A mulekada de hoje talvez só conheça Rita Cadillac como uma estrela de filmes pornográficos.
A maioria nem sabe que, muito antes de qualquer mulher-fruta mostrar sua bunda ou seus peitões na TV, Rita e suas colegas chacretes roubavam a cena nos programas do apresentador Abelardo Barbosa, o Chacrinha.
Também talvez não saibam que a eterna chacrete - que ficou conhecida do grande público a partir da década de 1970 - seja mais, muito mais inteligente, boa pessoa e articulada do que a esmagadora maioria das personalidades instantâneas do momento.
Foto: Arquivo do Klau
Rita Cadillac, ícone brasileiro
Isso fica evidente em cada fotograma do documentário "Rita Cadillac - A Lady do Povo", que estreia hoje em Belo Horizonte, Belém, Fortaleza, Natal, Salvador, Porto Alegre, Curitiba e Recife, e em São Paulo e no Rio,no próximo dia 16.
Dirigido por Toni Venturi ("Cabra Cega", "Dia de Festa"), o documentário tem um claro propósito: desmistificar a figura da biografada.
"Botei na cabeça que eu era a poderosa do programa. Construí um personagem", diz ela, no começo do filme.
Para cumprir o prometido, vemos Rita Cadillac não só rebolando em imagens de arquivo, mas, como ela mesma insiste em ser chamada, a Rita de Cássia cozinhando e comprando água de lavadeira na porta de casa.
Quem, em plena efervescência sensual das chacretes - que foram as mulheres mais desejadas do Brasil, enquanto estiveram no ar - poderia pensar numa imagem dessas?
Mas Venturi - ótimo diretor - mostra, sem pudor algum.
Rita concentra todas as nossas atenções em depoimentos verdadeiros, algo crus e sem rodeios - quanto admite ter feito programas sexuais para sobreviver antes de entrar para a televisão, ou revelando uma transa de "duas noites de amor e pronto" com o rei Pelé.
A parte "emoção" fica por conta das recordações da infância da dançarina, que foi criada pela avó e estudou em colégio de freiras.
"Eu não consigo ser Rita Cadillac 24 horas por dia", diz ela a certa altura, ao se despir da personagem e mostrar o que existe por baixo do mito que até hoje é conhecido como a Rainha do Bumbum ou Lady do Povo - apelido dado pelo cineasta Djalma Limongi Batista, com quem ela fez "Asa Branca - Um Sonho Brasileiro" (1980), contracenando com um Edson Celulari em início de carreira.
Entrevistados como Rogéria - "Ela tinha muito talento" - , o diretor Hector Babenco, que a dirigiu em "Carandiru" - "Na próxima encarnação, quero nascer Rita Cadillac" - e o médico Dráuzio Varella - "Ela é uma artista" - contam suas impressões sobre a trajetória da dançarina e os reflexos de sua passagem na cultura popular brasileira.
Ao longo de sua carreira - que começou em 1974 como chacrete - Rita explorou diversas possibilidades, algumas até absurdas, e não esconde isso.
Como quando, em meados da década de 1980, gravou a música "É Bom Para o Moral" - que eu, particularmente, a-do-ro! e lançou um disco com apenas duas músicas.
Seu empresário na época, Luis Andrade, queria que fizesse shows.
A própria Rita ri do absurdo no filme, quando diz: - "Fazer show com apenas duas músicas?". A cara dela - ao fazer esse comentário - é a melhor coisa do filme.
Veja Rita "cantando" a música "É Bom Para o Moral":
Ao contrário de "Alô, Alô, Terezinha" - de Nelson Hoineff -, outro documentário onde ela também aparece, "Rita Cadillac - A Lady do Povo" nunca investe na exploração de uma figura exótica.
Rita, seus percalços, seus altos e baixos, são encarados com a maior naturalidade e com carinho.
Ou seja, como qualquer ser humano, comemorando conquistas e enfrentando dilemas e derrotas.
Veja o trailer do filme:
Em épocas de big brother, celebridades virtuais e famas de curtíssima duração, Rita Cadillac mostra como se reinventou ao longo das décadas, com uma receita que soma muito trabalho, simpatia, talento, beleza, inteligência acima da média, e muita generosidade.
Um grande documentário, que retrata, sem dúvida, uma grande mulher.
