A justiça da ditadura iraniana confirmou hoje a condenação do cineasta Jafar Panahi a seis anos de prisão e 20 anos de proibição para dirigir filmes, viajar ou dar entrevistas - apesar da enorme mobilização internacional a seu favor.
Um tribunal de apelações iraniano "confirmou a condenação do cineasta Jafar Panahi a seis anos de prisão e 20 anos durante os quais estará proibido de dirigir filmes, escrever roteiros, viajar ao exterior e dar entrevistas", afirmou neste sábado um membro de sua família à France Presse.
Atta Kenare/AFP
Jafar Panahi em Teerã, em agosto do ano passado
Panahi, que segundo a mesma fonte continuava em liberdade neste sábado, foi condenado em dezembro de 2010 por "atividades contra a segurança nacional e propaganda contra o regime", depois de ter iniciado a filmagem de uma obra sobre os distúrbios que se seguiram à polêmica reeleição do presidente-ditador Mahmoud Ahmadinejad em junho de 2009.
O cineasta de 51 anos, conhecido por suas fortes sátiras sociais, é um dos diretores da "nova onda" iraniana, mais conhecidos no exterior, onde recebeu diversos prêmios e teve sua obra aclamada nos festivais de Cannes, Berlim e Veneza.
O veredicto da apelação "foi emitido há duas semanas, mas ainda não foi aplicado, e Jafar Panahi continua livre até o momento", afirmou o mesmo membro de sua família à AFP.
A advogada do cineasta, Faridé Gairat, afirmou à AFP que não havia recebido nenhuma notificação da decisão.
PRISÃO
Sua prisão em março de 2010, sua detenção durante três meses e depois sua condenação em dezembro passado provocaram a reprovação dos meios artísticos e políticos ocidentais, que se mobilizaram para pedir a anulação das acusações contra Panahi.
Os festivais mais prestigiados, incluindo Cannes, a Mostra de Veneza e a Berlinale, elegeram Jafar Panahi como seu convidado de honra, dedicando a ele uma cadeira vazia e organizando homenagens e retrospectivas de apoio.
Diversos governos ocidentais denunciaram a prisão e a condenação do cinasta, consideradas "incompatíveis com os compromissos internacionais do Irã sobre os Direitos Humanos" pela chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Catherine Ashton.
O veredicto de dezembro também foi criticado pelo Executivo iraniano, que há vários meses enfrenta as autoridades judiciais, dominadas pela linha-dura do regime, em relação a diversos casos - o ditador Ahmadinejad vive atualmente uma intensa guerra pela supremacia do poder com os aiatolás - o Irã é uma teocracia, onde os aiatolás são os chefes supremos.
"O governo e o presidente não aprovam a condenação" de Panahi, declarou em janeiro o chefe de gabinete de Ahmadinejad, Rahim Esfandiar Mashaie.
REDUÇÃO DA PENA
O jornal governamental do Irã informou que o tribunal tinha reduzido para um ano de prisão - contra seis anteriormente - a pena de Mohamamd Rasulof, co-diretor com Jafar Panahi do projeto de filme pelo qual foram condenados em dezembro de 2010.
Mohammad Rasulof, condenado em primeira instância pelos mesmos motivos que Panahi, recebeu em maio passado - sem poder comparecer - o prêmio "Um Certo Olhar" do Festival de Cannes por seu filme Be Omid é didar/Até Logo, que foi recebido em seu nome por sua mulher.
O cinema iraniano foi duramente atingido pela repressão que afetou diversos artistas e intelectuais vinculados à oposição desde os distúrbios que se seguiram à reeleição de Ahmadinejad.
Até quando a comunidade internacional, principalmente a artística vai tolerar crimes contra a Humanidade, principalmente aqueles contra atos e pensamentos?
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