quarta-feira, 21 de abril de 2010

BRASÍLIA, AOS 50 ANOS. EU PERGUNTO: "VALEU A PENA?"

Pessoal:

Uma das cidades que eu mais gostei de estar na minha vida faz hoje 50 anos.

E eu queria discutir com vocês o seguinte: Valeu a pena construí-la no planalto central, no meio do nada?

Na área social, a contribuição de Brasília ao mundo foi o que se convencionou chamar de "apartheid planejado", já que, ainda nos anos 60, quando as favelas começavam a sujar a paisagem idealizada por Juscelino - e criada por Oscar Niemeyer , Lúcio Costa e Burle Max - pobres aos milhares foram removidos para o cerrado aberto, a 30 km de distância, no que ficou conhecida como a "Campanha de Erradicação de Invasões". Nasceu aí Ceilândia - que tem hoje 600 mil habitantes - e outras "cidades satélite".

Se os bairros centrais de Brasília - os que ficam no seu "plano piloto" - são muito bonitos de se ver e de se morar, espaçosos, arborizadíssimos, higienizados, a periferia da capital do país é feia, suja, encardida.

É uma autêntica ilha da fantasia. Como não se vê favelas constrangedoras à vista como em São Paulo ou no Rio, alguns brasilienses festejam com fervor a segregação civilizatória.

A idéia principal em construir Brasília foi mudar o eixo de desenvolvimento do país, tirar a vida econômica do litoral - existente desde à época do descobrimento por Cabral - rumo ao centro, ao sertão imenso que os bandeirantes haviam conseguido, mas que o país até a década de 50 do século passado ainda não havia conquistado.

Lógico, não posso dizer aqui que não houveram avanços.
Em 1960, a região Centro-Oeste respondia por 2,5% do PIB do Brasil. Em 2007, pulou para 9,3% -e 40% desse bolo sai da capital da República.

Então o plano de mudar a capital do país, do litoral para o interior foi um sucesso? Não, não foi.

No chamado Distrito Federal só tem dinheiro público, não se fabrica um parafuso sequer, e a economia é uma ficção, já que se baseia em serviços contratados pelo governo - 93% . Os funcionários públicos correspondem a 40% da massa salarial.
Mais "ilha da fantasia", impossível.

Em 2009, o orçamento foi de R$ 18,7 bilhões, e desse total, R$ 7 bilhões (37%) saíram do Fundo Constitucional do Distrito Federal.
Trocando em miúdos: cada um dos 192,8 milhões de brasileiros desembolsa R$ 36 por ano para sustentar os escândalos planaltinos, de dinheiro escondido em meias e cuecas - só para lembrarmos os mais recentes.

E por falar em escândalos no planalto: sabemos que existem políticos encrencados por toda parte, mas a capital da República detém o recorde de ser a única unidade da Federação a ter eleito três senadores, defenestrados do cargo acusados de atos ilícitos.

Passaram-se 50 anos, e Brasília, infelizmente, é uma profecia não cumprida.

Vive como uma orquídea do cerrado, linda, exuberante, mas que vive em total parasitárie com o governo.

Ao nascer, era considerada um erro histórico.

Hoje, tornou-se um equívoco irreparável por opção.

Muito triste.

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