quinta-feira, 29 de abril de 2010

FINALMENTE, GOVERNO LANÇA CAMPANHA DE SAÚDE ESPECÍFICA PARA TRAVESTIS

Para turbinar seu corpo, opte pelas próteses de silicone de clínicas autorizadas. Elas são a forma mais segura de te deixar linda. A injeção de silicone industrial líquido é perigosa."

A recomendação acima está impressa em um cartaz, que faz parte da campanha de promoção da saúde e dos direitos humanos de travestis lançada ontem pelo governo federal.

Organizada pelo Ministério da Saúde e pela Secretaria de Direitos Humanos, a ação terá dois slogans: "Sou travesti. Tenho direito de ser quem sou" e "Veja além do preconceito".

Produzidos por travestis, os folders e cartazes tratam principalmente de respeito e sexo seguro:
"Pode achar diferente, pode até discriminar, mas não esqueça também de sempre me respeitar", diz um deles. "Oi, mona, tem camisinha na bolsa?", diz outro.

No site do Departamento de DST e Aids: www.aids.gov.br/travestis , é possível baixar toques de celular com o tema.

No lançamento da campanha, o ministro José Gomes Temporão (Saúde) - e para mim um dos melhores do governo do Luiz Inácio - afirmou que um dos públicos que precisam ser sensibilizados é o dos funcionários de serviços da saúde: "Temos que fazer um trabalho de conscientização com esses profissionais para que eles percebam que essas pessoas [travestis] têm problemas específicos e necessitam de um acolhimento especial."

Para as escolas, a campanha recomenda que os alunos travestis sejam chamados pelo nome social - o nome feminino - e que possam utilizar o banheiro feminino.

Em 2009, em outro gesto de aproximação com a população LGBTT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transsexuais), Temporão e o presidente Lula anunciaram que a realização de cirurgias de troca de sexo passariam a ser pagas pelo SUS (Sistema Único de Saúde).

De acordo com o Conselho Federal de Medicina, é preciso ter pelo menos 21 anos para fazer o procedimento.

Finalmente, nossas autoridades enxergam um dos grupos mais discriminados pela sociedade nesse país.

Eu mesmo, quando jovem - e eu não tenho nenhum problema de confessar isso - equiparava travestis a seres de outro planeta, em parte porquê elas são muito diferentes mesmo, em parte pelo filme "The Rocky Horror Picture Show", de 1975, uma comédia musical de horror, dirigida por Jim Sharman a partir da peça de autoria dele mesmo e de Richard O'Brien, que compôs as canções.

Nesse musical, o ótimo ator Tim Curry interpretava o Dr.Frank-N-Furter, cientista louco, travesti e bissexual, que pretende criar um homem em seu laboratório para satisfazer seus desejos sexuais.
E eu - cabeça de passarinho à época - generalizei, e pensei que toda travesti era a personagem do Tim Curry!

Até que em 1977, aos dezessete anos, eu tive a honra de conhecer a travesti proprietária da Boate Nostro Mondo - que existe até hoje, e é a casa gay mais antiga das américas ainda na ativa.

Condessa Mônica era uma transex talentosa - no palco não tinha pra ninguém - tinha uma história de vida fantástica - foi promotor do ministério público paulista, antes de ser mulher - e foi uma das pessoas mais inteligentes e carinhosas que eu conheci, até hoje.

Eu era um dos clientes da boate mais jovens, e ela sempre procurava, em nossas longas conversas no escritório ou nos camarins, me conscientizar de tudo aquilo que eu viria a vivenciar ou enfrentar. Frequentava também a sua casa, muito perto da boate, onde os cafés da manhã eram sempre muito legais.
Uma das cenas que mais lembro é eu, andando pela rua Barão de Itapetininga - centro de Sampa - com minha mãe, quando cruzamos com a Mônica, que nos cumprimentou e ainda disse à minha mãe que eu era muito bem educado. Minha mãe ficou encantada em saber que ela era a dona da boate onde eu sempre ia, achou a Mônica uma mulher fina e elegante. Só depois de muito tempo é que eu contei à minha mãe que Mônica era transex. Pasma, nunca mais falou qualquer coisa preconceituosa a respeito da vida em que eu vivia.

Mônica morreu muito cedo, mas me deixou um legado de respeito a toda e qualquer variação gay, suas diversidades e suas limitações, o que juntei aos ensinamentos de meu pai Rubens - que tinha horror a toda discriminação, principalmente a racial -.

E tudo isso deu em mim, um ser incansável, sempre à procura da verdade, da equalidade, do respeito e da justiça.

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