Rita Cadillac - A Lady do Povo
Direção: Toni Venturi
Ano: 2010
Cotação do Klau:
A maioria nem sabe que, muito antes de qualquer mulher-fruta mostrar sua bunda ou seus peitões na TV, Rita e suas colegas chacretes roubavam a cena nos programas do apresentador Abelardo Barbosa, o Chacrinha.
Também talvez não saibam que a eterna chacrete - que ficou conhecida do grande público a partir da década de 1970 - seja mais, muito mais inteligente, boa pessoa e articulada do que a esmagadora maioria das personalidades instantâneas do momento.
Foto: Arquivo do Klau
Rita Cadillac, ícone brasileiro
Isso fica evidente em cada fotograma do documentário "Rita Cadillac - A Lady do Povo", que estreia hoje em Belo Horizonte, Belém, Fortaleza, Natal, Salvador, Porto Alegre, Curitiba e Recife, e em São Paulo e no Rio,no próximo dia 16.
Dirigido por Toni Venturi ("Cabra Cega", "Dia de Festa"), o documentário tem um claro propósito: desmistificar a figura da biografada.
"Botei na cabeça que eu era a poderosa do programa. Construí um personagem", diz ela, no começo do filme.
Para cumprir o prometido, vemos Rita Cadillac não só rebolando em imagens de arquivo, mas, como ela mesma insiste em ser chamada, a Rita de Cássia cozinhando e comprando água de lavadeira na porta de casa.
Quem, em plena efervescência sensual das chacretes - que foram as mulheres mais desejadas do Brasil, enquanto estiveram no ar - poderia pensar numa imagem dessas?
Mas Venturi - ótimo diretor - mostra, sem pudor algum.
Rita concentra todas as nossas atenções em depoimentos verdadeiros, algo crus e sem rodeios - quanto admite ter feito programas sexuais para sobreviver antes de entrar para a televisão, ou revelando uma transa de "duas noites de amor e pronto" com o rei Pelé.
A parte "emoção" fica por conta das recordações da infância da dançarina, que foi criada pela avó e estudou em colégio de freiras.
"Eu não consigo ser Rita Cadillac 24 horas por dia", diz ela a certa altura, ao se despir da personagem e mostrar o que existe por baixo do mito que até hoje é conhecido como a Rainha do Bumbum ou Lady do Povo - apelido dado pelo cineasta Djalma Limongi Batista, com quem ela fez "Asa Branca - Um Sonho Brasileiro" (1980), contracenando com um Edson Celulari em início de carreira.
Entrevistados como Rogéria - "Ela tinha muito talento" - , o diretor Hector Babenco, que a dirigiu em "Carandiru" - "Na próxima encarnação, quero nascer Rita Cadillac" - e o médico Dráuzio Varella - "Ela é uma artista" - contam suas impressões sobre a trajetória da dançarina e os reflexos de sua passagem na cultura popular brasileira.
Ao longo de sua carreira - que começou em 1974 como chacrete - Rita explorou diversas possibilidades, algumas até absurdas, e não esconde isso.
Como quando, em meados da década de 1980, gravou a música "É Bom Para o Moral" - que eu, particularmente, a-do-ro! e lançou um disco com apenas duas músicas.
Seu empresário na época, Luis Andrade, queria que fizesse shows.
A própria Rita ri do absurdo no filme, quando diz: - "Fazer show com apenas duas músicas?". A cara dela - ao fazer esse comentário - é a melhor coisa do filme.
Veja Rita "cantando" a música "É Bom Para o Moral":
Ao contrário de "Alô, Alô, Terezinha" - de Nelson Hoineff -, outro documentário onde ela também aparece, "Rita Cadillac - A Lady do Povo" nunca investe na exploração de uma figura exótica.
Rita, seus percalços, seus altos e baixos, são encarados com a maior naturalidade e com carinho.
Ou seja, como qualquer ser humano, comemorando conquistas e enfrentando dilemas e derrotas.
Veja o trailer do filme:
Em épocas de big brother, celebridades virtuais e famas de curtíssima duração, Rita Cadillac mostra como se reinventou ao longo das décadas, com uma receita que soma muito trabalho, simpatia, talento, beleza, inteligência acima da média, e muita generosidade.
Um grande documentário, que retrata, sem dúvida, uma grande mulher.
Rita Cadillac - A Lady do Povo
Direção: Toni Venturi
Ano: 2010
Cotação do Klau:
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