quinta-feira, 29 de abril de 2010

APÓS VITÓRIA, CASAL QUER ADOTAR MAIS DUAS CRIANÇAS

GRACILIANO ROCHA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

Um dia após o Superior Tribunal de Justiça reconhecer o seu direito de adotar dois meninos, uma das mães do casal homossexual de Bagé (366 km de Porto Alegre), a psicóloga Luciana Reis Maidana, 36, já pensa no próximo passo: adotar outras duas crianças.
Com a decisão do STJ, nas certidões de nascimento dos dois meninos, de 6 e 7 anos, passará a constar também o nome da fisioterapeuta Lídia Brignol Guterres, 44, com quem Maidana vive há 13 anos.
O caso ainda será julgado pelo Supremo Tribunal Federal.
A seguir, leia trechos da entrevista concedida por Maidana à Folha de S.Paulo:
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FOLHA - Como as senhoras estão se sentindo depois da decisão do STJ?
LUCIANA REIS MAIDANA - Foi um presente de Dia das Mães, para nós duas. Aqui em casa não tem mãe e tia. Criamos e educamos como mães.
FOLHA - O que muda na família?
MAIDANA - O nome deles só. Eles acrescentam o sobrenome da Lídia porque passam a ter toda a seguridade que podem ter. No nosso cotidiano não muda nada porque há muito tempo a gente vive junto.

FOLHA - Como é, para os meninos, ter duas mães?
MAIDANA - Eles chamam nós duas de mãe. Somos uma família extremamente feliz, pacata, quieta. Todo o tempo nós conversamos. Sabem que são adotados desde sempre. Isso mexeu bastante com nossa vidinha quieta.

FOLHA - Mexeu como?
MAIDANA - Mantivemos o anonimato todos esses anos [desde 2005]. Quando estourou na mídia [anteontem], nossa casa virou uma loucura. Somente amigos muito íntimos e a família sabiam do processo. Tentamos preservá-los.

FOLHA - Por que adotar?
MAIDANA - A maioria das mulheres tem esse desejo de ser mãe. No nosso caso, seria impossível. Não foi uma coisa aloprada. Nós nos planejamos e nos preparamos durante anos.

FOLHA - Por que entraram com o processo?
MAIDANA - Essa luta toda foi para o bem-estare a seguridade deles. Não foi para levantar bandeira nenhuma nem para aparecer. O que a gente quer é a felicidade deles.

FOLHA - Embora tenham vencido nas instâncias inferiores, temiam derrota no STJ?
MAIDANA - Claro. Embora tenhamos vencido aqui e em Porto Alegre [Tribunal de Justiça], quando foi para Brasília, a gente ficou bem preocupada.

FOLHA - Ainda resta o julgamento do STF...
MAIDANA - Mas a gente vai ganhar também. Não é possível que [os ministros do Supremo] vão ter mentalidade tão fechada assim.

FOLHA - Já sofreram preconceito?
MAIDANA - Nunca, nem nós nem os meninos. Não sabemos a partir de agora.

FOLHA - Nem na escola?
MAIDANA - Nunca, em nenhuma das escolas deles. As pessoas viam com muita naturalidade. Os meninos têm duas mamães e não têm papai.

FOLHA - Acredita que essa decisão do STJ possa incentivar outras pessoas a fazer o mesmo?
MAIDANA - Abriu-se uma porta para as pessoas que têm vontade e que tinham medo de esbarrar na Justiça. É possível. Espero que encoraje as pessoas a lutarem por suas famílias. A Justiça não está tão retrógrada e reconhece que uma criança criada por um casal dito diferente é uma criança normal.

FOLHA - Como será daqui para frente?
MAIDANA - A gente tem intenção de adotar de novo, talvez um casal. É maravilhoso ser mãe, é tudo de bom. É o que existe de melhor na vida.

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