segunda-feira, 9 de julho de 2012

HOJE É FERIADO ESTADUAL EM SÃO PAULO: VOCÊ SABE POR QUÊ?


São Paulo e Campinas sofrendo bombardeios aéreos; o porto de Santos bloqueado por navios de guerra; cidades dos vales do Paraíba e do Ribeira - inclusive a minha querida Itapeva - sofrendo ataques de artilharia e trincheiras repletas de soldados cavadas nas divisas do Estado.

Tudo isso, hoje algo impensável, aconteceu a exatos 80 anos.

A Revolução de 32 não é um mero registro histórico: foi algo que afetou milhões de pessoas e ainda assombra imaginações e o imaginário dos paulistas até hoje.

Na capital, os monumentos e os nomes de ruas e avenidas deixam isso bem claro:
na região próxima ao parque do Ibirapuera ficam tanto o Monumento às Bandeiras - do escultor Victor Brecheret - como o Obelisco Mausoléu aos Heróis de 32, de Galileo Ugo Emendabili.

Divulgação - Governo do Estado de São Paulo
Monumento às Bandeiras, do escultor Victor Brecheret
E lá se chega pela avenida 23 de maio, uma das datas importantes do movimento.

Ironicamente, a Fundação Getúlio Vargas fica próxima à avenida batizada com a data do início do levante, a 9 de Julho, mas São Paulo continua sendo resistente a usar o nome do ditador - você não encontrará nenhuma via pública com o nome de Vargas no estado inteiro.

Foi Getúlio Vargas quem provocou a coisa, afinal, com a derrubada do presidente Washington Luís, em outubro de 1930.

Ele até foi bem recebido no Estado a caminho da capital - então o Rio de Janeiro - mas logo começou a bater de frente com os políticos paulistas, saudosos do poder que tinham na República Velha.

Infográficos - Folhapress

Por exemplo, Vargas nomeou como "interventor" - no lugar do governador - o tenentista pernambucano João Alberto Lins de Barros.

Só em março de 1932 Vargas nomeou um interventor mais ao gosto dos paulistas, um civil e nativo do Estado, o diplomata aposentado Pedro de Toledo, mas, ao mesmo, tempo o ditador quis mandar no comando da Força Pública - como era chamada a hoje Polícia Militar.

A Força Pública era um trunfo particularmente importante, pois constituía um verdadeiro exército em menor escala, dotada de armas modernas para a época, como metralhadoras.


Os políticos e os militares envolvidos na conspiração contra Vargas foram amadores e deflagraram o movimento antes da hora, sem articular ações eficazes com potenciais revoltosos em outros estados, especialmente Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

Resultado: São Paulo, com pequeno apoio de Mato Grosso, ficou isolado.

A melhor estratégia seria concentrar forças no Vale do Paraíba e rumar ao centro do poder - o Rio - mas, em vez de fazer isso, os líderes paulistas preferiram ficar na defesa.

Já a estratégia do ditador foi correta: isolou São Paulo por terra, por mar e diplomaticamente.


As principais frentes de combate estavam todas vinculadas a ferrovias e rodovias e é por isso que os famosos trens blindados foram tão importantes no conflito.

Os dois lados tiveram centenas de mortos e se não houve batalhas espetaculares, era mais razoável fugir ou se render do que lutar até a morte em uma guerra "entre irmãos" - uma batalha podia ter dez mortos, 30 feridos e 400 prisioneiros.

Vargas venceu em 32, mas a Revolução Paulista precipitou a Constituinte em 34 - que ele já tinha prometido antes da revolta - e os líderes paulistas foram exilados, mas por pouco tempo.

Vargas deu um golpe de Estado em 1937, mas o legado de 32 permaneceu e foi importante no debate ideológico subsequente -  e que vem até hoje.

Em 80 anos, muita tinta foi usada para descrever a Revolução de 1932 e é possível identificar pelo menos três fases.

Houve uma primeira onda de textos, principalmente de origem paulista - e incluindo livros de memórias -, exaltando os ideais democráticos do levante; e em seguida uma leva posterior, de origem marxista, ressaltando a ideia de que tudo não passou de uma briga entre grupos da "classe dominante", e sempre que foi necessário os "proletários" foram perseguidos.


Novos pesquisadores tentam entender o caráter multifacetado do evento, identificando uma participação popular inédita na história.

O historiador Marco Antonio Villa deixa claro que a "questão democrática" foi "a grande herança política da revolução, uma espécie de tesouro perdido, muito valioso, especialmente em um país marcado por uma tradição conservadora, elitista e antidemocrática".

Mais que um conflito entre elites e revolucionários, o legado da Revolução de 32 é justamente o que conseguimos nos dias de hoje - basta sabermos que, desde o governo FHC, os principais cargos da República são ocupados por paulistas ou de pessoas que fizeram sua carreira aqui.


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Matéria de Ricardo Bonalume Neto para a Folha de S.Paulo de hoje - com alguns pitacos meus

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