quinta-feira, 17 de maio de 2012

FESTIVAL DE CANNES: CONFIRA MAIS FILMES DA QUINTA


Nesta quinta, um filme latino-americano teve mais de três minutos de aplauso ao final da sessão na mostra paralela Quinzena dos Realizadores, no festival de Cannes.

É o chileno “No”, estrelado pelo mexicano Gael García Bernal e que revisita um dos mais importantes episódios da história recente do Chile: em 1988, então há 15 anos no poder, o ditador Augusto Pinochet foi obrigado, por pressão internacional, a promover um referendo para saber se o povo ainda o queria como presidente.
Divulgação
Gael García Bernal, em cena de "No"

Gael interpreta René Saavedra, o publicitário que promoveu a campanha do “Não” a Pinochet, que saiu vencedora e deu início à redemocratização do país.

O filme mostra como a campanha da oposição teve que deixar de ser “pesada”, cheia de imagens sobre as torturas do regime de Pinochet, para abraçar a linguagem da publicidade que tomava conta da TV já naquela época - criou-se assim uma campanha “positiva”, cheia de humor e imagens leves.

“Meu trabalho foi fazer uma espécie de download de informações sobre a época, para entender o contexto e entrar no ritmo, nas microesferas da vida chilena”, comentou Gael García Bernal, que desde o brasileiro “O Passado” (2007) não encontrava um papel tão bom.

“Eu era criança nos anos 80. O filme retrata esse imaginário sujo que eu e outras pessoas ainda têm dessa época, uma memória cheia de dor”, explicou o diretor Pablo Larraín – que já havia dirigido os excelentes “Tony Manero” e “Post Mortem”.

*****
Palma de Ouro em 2010 por “Tio Boonmee que pode recordar suas vidas passadas”, o tailandês Apichatpong Weerasethakul apresentou nesta quinta, fora de competição, seu novo filme, “Mekong Hotel”.

Foi difícil conter a decepção com o novo trabalho – apesar de ter apenas uma hora de duração, alguns espectadores saíram antes do filme terminar.

Depois do choque de criatividade de “Tio Boonmee...”, o tailandês mostrou uma obra com cenas mal iluminadas que mais parece um filme de estudante, ou um ensaio para um outro filme melhor.

“Mekong Hotel” é todo passado no hotel do título, que fica à beira do rio Mekong, fronteira natural entre a Tailândia e o Laos, onde uma moça conhece um rapaz e eles se apaixonam.

Ela vive o tempo todo no quarto com a mãe e Apichatpong insere aqueles elementos surreais que marcaram sua obra e que dão ao filme um certo encanto: a mãe é uma espécie de vampira, diz que vive há 600 anos naquele quarto, e numa cena aparece comendo as tripas da filha.
Divulgação
Cena de "Mekong Hotel"

Mas o resultado fica mesmo próximo do rascunho e do filme caseiro, tudo embalado por uma melodia chorosa de violão que toca do começo ao fim do filme, sem interrupção.

O diretor afirma que a música mimetiza o curso ininterrupto do rio, mas o que consegue mesmo é causar um tédio mortal.

*****
Ainda na quinta, a competição do festival apresentou seu pior filme até agora: o austríaco “Paradies: Liebe” (Paraíso: Amor), de Ulrich Seidl, cuja trama acompanha Teresa, uma senhora austríaca de meia-idade que, seguindo o conselho de uma amiga, embarca numa viagem de turismo sexual para o Quênia, na África.

Carente, Teresa se envolve com um nativo e se apaixona, para logo perceber que ele só quer o seu dinheiro.
Divulgação
Cena de “Paradies: Liebe”

Não contente com o erro, envolve-se ainda com um segundo, que só quer a mesma coisa.

Jogando na chave do humor negro, o filme é repleto de cenas de sexo constrangedoras – na principal, quatro amigas contratam um adolescente para “dar de presente” a Teresa no seu aniversário, e começam um jogo para saber quem consegue excitá-lo primeiro.

Seidl aborda o tema sem piedade, exibindo mulheres acima do peso, com os seios caídos, em busca de belos jovens como objetos sexuais, mas o cineasta evita um olhar moralista e não julga as personagens.

"O que me interessa é retratar a realidade. No Ocidente, ninguém olha para as mulheres de mais de 50 anos. É muito difícil para elas ter uma vida sexual. Assim a África é para elas um presente", disse o diretor austríaco.

"E para os jovens da praia, é uma maneira de sobreviver. Para eles, a maior conquista é ter uma relação de longo prazo com uma mulher branca, porque isto representa um emprego a longo prazo", concluiu na entrevista coletiva.

Confira o trailer de "Paradies:Liebe":

*****
Com Tiago Stivaletti, do UOL

Nenhum comentário:

Postar um comentário