quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

BERLIM TEVE HOJE O PRINCIPAL CANDIDATO AO OSCAR, UMA COMÉDIA AUSTRÍACA SOBRE O NAZISMO, UM FILME BRASILEIRO E UMA REVELAÇÃO SURPREENDENTE

O favorito ao Oscar "O Discurso do Rei" fez sucesso hoje na Berlinale, com direito às presenças do diretor e atores, todos indicados ao prêmio da Academia.

Antes, pela manhã, Helena Bonham Carter participou da exibição e entrevista de outro filme em que trabalhou: "Toast", onde aparece loira numa trama ambientada nos anos 60.

Tivemos também um filme brasileiro e uma comédia austríaca, que tem o nazismo - tema tabu na Alemanha - como pano de fundo.
Mas a surpresa veio na edição especial da Berlinale da revista Variety - a mais importante revista americana de cinema: o ditador Adolf Hitler já fazia filmes no formato 3D na década de 1930!

Confira como foi o dia em Berlim:


HELENA BONHAM CARTER EM BERLIM: "CONFIAR NO DIRETOR É ESSENCIAL"

O ano começou a mil para a atriz Helena Bonham Carter: além de receber indicações em premiações importantes do cinema - entre elas o Oscar, no qual concorre a melhor atriz coadjuvante por "O Discurso do Rei" - a atriz participa do Festival de Berlim com dois filmes, ambos exibidos fora de competição, em sessões especiais - o próprio "O Discurso..." e "Toast".

Pascal Le Segretain/Getty Images

A atriz britânica Helena Bonham Carter participa da exibição de "Toast", hoje pela manhã em Berlim

Em "Toast", produção da BBC dirigida por S. J. Clarkson, ela aparece loira e interpreta uma mulher dos anos 1960 chamada Sra. Potter.

O protagonista da trama é o ator adolescente Freddie Highmore, mais conhecido por papeis infantis, como o Charlie de "A Fantástica Fábrica de Chocolate" - também estrelado por Helena, e dirigido por Tim Burton, marido da atriz na vida real.

Na entrevista coletiva de "Toast", a atriz disse ser coincidência o fato de trabalhar em duas produções britânicas no mesmo ano.
"Quando escolhi fazer estes filmes não sabia onde um deles seria filmado. Mas não me atenho a este tipo de detalhe. Se estão me pagando, vou para onde me pedem".

Confira o trailer de "Toast":


Sobre a escolha dos papeis, afirmou que a empatia com o personagem e a confiança no diretor são essenciais.
"Decido muito rápido [em fazer o filme] quando leio o roteiro. Com diretores, gosto de trabalhar com gente que sabe o que está fazendo, especialmente em filmes que envolvem crianças, que são um pouco mais difíceis. Se a produção é grande ou se é pequena não me importa. Importa se o diretor é competente".

HITLER 3D

Filmes rodados em 3D, na Alemanha nazista, foram encontrados nos arquivos federais de Berlim.
A surpreendente informação foi divulgada hoje, pela edição da revista "Variety" - que circula especialmente na Berlinale.

Segundo a publicação, dois filmes de 30 minutos cada, em preto-e-branco, foram encontrados pelo diretor australiano Philippe Mora, que está preparando um documentário sobre o uso das imagens no nazismo.

Divulgação

Cena do documentário de Philippe Mora está produzindo, mostra Adolf Hitler e sua amante Eva Braun cercado de crianças

O que mais surpreendeu Mora, neste caso, foi a tecnologia usada nesses filmes de propaganda - o 3D, na década de 1930, não era usado sequer em Hollywood.

O formato da moda no século 21 começou a ser testado pela indústria norte-americana - e chegou até a ser muito popular, principalmente em filmes "B" e de ficção científica - somente na década de 1950.

"Eles foram feitos por um estúdio independente para o ministério da propaganda comandado por Goebbels", contou o cineasta à Variety.

As imagens, logicamente, serão incoporadas ao documentário de Mora, e o achado só comprova, mais uma vez, o quanto a ciência da Alemanha nazista estava à frente do seu tempo.



