sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

BRAVURA INDÔMITA": UM DOS MELHORES FAROESTES DE TODOS OS TEMPOS

Nunca fui muito fã de faroestes.

Passei a vê-los depois da morte de meu pai - como uma homenagem à ele, que tanto os apreciava - e para conhecer toda a filmografia de Clint Eastwood, o rei dos faroestes "spaghetti" dirigidos por Sérgio Leone.

Só que, desde a produção, "Bravura Indômita" me chamou a atenção: era o primeiro faroeste que os irmãos Ethan e Joel Coen faziam - numa carreira que já contava com 14 filmes.

Pelo sucesso - esse 15º filme é a maior bilheteria de suas carreiras, já ultrapassando os 155 milhões de dólares - e a perspectiva de levar pelo menos alguns dos dez Oscar a que concorre, sem contar Berlim e Cannes - já dá para afirmar que os irmãos fizeram o "Os Imperdoáveis" dos anos 2000.

O filme de 1992 de Clint Eastwood também foi consagrado, faturou quatro Oscar e ressuscitou um gênero - o faroeste - que já foi condenado à morte várias vezes.

Mais uma vez, ele ressuscita - e bem - aqui, um trabalho da maturidade dos cineastas que faturaram quatro Oscar por "Onde os Fracos Não Têm Vez" (2007), inclusive melhor direção - concorrem novamente em 2011.

Para quem conhece o "Bravura Indômita" de 1969, dirigido Henry Hathaway e com John Wayne como protagonista - que foi relançado em DVD e blu-ray -, a história é certamente muito semelhante, mas com diferenças que assinalam a personalidade dos Coen, que voltaram à fonte original, ou seja, o romance de Charles Portis de 1968, e fizeram a sua própria leitura.

O trio principal, certamente, está lá - a garota Mattie Ross - a muito acima da média e novata Hailee Steinfeld, indicada ao Oscar - que, aos 14 anos, está totalmente empenhada na vingança do assassinato do pai; o oficial beberrão Rooster Cogburn - Jeff Bridges, estupendo, na fila por seu segundo Oscar - que ela contrata para caçar o assassino; e LaBoeuf - Matt Damon, em seu melhor papel em muitos anos - um Texas Ranger também na cola do mesmo criminoso, por causa de uma recompensa.

Se a trama que une os três é a mesma, o tom da história não é, muito menos a maneira como os três atores recriam suas personagens: a maior atualização recai sobre a figura de Mattie, nesta nova versão muito mais dura e realista do que a meiga Kim Darby de 1969 - e com um detalhe que aproxima mais Hailee de Mattie, é que ela realmente tem 14 anos - enquanto Kim era uma moça de 21 no filme de 1969.

DivulgaçãoHailee Steinfeld e Jeff Bridges, em cena do filme

Boca-dura, voluntariosa e muito esperta, Hailee tem o maior desafio - encaixar-se num mundo adulto e convencer Cogburn e LaBoeuf de que ela não abre mão de participar pessoalmente da captura de Tom Chaney - outro papel magistral de Josh Brolin.

E ela dá conta excepcionalmente bem do recado: a cena em que ela veste as roupas, coloca o chapéu do pai, e se põe a caminho do território indígena - onde se esconde Chaney - é espetacular, porquê vemos Mattie realmente deixando a infância para trás e definitivamente tornando-se adulta - ela nem sabe ainda o quanto.

Na pele do oficial bêbado, rústico e matador, Jeff Bridges dá mais um show de interpretação, a começar pela dicção incompreensível de matuto, onde o melhor amigo é uma garrafa de uísque.
Ele é muito mais rude e convincente no papel do que o heroico John Wayne - nas cenas de bebedeira, então, não tem comparação.

Cogburn incorpora em Bridges até a última célula, um sujeito endurecido, forjador das próprias leis e que não costuma fazer prisioneiros, só cadáveres, papel excepcionalmente rico para o ator, vencedor do Oscar em 2009 por "Coração Louco", e que não trabalhava com os Coen desde "O Grande Lebowski" (1998), e, aqui, mais uma vez mostra o seu destemor como intérprete.

Na interpretação sutil de Matt Damon, igualmente o texano LaBoeuf torna-se mais interessante, menos mocinho, e mais cowboy.

Uma outra diferença a favor desta versão é aprofundar mais o contexto: se no filme de 1969, apesar de a ação se passar em território indígena, não se vê um índio, aqui há vários, começando pela cena inicial do enforcamento - em que ao único condenado nativo é negado o direito das últimas palavras.

Há outras situações que denotam o tratamento selvagem destinado aos donos da terra pelos valentões brancos de passagem: os tipos estranhos que povoam esse tipo de cenário, muito presentes no livro, aqui entram em cena - como Bear Grit - Ed Corbin -, um estranho curandeiro, vestindo pele de urso, que cruza o caminho de Cogburn e Mattie.

São detalhes que reforçam a atmosfera, criando verossimilhança.

Outra diferença fundamental está nas cores e na fotografia do filme: onde o technicolor da produção de 1969 gritava, aqui os cinzas e azuis, fieis à paisagem invernal, predominam - com muita neve a perder de vista.

As plateias de hoje, como as de 1969, curiosamente, respondem ao mesmo tipo de lealdade e compromisso que move o trio principal, por mais que o mundo moderno pareça governado pelas novas formas de comunicação retratadas em "A Rede Social", e, se a lenda de Hollywood John Wayne finalmente levou o Oscar de Ator por esse papel - Oscar pelo conjunto da obra, porquê Wayne fez coisas muito melhores -, Jeff Bridges tem tudo para levar novamente uma estatueta dourada para casa.

Confira o trailer do filme:


******
"BRAVURA INDÔMITA"
Título original:
True Grit
Diretores: Ethan Coen, Joel Coen
Produção: Skydance Productions
Distribuição: Paramount Pictures
Elenco:
Jeff Bridges
Hailee Steinfeld
Matt Damon
Josh Brolin
Barry Pepper
Gênero: Faroeste
Duração: Sensacionais 110 min.
Ano: 2010
Data da Estreia: 11/02/2011
Cor: Colorido
Classificação: Não recomendado para menores de 16 anos
País: EUA
COTAÇÃO DO KLAU:

Nenhum comentário:

Postar um comentário