terça-feira, 11 de maio de 2010

JOHNNY DEPP: "TIM BURTON NÃO PRECISA MAIS BRIGAR PRA ME DAR UM PAPEL"


Muita gente considera que Johnny Depp, hoje, é o principal ator de Hollywood.

Com boa aparência e incontestável talento, o astro de 46 anos é garantia de bilheterias, independente do papel que estiver interpretando, já que a versatilidade virou sua marca.

Começou sua carreira na TV - no seriado "Anjos da Lei", mas começou a ficar conhecido nas telonas em filmes de baixo orçamento, como “Gilbert Grape – Aprendiz de Sonhador” e “Cry-Baby”.

Mas foi no seu primeiro trabalho com o diretor Tim Burton - “Edward Mãos-de-Tesoura” (1990) - que ele finalmente foi catapultado à fama.
Ao interpretar o papel título, ele deixou claro que era mais do que um dos rostos mais bonitos de então, embora o sucesso de bilheteria, os paparazzi e seus relacionamentos com mulheres famosas - a lista é grande, mas eu lembro de Jennifer Grey, Winona Ryder e Kate Moss - tenham feito com que virasse uma celebridade instantânea..

Apesar da atenção que recebeu, Depp teve coragem suficiente de direcionar a sua carreira para outro rumo, se concentrando na carreira de ator, e não na fama.

Ao trocar sucessos certos de bilheteria por personagens densos, e que exigem um trabalho meticuloso de interpretação, ele atuou em uma grande variedade de filmes - “A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça”(1999), “Chocolate”(2000), “Em Busca da Terra do Nunca” (2004) e “O Libertino”(2004).

Não tardaria para que o pirata Jack Sparrow aparecesse na sua vida.
Graças ao personagem de "Piratas do Caribe - A Maldição do Pérola Negra" (2003), e suas continuações, Deep admite que ficou mais atrativo para os estúdios, que até então relutavam em lhe dar papéis em superproduções.

Pessoalmente um homem tímido, Depp criou a lenda de que detesta ver a si mesmo nas telonas.

Abriu uma exceção para seu mais recente papel, o o Chapeleiro Maluco em “Alice no País das Maravilhas” –seu sétimo trabalho com Tim Burton – e ficou muito feliz com as reações positivas de seus próprios filhos, que adoraram sua interpretação maluca e sombria do personagem icône das crianças.

Em entrevista ao UOL CINEMA - leia abaixo - o ator contou como escapa da pressão da fama, seus papéis em filmes de Burton, e como deixou sua marca no Chapeleiro Maluco - onde chegou a pesquisar a cola usada na confecção de chapéus, e descobrir que ela tinha um alto índice de mercúrio, o que causava transtornos de personalidade nos profissionais, daí a loucura dos chapeleiros inspiradores do autor do livro Lewis Carroll.

Foto: AFP
Johnny Depp acena para o público, na premiére de "Alice" em Tóquio


UOL Cinema - Qual é o segredo do seu sucesso?

Depp - Acaso. Apenas sorte, sério.
Eu tive muita sorte ao longo dos anos, é um milagre as pessoas ainda me contratarem após algumas das coisas que fiz.
Não há como prever.
Antes de “Piratas do Caribe”, eu fui rotulado de “veneno de bilheteria”, algo que não me incomodava.
E então “Piratas” aconteceu e agora Tim (Burton) não precisa mais brigar com os estúdios para me dar um papel, o que aconteceu durante muitos anos.

UOL Cinema - Como você lida com a fama e toda a adoração pública?

Depp -Você nunca se acostuma a esse tipo de coisa.
Esse é o motivo para eu não sair de casa com frequência.
Eu não vou a lugar nenhum.
Eu entendo do que se trata a celebridade e a fama, e as aprecio, mas há um limite para esse tipo de coisa com a qual uma pessoa consegue lidar.
Se a escolha é entre ser constantemente bajulado ou ficar sentado em um quarto escuro, eu prefiro o quarto escuro.

UOL Cinema - “Alice no País das Maravilhas” tem muitos personagens estranhos e maravilhosos. Eles te influenciaram quando você estava filmando?

Depp - Eu tive sonhos horrendos, mas sempre tive a tendência de ter sonhos sombrios. Eu não me lembro especificamente de nenhum dos que me atormentaram durante a filmagem, mas não acho que tenha tido algo a ver com a filmagem, foi algo isolado. Certa vez eu tive um em que o capitão da série de TV “A Ilha dos Birutas” me perseguia pelas ruas de Hollywood.

