Com vítimas de até 9 anos, pedofilia de padres em Alagoas envolve orgias com bebida e ameaças de morte
Acareação entre padre Edílson Duarte (centro) e três ex-coroinhas (de costas) confirma abuso
As denúncias de pedofilia envolvendo padres e monsenhores de Arapiraca (AL) apontam para a existência de uma rede de abuso sexual ampla e que não envolveria apenas assédio a coroinhas.
Após centenas de investigações de casos de pedofilia no país, o senador Magno Malta (PR-ES), presidente da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Pedofilia, afirma que, pela primeira vez, investiga um esquema de abuso sexual com ameaça de mortes às vítimas.
As revelações de ameaças de morte foram feitas durante as sessões deste sábado (17).
O ex-coroinha Cícero Flávio Vieira Barbosa confirmou ao UOL Notícias que sofreu ameaças desde que denunciou o caso ao bispo da Diocese de Penedo, em março de 2009.
Orgias com bebidas também compõem o cenário.
As orgias aconteciam, na maioria das vezes, nas igrejas ou casas paroquiais de Arapiraca.
De acordo com as investigações, os padres também aliciavam menores oferecendo dinheiro e bolsas em colégios particulares da cidade.
Cícero contou que foi assediado pela primeira vez quando tinha 12 anos pelo monsenhor Luiz Marques Barbosa.
Outro ex-coroinha, Anderson Farias Silva, contou à reportagem que teve a primeira relação sexual com um religioso aos 13 anos.
Pais de crianças procuraram a polícia e a CPI da Pedofilia para denunciar abusos de padres em confessionários. Abelardo José Leite contou que o filho, de apenas nove anos, foi assediado pelo padre Edílson Buarque várias vezes ao se confessar.
A criança foi ouvida pela perita carioca e psicóloga Tatiana Hartz, que confirmou as denúncias.
Para a psicóloga, abusos praticados por pessoas influentes, como padres, causam traumas graves a adolescentes. “A criança abusada vai por curiosidade e às vezes acaba gostando e se sente culpada por isso. Ela enxerga num adulto uma ameaça e acaba não contando nada. Os danos dependem de cada um, mas ela pode alternar o comportamento ou mesmo ir para um quadro psiquiátrico”, relatou.
''Podemos estar diante de um esquema nacional'', diz senador
Depois de colher os primeiros depoimentos de vítimas e testemunhas de um suposto esquema de abuso sexual a coroinhas em Arapiraca (AL), e da confissão de um padre acusado, o presidente da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Pedofilia, senador Magno Malta (PR-ES), afirmou neste sábado (17) que, ao contrário do que imaginava, o esquema descoberto em Alagoas é "muito grande” e pode não ser restrito ao Estado.
“É surpreendente e deu para ver que o esquema é muito grande. O monsenhor [Luiz Marques Barbosa] já foi capelão em São Paulo e essa coisa tem ramificação. Podemos estar diante de um esquema nacional. Vamos investigar”, assegurou, no intervalo entre os depoimentos, que acontecem no Fórum da cidade.
Diante do volume de denúncias recebidas desde a sexta-feira (15), o senador já pediu o adiamento da apresentação do relatório final da CPI – o prazo salta de maio para novembro. “Temos muita coisa a investigar ainda”, adiantou Malta.
Com depoimentos previstos apenas até este domingo (18), o senador, que comanda os trabalhos na cidade do agreste alagoano, já prevê um retorno em breve ao Estado. “Vamos ter mais oitivas em Brasília, mas pela quantidade de supostas vítimas que nos procuraram aqui, é bem provável que tenhamos que voltar por pelo mais três dias em Arapiraca”, disse.
Neste sábado, a CPI fez um convite formal ao bispo da Diocese de Penedo, Dom Valério Brêda, para que preste depoimento até este domingo. Ele foi citado no depoimento do padre Edílson Duarte, nesta manhã, que afirmou que Brêda era conhecido pelos padres acusados como “Vera Fisher”, além de outros relatos de vítimas que afirmam que ele foi informado de todo o esquema em março do ano passado.
“Ele está sendo convidado, e não intimado, e não terá nenhum problema se não vier. Mas acho que ele deve explicações à sociedade católica alagoana, e seria muito interessante que ele viesse explicar tudo aqui”, afirmou.
