sexta-feira, 2 de abril de 2010

"OS FAMOSOS E OS DUENDES DA MORTE": ESTRÉIA DE ESMIR FILHO COMO DIRETOR DE LONGA METRAGEM

Em "Os Famosos e os Duendes da Morte", o premiado diretor de curtas Esmir Filho estreia na direção de longas mergulhando numa adolescência bastante típica - mas muito particular -de um grupo de personagens, moradores de uma pequena comunidade rural no sul do Brasil.

O protagonista do filme - que estreia hoje em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre - não tem nome e é interpretado pelo estreante Henrique Larré, um garoto tão alienado que seu mundinho se resume a quase nenhum amigo e à tela de um computador. Como praticamente toda a sua geração, sua janela para o mundo é formada por pixels e bites - sob o pseudônimo Mr. Tambourine Man.

Foto: Divulgação
O diretor Esmir Filho (à dir.) orienta atores em cena de "Os Famosos e os Duendes da Morte" (2009)

O jovem parece ter saído de outra época: seu cantor preferido é Bob Dylan - a canção "Mr. Tambourine Man" é importante para o filme - e a melancolia é o sentimento que o domina.
Na sua cidadezinha, de colonização alemã, algo bastante estranho também acontece: há um alto número de suicídios, talvez por causa do isolamento do local, talvez por conta de depressões e angústias, pulando de uma ponte.

Fantasmas, reais e imaginários, realistas e metafóricos, perseguem o protagonista. As memórias das pessoas que se foram, especialmente a irmã de um amigo, o consomem. A possibilidade de estourar a bolha nada confortável onde ele vive aparece quando Bob Dylan - sim, "a voz de uma geração", "o poeta do folk" em pessoa - dará um show em São Paulo. Uma pessoa , a bites de distância do protagonista, o encoraja: "Vá embora desse lugar. Vá atrás de seu sonho".

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Nessa jornada de descoberta interior, um personagem periférico vai aos poucos tomando o centro - Julian, interpretado por Ismael Caneppele, autor do livro em que o filme é baseado, e corroteirista, ao lado do diretor - o ex-namorado da irmã do melhor amigo do protagonista, Diego (Samuel Reginatto). A garota (Tuanne Eggers) é vista em imagens de webcam e vídeos.

"Os Famosos e os Duendes da Morte" é, na sua essência, um filme sobre a busca nos próprios sonhos, sobre o rompimento de laços, da própria alienação para descobrir e conquistar o mundo ou ser engolido por ele.
Primeiramente, o personagem central tenta isso via computador, onde tudo é mais cômodo, mais fácil, menos doloroso, mas também, menos prazeroso.
Romper com a bolha, cortar o cordão umbilical, são processos lentos que respeitam a velocidade de cada um.

No filme, que foi o grande vencedor do Festival do Rio no ano passado, o diretor - entre outros de "Saliva", "Alguma Coisa Assim", além do megassucesso da Internet "Tapa na Pantera" - passa boa parte do tempo estabelecendo um clima, delineando personagens e retratando suas angústias.

O longa é repleto de belas imagens, feitas por Mauro Pinheiro Jr., de "Linha de Passe".
Os simbolismos do filme também são exagerados, carregados, e uma bruma define o tom de isolamento e melancolia - os personagens parecem sair do nada quando andam pelas ruas, e as casas parecem não existir, engolidas pela névoa.

Em vários momentos, o filme lembra as obras do cineasta americano Gus Van Sant, principalmente "Paranoid Park".
"Os Famosos e os Duendes da Morte", como um adolescente, parece levar-se a sério demais, sem levar tanto em conta que existe um mundo (e um cinema) antes dele.
Se este é um retrato da juventude, é um retrato muito bem delineado, bem específico, no lugar e no tempo.

Cotação do Klau

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