Em uma das cenas mais perturbadoras de "Antiviral", um sujeito começa a ver tubos saindo de seus braços, e sua boca se transforma num duto purificador de sangue.
Sim, parece um filme de Cronenberg. E de fato é. Mas não do responsável por clássicos como "Crash" (1996) e "A Mosca" (1986).
"Antiviral" marca a estreia de Brandon Cronenberg, 32, filho de David, 69, como diretor de cinema e foi um dos longas mais comentados da principal mostra paralela do Festival de Cannes, a Um Certo Olhar.
Curiosamente, Cronenberg pai também está no balneário francês: seu "Cosmópolis" era um dos mais esperados da seção competitiva principal, cujos vencedores serão conhecidos hoje.
A participação de David na empreitada de Brandon foi tímida.
"Ele não me deu conselhos porque estava ocupado com as filmagens de 'Um Método Perigoso' [2011]", diz o filho.
AFP
Brandon Cronenberg e a protagonista de "Antiviral", Sarah Gadon, em Cannes 2012
Mas é impossível negar a influência paterna em "Antiviral", filme com um mote interessante: o culto às celebridades chegou a tal ponto que as pessoas compram vírus de doenças contraídas por famosos e até comem carnes derivadas de células deles.
"Tive essa ideia quando fiquei doente em 2004 e pensei que havia algo no meu corpo que era de outra pessoa", explica Brandon.
"Acho que é uma metáfora interessante. Veja só: Sarah Michelle Gellar [de 'Buffy'] disse num 'talk show' que estava gripada e que passaria a doença para todos. Alguém da plateia gritou de alegria."
O Cronenberg menos famoso não se incomoda com as comparações, mas prefere não levar isso para o set.
"Quando fui fazer cinema, decidi ignorar a carreira do meu pai", diz.
"Somos dois 'geeks'. Há uma sensibilidade parecida e dividimos os genes, mas não somos um só."
Confira um clipe de "Antiviral":
John Boorman, 79, e sua filha Katrine, 54, também não são a mesma pessoa.
Pelo contrário, eram distantes até a atriz resolver filmar um documentário sobre o pai, diretor de "Amargo Pesadelo" (1972).
"Foi melhor do que terapia", conta a diretora de "Me and Me Dad", apresentado na ala Cannes Classics.
Guardian.com.UK
Katrine Boorman, diretora de "Me and Me Dad", posa no tapete vermelho com seu pai, o também cineasta John Boorman |
"Vou me esconder no banheiro", brincou John, antes da exibição.
"Não é uma sensação boa se ver do outro lado da tela dessa forma."
Boorman pai é simpático, mas amargo.
Não filma há seis anos porque tem um projeto pequeno, mas que precisa de US$ 20 milhões (R$ 41,6 mi):
"O cinema arruinou minha vida. Me sentia como em uma prisão. Ser cineasta é dolorido. O problema é que eu gosto da dor".
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Com Rodrigo Salem, da Folha de S.Paulo em Cannes
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