sexta-feira, 14 de outubro de 2011

'A CRIANÇA DA MEIA-NOITE' TRATA DE DOENÇA, ADOLESCÊNCIA E SEXUALIDADE SEM SER AÇUCARADO OU PIEGAS


Diretora consagrada desde os seus primeiros curtas e conhecida no Brasil por seu primeiro longa - Estranhas Ligações, premiado na seção Um Certo Olhar no Festival de Cannes em 2002 -, a francesa Delphine Gleize confirma tanto estilo quanto personalidade cinematográfica em seu segundo longa, A Criança da Meia-Noite, que estreia hoje aqui no Brasil.

Aqui, a diretora encontra um equilíbrio entre intimismo e incerteza, falando de sentimentos e dos efeitos de uma rara doença genética - o xeroderma pigmentoso, conhecido como XP, uma extrema sensibilidade causada pela falta de resistência aos raios ultravioleta, o que geralmente induz a uma série de cânceres e a uma curta expectativa de vida.

A corporalidade domina o filme, porque é ela que determina o cotidiano de Romain - o estreante ator Quentin Challal -, um adolescente de 14 anos que se transmuta em criatura noturna por causa de sua doença.

Para sair de casa e ir à escola de dia, Romain precisa usar uma roupa especial, feita de um tecido produzido pela NASA, que dá ao rapaz uma aparência de um astronauta.

Lógico, a sua interação com o mundo ao seu redor é problemática, e Romain reage com agressividade.

No Brasil pela segunda vez, a diretora Delphine Gleize, em entrevista à Reuters, em São Paulo, explicou que não foi curiosidade pela doença o que a motivou a escrever o roteiro.
"A doença não é o centro do filme, é o amálgama da história. O que me interessava era este personagem do garoto que recebe uma educação contrária à dos outros, inclusive na organização do tempo. Também me interessava este personagem que queria ser adulto antes de ser adolescente. Ele tem uma urgência de viver, como os velhos," explicou.

Vivendo com a mãe - Caroline Proust -, já que o pai deixou a família, Romain encontra uma figura paterna no seu médico, David - Vincent Lindon -, e é com ele que desabafa a cada crise, que costuma ser desencadeada ao nascimento da mínima pinta, o mínimo sinal na pele - geralmente, provocando ansiedade e uma pequena intervenção cirúrgica.

Divulgação
Vincent Lindon e Quentin Challal, em cena do filme

Esta particularidade complica a adolescência de Romain que, como todos de sua idade, está descobrindo a sexualidade, com uma urgência ainda maior, porque vem pontuada pela incerteza sobre a própria duração de sua vida - para ele, é como se o tempo se movesse numa espécie de cronômetro acelerado.

A relação com o médico caminha para uma ruptura, quando David recebe, finalmente, uma promoção esperada há mais de uma década, para atuar na Organização Mundial de Saúde.

Para David, é um sucesso em hora errada, pois o médico não tem a menor vontade de abandonar seu consultório, nem seus pacientes, e teme pela reação de Romain.

A chegada da médica substituta, Carlotta - Emmanuele Devos -,cria uma tensão própria porquê, por mais que deseje sua promoção, David não gosta de ver um território duramente conquistado sendo invadido por uma médica mais nova, mais inexperiente e com outro estilo - até o fato de ser mulher é levado em conta por David.

Este foi, segundo a diretora, o terceiro filme em que Vincent Lindon e Emmanuele Devos contracenaram, o que foi uma vantagem.

O foco da história, no entanto, está na explosão dos sentimentos de Romain.
Ator estreante,  Quentin Challal imprime sentimento à flor da pele em toda cena em que aparece, e através dele e de sua relação delicada com David, cria-se um drama intimista com um clima mais realista e natural do que a média do gênero, sem soluções açucaradas tão mais fáceis e tão mais comuns.

Vemos doçura, mas também descontrole.
Ninguém sabe se Romain vai viver muito, se vão encontrar uma cura para sua doença.

"Eu me sinto muito inquieta com a ideia da morte. Mas, para mim, este filme trata da conservação da vida. Eu filmo uma pele em que as cicatrizes se fecham sempre. Para mim, esta pele não é triste. É a vida, a promessa de que a vida continua. Mas, antes, é preciso que ela seja aberta," resumiu a diretora.

Acertou em cheio.

Confira o trailer do filme:

*****
A CRIANÇA DA MEIA NOITE
Título original:
La Permission de Minuit
Diretor:
Delphine Gleize
Elenco:
Vincent Lindon
Emmanuelle Devos
Quentin Challal
Caroline Proust
Nathalie Boutefeu
E Grande Elenco
Produção:
Jean-Christophe Colson
Roteiro:
Delphine Gleize
Fotografia:
Crystel Fournier
Duração:
110 min.
Ano:
2011
País:
França
Gênero:
Drama
Cor:
Colorido
Distribuidora:
Imovision
Cotação do Klau:

Nenhum comentário:

Postar um comentário