sexta-feira, 9 de abril de 2010

ESSAS COMÉDIAS FRANCESAS SÃO PRA RIR?

Aqui no Brasil, cinema francês é sempre rotulado como cinema "de arte", já que o cinema de autor é o que mais chega nas nossas telonas, e é o que mantém a França nos principais festivais do mundo.

Mas são filmes como "A Riviera Não É Aqui" e "Nos Tempos da Disco" que fazem as bilheterias da França cantarem mais.

Além do imenso sucesso por lá, os dois filmes têm em comum uma marcação das cenas igual às telenovelas, e um roteiro raso,a partir de protagonistas apresentados de forma a tirar da inadequação social sua graça.

Assim, "A Riviera Não É Aqui" pode ser tranquilamente comparada ao nosso "Se Eu Fosse Você 2":
teve 20 milhões de espectadores, e foi fundamental para que, em 2008, o cinema francês conquistasse 45,7% do seu próprio mercado.

A diferença, em relação ao Brasil, é que outros filmes franceses também tiveram ótima bilheteria.
Só neste ano, cinco filmes franceses tiveram mais de 2 milhões de espectadores - "Astérix nos Jogos Olímpicos" e "Nos Tempos da Disco" entre eles.

Mas parece que o que o público francês gosta, o público brasileiro ignora: aqui, "Astérix" não chegou nem aos 40 mil espectadores.

Exceções por aqui, "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain", de Jean-Pierre Jeunet, e "A Marcha dos Pinguins", de Luc Jacquet, foram sucesso nas nossas telonas e também no mundo todo.

Os campeões de 2009 na terra de Sarkozy, como a comédia "Le Petit Nicolas", e a animação "Artur e a Vingança de Maltazar", ainda são inéditos no Brasil.
E a razão parece ser as duas comédias que estreiam hoje.

Como "Se Eu Fosse Você" e "A Mulher Invisível", as comédias francesas baseiam-se em costumes locais, tão inerentes aos franceses que, no lugar de gargalhadas, arrancam dos brasileiros um sorriso tímido - às vezes, amarelo.

"A Riviera Não É Aqui" tem um elenco muito bom, e conta a história de Philippe Abrams
(Kad Merad, de "Paris 36"), o diretor de uma agência dos correios em Salon-de-Provence, sul da França.

Foto: Divulgação

Cena do filme

Vítima da sinceridade brutal e desconcertante de sua mulher, Julie (Zoé Félix), que o trata a pontapés, ele traça um plano para ser transferido a uma sede na Côte D'Azur(a Riviera Francesa), onde ela poderia, quem sabe, ser mais feliz e amigável.
Mas nada dá certo na vida de Philippe, que, como punição pelo subterfúgio usado para ganhar a promoção, acaba sendo enviado para dirigir uma agência em Bergues, em Nord- Pas-de-Calais, extremo norte do país.
Sentindo-se castigado pelo chefe e hostilizado pela esposa, ele parte sozinho para a região que, aos seus olhos, é fria, chuvosa e povoada por provincianos beberrões e ignorantes.
Para sua surpresa, ele encontra à sua espera uma recepção calorosa por parte dos "cheutimi", como se designam as pessoas, dialeto e costumes de uma pitoresca população local.
O que lhe cria um outro dilema: por mais que se divirta em seu novo emprego, ele não acha um jeito de confessá-lo a sua mulher, que passa a admirá-lo por se "sacrificar" pela família em um lugar tão inóspito.
E isso é uma comédia?

A RIVIERA NÃO É AQUI
Direção: Dany Boon
Produção: França, 2008
Com: Kad Merad, Dany Boon e Zoé Félix
Onde: Cine Bombril, Frei Caneca Unibanco Arteplex e circuito
Classificação: 12 anos
Cotação do Klau:


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"Nos Tempos da Disco" traz os ícones Gérard Depardieu e Emmanuelle Béart, e conta a história de Didier Graindorge (Franck Dusbosc) - o Didier Travolta - um quarentão que vive com a mãe e, para participar de um concurso de dança e tentar ganhar duas passagens para a Austrália, resolve recompor o grupo Bee Kings.

Vista por mais de um milhão de espectadores na França em 2008, a comédia explora a paixão pela discoteca dos anos 1970.

Foto: Divulgação

Cena do filme

Depardieu interpreta Jackson, dono da boite Gin Fizz, na cidade portuária de Le Havre, na Normandia. Disposto a ressuscitar a febre pela dança "disco", ele cria um concurso para cantores e grupos, cujo prêmio principal é uma viagem para a Austrália.

Desempregado e sonhador crônico que já viveu seus melhores dias justamente como integrante de um trio, os Bee Kings -homenagem aos Bee Gees -, Didier Grandorge vê no concurso a grande chance de uma volta por cima. A viagem do prêmio, aliás, viria em boa hora. Ele tem um filho de 8 anos com uma inglesa, Brian, e não pode ver o filho nas férias, a não ser que arrume uma programação decente para os dois. Caso contrário, a mãe não deixa o menino ir.

Didier parte, então, para convencer seus dois parceiros no velho trio a voltarem ao palco. Não está nada fácil. A mulher de um deles, Neneuil (Abbas Zhamani), não quer nem ouvir falar do passado musical dele, agora que ele está tentando obter sua promoção como gerente numa loja de eletrodomésticos.
O outro, Walter (Samuel Le Bihan), trabalhador do porto local, está no meio de uma greve.

Enquanto o impasse não se resolve, Didier recorre a uma professora de dança, France (Emmanuelle Béart, de "8 Mulheres"), para desenferrujar os músculos.
Dançarina de balé clássico, ela não parece ter muito em comum com o estilo do discotequeiro.
Ainda assim, ela topa treiná-lo.

O filme tem potencial para agradar aos grandes fãs da discoteca, que são homenageados nas várias sequências musicais do concurso.
A música do filme - a melhor coisa nele - é assinada pelo veterano compositor Michel Legrand.

NOS TEMPOS DA DISCO
Direção: Fabien Onteniente
Produção: França, 2008
Com: Franck Dubosc, Emmanuelle Béart e Gerard Depardieu
Onde: Belas Artes
Classificação: 12 anos
Cotação do Klau:


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Depois de ver essas duas "comédias", é que eu finalmente consegui entender porque, em 2008, um grupo de cineastas franceses entregou ao ministro da Cultura, um manifesto que apontava a "concentração e a banalização" do cinema local.

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