"SÁTIRA NAZISTA" SURPREENDENTEMENTE É APLAUDIDA EM BERLIM

E por falar em Hitler, uma "sátira nazista" - feita por um diretor austríaco sobre um judeu que veste o uniforme de um oficial das SS para salvar a si mesmo e a mãe do holocausto - foi surpreendentemente bem recebida nesta quarta (16) na Berlinale.

"My Best Enemy", estrelado por Moritz Bleibtreu, um dos atores mais populares da Alemanha, é uma comédia que assume riscos - ao tocar em um tema angustiante e tabu ainda hoje para os alemães - mas foi aplaudido em uma sala lotada durante exibição especial para a imprensa.

O diretor Wolfgang Murnberger, de 50 anos, explicou ter consciência de que caminhava na corda bamba com a sua abordagem dos horrores da era nazista, mas disse acreditar que o público está pronto para uma nova visão da história.
"Eu achava que este tema só pudesse ser abordado da forma como foi em 'A Lista de Schindler' em um filme de ficção porque é o jeito politicamente correto", afirmou a jornalistas, em alusão ao 'oscarizado' filme de Steven Spielberg.

"Mas, depois, eu vi que era possível fazer mais do que mostrar judeus atrás de cercas de arame farpado em uniformes de campo de concentração - a ideia foi que em uma história como esta, o judeu pode ser o herói".

Divulgação

O ator Moritz Bleibtreu - à esquerda - em cena de "My Best Enemy"

Bleibtreu interpreta Victor Kaufmann, o descendente dos donos ricos de uma galeria vienense, que ainda acreditam que podem usar sua influência para escapar da máquina de matar nazista.

Mas um amigo de infância, Rudi Smekal, que cresceu em uma vila da família Kaufmann, enquanto sua mãe trabalhava como governanta, vê sua chance chegar com a ascenção do Terceiro Reich.

Ele entra para a SS e trai a família ao prometer entregar uma inestimável gravura de Michelângelo mantida por Kaufmann, que a Itália, parceira da Alemanha no eixo, exige.

Os nazistas se apropriam da gravura e deportam a família, mas quando chega a hora da entrega para os italianos, um especialista determina que a peça confiscada é uma falsificação.

Eles exigem que Smekal tire Kaufmann do campo de concentração e o obrigue a revelar a localização do original.

Mas seu avião cai na Polônia e no caos subsequente, Kaufmann engana Smekal e consegue que ele lhe entregue seu uniforme.

Quando as tropas alemãs chegam, Kaufmann inicia um jogo perigoso no qual ele precisa se fazer passar por um nazista para salvar a própria vida e a de sua mãe.
"Foi difícil manter o equilíbrio entre a comédia e a tragédia. Eu queria mostrar relances da história real, por exemplo os prisioneiros em um campo de concentração, como o pano de fundo de uma história fictícia", disse Murnberger.

"Sou um diretor austríaco, talvez por isso tenha me atrevido a fazer este filme. Estou curioso para ver como será recebido na Alemanha", acrescentou.

Vale lembrar que, no cinema alemão, abordagens mais leves do período nazista demostraram ser um projeto arriscado.

No ano passado, "Jud Suess", que trazia o mesmo Bleibtreu no papel do chefe da propaganda nazista Joseph Goebbels, foi vaiado ao ser apresentado na mostra competitiva do Festival de Berlim, e em 2007, "My Fuehrer - the Really Truest Truth About Adolf Hitler" - que apresentou o líder nazista como um bebê chorão - recebeu uma saraivada de críticas.

Apesar disso, "A Vida é Bela" (1997), do comediante italiano Roberto Benini, ambientado no Holocausto, conquistou três prêmios da Academia e foi um sucesso de bilheteria.

"My Best Enemy" é exibido como 'hors-concours' no Festival.


FILME BRASILEIRO É VISTO POR PLATEIA ENTUSIASMADA E INTERESSADA

Segundo longa-metragem brasileiro da seleção oficial do Festival, "Os Residentes" foi exibido pela primeira vez nesta quarta (16) dentro da mostra "Fórum", destinada aos filmes experimentais e que investigam formas de narração alternativas.

O diretor mineiro Tiago Mata Machado e parte da equipe de produção estiveram presentes à sessão, e responderam às perguntas dos espectadores após o término da projeção.

