
O primeiro filme da jornada em 3D foi a animação "Fábulas da Noite", do diretor Michel Ocelot, projetado hoje de manhã no Berlinale Palast.
Depois, foram projetados os documentários "Pina" - um tributo à lenda da dança moderna, Pina Baush, feito por Wim Wenders - e "Caverna dos Sonhos Esquecidos", de Werner Herzog.
Jornalistas que dizem ter certa tendência a enjoar ou sentir a vista cansada diante do 3D estavam preocupados com as consequências físicas do dia....
"FÁBULAS DA NOITE": ANIMAÇÃO FRANCESA EM 3D FOI EXIBIDA HOJE DE MANHÃ
O diretor Ocelot aderiu ao 3D com a serenidade de quem sabe com clareza que caminho deseja para sua arte.
Reuters

"Fábulas da Noite" mantém exatamente a mesma toada de "Príncipes e Princesas".
Não só a estrutura narrativa é idêntica. Os planos dos personagens, que reproduzem um teatro de sombras, também são muito parecidos.
Aqui, não há nenhum objeto saltando - apenas vê-se, graças ao novo dispositivo, o cenário em várias camadas e o rosto dos personagens chegando um pouco mais perto do espectador.
O que realmente mudou em relação a seus filmes anteriores, como "Azur e Asmar" e "Kiriku e a Feiticeira", foi o uso da cor, muito mais intenso e chamativo.
No geral, porém, Ocelot manteve intactas sua inocência e sua delicada beleza.
O filme trouxe uma nova perspectiva e deu mais animo ao festival, conformado com poucas descobertas e sem muito o que debater sobre o que foi visto até o momento.
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A obra exibida hoje é a reunião de cinco histórias encenadas em uma espécie de cinema mágico por um menino, uma menina e um velho técnico.
Os três amigos inventam esses contos de magia, desenham cenários, fabricam figurinos e os transferem para a tela numa mistura de silhuetas, sombras e cores vibrantes.
É um espetáculo visual incrível, embora exija um pouco mais de reflexão dos espectadores - especialmente das crianças.
Ocelot disse que o fato de ambientar a ligação entre os contos no que parece um pequeno cinema abandonado é uma homenagem a essas salas que estão desparecendo cada vez mais para dar espaço aos multiplexes.
"Para mim, são como pequenas fábricas de sonhos", contou ele, a uma plateia numerosa de jornalistas de várias partes do mundo.
"Adoro o cinema e fico triste com o fechamento das salas. Adoro o cinema como forma de arte. É um artifício e é importante manter isso dessa forma. É assim que os contos de fadas fascinam, porque são contados em grupo, criados de forma coletiva. E não são apenas mera imitação da realidade."
Questionado sobre a adoção do 3D por diretores com uma abordagem artística do cinema, um dos produtores do filme defendeu a tecnologia como uma ferramenta válida para qualquer cineasta.
"É verdade que os aparelhos de 3D começaram nos multiplexes e só agora algumas salas de arte o estão adotando, e agora é possível produzir filmes para atender esse público.
'Azur e Asnar' - filme anterior de Ocelot - não foi projetado apenas em salas de arte, e este filme também não será.
O que importa é o fato de que Michel não trata as crianças como idiotas - ele é exigente e elas precisam dessa exigência."
"PINA" EMOCIONOU A BERLINALE
"Pina", documentário de Wim Wenders sobre a dançarina e coreógrafa alemã Pina Bausch (1940-2009), causou comoção em Berlim.
Segundo filme em 3D exibido no festival neste domingo(13), foi considerado por muitos jornalistas e críticos uma experiência emocionante e profunda.
Exibido na seleção oficial e sem concorrer ao Urso de Ouro, o filme é um tributo à principal cabeça criativa do Tanztheater Wuppertal, companhia que a coreógrafa passou a dirigir no início dos anos 1970, e que hoje leva o seu nome.
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Wim Wenders posa para os fotógrafos entre as dançarinas Julia Shanahan e Barbara Kaufmann, antes da entrevista coletiva de "Pina" no Festival de Berlim (13/02/2011)
Wenders conta que o filme havia sido planejado em conjunto com Bausch - eles iniciaram a produção no começo de 2009 e chegaram a gravar quatro peças: "Le Sacre du Printemps"
(1975), "Kontakthof"(1978); "Café Muller" (1978) e "Vollmond"(2006).
"Mas ela morreu [em julho de 2009] subitamente", disse ele, na entrevista coletiva logo após a concorrida exibição desta manhã.
"Tínhamos um conceito que de uma hora para outra não pode ser mais desenvolvido. Não sabíamos o que fazer para preencher esse enorme vácuo que ela deixou. Havíamos filmado apenas quatro peças. E achei que a melhor maneira de completar o trabalho era adotar o método da própria Pina, que era questionar constantemente seus dançarinos."
O cineasta disse que a primeira coisa que chamou sua atenção em Pina Bausch foi o modo como ela olhava para as coisas.
"Para ela, era importante a forma como as pessoas se expressam pela dança. Ela realmente olhava através das pessoas. É sobre isso que fala o filme, na verdade: sobre esse olhar."
Confira trailer do documentário "Pina":
Sobre a tecnologia 3D, Wenders disse que o peso do equipamento - duas câmeras e uma grande grua - foi superado pelo empenho da equipe de filmagem e a experiência dos dançarinos da companhia.
"Sabíamos as coreografia de cor e, ao longo de um ano, a tecnologia evoluiu tão rapidamente, que no fim das filmagens conseguíamos entrar na dança."
Barbara Kaufman e Julie Shanahan, dançarinas da companhia Wuppertal, deram seus depoimentos.
Kaufamnn disse que o equipamento se fazia presente, mas ao longo das filmagens passou a se concentrar no espaço.
"Está lá para eu dançar", disse ela.
Para Shanahan, os ensinamentos da mestra foram inspiradores.
"Trabalhei com ela 22 anos e aprendi a ficar comigo mesma. Por isso, não me trouxe nenhum incômodo."
O filme não apenas desfila pela tela os grandes números da companhia de Pina Bausch - essas peças são costuradas por números curtos e depoimentos com os principais dançarinos da companhia.
Entre peças mais breves está a coreografia "Água" (2001), dançada ao som de "O Leãozinho", de Caetano Veloso.
Um dos grandes desafios enfrentados por Wenders ao realizar o trabalho foi reunir 40 tipos de música de várias épocas e países diferentes em uma mesma linha narrativa.
"E não mudamos nada", completou ele. "Está tudo lá como Pina concebeu."
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