quinta-feira, 6 de maio de 2010

"ROBIN HOOD", DE RIDLEY SCOTT NÃO É A MELHOR VERSÃO DO HERÓI

É a tal história: todos querem contar a sua versão de uma trama já testada e aprovada nas telonas. Só que a maioria - e pode ser um ótimo roteirista ou um diretor acima da média - cai do cavalo.

Quem for ver o "Robin Hood" - versão do diretor Ridley Scott - que estréia por aqui, esperando torneios de arco e flecha, emboscadas na mítica Floresta de Sherwood, combates de cajado homem a homem, lutas épicas de espada e proezas em candelabros – ou seja, tudo o que já foi mostrado pelos quinze filmes e quatro séries de TV que vieram antes – sairá do cinema muito, mas muito desapontado.

Foto: Divulgação Universal Pictures
Cate Blanchett e Russell Crowe ouvem orientações de Ridley Scott antes de rodar uma cena

E, se você pensar nessa versão - estrelada por Russell Crowe - como uma espécie de "Gladiador" da Idade Média também não vai gostar, mesmo.

VEJA O TRAILER DO FILME:
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Desta vez temos como chamariz uma grande cena de batalha logo no começo, filmada em diversos ângulos, com muitas câmeras-na-mão - e que retrata a tomada de um castelo francês por Ricardo Coração de Leão e suas tropas -, uma batalha na terceira parte, com sangue jorrando de montão - as tropas inglesas rechaçando os invasores franceses sob o comando do Rei Felipe Augusto - e como nas versões anteriores, um monarca ambicioso e fraco - o Príncipe João Sem Nome, aqui interpretado por Oscar Isaac -, e vários cortesãos que se dedicam com prazer à arte da intriga, divididos em múltiplos campos, interesses e lealdades (Mark Strong, William Hurt e Max Von Sydow, entre outros).

Mas as semelhanças acabam aí.
O que "Gladiador" tinha de forte, a estupenda linha narrativa do argumento original de David Franzoni - inspirada no livro "Those Who Are About to Die", de Daniel Mannix - , foi perdido nessa versão do salteador inglês, num roteiro tipo "frankestein", resultado do processo de criatividade-por-comitê tão comum em projetos desenvolvidos internamente pelos grandes estúdios.

No escurinho do cinema, tive que apelar para toda a minha paciência e ficar duas horas e vinte minutos do que parece o mais longo primeiro ato da história do cinema, onde várias histórias nunca chegam a deslanchar, nem como um painel da época - o conturbado meio do século 13 na Europa -, nem como perfil do herói - aqui, um arqueiro de aluguel nas tropas de Ricardo Coração de Leão-.

E olha que eu botava a maior fé nesse projeto!
Afinal, a premissa básica do roteiro original deste "Robin Hood" era ousada: Ethan Reif e Cyrus Voris - responsáveis pelos ótimos roteiros de "Kung Fu Panda", "O Monge à Prova de Balas", e a série de TV "Sleeper Cell" - quiseram ver o mito de Robin Hood pelo avesso, fazendo do Xerife de Nottingham o herói e de Robin o vilão – simpático, mas vilão.

A mitologia da personagem, que inspirou desde as primeiras baladas sobre o herói ainda no século 14, até os romances vitorianos que deram os contornos finais à lenda, era o mais do mesmo: os choques entre os donos de terra e o rei que levaram, na Inglaterra do século 13, à elaboração da Magna Carta, a primeira “constituição” da história ocidental.

Foi aí que o angú desandou: muitas revisões, re-escritas e roteiristas depois - onde Brian Helgeland ficou com o crédito final, sendo que pelo menos três outros roteiristas trabalharam no texto - , "Robin Hood" transformou-se na história de um arqueiro em busca do que fazer, temporariamente encarregado por um barão empobrecido (Max Von Sydow) de se tornar o marido-substituto de Lady Marion Loxley (Cate Blanchett), enquanto ao fundo intrigas de todo tipo ameaçam o trono do Príncipe João e a liberdade das ilhas britânicas.

A premissa básica para explicar o mito de Robin Hood teria funcionado se o filme nos mergulhasse na trama, deixando-nos emocionalmente comprometidos na jornada do protagonista ou nos dilemas da sua época.
Isso não acontece, em momento algum.

Apesar da dieta e da malhação, Crowe, 45 anos, não tem o "sex appeal" necessário para ser o carismático líder dos oprimidos que a história pede.

E só pra lembrar: Sean Connery também tinha 45 anos, quando interpretou um inesquecível Robin Hood, madurão e aposentado, no maravilhoso "Robin and Marian" (1976 ), de Richard Lester, para mim, o melhor filme sobre o herói já feito até hoje - o segundo da minha lista é "As aventuras de Robin Hood" (1938), onde Errol Flynn interpretou o herói.

Um excelente grupo de atores - dói na alma ver o magnífico William Hurt subutilizado, as belas locações no País de Gales e na Inglaterra, e grandes cenas de batalha. Mas nada é o bastante para sustentar o que poderia ser um belo épico.

De minha parte, só tenho de concordar quando Crowe disse em uma entrevista a um canal de TV francês que acha a versão com Kevin Costner, de 1991, parecido com "um vídeo do Bon Jovi". É, disparada, a versão pior do herói.

Se eu fôsse você, pegaria a grana do ingresso e da pipoca e compraria os DVDs das versões com Connery e Flynn.

É lucro certo.

ROBIN HOOD
EUA/INGLATERRA
DIREÇÃO: Ridley Scott
Duração: 2 horas,20 minutos
ELENCO PRINCIPAL:
Russell Crowe - Robin Longstride
Cate Blanchett - Marion Loxley
Max von Sydow - Sir Walter Loxley
William Hurt - William Marshal
Mark Strong - Godfrey
Oscar Isaac - Principe John
Danny Huston - Rei Ricardo Coração de Leão
Mark Addy - Frei Tuck
Matthew Macfadyen - Xerife de Nottingham
Kevin Durand - Little John
COTAÇÃO DO KLAU:

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