Da maneira como o filme é meticulosamente orquestrado, o espectador é levado a vivenciar e a mergulhar na visão de mundo de Nina Sayers - a espetacular atriz israelense
Natalie Portman - e, junto com ela, enxergamos os fantasmas e delírios da delicada bailarina, que ganha o cobiçado posto de protagonista do Balé de Nova York em "Lago dos Cisnes".
Divulgação
Natalie Portman em cena do filme
O papel exige da intérprete que o executa não só perfeição técnica, o que Nina certamente domina, como uma dualidade psicológica avassaladora e, aparentemente, sua natureza frágil e tímida, na qual toda sensualidade e agressividade estão severamente reprimidas, só encontra caminhos para interpretar a virginal princesa Odete, o Cisne Branco.
A Odile, astuciosa e pérfida, o Cisne Negro, resta oculta e dormente, em algum ponto perdido de sua psique, que ela precisa desesperadamente despertar.
Divulgação
O pôster do filme em português não diz sobre o filme; prefiro o americano - veja abaixo
Esta impressionante viagem ao mundo interior de uma jovem bela e neuroticamente frígida, em pânico diante da possibilidade de entrega física e emocional, tem - e todos os críticos citam isso - um sem número de citações de "Repulsa ao Sexo" (1965), de Roman Polanski - em que a Diva francesa Catherine Deneuve interpretava a mulher psicoticamente dividida, ilhada em seu apartamento.
Divulgação
Foto de divulgação de Natalie Portman para o filme
Atriz muito acima da média nos dias de hoje, talentosa, sexy, densa e dedicada, Portman supera aqui não poucos obstáculos, inclusive físicos, para interpretar solidamente esta Nina trágica, que desperta piedade e medo quase ao mesmo tempo.
A atriz estraçalha pré-conceitos, não se preocupa nem pestaneja por sua já sólida imagem conquistada, e não hesita numa cena de masturbação, nem em outra de sexo lésbico - que, na verdade, são as que menos impressionam, mas são as mais faladas e comentadas do filme.
Natalie exprime o melhor de sua arte quando traduz a dualidade extrema desta mulher fraturada, que não encontra sua síntese, e seu sofrimento transpira humanidade, força, demência, amargura, e a impressionante solidão ao ir até um lugar onde absolutamente ninguém pode segui-la.
Getty Images
Ao seu lado, um competentíssimo quarteto de atores contribui para o resultado magistral: o francês Vincent Cassel - o diretor da companhia que a pressiona e quer conquistá-la, sem decifrar seu tumulto interior; sua mãe - Barbara Hershey,uma ex-bailarina que se projeta no sucesso da filha, e que procura criar uma redoma de proteção para sua criatura, mas exagera na dose; sua colega e rival, Lily - Mila Kunis, que funciona como um contraponto da jovem sensual e livre que Nina não sabe ser, e Beth McIntyre - Winona Ryder, a surpresa do filme, a assustadora veterana que a precedeu no papel e enlouquece quando tem de aposentar-se da companhia - projetando assim um sombrio futuro para as bailarinas mais velhas.
Sem a fotografia contrastada de Matthew Libatique e a montagem genial de Andrew Weislum - ambos indicados ao Oscar -, este pesadelo barroco jamais poderia se mostrar por inteiro.
Se "Cisne Negro" é para mim, o melhor filme que ví em muitos anos, certamente, é porque todos estes componentes se ajustaram da maneira mais consistente, Darren Aronofsky parece estar no melhor de sua forma e pode, sim, conquistar este ano seu primeiro Oscar como diretor.
Confira o trailer do filme:
*****
NOTA: Postei aqui o pôster americano, porquê é beeeeem mais legal que o brasileiro:
"CISNE NEGRO"
Título original: Black Swan
Diretor: Darren Aronofsky
Produção e Distribuição: Fox Films
Elenco:
Natalie Portman
Mila Kunis
Vincent Cassel
Barbara Hershey
Winona Ryder
Gênero: Drama, Suspense
Duração: Fantásticos e arrebatadores 108 min.
Ano: 2010
Data da Estreia: 04/02/2011
Cor: Colorido
Classificação: Não recomendado para menores de 16 anos
País: EUA
COTAÇÃO DO KLAU:
Nenhum comentário:
Postar um comentário