A Pele que Habito, mais novo filme de Pedro Almodóvar, foi o filme da abertura do Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro, no último dia 6.
É o trabalho mais subversivo do diretor desde meados dos anos 1980, quando Matador (86) e A Lei do Desejo (87) revelaram ao mundo o gênio do cinema espanhol.
Depois de se estabelecer no panteão dos grandes autores com releituras do melodrama - Tudo sobre Minha Mãe (1999) e Fale com Ela (2002) - aqui ele flerta com o horror - a estreia comercial será em 4 de novembro.
Seu personagem principal, Robert Ledgard - interpretado por Antonio Banderas -, é um cirurgião plástico obcecado em criar uma pele artificial - uma versão contemporânea do doutor Frankenstein, com pitadas de "doutor Hollywood".
A Pele que Habito competiu no Festival de Cannes, em maio, quando Almodóvar conversou com a mídia, na véspera do anúncio dos vencedores.
Como ele mesmo previu, saiu de lá sem prêmios:
"Por ser um filme de gênero - mesmo sendo um horror sem sustos -, não acho que vá agradar ao júri. Já sabia disso. Mas, uma vez em Cannes, é melhor competir".
Adaptado do livro Tarântula, de Thierry Jonquet (1954-2009), o longa traz críticas à obsessão pelas aparências, à violência e ao conflito de classes.
"Penso no filme, sobretudo, como uma crítica ao abuso de poder, que parece ter se tornado assustadoramente comum, como na inaceitável prisão de Guantánamo e nas práticas de tortura que se legitimaram por lá", disse o diretor, para em seguida completar: "Nossa sociedade tem dado exemplos de abuso de poder e temos participado disso de forma inconsciente, por meio de nossa indiferença."
Almodóvar faz questão de dizer, no entanto, que não guarda um ponto de vista moralista sobre a plástica.
"Quando escrevo meus filmes, não julgo meus personagens. Acho legítimo que o ser humano busque uma juventude, se não eterna, pelo menos a mais longa possível. O problema são os excessos cometidos nessa área."
O cineasta pensa em voltar ao tema, de forma mais leve:
"Gostaria de fazer uma comédia inspirada na vida das três mulheres de Elvis Presley, nos dias de hoje. Lembro-me de ter visto uma foto em que avó, mãe e neta, lado a lado, pareciam ter a mesma idade".
Getty Images
Antonio Banderas e Pedro Almodóvar, no lançamento de "A Pele que Habito" no último Festival de Cannes (19.5.2011)
Outro detalhe marcante de A Pele que Habito são as referências ao Brasil: o protagonista é filho de um brasileiro; seu irmão volta da Bahia e, durante um flashback, uma menina canta Pelo Amor de Amar, gravada por Ellen de Lima para o filme Os Bandeirantes (1961), de Marcel Camus.
"Já fui algumas vezes à casa de meu amigo Caetano Veloso na Bahia. Sou apaixonado por lá. E adoro música brasileira. Sempre procuro inclui-la em meus filmes."
Confira o trailer de "A Pele que Habito":
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Entrevista a Pedro Butcher, para a Folha de S.Paulo
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