Exibido na sala 8 do CineStar, dentro do moderníssimo Sony Center, o filme foi visto por uma plateia não muito numerosa, mas entusiasmada com o que viu e interessada em saber mais do cineasta.

Dividido em episódios que dialogam entre si, o filme acompanha um grupo de jovens artistas engajados, que ocupa uma casa prestes a ser demolida e a transformam em uma espécie de zona autônoma.

Eles declaram guerra a um mundo em que a poesia e a utopia foram jogadas no lixo e passam os dias planejando ações, performances e recitais.

Divulgação

Cena do filme "Os Residentes", do diretor mineiro Tiago Mata Machado

De acordo com Mata Machado, trata-se de uma crítica à indústria cultural.
"Esses personagens foram inspirados por palavras de ordem, gestos e posturas praticadas praticadas na arte e na política dos anos 1960 e 70".

"A repetição de todos esses elementos é uma forma de resgatar uma parte da força desses movimentos."



"O DISCURSO DO REI" TAMBÉM FOI A BERLIM

Exibido dentro da seção "Berlinale Special", "O Discurso do Rei" foi a atração do dia em Berlim.

O diretor Tom Hooper, o ator Colin Firth e a atriz Helena Bonhan Carter - que já havia defendido o filme "Toast" pela manhã - fizeram o auditório do hotel onde se realizam as coletivas de imprensa do festival lotar, no final desta tarde.

Vestidos para a sessão de gala desta noite, eles falaram aos jornalistas sobre o filme, o personagem de Firth, o personagem de Helena, a realeza, e também sobre as expectativas para o Oscar.

A coletiva de imprensa foi mais uma prova de que Hollywood e o Festival de Berlim não nasceram um para o outro, e teve um quê de encontro sem pé nem cabeça a breve entrevista que eles deram - parte do resultado se deve às perguntas; parte, provavelmente, a uma certa preguiça dos astros.

Não há, porém, como condenar Helena, quando ela gargalha ao ouvir a pergunta "exclusiva", sobre "como é interpretar uma rainha duas vezes".
"Eu faço os papeis, só isso. Não sei explicar. Mas as rainhas, bom, elas são muito diferentes das pessoas comuns", respondeu a atriz ao jornalista sem noção que fez a tal pergunta.

Hooper disse que é maravilhoso fazer parte da Academia e participar do prêmio como indicado.
"O que quer que aconteça já é uma grande coisa para mim", disse ele, acanhado com a pergunta.
"Mas não posso esconder que pensei na possibilidade de ganhar", ao que Firth respondeu: "Eu também!"

E Helena fez coro, para depois soltar uma de suas sonoras e características gargalhadas: "Idem!"

AP

O diretor Tom Hooper, Helena Bonham Carter e Colin Firth, hoje à tarde em Berlim

Descontraídos e bem humorados, Firth e Helena responderam às perguntas sobre a realização do filme com seriedade, mas, sempre que aparecia a possibilidade, brincavam um com o outro.

Quando questionada sobre o que pensa da realeza, e se sua opinião mudou ao interpretar a mãe da rainha Elizabeth II, disse que sempre teve respeito por eles como indivíduos.
"Obviamente, minha opinião mudou. Aprendi a respeitá-los ainda mais pelo trabalho que fazem. Foi educativo."
Ao ensaiar um novo discurso, Firth a interrompeu: "Basta", disse ele, com um sorriso sarcástico no rosto.
"Podem ter certeza de que não fiz isso por mal, é que eu conheço ela!"

Firth contou que uma de suas sequências preferidas no filme é o momento em que o seu personagem conta ao terapeuta - interpretado por Geoffrey Rush - um trauma de sua infância.
"Com um roteiro que tem tantas facetas, um dos momentos que mais fala ao meu coração é o que ele fala sobre a infância. Se caísse no sentimentalismo, seria uma catástrofe. Mas seria muito pior se tivessemos usado outro recurso. Mas acho que era importante informar o público sobre isso. E a maneira como Tom fez essa cena ficou perfeito."

O filme convenceu o público - em um de seus últimos momentos marcantes antes da noite do Oscar, onde chega como grande favorito, com 12 indicações - que recebeu o elenco e a equipe de produção com aplausos calorosos.

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Com Agências Internacionais, site oficial da Berlinale e UOL
Redação Final: Cláudio Nóvoa

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