prima retrata e critica sutilmente.

Um fator decisivo para que ele se tornasse o grande filme que se tornou é que, produzido em 1974, não olha apenas para a década de 20.
O período pré-crise de 29 também serve como um espelho daquilo que acontecia em meados da década de 70.
Só para lembrar: com a crise do petróleo em 1973, o mundo voltava a viver o fantasma de uma depressão econômica.
Era o ponto final de um período de progressos marcantes, que ficaram conhecidos como a 'Era de Ouro' pós-Segunda Guerra Mundial, e tudo levava a crer que o mundo não foi capaz de se recuperar totalmente da grande crise, e mergulhava novamente em uma grande depressão econômica.

E é esse espírito, desse período de transição e incertezas, que esse filme consegue captar, já que, assim como na mansão de Gatsby, onde as festas suntuosas do início do filme dão lugar a um ambiente sombrio e trágico ao final dele, o mundo respirava um clima de 'fim da festa' capitalista.

Robert Redford, que vinha do sucesso "Butch Cassidy and the Sundance Kid" (1969) - onde contracenou com Paul Newman - está aqui no auge da beleza, e mesmo ainda não sendo o grande ator que viria a ser, compõem sua personagem com garra e dedicação.
É dos anos 70 suas atuações mais marcantes para as telonas.

Mia Farrow está linda de viver, e eu acredito ser esse o seu melhor papel até então.
Melhor que esse, ela só conseguiria em "A Rosa Púrpura do Cairo" (1985), já na sua fase de musa e mulher de Woody Allen.

Um filme que deve ser visto, revisto, e principalmente, comprado.

"O Grande Gatsby" - The Great Gatsby
Diretor: Jack Clayton
Elenco Principal:
Mia Farrow
Robert Redford
Bruce Dern
Karen Black
Scott Wilson
Lois Chiles
Gênero: Romance
Duração: 143 min
Ano: 1974
Colorido
Distribuidora: Paramount Pictures
COTAÇÃO DO KLAU
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