Malta considerou fundamental a confissão de que abusou de coroinhas do padre Edílson Duarte. “Foi uma confissão que comprova as denúncias e se torna pedagógica, porque abre caminho para que os outros façam isso. Ele tem muita coisa a apresentar à CPI e às autoridades de Alagoas que comandam as investigações”, assegurou.
Edílson teve direito a delação premiada e passou a ser ouvido reservadamente não só por membros da CPI, como por integrantes do Ministério Público Estadual e da Polícia Civil.
Em depoimento à CPI, padre admite abuso sexual a ex-coroinhas e pagamento de sexo com dízimo
O padre Edílson Duarte admitiu neste sábado (13) em depoimento à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Pedofilia, em Arapiraca (AL), que abusou sexualmente de ex-coroinhas.
Acareado com três adolescentes, ele reconheceu que praticou sexo com dois deles -ainda menores de idade - e pagou algumas vezes os jovens com dinheiro da oferta dada pelos fiéis à Igreja.
Depois de várias negativas de ser homossexual e de abusos sexuais, ele acabou reconhecendo quando os ex-coroinhas Cícero Flávio Vieira Barbosa, Fabiano Silva Ferreira e Anderson Farias Silva foram chamados ao plenário para acareação.
“Sim, tive relações sexuais com dois deles. Menos com o Anderson”, disse, para espanto dos presentes ao Fórum da cidade.
O ex-coroinha Fabiano afirmou que teve a primeira relação com o padre aos 16 anos, na catedral da cidade. “Ele perguntou minha idade e mesmo assim praticou o ato”, disse, o que foi confirmado pelo padre.
“Às vezes eles nos dava cinco, 10 reais. Era um cala boca para que a gente não contasse, como se fossemos garoto de programa”, afirmou Cícero Flávio.
O senador Magno Malta perguntou se o dinheiro que ele deu aos jovens se tratava de dízimo e contribuição de fiéis nas missas.
“Olha para eles [fiéis presentes ao Fórum]. O senhor pegou o dinheiro do dízimo deles para pegar no pênis deles?”, perguntou o senador. “Sim”, respondeu o padre, baixando a cabeça em seguida.
Diante da manifestação do público, o senador Magno Malta (PR-ES), presidente da CPI, pediu calma às cerca de 200 pessoas que acompanhavam o depoimento.
“Peço que as pessoas não se manifestem, que isso é uma coisa séria.
Ele é humano, erra e é digno da misericórdia. Ele não tem como mentir e está em total desvantagem”, afirmou.
O padre ainda respondeu que “pode ser” que tenha abusado de outros adolescentes.
“Crianças, não. Mas adolescentes, podem aparecer”, confirmou.
Constrangido com a situação, ele chegou a rogar pelo perdão de Nossa Senhora.
“Se Nossa Senhora entrasse ali agora, diria: ‘perdoa os seus filhos que têm pecados’. A Igreja nunca erra, só as pessoas”, disse.
Após as declarações, o senador e integrantes do Ministério Público Estadual (MPE) ofereceram ao padre o benefício da delação premiada para que ele conte o que sabe sobre o abuso a crianças e adolescentes de outros padres.
A sessão foi suspensa para que Edílson relatasse, em particular, detalhes sobre o suposto esquema de pedofilia na cidade.
Monsenhor admite sexo com coroinha, se compara a Jesus e diz que bispo sabia dos casos
O monsenhor Luiz Marques Barbosa reconheceu que manteve relações sexuais com um ex-coroinha, mas negou a prática de pedofilia.
Monsenhor Luiz Marques Barbosa (à esq.) presta depoimento atrás de 15 garrafas de bebidas alcoólicas que foram apreendidas em sua casa
O monsenhor foi flagrado em vídeo fazendo sexo com o ex-coroinha Fabiano Silva Ferreira, à época com 18 anos. As imagens foram exibidas ao público durante o depoimento. “Foi o único ato que pratiquei”, alegou.
Barbosa foi o segundo pároco a reconhecer as denúncias de abuso – neste sábado (17), o padre Edílson Duarte reconheceu que fez sexo com adolescentes.
O monsenhor voltou a fazer comparação com Jesus em momento do depoimento, ao ser dizer traído pelos ex-coroinhas. “Lamento que essas acusações tenham partido de pessoas que comeram na minha mesa, assim como Jesus disse: ‘eles que comeram do meu pão é que me traíram’. Eles estão aqui na minha frente e, não sei se por fraqueza, agora eles me atiram pedras”, disse.
