terça-feira, 18 de outubro de 2011

VENCEDOR DO URSO DE OURO EM BERLIM 2011, FILME IRANIANO "A SEPARAÇÃO" ENCERROU FESTIVAL DE CINEMA DO RIO


Vencedor do Urso de Ouro do Festival de Berlim deste ano, o drama familiar A Separação, de Asghar Farhadi, foi a grande atração da programação desta terça (18) do 13º Festival do Rio, que termina oficialmente hoje, quando, no Cine Odeon, serão entregues os troféus Redentor aos melhores da mostra Première Brasil.

Em A Separação, a partir de uma disputa legal entre duas famílias de diferentes classes sociais, o diretor iraniano - o mesmo de Procurando Elly, ganhador do Urso de Prata de direção da edição de 2009 do festival alemão - tangencia diversos aspectos políticos e sociais do Irã moderno.

Divulgação
Cena de "A Separação", de Asghar Farhadi

O ponto de partida do filme é o divórcio entre a professora Simin - Leila Hatami - e o bancário Nader - Peyman Moaadi - que recusa-se a mudar com a mulher para o exterior porque precisa tomar conta do pai senil, e contrata um jovem mãe para cuidar dele da filha adolescente do casal.

Mas um terrível incidente acaba colocando as duas famílias diante de um juiz, litígio cheio de desdobramentos morais e religiosos - a sutileza é a grande marca do filme.

"Estava ciente de que, se eu tivesse que fazer um novo filme sobre a relação íntima de uma família, ele deveria refletir sobre a sociedade iraniana como um todo. O mais importante era fazê-lo da maneira mais realista possível, sem artificialismos ou invenções", contou o diretor de 38 anos em entrevista em Berlim.
"Ao escrever o roteiro, comecei a colocar nele todas as minhas preocupações sobre o momento que o Irã atravessa. A separação de Nader e Simin é apenas um instrumento para ajudar o espectador entrar na história, que continua a se espandir em outras direções".

A trama de A Separação levanta questões mais pelo que é sugerido do que é dito e mostrado em cena.

Não fica claro, por exemplo, o motivo da insatisfação de Simin com o país.
Mulher de classe média, culta e não-religiosa, ela é o oposto social e cultural de Hodjat - Shahab Husseini, de Procurando Elly - contratada para cuidar de seu sogro inválido.

Hodjat trabalha escondido do marido, um sujeito psicologicamente instável e cheio de dívidas, e chega a ligar para um serviço de acoselhamento religioso para saber se é pecado dar banho em um homem que não é da família dela.

Quando a rixa entre as duas famílias chega à vara de família, as diferenças entre elas ficam mais evidentes.

A grande façanha de Farhadi é não tomar partido de nenhuma delas, e conquistar a solidariedade do espectador para ambas, expondo com imagens e palavras a ambiguidade dos conceitos de verdade, justiça e moral dentro da sociedade iraniana.
"Não queria ser óbvio, mas sim sugerir coisas que nós, o público, deveríamos descobrir por nós mesmos. Os filmes que mostram tudo em cena são considerados limitados", comparou Farhadi.
"O tempo dos diretores que querem ensinar como o plateia deve pensar, aprender e a ver um filme, já acabou".

Um dos fardos mais pesados de A Separação recai sobre os ombros de Termeh, a filha adolescente do casal, que precisa escolher com quem ficará após o divórcio dos pais - é ela quem observa e questiona o comportamento dos adultos.

Termeh representa, em última instância, as gerações de jovens que tem ido às ruas do Irã protestar contra o radicalismo do governo de Mahmoud Ahmadinejad.
"Mais do que decidir-se pela mãe ou pelo pai, a personagem tem que escolher o caminho a tomar, como os jovens do Irã", argumentou Farhadi, que diz ter aprendido "a desafiar [intelectualmente] e convencer as autoridades que regulam o cinema no Irã".

Confira o trailer de "A Separação":

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Matéria de Carlos Helí de Almeida, para o UOL
Redação Final: Cláudio Nóvoa

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