Nesta segunda, o Festival de Cannes estendeu seu tapete vermelho a um grande mestre do cinema francês.
Cinquenta e três anos depois de “Hiroshima Mon Amour” - clássico dos tempos da nouvelle vague - o mestre Alain Resnais, prestes a completar 90 anos, entrou na competição à Palma com seu 49º filme, “Vous n’avez encore rien vu/Você ainda não viu nada".
No novo filme, Resnais reúne a nata dos atores franceses de cinema e teatro - Michel Piccoli, Sabine Azéma, Mathieu Amalric e outros - para uma reencenação da peça “Eurídice”, do francês Jean Anouilh.
Um agente anuncia aos atores - que no filme mantêm seus próprios nomes - e na morte de um querido diretor de teatro, Antoine d’Anthac - em comum, todos eles encenaram “Eurídice” com d’Anthac em diferentes épocas.
Os atores se reúnem na mansão do diretor morto para assistir a um vídeo-testamento em que uma nova montagem da peça é feita com uma companhia jovem, de atores na casa dos 20 anos - um testamento que também poderia ser do próprio diretor.
Começa então um fascinante jogo de troca entre os atores do vídeo e da mansão, em que Orfeu e Eurídice são vividos por dois ou três atores diferentes.
Os grandes temas de Resnais, como a morte e a memória, se amplificam mais uma vez.
“A morte é sempre doce; as feridas e as dores são sempre da própria vida”, diz um dos personagens.
“Quer dizer que todos os momentos ruins vividos, todas as lembranças más, impregnam-se em nossa memória para sempre?”, indaga uma das Eurídices.
AFP Photo
Alain Resnais - centro - e o elenco do seu longa, hoje pela manhã em Cannes
Depois de tantas obras-primas sobre a morte e a memória, o repórter Thiago Stivaletti , do UOL, quis saber de Resnais o que significam para ele hoje esses temas.
“Essa é a grande questão. Desde que nascemos, estamos condenados, sabendo que a morte nos espera em algum momento. Eu gostaria de ter a inteligência de um professor da Sorbonne para responder a isso, mas só posso devolver a questão”, respondeu, com seus habituais olhos escuros.
Tudo bem - nenhum professor da Sorbonne responde a essas questões como seus filmes fazem.
O título enigmático do filme - “Você ainda não viu nada” - surgiu quase como uma brincadeira.
“Ele se enfiou entre a gente na sala de montagem. Dissemos isso brincando, e de repente começou a aparecer nas etiquetas das latas do filme”, contou.
“No fim, coube perfeitamente. Nós humanos não conseguimos ver o raio ultravioleta, o infravermelho... Não vemos tanta coisa, e ainda assim fazemos os nossos julgamentos”, filosofou.
Uma curiosidade: a enigmática trilha sonora do filme é de Mark Snow, americano responsável pela famosa trilha da cult série “Arquivo X” – Resnais é um grande fã de Scully e Mulder.
Confira o trailer de “Vous n’avez encore rien vu":
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