Luiz Marques ainda confirmou que tinha informações de que o padre Edílson Duarte abusava de crianças e adolescentes na casa paroquial e que tomou as providências cabíveis. “A gente sabia que ele fazia essas coisas uma ‘vezinha’ ou outra. Eu dava conselhos a ele. Não o afastei porque não sou o bispo, mas ele [Dom Valério Brêda, bispo de Penedo] foi informado”, confidenciou. “Vamos convocar o bispo então”, adiantou o senador Magno Malta, presidente da CPI da Pedofilia.
O senador Magno Malta ainda apresentou, durante o depoimento, cerca de 15 garrafas de bebidas alcoólicas apreendidas um dia antes na casa do monsenhor – que instantes antes tinha negado ter oferecido bebidas a coroinhas. “Também foi encontrada creme vaginal, monsenhor. Para que o senhor quer?”, questionou Malta. “Não é meu. Deve ter sido a minha irmã ou uma visita que esqueceu”, respondeu o monsenhor, dizendo ser “normal oferecer bebidas às visitas”.
O depoimento foi marcado por denúncias de supostas vítimas. O ex-coroinha Cícero Flávio Vieira Barbosa alegou que teve a primeira relação sexual com o monsenhor aos 12 anos de idade, na casa paroquial de São José. “Tive inúmeras relações com ele”, alegou.
Fabiano também relatou que começou a ser abusado sexualmente pelo monsenhor aos 12 anos de idade. “Ele pediu para entrar no escritório dele, pediu para sentar e perguntou sobre minha família, tentou beijar a boca, pegando na minha genitália. Ele viu que estava apavorado e me deixou ir. Mas depois foi insistindo e acabei cedendo”, alegou.
Como recompensa por ser “bom coroinha”, o monsenhor teria pago um ano de mensalidade em colégio particular da cidade. “Além disso, ele tirava dinheiro do dízimo, 10, 15 reais para nos dar”, contou aos membros da CPI e da Polícia Civil, que também acompanham o depoimento.
Em sua defesa, o monsenhor alegou que manteve relação sexual com Fabiano, mas apenas quando ele tinha mais de 18 anos e de forma consensual. “Não sou pedófilo. A pessoa que esteve ali comigo quis manter aquele contato. O vídeo é a única prova que têm”, relatou.
Primeiro a depor neste domingo, o monsenhor Raimundo Gomes negou qualquer envolvimento com crianças e adolescentes e afirmou ser vítima de uma “vingança”.
Ele alegou ainda que ex-coroinhas tentaram o extorquir. “O Anderson [Farias Silva, ex-coroinha] vivia me procurando para dizer que, se não desse dinheiro, iria divulgar o vídeo [em que o monsenhor Luiz Marques Barbosa aparece fazendo sexo com um adolescente]. Sou padre por vocação, por amor a Deus, à Igreja e aos meus irmãos. Sempre tive respeito a meu povo e, sobretudo, aos coroinhas. Nunca abusei, nunca peguei em órgão genital de coroinha em altar, como me acusam”, disse.
Acompanhado da família, o coroinha Anderson relatou que teve o primeiro contato sexual com o monsenhor aos 14 anos, na casa paroquial. “Ele se tornou muito amigo da minha família e, um certo dia, pediu para que dormisse na casa dele porque disse que tinha medo de dormir só. Aí comecei aí e ele começou a me assediar e praticar sexo”, afirmou.
No momento mais tenso do depoimento, ouve bate boca entre familiares do ex-coroinha, depois que o monsenhor alegou que a família estava mentindo e pediu que Deus rogasse “misericórdia pela mentira deles”. Outro ex-coroinha, Cícero Flávio, também assegurou ter mantido relações sexuais com o monsenhor inúmeras vezes.
O senador Magno Malta ainda argumentou que uma gravação apresentada à Polícia mostra o padre Edílson Duarte falando ao ex-coroinha Cícero Flávio que “o monsenhor Raimundo gosta de menino novo”. “Todos conhecem o padre Edílson Duarte, que ele fala demais, é desmiolado”, rebateu o monsenhor.
O padre Edílson Duarte, que foi chamado para uma acareação, confirmou a versão apresentada pelos ex-coroinhas e, em seguida, pediu proteção policial. “O monsenhor Raimundo é muito perigoso”, alertou.
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Conteúdo publicado a pedido da minha consciência
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