UOL Cinema - Você não gosta de assistir aos seus filmes, mas você assistiu “Alice no País das Maravilhas”...

Depp - Se eu puder evitar o espelho diante do qual escovo meus dentes pela manhã, eu evito.
Eu encontro segurança no grau mais profundo de ignorância.
Se você puder permanecer ignorante a respeito de quase tudo, você ficará bem.
Apenas continue seguindo em frente. É ok notar as coisas, mas julgar as coisas retardará você, então não gosto de ver a mim mesmo nos filmes.
Eu não gosto de estar ciente do produto, eu gosto é do processo, não é minha culpa. Não fui eu que fiz.
Eu estava lá, mas não fiz.
Eu não suporto assistir meus filmes.
Eu prefiro partir com a experiência do processo e apenas com isso, o que me basta. Mas este aqui eu assisti porque é o Tim no seu máximo.
Ele realmente foi longe neste aqui.

UOL Cinema - Seus filhos viram o filme?

Depp - Eles viram e adoraram.
Eles ficaram malucos com ele, citando coisas do filme.
Foi incrível.
Eles amaram e não ficaram nem um pouco assustados.

UOL Cinema - “Alice no País das Maravilhas” é seu sétimo filme com Tim Burton.
Como seu relacionamento com ele mudou ao longo dos anos?

Depp - Nós nos conhecemos há 20 anos, em “Edward Mãos-de-Tesoura”, e o fato dele ter me escalado naquele filme foi um milagre.
Assim que você conhece alguém por tanto tempo, você se torna íntimo, mas em termos do processo e do trabalho, não mudou nada desde aquela época, exceto por um tipo de abreviação.
Tim mexe a cabeça ou entorta os olhos de uma certa forma e eu já sei o que ele deseja.
Mas uma coisa evoluiu entre nós, não há como deixar de falar... quando homens adultos começam a trocar fraldas e coisas assim, e conversam a respeito.
Ter filhos, esse tipo de coisa.
Uma das coisas que mais me orgulho foi de ter sido a primeira pessoa a dar ao Tim uma caixa completa de DVDs de “The Wiggles” (uma série de TV musical infantil australiana).
Ele ainda não me perdoou por isso.

UOL Cinema - Quanto você opinou sobre sua interpretação do Chapeleiro Maluco?

Depp - Eu sentia fortemente como deveria ser sua aparência, como seria seu comportamento, que ele não deveria apenas promover um baile em um salão e apenas fazer loucuras para obter risadas.
Eu senti que devia haver outro lado dele, algum grau de dano ou trauma.

UOL Cinema - Ele tem uma aparência singular. Qual foi seu toque pessoal no visual do personagem?

Depp - Em termos de aparência do personagem, parte do material inicial veio diretamente do livro, como esses pequenos detalhes estranhos e enigmáticos que o autor, Lewis Carroll, deixou lá.
Ele diz coisas como, “Eu estou investigando coisas que começam com a letra M”, que eu considero muito intrigante porque nunca há uma resposta, mas tem a ver com mercúrio.
Eu comecei a pesquisar sobre chapeleiros e havia essa coisa chamada doença do chapeleiro –a substância que usavam para colar os chapéus continha muito mercúrio e eles acabavam se envenenando, e a doença se manifestava de formas diferentes, como desordens de personalidade ou coisas ainda mais estranhas e sombrias.
O produto de fato tinha uma coloração alaranjada, que é o motivo dos detalhes laranjas.
Minha abordagem ao personagem foi apenas a ideia de encontrar esses lugares interiormente, passar para os extremos da personalidade, de forma que, em um minuto você está em fúria plena, no minuto seguinte você mergulha em medo e em seguida ao auge da frivolidade, que foi o que tentei fazer nas cenas sempre que encontrava o momento certo.

UOL Cinema - Quem é seu louco favorito?

Depp - Tim, porque ele me arruma trabalho.
De certo modo ele é maluco, mas é uma loucura que funciona para ele.
Correndo o risco de embaraçá-lo, eu sempre admirei o Tim por seu compromisso com sua visão e com a impossibilidade do compromisso, por fazer exatamente o que queria, da forma que queria, em seu estilo único.
No meu entender, ele é um dos poucos artistas verdadeiros trabalhando no cinema.

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